JF-44 "Dragão de cristais "

Apelido dado: "Dragão de Cristais"
Idade: Desconhecida, apesar de se acreditar que possa atingir até os milénios.
Aparência: Um dragão gigante de pele escura ornamentada com cristais de diferentes cores por todo o seu corpo. Na sua cabeça, encontram-se dois chifres que ascendem alto no ar tal como as suas asas negras de membrana permeável, quase transparente.
Altura: Desconhecido. É importante notar, no entanto, que relatos de testemunhas descrevem-no como titánico, possivelmente maior do que grande parte dos arranha-céus.
Regime alimentar: ----
Contenção: ----
Cela de contenção: Não constitui uma prisão da Fundação, mas a criatura parece encontrar-se contida numa caverna que trata como casa e, ao que parece, este escolhe ficar ali preso e imóvel deliberadamente.
Vítimas passadas: Só existe o conhecimento de uma, o resto ainda se encontra a ser estudado.
Habilidades: Pouco se sabe. Embora o cadavér da sua única vida conhecido tenha mostrado indícios de queimaduras de terceiro grau e de órgão esmagados, sugerindo a sua habilidade inerte para cuspir fogo e o seu peso e forças colossais.
Fraquezas: ----
Classe:
Aparições: ----
Relato:
Willen: "O que é que preferes, Stil?"
A menção do seu próprio nome fez Stil parar de minerar para escutar o homem ao seu lado.
Stil: "Não sei, Willen. Não ouvi a pergunta desta vez, podes repetir?"
Willen: "Tu não ouves a pergunta é em nenhuma das vezes..."
Disse o mineiro de mãos assentes na ferramenta apoiada no solo inclinado ao suspirar, cansado que isto acontecesse. Contudo lá cedeu à vontade do amigo. Especialmente agora que tinha a sua atenção depois de tanto tempo a tentar captá-lo.
Willen: "Lutar contra um batalhão de cem galinhas ou frequentar o inferno que é o décimo primeiro ano outra vez. Qual é que escolhias?"
Stil: "Sei lá. Não é de importância"
Willen: "Vá, escolhe um."
Stil: "Tanto me faz. Talvez frequentar o décimo primeiro ano."
Respondeu em suma e voltou a erguer a picareta suja antes de bater com ela no chão mais uma vez, iluminado pela luz das lanternas que os dois levavam presas aos capacetes. Pó resultante do impacto esvoaçou entre ambos, incitando Willen a tossir. Não importava o quanto tempo andassem por estes cantos profundos, Stil começava a acreditar que nunca se iriam habituar a estas poeiras e fuligens.
Voz de cima: "Ei! Para de incitar conversa, Willen! Volta ao trabalho!"
Willen: "Certo, Ripple! Desculpa!"
Retorquiu aos gritos de modo a que a sua voz alcançasse os seus colegas a uns metros acima. Só depois do aviso é que levantou a sua picarrta do solo e decidiu pôr mãos ao trabalho, como Stil andava.
Na verdade, Stil já se sentia um pouco farto de ser o mais maduro da relação. É que Willen ainda por cima era o mais velho, ele é que devia dar o exemplo. Por essa razão é que Stil não insistia em dar na cabeça de Willen. Na ânsia de que a falta de uma resposta o fosse eventualmente calar antes que os seus outros colegas o fizessem. Se bem que ele próprio tem de admitir que, de tempos em tempos, se deixa levar pelas falinhas mansas de Willen. Até um palhaço como ele merece os seus momentos de fama.
Stil fez a picareta cair com força no chão de pedra outra vez, a soltar pequenos fragmentos da pedra comum cinzenta em que assentava os pés. Parece uma missão suicida descrito desta maneira. Porém, Stil e Willen estavam a escavar para o chão à sua frente e não literalmente para baixo, partindo a pedra aos seus pés.
Tratava-se de um terreno acentuado. Com um declive que vinha desde a abertura a alguns metros acima de Stil e Willen onde estavam outros dois colegas a monitorizar os trabalhos deles, Ripple e Fritz. A assegurar-se que está tudo bem com os homens que escavam para baixo na procura de descobertas nas profundezas. Isso para além de ficar de olho numa das extremidades dos cabos de aços que se estendiam desde a zona onde se encontravam até à cintura dos mineiros.
Dito desta forma, parece um pouco injusto. Stil e Willen é que foram os escolhidos para ir pôr aquela abertura, a pavimentar uma espécie de túnel improvisado que se inclinava para baixo. O trabalho de Ripple e Fritz era apenas cuidar deles. No entanto, tanto Stil como Willen sabiam da importância deles.
Há uns tempos atrás, este cuidado todo teria sido julgado. Visto como demasiado ou desnecessário. O passar dos tempos é cruel a julgamentos.
Todo o cuidado é pouco agora.
Willen: "Stil..."
A voz do seu colega, por muito que propositadamente baixa, permanecia audível no meio do tilintar do impacto entre o bico da picareta de Stil e as rochas da secção de baixo da parede contra a qual escavava.
Willen: "Diz-me sinceramente o que é que preferes. Salvar um milhão de pessoas ou-"
Stil: "Não devias estar a escavar, Willen?"
Disse, num tom levemente mais alto, mas, sobretudo, mais solene que o do colega.
Este que se viu obrigado a erguer a voz ao mesmo nível.
Willen: "Então e o que é que eu estou a fazer? Estou a escavar, moço."
Stil: "Mas não o suficiente."
Falou, a dar mais uma pancada na mesma porção da mesma superfície com a mesma ferramenta. O seu amigo poderia ter parado de trabalhar, como já é costume, mas não seria por isso que ele iria parar.
Willen: "É claro que é suficiente. Devo ter conseguido perfurar por mais um metro de caminho."
Stil: "Compreendo que gostes das tuas piadas e da tua ironia, Willen, mas já devias saber que nunca houve pior altura para as fazeres do que agora. Onde todo o metro é pouco. E detesto ser eu a dizer-te, quando já devias saber disso."
Willen: "Sim, sim, eu sei. É por causa do incidente com os mineiros. Eu sei disso. Temos de dobrar os esforços senão o nosso trabalho vai pelos ares."
As pancadas de Stil crescem em intensidade juntamente com a seriedade da sua voz.
Stil: "Dizes isso com uma tranquilidade desconcertante. Parece que não percebes a dimensão disto. Nós perdemos o interesse de potenciais investidores. Perdemos o interesse do público. Vamos tornar-nos uma profissão obsoleta que será definida meramente pelos acidentes que causa. Se eu fosse a ti, punha-me já a trabalhar. Não só aumentávamos a chance de encontrar algo que atrairá dinheiro e olhos para aqui, como também as tuas chances de sobrevivência."
Willen: "Pois e eu detesto ser eu a dizer-te o que já sabes, mas é precisamente para garantir que nós não somos puxados por um buraco que temos estes cabos."
Relatou a troçar o colega, enquanto apontava com a mão livre para cinto preso às suas calças que segurava, nas suas costas, o cabo em questão.
Willen: "Já para não falar de que o Ripple e o Fritz estão lá em cima precisamente para nos apoiar com o que for preciso. Mesmo que isso signifique puxar-nos de volta lá para cima ou assegurarem-se que o cabo não rompe."
O único mineiro a trabalhar transformou as suas pancadas em explosões enérgicas que quase criavam faíscas com o contacto nas rochas da secção que tantava demolir.
Stil: "Esqueces-te que eles estão lá em cima só como uma medida de emergência. Eles são incapazes de perceber o que se está a passar aqui, especialmente a uma profundade tão elevada como esta, a não ser que te ponhas a gritar. O que me parece impossível, visto que andas a gastar lábia com estes assuntos importantes. Por isso, não te surpreendas quando caíres num buraco inesperadamente e os teus dentes arrancarem a tua língua porque simplesmente te recusavas a clar quando devias estar a trabalhar!"
Willen: "Credo, poderias ser um pouco menos pessimista?"
Comentou, a pôr de parte as brincadeiras.
Stil: "Se me perguntares a mim, estou é a ser realista. A sério, devias experimentar."
Willen: "Devias era descontrair de vez em quando. Vias que não te ia fazer mal."
Por fim, Stil para de bater com a picareta nas pedras. A pouca frequência com que isso acontecia chegou a deixar as costas de Willen eretas, sem saber o que esperar dali.
Stil apercebeu-se desse aspeto. Como tal, fitou-o e pouco hesitou ao falar, severo como estava:
Stil: "O problema é que estamos numa situação apertada, Willen, e parece-me que ainda não compreendeste isso. Nunca houve tão pouco interesse em financiar as nossas buscas por minérios. Não sei se entendes, mas as pessoas lá fora, aquelas que viram as notícias e não andam aqui a partir pedra como nós, pensam que isto é um trabalho suicida. Que não vale a pena pôr mineiros a correr riscos desnecessários por pedras preciosas. Acham que há uma falta de segurança nestas minas, tudo porque, há uns bons dias atrás, um grupo de mineiros entrou numa caverna e na próxima vez em que foram vistos, estavam mortos. E eles nem se importam com o facto de os corpos terem sido encontrados à superfície, no meio da neve, ou de qualquer que seja o maldito incidente que os matou provavelmente nem ter sido associado com as minas. Como eram mineiros, eles culpam as grutas, culpam a nossa profissão e a falta de segurança a que ela está sujeita. E os nossos superiores, sob pressão tiveram de ceder às reclamações, tiveram de criar novas medidas de segurança, tiveram de nos impor um limite de profundidade a que podemos ir, tiveram de nos pôr estes cabos à cintura para nos restringir o acesso! E nós não podemos fazer nada contra isso! São as notícias e os eventos recentes que nos levaram até aqui. Com ainda mais relatos de incidentes em minas para além daquele que incitou tudo isto. Novos relatos todos os dias de acidentes de trabalho, de equipas de mineiros que entraram numa caverna e...foram encontrado mortos...já para não falar dos que não foram encontrados e provavelmente nunca serão."
Parou, a recuperar o fólego, visivelmente levado pelo momento.
O seu amigo hesitou por uns instantes perante a figura stressada do seu querido colega, contudo julgou que a necessidade devia estar acima da sua preocupação de não o irritar.
Willen: "Mas é como tu dizes, Stil: não há nada que possamos fazer quanto a isso."
Explicou, de forma amigável, ainda visivelmente a reter uma angústia por ter irritado o seu amigo.
Willen: "Os incidentes acontecerem. Não estávamos lá para os impedir nem podíamos, afinal estávamos noutra gruta que não na deles. Os indivíduos com o dinheiro para financiar as nossas buscas começaram a querer afastar-se deste negócio perigoso de modo a evitar ter de arcar com o peso das mortes causadas. E tudo bem com isso. É a opinião deles. Têm todo o direito em retê-la. As restrições que nos impuseram, como os cabos de aço que usamos, são simplesmente mudanças a aceitar. Cordas às quais temos de nos segurar para nos mantermos em pé, e digo isto sem fazer um trocadilho com as 'cordas' a que estamos presos. É uma metáfora mesmo, caso não tenhas entendido."
Finalizou com uma risada que continuava tirar o seu colega mais sisudo do sério.
Stil: "Nesse caso, o que é que sugeres?"
Willen virou o rosto para o lado por um segundo. Depois virou-o para outro. A seguir para baixo. No final, redirecionou-o na direção do de Stil outra vez com o mesmo ar pensativo. Com a diferença que, desta vez, tinha uma resposta:
Willen: "Engolir a dor e seguir em frente."
Stil: "A sério..."
Nem se deu ao trabalho de elaborar adiante. Já que, uma vez ouvida a sugestão estapafúrdia de Willen, Stil recolheu-se ao trabalho.
Tornou a pegar na picareta e a chocá-la contra a superfície rochosa à sua frente.
Voz de Ripple: "Pessoal! De volta ao trabalho! Vá lá, não quero ter de advertir outra vez!"
Os avisos de cima asseguraram-se que Stil não fosse o único a trabalhar ali. De novo, sob a pressão das vozes, Willen ergueu a sua ferramenta e pôs mãos à obra.
Stil gostava de saber se era pela recente crise que abalava a indústria mineira ou pelo facto de Willen estar mais falativo que Ripple e Fritz andavam mais exigentes. Seja pela razão que fosse, a verdade era que a pressão estava visivelmente sobre todos. A necessidade de uma descoberta nunca fora tão grande.
Não sabiam como. Não sabiam o que seria. Mas saberiam que, se não escavassem como Stil vigorosamente faz e Willen hesitantemente assente em fazer, então nunca descobririam.
Willen: "Stil, diz-me lá o que se passa."
O homem sussurrava ao seu amigo claramente ocupado. Ao menos desta vez, Willen mantinha a ilusão do trabalho para os seus colegas em cima a bater com uma força moderada, o suficiente para causar barulho sem fazer muito esforço.
Mas não seria por isso que Stil lhe daria outra oportunidade.
Stil: "Raios. Willen, volta ao trabalho, por favor."
Disse, também a sussurrar.
Willen: "Ok, desculpa por estar a ser mais chato do que costumo ser."
Stil: "Acho que isso é um eufemismo dos bons. É que, habitualmente, ao primeiro aviso já te calavas."
Willen: "Percebo, mas é que..."
Stil: "Que?"
Willen: "Não aguento ver-te mais assim, meu. Já lá vai quase um mês desde que andamos a usar estes cabos, sabes?"
Comentou, a acenar com a cabeça para o material em questão atado à sua cintura que o prendia à região onde se encontravam os seus dois monitores.
Willen: "Isso significava que também já lá vai um mês que se fala desta crise e um mês a ter de te aturar a ti neste estado nervoso."
Stil: "Nervoso?"
Willen: "Meu, tu já nem paras para ouvir as minhas perguntas de tão obcecado que estás em escavar."
Stil: "Talvez porque elas são idiotas e porque agora mais do que nunca precisamos de uma descoberta que ressuscite o interesse na indústria mineira."
Willen: "Pode até ser o caso. Não nego. Mas de um dia para o outro deixaste de me prestar atenção. E parece-me demasiada coincidência para a primeira vez em que te puseste com a atitude que tens agora ter sido precisamente o dia a seguir ao qual romperam as polémicas com a falta de segurança aqui nas minas."
Stil: "Sim, eu estou preocupado. Qual é o mal?"
Willen: "O mal é que estás sempre assim agora. E inicialmente pensei que era só uma fase. Todos temos os nossos maus dias. E olha onde estamos. Esses dias transformaram-se num mês. A tua sorte é que hoje acordei sem tolerância nenhuma para isto."
Stil: "Tudo bem. Só estou com dificuldade em compreender como é que vais ajudar ao apontar o óbvio."
Willen: "Então confirma logo que se trata de ajudar o teu pai."
Stil pausou. A ferramenta parou no meio do ar. Esta foi encostado ao chão após uma queda lenta. Willen até se sentiu mal por ter recorrido a este método, porém era inegável o facto de que tinha sido efetivo. Também não sentia que poderia segurar esta informação por muito tempo dele, evidenciado pela maneira porca em que a revelou.
Portanto, em tom de pena,decidiu também pausar o seu trabalho. Desta vez para ouvir alguém.
Alguém que andava a rebentar lá dentro com as preocupações das quais só deixará vazar gotas neste preciso momento:
Stil: "O meu pai, ele...as senhoras do hospital disseram que ele piorou."
Revelou, ao reduzir o seu volume ao de um sussurro.
Willen: "Stil, eu...sinto muito."
Stil: "Obrigado. No entanto, acho que nem as nossas súplicas podem parar as ondas de azar que têm vindo no nosso caminho. Nem sabe o quanto me apetece desistir. É que não temos culpa do que os outros acham que nós ou do que os outros fazem, mas eles impactam o que nós aqui fazemos, arruinam as nossas vidas e..."
Ele pausou um pouco. Lágrimas a formarem-se no canto do seu olho.
Stil: "...não sei, não me cai bem saber que a única coisa que podemos fazer ser apenas engolir tudo e trabalhar como se nada fosse."
Então, as gotas no canto dos olhos escorreram para a bochecha.
Willen mordeu o lábio. Ver o seu amigo assim a esvair-se em lágrimas também o deixava mal. Eram tempos complicados aqueles em que viviam.
Stil sabia que ele apenas queria aliviar o clima com aquelas suas piadas. Ele só se tem a culpar a si mesmo por ser incapaz de retribuir o carinho de Willen com a mesma intensidade, com o mesmo fervor que-
Willen: "Fogo, anda cá."
De súbito, Stil ouviu o som de uma picareta a cair e sente o seu corpo a ser envolvido pelo calor de outro. Num abraço, Willen envolveu o seu amigo nos próprios braços, pressionando-o com força, protegendo-o. Pois esta era o tipo de pessoa que Willen era.
Willen: "Raios. Olha, desculpa por te ter pressionado. Eu...não imaginava que estivesses assim neste estado. Sabes que podes sempre contar comigo, hã?"
O homem pressiona-o com força. Dava a entender que se o deixasse ir nunca mais o veria, que aquele seria o último abraço entre eles. A forma como o apertava era dramática. Doía. Stil conseguia sentir isso muito bem. Ainda assim, pelo valor do ato, preferia ficar assim do que sozinho. A sentir a paixão de Willen na sua voz e nos seus atos. Assim, até a dor se tornava aconchegante.
E, sendo sincero, preferia que doesse do que se esse não fosse o caso, porque, desta maneira, tem a certeza que a amizade é genuína.
Stil: "Obrigado, Willen."
Falou a retribuir, pondo também o seu braço à volta do corpo de Willen, encostado ao cabo nas costas. Sentiu-o a estremecer por um bocado, todavia ele logo aceitou o gesto.
Quem não aceitaria num tempo destes?
Willen: "Deixa para lá. Não é preciso agradeceres. É...só pedires."
Stil: "Então ainda bem que te conheço, não é?"
Willen: "Bom mesmo...bom mesmo...mas vá!"
Ele largou o seu amigo e pegou na picareta que deixou cair.
Willen: "Tenho de reconhecer que é preciso voltar ao trabalho. Até um idiota como eu tem essa noção mínima."
E, assim, ele meteu mãos ao trabalho. Batendo com a picareta na secção inferior da parede na qual Stil também andava a bater. A ajudá-lo no trabalho. Os dois a contribuir na direção de um objetivo. Do mesmo objetivo com pretensões de descoberta.
Juntos.
Stil: "Sim, é claro. De volta ao trabalho."
Diz, a limpar as lágrimas.
Uma vez recomposto, o mineiro chegou ao pé do seu colega, de pega firme na picareta. Então, a segurar na ferramenta com as costas de ambas as mãos ainda molhadas, ele aguarda um pouco com os braços estendidos no ar e bate na mesma estrutura ao mesmo tempo que o seu colega.
Pela primeira vez, os dois coordenados.
Willen: "Sabes, ainda ficaste de me dizer."
Lembrou-se, enquanto eles lascavam a secção inferior da parede já bastante danificada.
Stil: "Dizer o quê?"
Pergunta, em meado à sincronia das pancadas deles.
Willen: "De responder à minha pergunta. Nunca a ouviste."
Stil: "Ok. Força."
Willen: "Certo. Responde-me a esta: o quanto é que estás disposto a sacrificar pela felicidade universal?"
Stil ergueu uma sobrancelha suja com os escombros acinzentados que esvoaçavam com cada impacto, anterior ou atual.
Willen: "Pareces-me surpreso."
Stil: "Foge um pouco dos parâmetros das tuas perguntas anteriores."
Willen: "E então, ainda achas que as minhas perguntas são estúpidas?"
Stil: "Está bem, está bem. Repete lá o raio da pergunta."
Disse, a conter uma risada irremediável.
Willen: "O quanto é que estás disposto a sacrificar pela felicidade universal?"
Stil: "Pela 'felicidade universal'?"
Willen: "Sim, para que todos possam estar felizes. Sem medos, preocupações. Isto num cenário hipotético, é claro, porque a felicidade em si é um tópico um tanto quanto-"
Stil: "Basta, ok. Eu já entendi. É desnecessário criares uma palestra à volta disso."
Willen: "E?"
Stil: "Na minha opinião, o que importa mesmo é a nossa felicidade. A felicidade a que nos diz respeito e a felicidade daqueles que nos importam. Isso é o que deve estar num pedestal acima de qualquer vontade externa ou dos outros. Nesse caso, acho que a minha resposta à tua pergunta é um grande...depende."
Willen: "Uau, obrigadinho pela informação."
Stil: "Estou a falar a sério. Depende de quem estamos a falar. Irá depender de a quem estivermos a considerar alegrar."
Willen: "Ok, então e se estivermos a falar de alegrar apenas milhões de pessoas desconhecidas?"
Stil: "Iria cruzar os braços e permanecer imóvel."
Willen: "E se pessoas que conhecesses estivessem ali no meio?"
Stil: "Hmm, reconsideraria...mas acho que chegaria à mesma decisão."
Willen: "O quê? Foda-se que cruel!"
Stil: "É o que é. Cada um sabe de si. Cada um trabalha para ter o que tem. Eu não devo nada a ninguém. Agradeço quem me ajuda, mas não julgo quem não o faz. Afinal, também eu compreendo como custa ter de gastar o nosso dinheiro com alguém que não nos diz nada. E não, nada disto veio com a crise, antes que a tua língua infernal pergunte. Admito que possa ter amplificado esta minha opinião que já reside em mim há muuuuito tempo."
Willen: "Pft. Só falinhas mansas para desculpar as tuas inclinações sádicas."
Stil: "Ai é? Olha que acho que fiquei de ouvir a tua opinião."
Willen: "Ah, queres saber o que eu acho?"
Stil acenou com a cabeça afirmativamente antes de demolir um pedaço grande da parede, a poeira no ar visível devido à iluminação da lanterna dos capacetes de ambos.
Willen: "Acho que tudo vale a pena se um bem maior estiver em cima da mesa."
Stil: "Tudo?"
Willen: "Tudo mesmo."
O modo como Willen nem hesitou em responder deu calafrios a Stil. Calafrios e...uma aguçada curiosidade.
Stil: "Dizes que sacrificas mesmo tudo."
Willen: "Não me digas que não acreditas."
Stil: "Surpreende-me. Só isso. Mas..."
Willen: "Algo me diz que tens uma questão."
Stil: "Deixa-me ser eu a perguntar-te agora. O quanto estarias disposto a sacrificar? Sei que disseste que é tudo. Queria é que elaborasses."
Willen: "Como assim?"
Inquiriu-o a espetar a picareta na parede a cair aos pedaços com particular força.
Stil: "Um criminoso, por exemplo. Uma pessoa inocente, um desconhecido bom ou mau. E se for um velhote, ou alguém que já passou pela sua crise de meia-idade, talvez um jovem estudante com uma vida por viver, uma criança...um bebé."
Willen: "Hmmm."
Vendo que Willen cerrou a boca enquanto mantinha as pancadas na parede em silêncio deu a entender que o tinha encurralado. Conseguiu calar o falador, só por isso esboçou um sorriso arrogante.
Stil: "Olha só. Parece que te apa-"
Willen: "Ah! Cuidado!"
Willen puxou forçadamente Stil para trás e, de alguma forma, conseguiu impedir que ele caísse no chão como a sua picareta ou a parede diante deles.
A cinzenta parede como tudo o que os rodeava que desmorona. Se desfaz em pedaços que tremem tal como toda a estrutura a que estavam agregados. A estrutura que também desliza. Desaba. Numa destruição lenta que abala tão eficazmente o coração dos dois mineiros numa sequência que durou segundos, mas que, para eles, pareciam horas, cada segundo uma hora em que a parede se preparava para...cair.
Cair para um espaço abaixo deles, deixando-os a encarar uma abertura pouco uniforme no chão, resultado do desabar de uma grande porção do que foi a parede à frente deles.
Voz de Ripple: "Pessoal! O que é que foi isto? Estão bem?"
Willen: "E-Estamos, Ripple. Estamos bem! Foi a parede que desabou!"
Disse, a sua voz um pouco contida apesar dos esforços para falar o mais alto que podia. Ainda assim, a sua pega no ombro de Stil era tudo menos contido. Era uma pega rígida e forte que trespassava o choque que levou com o momento. Stil aposta que também deve estar a pegar na picareta com a outra mão a usar uma força igualmente gigantesca, ao contrário dele, que a deixou cair em surpresa do abalo.
No caso dele, tem de se contentar em levar a mão à boca e deixar o medo passar.
Voz de Ripple: "Certo, er...precisam de ajuda? Podemos puxar-vos!"
Willen: "Eu não sei. A-A meu ver pode ser. Não sei é quanto a ti, Stil."
Ele virou a cabeça na direção do companheiro em quem mantinha a pega demasiado firme no ombro. O homem que era incapaz de responder, que não lhe olhava nos olhos. Pois só tinha olhos para o buraco aberto.
A secção que ficou aberta no chão à qual, compelido pela curiosidade, se aproximou.
Willen: "Stil, tudo bem?"
Encontrou-se o mineiro a cuspir depois do destinatário da questão ter se desprendido da pega dele e dado uns passos adiante.
Stil não respondeu. Apenas voltou a pegar na picareta e a caminhou de encontro à recém-alterada estrutura.
Willen: "Stil, o Ripple perguntou se queres voltar."
Continuou, controlado mais pelos sentimentos passageiros do que pela lógica.
Stil não respondeu. Apenas encurtou a distância entre ele e a boca do buraco.
Willen: "Para te dizer a verdade, eu não te culpo se quiseres voltar. Eu próprio acho que vou. Ninguém esperava que...isto fosse acontecer."
Stil não respondeu. Apenas parou diante da grande abertura no solo.
Willen: "Ninguém está em condições de continuar, Stil. Depois de um susto como estes, ninguém estaria."
Stil não respondeu. Apenas inclinou-se para a frente e espreitou para o que o buraco escondia.
Willen: "Anda daí. Está mais do que na hora de voltarmos. Vamos os dois juntos."
Stil não respondeu. Apenas recompôs-se e virou-se de modo a encarar o rosto preocupado de Willen com a sua feição vazia...
...e disse:
Stil: "Ripple, peço-te que prestes atenção ao meu cabo. Eu vou descer."
Voz de Ripple: "Er, ok. É contigo."
Willen arregala os olhos e corre até ao seu amigo, que ajustava o cinto à volta da sua cintura que mantinha preso, nas suas costas, o cabo.
Willen: "Stil, o que é que estás a fazer?"
Stil: "É inútil explicar. Faz-me um favor e olha para o local para onde caiu o bloco de pedra."
Willen: "Desculpa?"
Stil: "Willen, faz o que te pedi, por favor."
Disse, a erguer a voz e o sentido de urgência do pedido.
Willen lá anuiu com certa relutância. A balançar a cabeça, ele chegou-se à frente. Inclinou-se. Olhou e...
Willen: "Porra, Stil, deves estar a brincar."
Falou, a tornar a confrontar Stil.
Willen: "Seu grande idiota, pensava que te tinha feito mudar de ideias."
Stil: "Uma oportunidade de ouro como estas demora a vir. Se é que vem durante o nosso período de vida. Estaria sim a ser idiota ao deixar isto passar."
Stil puxou Willen para o lado e sentou-se perto do buraco. Os seus pés a suspensos no ar. A flertar com a queda que poderia a sua perdição.
Pelo menos, morreria com uma boa vista.
É que, aquilo em que os seus olhos pousaram a vista, era mais do que uma caverna. Era uma caverna brilhante. Capaz de cegar qualquer um com o brilho emitido por cada um daqueles cristais azuis.
Azuis e tão, tão cristalinos. A cobrir não só o chão, o que está ali ao fundo a adornar o chão. Como também decoravam o teto, fornecendo-lhe também o seu calmo reluzir azul que pairava sobre a atmosfera. Cumprindo a função de estalactites e estalagmites.
Uma descoberta estranha. Uma descoberta nova, decerto. Uma descoberta de um novo tipo de cristais que não pareciam ter sido descobertos. Uma descoberta improvável. Uma descoberta belíssima. Uma descoberta digna de ser vista por todos. Uma descoberta a ser emuldurada, a ser disposta em museus, se não fosse...uma mina.
Uma mina azul.
Uma mina de cristais.
Uma mina de ouro.
Uma mina que poderia revitalizar a indústria mineira com tamanha riqueza.
Era agora ou nunca.
Stil: "Ripple, confirmas que o meu cabo está bem atado à tua extremidade?"
Voz de Ripple: "Confirmo, Stil."
Stil: "Peço-te que tu e o Fritz segurem no cabo e que, com calma, o vás desenlaçando aos poucos para me permitir a descida, ok?"
Voz de Ripple: "Vou tratar já disso. Assim que sentires um pequeno puxão no cabo, podes descer."
Stil: "Obrigado!"
Bradou ao pegar na sua picareta antes de descer.
Willen: "Stil, por favor. Isto é desnecessário."
Stil tornou a ver a cara de Willen mais outra vez antes que o cabo estivesse pronto para a sua lenta queda. Mais para ao menos dar-lhe essa satisfação do que com medo de que nunca o voltará a ver.
Willen: "Nós podemos resolver isto. Se quiseres, eu posso dar-te os meus rendimentos para compensar isto e sairmos todos daqui. Até me disponho a pagar-te uma ronda no bar. A ti, a o Ripple e ao Fritz. Todos ficamos a ganhar."
Por fim, Stil sentiu uma força a puxar o cabo para cima, acima da coba onde se meteram. Fritz e Ripple estavam a postos.
Ele também.
Stil: "Parece-me tudo muito bem, Willen. Acredita. O único problema é que essas ofertas durarão pouco. E será apenas uma questão de tempo até a felicidade originária desses momentos dissipar para dar lugar à preocupação e arrependimento do que poderíamos ter feito, do que poderia agora ajudar a nós mesmos e àqueles que nos são queridos. Eu não quero que isso aconteça. Não quero ter de sofrer com o sofrimento das pessoas que me importam. Com o sofrimento do meu pai. Eu não quero me arrepender!"
Willen: "Stil, espera-"
Com um empurrão que Stil executou ao puxar com os pés na berma do rebordo, o mineiro descendeu sem ouvir os últimos suplicos de Willen.
Isento de apoio debaixo dos seus pés, Stil deu por si mesmo suspenso no ar, a uns três metros dentro da gruta. Parado no ar, salvo alguns balanços remanescentes do impulso inicial.
O cabo de aço estava esticado a apontar para cima, mantido assim graças aos esforços de Ripple e Fritz lá em cima. Eles que deviam estar a segurar o cabo de momentos. À espera do momento certo para se coordenarem e passarem a desenlaçar o cabo.
Debaixo dele, debaixo dos seus pés, a uma distância aterradora de onde ele estava de provavelmente uns sessenta e poucos metros, via vários grandes blocos de pedra cinzentos comuns, vindos da fragmentação do mesmo bloco que delizou da parede e que estava agora dividido em pedaços dispersos no solo cristalino da gruta em que os seus olhos miravam. Repleta daqueles misteriosos cristais azuis. O seu objetivo principal com esta sua aposta perigosa.
O importante são os cristais. Chegar lá abaixo. Partir alguns cristais com a picareta que leva resguardada ao peito. Levar o máximo de fragmentos que conseguir carregar e, se tudo correr bem, tudo voltará ao normal outra vez.
Graças aos seus esforços.
Voz de Ripple: "A descer...AGORA!"
Feito e dito. Dado o sinal entregue num grito gutural, Stil quase se sentiu num elevador pela maneira como, aos solavancos, sentiu a sua descida. Efetuada aos poucos. Em pedaços. Como Stil se apercebeu pela forma como a sua cabeça balançava para cima e para baixo sempre que os formigueiros na sua barriga começavam. Sendo esse o indicador principal de que estava sim a descer.
Mesmo assim, a ligeira turbulência não o impediu de apreciar a vista. Até porque a sua vida se resume a isto e não estar habituado aos tremelicos de uma descida é que seria o mais estranho no meio disto. Mais estranho que os próprios cristais. Os hipnotizantes cristais que de tão azuis, tão profundos que parecem na reflexão do seu minério que exala...poder.
No meio da sua admiração, desceu uns cinco metros dos sessenta que precisava de descer.
Azul. Azul em todo o lado. Azul nos tetos, nas paredes e depressões dos espaços intersticiais entre o teto e as paredes. Nas depressões no chão. Inclusive na parte mais lisa do chão.
Reduzidos uns sete metros a menos no caminho.
Eram tantos que Stil sentia que o brilho azulado que emanavam chegavam a pintar o que devia ser uma superfície cinza e morta num mar tranquilo e excêntrico. Chegava a ser um brilho imenso que renderizava a lanterna no seu capacete como inútil. E, contudo, os cristais não se encontravam em demasia ao ponto dos minérios não estarem a florescer uns sobre os outros.
Mais onze metros descidos.
Willen também não o chateava com os seus pedidos que entravam por um dos seus ouvidos e saíam pelo outro. Por preguiça, Stil também andava com pouco interesse em ver se ele estava a observá-lo pela abertura em cima dele.
Dois metros a menos.
Especialmente porque a única coisa que iria obter ao virar a sua cabeça para cima, em meado aos soluços da lenta queda, seria uma confirmação, uma satisfação transitória. Já esta vista, esta paisagem bem abaixo dos seus pés, até este cheiro do pó que o as correntes de convecção do ar puxam do solo...é duradouro, marcante. É permanente.
Dezassete metros a menos.
Deviam faltar pouco menos de vinte metros. O chão ainda estava longe. Mas menos longe, já que a sua visão parecia estar mais livre da inicial explosão de azul que encheu o seu glóbulo ocular ao ver a riqueza cristalina do local. Fazia sentido. Estava mais perto do solo, tinham desaparecido de vista muitos outros cristais. Por isso é que conseguia discernir a verosímil cor cinzenta do solo ao lado dos escobros que caíram.
Vinte metros a menos.
Stil: "Ahhh!"
Ele gritou com a rápida sucessão de solavancos que se deu. Tinha descido bem mais o que em todo o percurso. A sua cabeça já estava a doer de tanta mudança na paisagem que o seu cérebro teve de processar com o aproximar drástico dos blocos do que tinha sido a parede. Na verdade, estava a uns cinco metros de pousar na saliência que era a extremidade oblíqua do fragmento dos escombros.
Stil olhou para cima antes que se dêsse outra descida. Nem que fosse só para perguntar a Ripple se tinha havido algum problema com o desenlace do cabo.
Com isto, viu Willen a observá-lo de cima. Sisudo. Sério. Boca cerrada. Fora de como ele normalmente está. Todavia, ele ignorou esse aspeto insignificante e abriu a boca para fazer a pergunta a Ripple.
Isso se Willen não se tivesse antecipado:
Willen: "Ripple! Faz-me um favor e desenlaça todo o cabo de uma vez!"
A boca de Stil paralisou no momento. Ainda pensou em dizer algo, mas, assim que conseguiu unir forças para fazer mover a sua língua...
...o comando já tinha sido cumprido.
Ripple já devia ter largado todo o cabo, pois Stil caiu a todo o vapor os restantes cinco metros em questão de um segundo.
Um segundo que culminou com a sua aterragem com as costas a caírem numa extremidade aguçada de um bloco de pedra maciça, marcado com o som de um estalo da sua espinha.
Deixando-o com o seu corpo dobrado naquele gume, das pernas para baixo completamente suspenso e das pernas para cima encostado à superfície rugosa que devia sustentar aquele pedaço afiado que o segurava.
Segurava e...e partia...o que explica porque é que ficou com os olhos virados para uma parede...vista de pernas para o ar...por muito que essa nuance lhe tivesse passado despercebida...
...até porque consciência é o que parece que lhe ficou em falta depois de...
Um estalo...o estalar. Foi tudo o que a sua cabeça confusa conseguiu tirar de certo desta rápida sequência de eventos. Em que...Willen tinha-o traído, por muito que ele não soubesse que razão ele teria para fazer o que fez...o que é que isso lhe ia beneficiar...se bem que isso não lhe vai valer muito pelo modo como sente...
...pelo modo como a dor o apodera...
Stil: "G-G-G-Gah!"
...sente as...as pálpebras a colarem-se aos olhos...a respiração mais lenta e pausada...a sua boca aberta escancarada sem forças para se fechar...
Stil: "Au...a....a......ma........gah......................."
...na verdade a sua respiração é fraca...ténue...o ar escapalhe do nariz...d-da... da, da boca...
Stil: "A......................................................................................"
...a queda...a queda deve ter esmigalhado os seus pulmões no...no...no momento do impacto isto é...
...claro, do que é que poderia ser...apenas da queda...oh se não sentiu a queda...sente como sente agora uns...uns...umas...umas tremidas no chão...tremidas não, um tremor de terra...
...estranho...ele...ele...Stil...Stil não se lembra de ter sentido a área da caverna a tremer quando...quando...quando descia...
...que momento ideal para isto...ideal mesmo para sentir um abalo chão, nesta ponta que o sustenta e que treme...
...treme como toda a caverna deve também estar com este terramoto que...que ainda não parou...ainda continua...não só continua como cresce em intensidade...
...tal como Stil sente que algo se aproxima...
...algo gigante...
...longe de ser...humano...
...ou seja o que for...
...que seja o que for...o que importa mesmo é que...que o ajude...
...q-que o ajude...por favor ajude-o...
...o som cessou...
...o que quer que fosse parou...
...e parou diante dele...
...até de pálpebras a cerrar...Stil percebeu isso...percebeu isso...percebeu que alguma coisa estava parada...a olhar para ele...um ser vivo a olhar para ele...
...ele é que não via...via...via nada senão...cr-cristais azuis...da parede que...estava obrigada a mirar...dada a posição HORRENDA em que estava...
...m-matem-no...
...m-matem-no...
...matem-no...
...mantem-no...por favor...
...ele só pede isso.....................................
...pedido...
...
...
...
...pedido e feito.
Subitamente, Stil sentiu o seu corpo mais quente. Mais quente do que já se encontrava. E não era o sangue a pulsar pelo seu corpo, à correria para atingir todos os cantos até aqueles inalcançaveis devido a fraturas. Não, este calor era diferente.
Exterior, não interior.
Natural, não foi criado.
Fervente, não apenas quente.
Este abraço mais calorosa que o que Willen lhe tinha dado, que a pessoa que ele achava que era o Willen lhe tinha dado, era...
...o abraço das chamas.
As chamas.
Assim confirmou mal notou a cor laranja a apoderá-lo. A tomá-lo. A consumir inclusive a sua visão do que era a parede banhada na luz dos cristais azuis.
Fogo.
Finalmente fogo.
Finalmente um fim.
Finalmente a morte.
E ela vinha quente.
Vinha nos momentos mais inesperados.
Vinha como salvação.
A trazer...felicidade.
É que...ele não poderá nem verificar no refelxo dos cristais na parede...
...mas jura que estava a sorrir.
Tudo porque alguém tinha sido altroísta.
Se esforçado para concretizar a vontade de outrem.
Neste últimos momentos, Stil nem conseguia se decidir quanto ao que era mais engraçado:
...se era o facto de estar a agradecer a algo que nem viu...
...ou se era o facto de agora vir a perceber que...
...estava a agradecer que houvessem pessoas com a mentalidade de Willen.
Willen desatou cinto agora que se encontrava a poucos passos de voltar à superfície onde estavam Ripple e Fritz. Ouvia gritos de lá. Nesse caso, mantinha a pega firme na picareta. Só por precaução.
No caminho escuro em que caminhava sómente iluminado pela lanterna no capacete, poderia pensar num monte de coisas. Alguma coisa que lhe tirasse o desconforto que sentia nas pernas por ter de subir aquele terreno inclinado em direção à abertura bem iluminada além, a autêntica luz no fim do túnel.
Que tal pensar sobre o jantar? Sobre a rodada de bebidas a que ainda está disposto a pagar, por muito que a pessoa a quem tenha feito a oferta possa estar...bem...em outro plano de existência, para dizer o mínimo. O mais lógico e humano a fazer seria realmente pensar na perda que causou, nos anos de atuação deitados para o lixo tudo por causa de um momento, de uma escolha impulsiva da sua parte.
Perante essa realização, sentia-se assombrado por uma frustração invasiva. E não, não pensava nele. Agora, algo maior se alevantava: o relatório que teria de escrever à Fundação a explicar a morte que causou.
Ele foi enviado para ali como um espião deles. Willen é um membro da divisão de Infiltrados. Pessoas enviadas para os cantos mais aleatórios do mundo para servirem de olhos da organização onde a influência deles pode não alcançar. São pessoas como Willen, os seus agentes secretos, disfarçados na sociedade, aparentemente a seguirem os seus ideiais enquanto, na verdade, os únicos ideiais que seguem são os da Fundação.
Um trabalho difícil como todos os outros. Que requer um nível de atuação acima daquele premiado nas cerimónias das academias de atores. Segundo o que Willen ouvia, também era uma profissão que requeria um estômago forte pelo modo como são obrigados a mentir e a descartar pessoas com quem criam um apego. Mas, sendo sincero, Willen nunca sentiu isso. Quer dizer, nem agora sente isso. Sente é o fardo e o cansaço deste trabalho à paisana. As dores musculares de um mineiro.
Talvez a única coisa fácil deste trabalho fosse saber que não era o único com a mesma tarefa no local.
Willen: "Bem, bem. Vejamos a fonte do alarido..."
Antecipou-se, a deixar que os feixes luminosos o envolvessem e o tirassem daquela escuridão.
Voz de Ripple: "Fica caladinho!"
Voz de Fritz: "Sacana, deixa-me!"
Efetuado mais um passo, ele tinha alcançado solo plano. Finalmente solo plano. Finalmente alguma luz, graças às lâmpadas fuscas no teto rochoso.
Passava tão pouco tempo ali que se esquecia que o espaço era demasiado parecido com o túnel em que ele o Stil passavam o tempo a escavar. Era uma divisão que se situava entre um túnel que dirigia para baixo onde aconteciam as escavações e um túnel que se dirigia para cima que levava à superfície que, ao fundo, emitia tanta luz que chegava a ofuscar.
Voz de Fritz: "Ah, larga-me..."
A principal diferença é que ali tinham uma pequena secção abobada com um plano horizontal onde possam pisar e, é claro, iluminação decente.
Voz de Ripple: "Não te mexas!"
Willen: "Oh, estranho...onde é que eles se meteram? Não os estou mesmo a ver. Parece que apenas os consigo ouvir."
Comentou para si mesmo em tom trocista, enquanto desligava a lanterna do capacete. Ele virou o seu corpo, de picareta na mão, à procura de sinal de vida.
Voz de Fritz: "Vocês nem percebem o que fizeram!"
Voz de Ripple: "É melhor é que fiques quieto!"
No entanto, ao contrário da sua atuação com Stil, na qual conseguiu efetivamente enganar o seu colega durante tantos anos, aqui decidiu propositadamente fingir que não tinha visto Ripple e Fritz.
Até porque seria difícil negligenciar os dois homens no chão à sua frente, ofegantes como tudo.
Fritz: "Tu vais ser despedido! Tu e o Willen vão ser destruídos pelos nossos patrões assim que descobrirem o que aqui fizeram!"
Willen: "Ah, o quê? Ripple! Fritz! O que é que estão a fazer? Ora bolas, então isto é a fonte do barulho!"
Ripple: "Cala-te e ajuda-me aqui, seu idiota."
Cuspiu, bruto, com a respiração pesada.
E a visão era gloriosa. Faz com que a subida dolorosa tivesse valido a pena. Quer dizer, aquilo era cómico. Ver o seu parceiro a subjugar Fritz no chão, fazendo proveito das habilidades a que tão pouco recorria.
O seu colega dos Infiltrados com as costas a roçar no chão com cada movimento brusco de Fritz, que, deitado em cima dele, tentava soltar os braços de Ripple amarrados ao seu pescoço. Ou tentava afastar os joelhos e pés dele que se envolviam à volta da cintura.
Fritz: "Isto vai virar contra vocês! Tenho a certeza disso!"
Ripple: "O que é que estás a fazer? Ajuda-me!"
Suplicou com todas as letras, aproveitando o aspeto de que Fritz anda tão preocupado em livrar-de Ripple que nem notou na presença do terceiro elemento.
Willen: "Desculpa, sabes como é. Quero registar esta imagem na minha memória para que os outros possam ver."
Ripple: "Seu filho da puta."
Willen: "Vá, tens de admitir que até tem piada."
Ripple: "Ajuda-me, caralho!"
Willen: "Está bem, está bem."
Willen aproximou-se dos dois mineiros à bulha ou, na verdade, do mineiro à bulha com o pretendente de mineiro. Ele ajoelhou-se, ainda a pegar na picareta, de olhos postos na situação. Não foi preciso uma grande análise para averiguar a estratégia a tomar.
Fritz: "Solta-me!"
Willen: "Podes soltá-lo, Ripple?"
Ripple: "Nem penses, Willen! Este gajo é uma besta! Ele tentou atacar-me com uma picareta!"
O objeto do qual Ripple o deve ter desarmado, visto que estava uma picareta no chão. O que ainda lhe dava mais confiança.
Willen: "Acredita em mim. Podes largá-lo."
Disse no meio das indignações dos dois sujeitos que batalhavam sob o plano rochoso e repleto de pequenas arestas pontiagudas.
Ripple: "Willen!"
Willen: "Ripple, é uma ordem: larga-o."
O homem deitado nas rochas reconsiderou, os seus olhos claramente a divagar em meado ao chacoalhar do indivíduo subjugado. Todavia, lembrou-se de um aspeto de Willen de que raramente se lembrava:
Ripple: "Raios te partam, Willen! Tens sorte de te conhecer bem o suficiente para aturar os teus esquemas."
Em gestos rápidos, Ripple desamarrou os braços do pescoço de Fritz, desuniu as suas pernas da cintura do mineiro e deixou-o livre das suas amarras.
Fritz: "Ah, finalmente..."
O homem até há pouco imobilizado saiu de cima do impostor que o traíra num ímpeto fervoroso, metendo-se de joelhos enquanto recuperava o fólego. A raiva de quando estava a ser contido por Ripple aparentemente a ser deixada de lado em prol da regeneração do seu corpo. Até porque as suas cordas vocais deviam estar tão magoadas como o seu pescoço vermelho ou a sua cintura comprimida de tanto gritar.
Demorou-lhe foi a perceber que, à frente dele, também de joelhos estava Willen.
Fritz: "W-Willen..."
E, a confirmar as suspeitas do próprio Willen, só agora, num breve momento de descanso livre do esforço físico, é que Fritz notou a sua presença. Tanto que logo a seguir as energias tinham-lhe voltado, como se tivesse visto uma jova razão para continuar a lutar.
Fritz: "Willen, seu traidor! Porque é que fizeste aquilo com o Stil?"
Bradava ele a segurar no elemento recém-chegado pelos suspensórios do fato dele, ainda agachado ao mesmo nível dele.
Willen: "Tu conseguiste nutrir um ódio pouco saudável por nós neste meio tempo, não é? E olha que nunca pensei que fosses possivelmente nutrir-te de um modo pouco saudável."
Fritz: "Para de brincar! Eu quero respostas!"
Ripple: "Willen, consegues?"
Pelo canto do olho, reparou no seu colega que se erguia e estava ainda em perfeita condição de o auxiliar apesar do cansaço. Mesmo assim...
Willen: "Obrigado, Ripple. Mas não vai ser necessário. Eu consigo cuidar dele."
Informou, a tornar a fazer contacto visual com Fritz.
Willen: "Afinal, também me parece que este nosso colega deve estar apaixonado por mim, já que ele recusa-se a tirar o olhos da minha cara. É que ele nem se deve ter apercebido que tu te levantaste no meio tempo, Ripple."
Fritz: "Seu-"
As palavras do homem não envolvido na conspiração foram cortadas por ele próprio, que optou por redobrar a força sob a qual mantinha o impostor nas rédeas através da sua roupa.
Willen: "Sim, acho que este está controlado."
Voltou a dirigir as palavras a Ripple após o comentário irónico.
Willen: "Faz-me um favor e trata de contactar os nossos patrões. Hoje temos a sorte de não termos mais mineiros aqui. Por enquanto, é a desculpa que vamos dar aos superiores que vai mais pesar aqui."
Ripple: "E o que é que eu lhes digo?"
Willen: "Deixo isso contigo desta vez."
Ripple: "Vês? Aí está uma proposta que não posso recusar."
Sucederam-se sons de passos, no que devia ser a saída de Ripple de cena. Willen é que ficou de confirmar isso, com o olhar ainda vidrado em...Fritz.
Willen: "Bem, agora que o meu colega se retirou, somos só nós os dois."
Fritz: "Tu e o Ripple são da mesma laia. Ambos dois pedaços de lixo a cooperarem na morte de um dos vossos próprios amigos. Qual é que é sequer o ponto disto tudo? Diz-me!"
Willen: "Posso contar-te...se me soltares, é claro."
Fritz: "Tsk."
Ele largou a roupa de Willen e pôs-se de pé. Metendo-se a julgá-lo de cima.
Fritz: "Então diz-me lá. Qual é o propósito disto? O que é que se passa contigo e com o Ripple? Porque é que mataram o Stil? Fala!"
Willen: "Prometo que nós temos uma razão mesmo boa."
Fritz: "Eu...eu nem devia estar a dar-vos uma oportunidade. Seus...seus assassinos!"
Acusava o homem de joelhos, com as lágrimas a verter descaradamente.
Fritz: "Nós trabalhávamos juntos. Nós bebíamos juntos. Comiámos, riámos, viviámos como uma unidade. Nós...nós éramos amigos."
Willen: "Tens razão, 'éramos'."
Fritz: "Porque isto foi tudo uma brincadeira para vocês? Porque não passava de uma façada? Porque tudo isto se resume ao vosso egoismo e ideiais que ainda te recusas a explicar???"
Willen: "Não, Fritz. É por isto."
Willen meteu a mão livre no bolso da sua jardineira que se situava no peito. A vasculhar algo.
Willen: "Aqui. Vem ver."
Falou, em forma de convite, sem ter tirado a mão do bolso. Levado pela intriga e a emoção das lágrimas que deixavam um rastro molhado no seu rosto, Fritz agachou-se-
Willen: "Porra, és mesmo estúpido, Fritz."
Encontrou-se a dizer depois de encostar a ponta da picareta à cabeça do mineiro que tinha acabado de agachar. O mesmo mineiro que ficou petrificado mal sentiu o metal frio da ponta mortífera no lado direito da sua cabeça. E ao ver que a mão que Willen retirou do bolso...estava vazia.
Willen desmanchou-se em riso ao ver a cara surpresa de Fritz.
Willen: "Hahaha. Olha bem para ti. Hahahaha. Como é que nem pensaste que eu te poderia enganar outra vez?"
O riso continuava a ecoar pela caverna de uma maneira desconcertante. Alta e orgulhosa risada. Que parecia aumentar o desconforto do corpo teso de Fritz.
Willen: "Hahaha. Queres que eu te diga o que é mais engraçado no meio disto tudo, mais do que até a tua burrice: é o facto de ainda te pores a falar de egoismo. Hahahaha."
Fritz engoliu em seco.
Por volta da mesma altura, Willen acalmou os ânimos.
Willen: "Ai, ai, ai. Seria deprimente se não fosse pela tremenda idiotice que demonstras, sabias? É que eu estava armado. Tu ficaste sem a tua picareta no meio do confronto com o Ripple. E, mesmo em desvantagem, baixaste a tua guarda."
Willen levantou-se, a manter a arma à cabeça do homem derrotado.
Willen: "O treino que tive também me ensinou a ler pessoas. Não tive muito sucesso. Na verdade, acho que ninguém conseguiu aprender bem como é que se fazia aquilo, exceto o Daniel. É que nem deves imaginar o quão difícil é diferenciar um sorriso de um sorriso escancarado. Essas nuances são matreiras. Mas algo para que sempre tive jeito foi perceber a base ideológica das pessoas. Por isso, acredita quando te digo que és igual ao teu amigo Stil."
Fritz estremeceu assim que Willen fez movimentos circulares com a ponta da picareta no lado da sua cabeça.
Willen: "E não digo isso só porque os dois vão partilhar o mesmo destino. Afinal, vão os dois morrer, não é mesmo?"
Fritz tornou a chorar.
Willen: "Mas não. Não, não, não. Não é só por isso. Digo-o porque sei que ambos são uns egoístas de merda."
Cessou os movimentos e deixou a ponta da picareta sossegada no crânio do homem subjugado.
Willen: "Vocês os dois são mesmo uma peça. São até honrosos, de certo modo. Tenho de admitir que nem todos seriam capazes de dar o mundo para proteger os que amam. Não só a vós mesmos. Ainda assim, o problema está aí. Só protegem uma pequena bolha de pessoas com quem se preocupam, incluindo-se a vocês mesmo ali dentro propositadamente. Ok, talvez 'egoísmo' não seja a palavra certa, agora que digo em voz alta. É uma espécie de altroísmo incompleto. Mas esse é o problema. É incompleto. Bastardo. Péssimo."
Ele inclinou-se para a frente, aproximando o seu rosto daquele do mineiro com quem fingiu uma amizade durante todo este tempo. E olhou-lhe nos olhos. Trémulos, molhados, olhos, repletos de terror.
Willen: "Agora olha para mim, no meio dessas tuas lágrimas. Vê bem o meu rosto. E reparas que estás a olhar na versão perfeita de ti, na versão perfeita da tua ideologia chacinada. Pois por muito que eu não possa negar que te importas com o Stil, já que vivi rodeado por vocês anos suficientes para saber isso, também posso dizer com a mesma segurança que não farias nada se, ao invés do Stil, quem estivesse fosse um pobre mineiro azarado que nunca conheceste. Eu sei que o Ripple o iria ajudar, quer por dever para manter a sua façanha, quer porque é aquilo em que ele realmente acredita. Eu sei que EU o faria. Já tu...o Stil...vocês prefeririam morrer do que oferecer ajuda a alguém desconhecido que precisasse."
Fritz fechou os olhos. O contacto visual quebrou-se. E Willen percebeu que não havia mais nada a tirar dali.
Willen: "No fim, também foi o vosso egoísmo a vossa perdição."
Relatou, a endireitar-se.
Willen: "O Stil porque foi demasiado curioso e aventurou-se num lugar onde não devia. A tentar extrair algo que, francamente, seria mal usado nas mãos dele. E tu, Fritz, foi porque achaste que, no final do dia, serias tu a sair vitorioso daqui. Foi por isso que nem deves ter reparado que eu estava armado. Por isso é que te deixaste levar pelas minhas falinhas mansas. Por isso é que eu estou em pé e tu deitado, à minha mercê."
Ele puxa a picareta para si. Fritz abre os olhos encharcados e levanta a cabeça, encarando o homem que tem a vida nas suas mãos:
Fritz: "Nós nunca te tratámos mal. Nós tinhamos-te como amigo, Willen."
A sua voz não cedeu à tristeza.
Fritz: "Para mim e para o Stil, tu e o Ripple eram...eram...eram nossos amigos."
Willen ergueu a picareta no ar.
Willen: "Obrigado pelo elogio. É sempre bom saber que fizemos um trabalho tão bom que os outros acreditaram. Mas, tal como agora, esse foi o principal erro que te levou aqui..."
Então, ele colou a segunda mão à arma que finalizaria tudo e disse uma última coisa:
Willen: "Erram ao achar que todas as pessoas se limitam a ser apenas o que deixam mostrar. Tu e ele como mineiros deviam saber mais do que qualquer outra que há muito mais do que a superfície dá a entender."
Willen deixou cair a picareta e perfurou o crânio Fritz.
E fez tudo com um sorriso na cara.
Um sorriso de um trabalho bem feito.
Notas:
Mesmo antes do incidente relatado, a Fundação já tinha descoberto amostras pequenas do cristal, que conseguiu manter só para si graças à ação dos vários agentes dos Infiltrados presentes nos campos de mineração e aos contratos e negócios realizados em privado com entidades e organizações previamente detentoras da posse deste minério que, até então era uma nova descoberta. Importante notar também que estes negócios feitos por debaixo do pano tiveram uma segunda intenção: a de ocultar a existência destes novos cristais.
Sabendo da poderosa fonte de poder que podia advir desses cristais, a Fundação deu ordens específicas para os seus agentes que fazem parte dos Infiltrados e que trabalham nas minas (como é o caso de Willen e Ripple) de extrair e anular qualquer testemunha que possa provar a existência deste novo elemento secreto.
Após a descoberta da caverna por Willen e da riqueza que nela residia, a Fundação instalou um perímetro nos arredores da boca da caverna que iniciava a descida, na abertura localizada à superfície. Vários soldados barravam essa entrada, enquanto, mais a fundo, cientistas enchiam os recantos profundos anteriormente percorridos pelos soldados Infiltrados, que os aconselharam e informaram quanto à descoberta antes dos estudos começarem. Foi esta pesquisa que permitiu que os especialistas conseguissem determinar a rotina do Dragão, o guardião dos espólios cristalinos, para permitir a realização de pequenas extrações dos conteúdos da caverna reluzente através de guindastes e máquinas de pinças mecânicas.
Mais tarde, este posto de controlo, propriedade da Fundação Juízo Final, foi invadido e tomado por um grupo de JF's sencientes denominado por Os Diferentes.