JF-37 Nakina

17-09-2023

Nome: Nakina Akio.
Apelido dado: Nakina.
Idade: 29 anos.
Aparência: Existiram vários avistamentos desta figura, cada um descrevendo-a a vestir uma roupa diferente. Umas vezes uma roupa mais chamativa como o seu vestido vermelho de saia comprida (a roupa com que foi mais vezes avistada a vestir), que exibe as nódoas negras no seu braço esquerdo, as suturas no seu braço direito e os cortes cicatrizados na sua perna. Outras vezes veste um hoodie cinza mais discreto que deixa a advinhar as vulnerabilidade que a roupa possa estar a esconder. Independentemente do caso, um elemento está sempre presente: a sua máscara branca rachada, apenas pintada com um toque de vida carmesim nos lábios.
Altura: 1 metro e 66 centímetros.
Regime alimentar: Omnívora, como todos os seres humanos.
Contenção: ----
Cela de contenção: -------
Vítimas passadas: 31 vítimas descobertas.
Habilidades: Nenhuma habilidade fora do comum.
Fraquezas: Qualquer tipo de dano físico, uma vez que a sua fisionomia e resistência física é igual à de um humano comum.
Classe: 

Relato:

Naquele dia, Nakina Akio tinha saído à rua sem a intenção de matar.
A faca que ela costumava levar metida no bolso do vestido, se ela se sentisse confiante, ou na manga do seu hoodie, quando se sente mais fechada, tinha sido deixada em casa. Propositadamente deixada em casa. E a prova definitiva disso é que hoje vestia um hoodie cinzento simples sem nenhuma imagem de marca à vista tanto à frente como atrás. 
E a sua manga certamente não estava a ocultar alguma lâmina.
Nakina caminhava encapuzada em passos lentos pela noite que faziam ecoar o grave bater dos seus saltos altos nas rochas do chão. Nunca tinha percebido o quão estranhas as ruas de Asakusa eram quando as estrelas apareciam no céu escuro. Só agora é que tinha notado o quão...vazias as ruas pareciam.
O que até que vem a calhar. Se tivesse que ver mais alguém a reagir com caretas feias à máscara estragada que vestia, seria capaz de quebrar a promessa que fez a si própria antes de sair de casa. Ainda que, pensando melhor, isso fosse contra os seus princípios. 
Sangue não precisaria de ser derramado se não houvesse uma razão para tal, se não houvesse a razão para tal.
Àquela altura do dia, as casas tradicionalistas de madeira com farrapos coloridos que imitavam as antigas cabanas do período Edo pareciam peças perdidas de um passado há já muito tempo esquecido. As lanternas redondas de papel encarnado, uma das principais atrações turísticas da zona, encontravam-se pedurados nos achatados tetos das casas. Estes pedaços de adereço eram a única ténue iluminação para Nakina e para os poucos homens que, à porta dos estabelecimentos tentavam chamá-la para dentro das suas cabanas de tatamis semi-abertos. Segundo o que via, as casas de prostituição eram os únicos establecimentos ainda em serviço naquela zona, àquelas horas.
Ela ignorou os pedidos dos homens velhos de kimono, as suas vestimentas a simbolizar a perfeita antítese daqueles costumes nacionalistas que faziam refém os habitantes daquela cidade. Nakina continuou por aquela estreita rua, cheia com o mesmo modelo de cabana dos dois lados. Quase todas fechadas. Algumas delas habitações, outros sendo establecimentos.
Um que a faz parar com um pequeno vislumbre da sua fachada.
Nakina demorou meio minuto a aperceber-se que estava petrificada, ali, a olhar para a montra de um cabeleireiro. Um cabeleireiro que, diga-se de passagem, se destacava no meio daqueles achatados edifícios de madeira de costume feudal com o seu design moderno.
Nada de inventivo, mas revigorante a exibir a sua entrada de cores negras com uma porta de maçaneta dourada. A sua estrutura com um tamanho normal, contudo claramente não gigante. E...também havia a montra.
A montra a dispôr um póster que levou Nakina a estender o seu braço esquerdo metálico, ocultado pela manga comprida da sua escolha de vestimenta.
O que ela via não era o seu reflexo. Porventura, se olhasse uns centímetros para o lado do póster, ela teria visto a máscara branca rachada que cobria a sua cara. O seu escalpe careca coberto pelo capuz do hoodie. Ou as suas suturas, cortes e nódoas negras que permeavam a sua pele.
Ao invés disso, o que ela via e o que a maravilhava era a figura do póster.
Yura Dejima. A modelo. Ela que, na imagem disposta, encontrava-se num chamativo vestido vermelho, com as costas pegadas a uma parede reluzente de mármore escurecido. Os seus lábios a exibir um batom carmesim que a recordava da linha vermelha que cobria a zona dos lábios na sua própria máscara. 
Não, acima de tudo, estava o vermelho. O vermelho do vestido. O vermelho do vestido que era quase igual ao do SEU vestido vermelho. 
Nakina sabia que não estava com inveja. Não sentia ódio dela. 
Ela era indubitavelmente bonita, mas...não apetecia matá-la.
Não, como é que poderia odiar a Yura? Como é que poderia odiar a mulher que a inspirou durante todos estes anos? A mulher que ainda a inspira com o seu brilho e beleza inigualáveis. 
Não, não, não, não, não. 
Nakina sente-se com dó de si mesma pelo acidente que a pôs neste estado enquanto que, como a própria imagem prova...ela devia estar ao lado de Yura...as duas em vestidos rubros.
Nakina: "..."
Hoje disse a si própria que não deixaria que o passado a escravizasse. Prometeu a si própria que ninguém morreria. Por essa razão, afastou os pensamentos negativos antes que eles causassem algo do qual ela se viria a arrepender. E substituiu esses pensamentos com um desejo: o desejo de obter aquele póster.
Segundo o que se lembra, ela não tem aquele póster na sua habitação.
Nakina seguiu para a porta, deixando os seus dedos metálicos deslizar pelo vidro por todo o curto percurso, fazendo um ranger agudo nos vidros. Isso antes de passar a prótese na mão para a maçaneta da porta de vidro, a qual girou e abriu.
Voz masculina: "Bem-vindo!"
Nakina respondeu com silêncio. Em grande parte devido ao facto de ter levado o primeiro momento dentro do establecimento para respirar aquele cheiro a laca típico dos cabeleireiros e para absorver as suas primeiras impressões.
Foi apenas necessário entrar num local que minimamente lhe relembrasse os bastidores e as camadas de maquilhagem que as amáveis senhoras da sua companhia de moda lhe punham para ela se meter...estranhamente à vontade. Um pouco como se ver aquele espaço de paredes brancas à direita e à esquerda e pretas à frente e atrás fosse um fragmento de uma memória que ela enterrou há tempos.
À sua esquerda, aqueles três pares de assentos almofadados virados para os vidros chumbados de luzes e luzinhas. As tesouras e lâminas soltas pertencentes a máquinas de barbear sobre a pequena mesa metálica de rodinhas, posicionados junto a um desses assentos. À sua direita, os lavatórios de porcelana, brancos, puros, imaculados, onde o cabeleireiro se encontrava a lavar o cabelo de um cliente.
Cabeleireiro: "Bem-vindo!"
Repetiu, na mesma tonalidade e intensidade. Dando a entender que estava a responder ao silêncio mais do que ao comportamento da nova cliente. Comprovado pela maneira como se recusava a desviar os olhos dos ensopados fios de cabelo do homem nos quais entranhava os seus dedos embuídos com champô que entranhava no seu couro cabeludo.
O cabeleireiro era um homem pouco excêntrico. Vestia-se de um modo simples. Uma camisola escura, umas calças brancas e uns ténis cinzentos nos pés. Nada de relevante. Tal como a sua face rechonchuda nas bochechas, cabelo desgrenhado, óculos mal ajeitados, nariz adunco e olhos castanhos. Ele era mais um nipónico, mais um cidadão das ruas japonesas. E, mais importante que tudo isso, ele era pouco importante e feio. 
Ela não teria de se preocupar com ele, mesmo que tivesse saído com um massacre em mente.
Cabeleireiro: "Eu disse que era bem-vindo, senhor. Não precisa de ter medo em responder."
Disse, a erguer a cabeça do cliente para contemplar feição da pessoa que tinha acabado de entrar, para contemplar a máscara que cobria o lugar onde devia estar o rosto dela. 
E foi isso o que bastou para o petrificar. Metê-lo em silêncio com a visão da figura diante das suas lentes, dos seus olhos. A deixar-se vencer pelo desconforto que aquela silhueta lhe causava.
Nakina não precisou de esperar que ele começasse a mastigar no lábio para perceber os receios que o estilista sentia debaixo da pele.
Cabeleireiro: "Er, desculpe. E-Eu...eu não tinha percebido que estava à espera."
Falou, sem se aperceber que as suas mãos molhadas estavam a pingar para o chão escuro como as paredes de trás e da frente.
Cabeleireiro: "Posso saber como é que devo ajudar a senhora?"
Impôs-lhe a questão, ajeitando os óculos com um dedo encharcado. A fingir conforto no que devia ser a sua própria casa, o lugar onde se deveria sentir sempre seguro.
O homem reclinado na cadeira, com a cabeça para dentro do lavatório observava-a pelo canto do olho. Este homem supérfluo de semblante comum, indistinguível dos restantes também começava a notar o impacto da sua presença no espaço.
Para ser sincera, responder seria um desperdício de tempo. Poderia pacificar a situação, mas isso iria era estender o momento sem propósito algum. Nakina sabia porque é que veio ali. Sabia onde devia procurar.
O resto era barulho de fundo para si.
Cabeleireiro: "Er, senhora?"
Nakina virou as costas para o interlocutor daquelas frases ditas da boca para fora. Andou um pouco para a esquerda da porta pela qual entrou. Os seus saltos altos faziam ecoar o barulho do impacto da sola do sapato em meado àquele clima silencioso. O som só cessou quando Nakina parou à frente de um vidro extenso com um grande pedaço de papel nele colado com quatro pedaços de fita-cola, cada um deles posto numa extremidade.
Cabeleireiro: "Senhora, eu acho que o póster em si está na montra. Isso são é as costas dele. Posso ser eu, mas parece-me menos interessante do que o que está lá fora."
Nakina preparava-se para retirar os pedaços de fita-cola do póster, quando viu algo tão interessante como o que queria roubar.
Cabeleireiro: "Senhora..."
Ela agachou-se perante um pequeno caixote ao lado da parede. Cinzento e de dimensão semelhante à de um caixote do lixo. É provável que a única coisa que o tornava um objeto de interesse fossem mesmo os papéis enrolados em forma de tubo lá metidos, uns entre os outros numa maneira até que organizada.
Cabeleireiro: "Ah, senhora, isso são apenas alguns pósteres que tenho a mais. Sabe, é que eu gosto de ir trocando-os na montra de semana em semana."
Nakina pegou num daqueles rolos, curiosa quanto ao seu conteúdo e esperançosa que eles se encaixassem com a sua expectativa. A expectativa em questão que ela sabia que tinha de estar certa assim que desenrolou o pedaço de papel.
Cabeleireiro: "..."
Não sabia porque é que ficou a sentir o seu coração a palpitar com os conteúdos do póster revelados. A ver que se tratava de outro póster de Yura. Yura, a modelo que, desta vez, usava um vestido branco longo num fundo prateado que relembrava o inverno.
E aquele póster seria um de muitos que o caixote tinha.
Cabeleireiro: "Gostas da Yura, é?"
Nakina virou a cabeça na direção da fonte do som. Ela não sabia porquê, contudo aquela pergunta em particular fê-la sentir-se confortável o suficiente para encará-lo.
O cabeleireiro arquejou com a surpresa de ver que a voz dele a tinha alcançado. Com isso e com a aparência um tanto quanto...peculiar dela. No entanto, tinha ali uma oportunidade de entender e talvez apaziguar a situação para ele e para o seu cliente, que devia partilhar o seu olhar vidrado na figura misteriosa daquela mulher.
Cabeleireiro: "Não sei, mas parece-me que gostas da Yura. Estavas a olhar para as costas do póster que tenho na montra, há bocado. A Yura também está a posar nele. Tal como nesses outros folhetos aí."
Nakina torna a observar o amontoado de tubos de papel, confirmando a sua suspeita.
Asuho: "E-Eu sou o Asuho, já agora."
Disse o cabeleireiro, inconscientemente a pousar a mão no peito, molhando a sua t-shirt.
Nakina: "Asuho..."
O dono do nome estremeceu. Tanto com as primeiras palavras dela, tanto com o instante em que Nakina voltou a olhar para si. 
Nakina: "Tem mais destes?"
O proprietário do estabelecimento engoliu em seco antes de responder:
Asuho: "Ah, n-não. Não, só esses. Que me lembre, só tenho esses."
Nakina: "Estes e o da montra, certo?"
Asuho: "S-Sim. Correto."
Nakina: "Então limito-me a levar esses."
Retorquiu a mulher mascarada, a enrolar o póster e a pô-lo debaixo do braço, preparando-se para recolher os maços reunidos naquele recipiente.
Nem cruzou a mente de Asuho pará-la. Dizer qualquer coisa. Porventura, sugerir a ideia de que roubá-lo seria errado. Nada disso. Imprevisível como ela é, estranha como ela é, o melhor é deixá-la estar e...presenciar o assalto a ser realizado. Fazer como o seu cliente, que limitava-se a observar o intruso a meter três pósteres debaixo do braço sem intervir.
Nakina: "Foi você que reuniu os pósteres?"
Asuho: "Er, alguns foram me dados."
Disse rapidamente, a assentir com os desejos da mulher.
Nakina: "Quem é que lhe deu?"
Asuho: "O meu colega de trabalho. Ele não está aqui de momento. Ele é que é mais fã da Yura do que eu."
Nakina: "Estou a ver."
Comentou, a enfiar os últimos dois tubos entre os dedos. Levantou-se e acenou para as costas do cartaz exibido na montra:
Nakina: "E este aqui?"
Asuho: "Oh, esse é dos poucos que eu comprei."
Nakina: "Portanto sempre gosta da Yura."
Disse, a manter o olho em Asuho, pelo recanto dos orífios óculares da máscara.
Asuho: "B-Bem, eu nunca disse que desgostava dela. Disse é que haveria quem gostasse mais."
Respondeu, rematando com um riso nervoso no fim.
Nakina: "Hmm, ok."
Asuho: "Por muito que quisesse, nunca me veria capaz de me abster de comprar esse daí. Nesse cartaz em particular, a Yura estava mesmo..."
Nakina: "Mesmo graciosa, não é?"
Asuho: "Isso, graciosa. Ela é graciosa."
Nakina: "E se ao menos isso fosse a sua única virtude..."
Ela caiu em silêncio. Permaneceu assim por uns bons segundos virada para as costas brancas do papel. Ou, no caso de Asuho e do seu cliente de cabelo com champô por enxaguar, por o que pareciam horas. Até que lá se recompôs e seguiu o trabalho, descolando com as unhas dos dedos da sua mão livre um dos quatro pedaços de fita-cola.
Nakina: "Ei, por acaso seguias a cena da moda?"
Asuho: "Se estiver a falar da cena da moda aqui do Japão, então sim."
Disse, a franzir a sobrancelha por estar a sentir um inexplicável sentido de segurança naquela questão. De tal modo que pouco hesitou em responder como fez.
Nakina: "Chegaste a ver a passadeira vermelha do evento de promoção do 'Ambrus'?"
Prosseguiu, a arrancar o segundo pedaço de fita-cola, deixando a pender no ar a metade do póster que estava livre.
Asuho: "Bem, até me lembro. Mas tentei apagar a memória disso, já que lembrar-me dessa passadeira vermelha e daqueles vestidos...faz com que eu me lembre do 'Ambrus' e, por sua vez, de como o bife de mostarda deles me dá a volta ao estômago."
Nakina: "Nunca comi lá. Mas aposto que não ia gostar. Sempre preferi comida caseira a fast-food."
Disse, em passagem, a encostar o braço debaixo do qual trazia uma coleção de cartazes enrolados ao póster de modo a evitar que ele caia quando começar a retirar os restantes pedaços de fita-cola.
Nakina: "Mas, voltando ao que interessa, diz que se lembra dessa passadeira vermelha. Qual é que consideraste ser o look mais memorável dessa tarde?"
Asuho: "Qual foi o mais memorável?"
Nakina: "Na sua opinião."
Arrancou o penúltimo bocado.
Asuho levou a mão, já ligeiramente mais seca, ao queixo.
Asuho: "Mais memorável..."
Nakina: "Tens muitos para escolher."
Asuho: "Esse é o problema."
Nakina arrancou o último pedaço.
Asuho: "Do que eu me recordo, a Miki Kuso estava bastante medíocre. A Tamaki também não estava nada de especial. E eu sempre tinha gostado dos looks dela antes."
Nakina: "Tens razão, esse evento em questão não foi nada de especial."
Ela passou a enrolar o póster, encostando-o ao vidro com a ajuda do ombro.
Asuho: "Até a Yura teve um look um pouco abaixo do que é média dela. Aquele vestido amarelo que levou era bom, mas notava-se que o vestia mais para condizer com as cores do bife mostarda do patrocinador do que porque realmente gostava."
Nakina: "A moda consegue tornar-se demasiado preocupada em manter a coerência com o evento. Às vezes é para condizer com o produto que publicitam ou para se encaixar com os códigos de vestimenta. De uma forma ou de outra, isso tira a piada de tudo. Tira a componente libertadora que era suposto ter. A componente que deixa qualquer um vestir o que quer no evento em que quer. Talvez seja devido ao lento desvanecer desses ideais que deixei de seguir essa cultura."
Concluiu, a enrolar o cartaz e a levá-lo na mão até agora livre.
Asuho: "Se bem que, agora que fala, lembro-me de um look em específico ter ficado em mente."
Acrescentou, ao mesmo tempo que Nakina tornava a encará-lo.
Asuho: "Havia uma modelo, cujo nome não me recordo. Ela levava um longo vestido vermelho que destoava dos restantes vestidos que andavam um pouco sempre na onda do amarelo e do castanho para coincidir com as cores da marca."
Nakina: "Essa era a Nakina Akio."
Asuho: "Nakina? Esse nome não me é estranho. Não deve ter durado muito tempo na indústria."
Nakina: "E acho que não durou mesmo. Quem sabe, não terá ela se fartado dos padrões forçados da indústria como eu."
Tinha a mascarada pousado o pé atrás, a preparar-se para sair, quando o som de uma porta a abrir a impediu. Ainda por cima, não se tratava da porta da entrada, uma vez que o sino não tinha repicado como consigo. 
Lá no fundo, à esquerda, não muito longe das cadeiras e dos espelhos que auxiliariam um cabeleireiro a realizar um corte, um homem saía de uma porta que Nakina nem tinha reparado que existia.
Um homem...alto...
Nakina: "..."
...encorpado...
Nakina: ".........."
...que caminhava até uma das cadeiras, balançando os seus grandes braços, transportando a atenção para os seus ombros largos...
Nakina: "..................."
...queixo definido...nariz agradavelmente pontiagudo...
Nakina: "........................."
...cabelo empoleirado à frente...retraído atrás...
Nakina: "...................................."
...com um casaco azul de ganga...desabotoado por metade para revelar o que seria uma t-shirt branca debaixo...
Nakina: "............................................."
...e também tinha umas calças de ganga que condiziam demasiado bem com todo o resto do seu porte que remava rumo a uma conclusão na lógica de Nakina...
Nakina: "............................................................."
...ele era belo.
Ideal para ser uma das suas vítimas.
O homem com vestimenta de ganga segue o curto percurso sem olhar para o que o rodeava. Sem perceber a situação em que se encontrava a divisão assim que nela entrou. Nem notando na invasora de aparência chamativa que aparecera como novidade.
Como sabendo que nada pudesse ser mais importante do que ele mesmo.
Foi preciso sentar-se, ajeitar-se na cadeira ao lado do carrinho de metal com os utensílios de barbear e de erguer a cabeça na direção do espelho para subitamente virar o assento para Nakina e pregar os olhos naquela figura desconcertante em pé, junto à porta de entrada a segurar uma quantidade exorbitante de cartazes.
E, por muito que ela não queira admitir, achou satisfatório ver o evidente temor na cara de uma pessoa que se devia ter em tão alta estima dentro do seu próprio mundo.
Asuho: "P-Perdão? Há algum problema, senhora?"
Nakina: "Nada. Estou só de saída."
Como indicado, ela virou as costas para aquele homem. Escolheu ignorar aquela ocorrência de modo a seguir a noite como tinha planeado, sem mortes. Sabendo que era bem capaz que a cabeça do homem com vestimentas de ganga fosse decepada dado mais uns momentos.
Nakina deu os restantes passos até à porta. Pousou a mão na maçaneta, já sobrecarregada com o que queria e sem nada adicional a reevindicar. 
Então, no reflexo do vidro da porta, viu a figura chamativa do indivíduo sentado em cima das cadeiras. 
Viu-o com o telemóvel na mão, acabado de tirar do seu bolso. De sobrancelhas franzidas com o dedo paralisado na tela do dispositivo. Enquanto Asuho regressava para junto do cliente até então especado à espera que a lavagem do seu cabelo pudesse ser retomada. Enquanto o cabeleireiro voltava a enterrar os dedos entetanto já secos na massa capilar do homem com a cabeça no lavatório, a observar a mulher que parou diante da porta apesar do que dissera.
Parada por estar, por sua vez, de olhos metidos no cliente que esteve este tempo todo na casa de banho. A sua ausência que não era sentida por ninguém. Porém, era uma presença que ajudava mais ao não estar presente. 
Que assim sempre eram escusados estes sentimentos borbulhantes sentidos por Nakina, era escusada esta cara de estranheza que faz.
Uma cara de quem está claramente com a mente em outro lado que não no telemóvel. Ainda a pensar no que vira. Ainda a pensar na mulher de máscara...
...e no quão feia ela era.
Nakina pousou os tubos no chão, encostando-os à porta. E deu meia-volta. Caminhando na direção do homem ao telemóvel. Os barulhos dos seus saltos altos em contacto com o solo reluzente a atrair a atenção de Asuho, do homem no lavatório e do alvo daquela seta humana encoberta que imobilizou os pés assim que entrou no alcance do mesmo.
Nakina: "Sempre achei que, se tínhamos algo a dizer, era melhor dizer logo. Tu sabes, para nos livrarmos deste veneno que nos pode ir consumindo ao pouco."
O cliente baixou o telemóvel, ao mesmo tempo que aprofundava o franzir das sobrancelhas.
Homem de ganga: "P-Peço desculpa, eu-"
Nakina: "Oh, estás a gaguejar. Com dificuldade em deixar as palavras fluir?"
Disse ela, a deixar os insultos fabricados fluírem pela língua. Antes que o cliente pudesse formular uma resposta, ela esticou a mão biológica para o lado do carrinho de rodas e tirou um punhado cheio de lâminas de barbear da caixa plástica que as continha e rematou:
Nakina: "Nesse caso, acho que tenho uma boa solução."
Nakina tomou posse da garganta do homem sentado com o seu braço metálico. Os dedos duros a tirar o ar da garganta do cliente ao ponto de o fazer abrir a boca na busca por ar.
Nakina: "Aqui, vamos ver se não gaguejas mais."
Disparou com as suas palavras, com o conjunto de lâminas a pairar sobre a cabeça do homem boquiaberto. Sangue pingava de entre o que deveria ser a palma da mão dela, espetada e fincada pelas arestas e vertentes aguçadas dos materiais, tudo diretamente para a língua rosada da vítima do ataque. Esta que estava demasiado asfixiada para reparar.
Nakina: "Exato, assim mesmo. De boca aberta."
Asuho: "Mas o que é que estás a fazer?"
Ela girou a cabeça de leve para trás, onde se situava Asuho com uma mão estendida que o cabeleireiro devia inocentemente julgar estar a ajudar a amainar a situação. Plantado e paralisado, a agir no puro instinto, sem pensar nas consequências ou numa razão profunda para o fazer. Tal como o cliente de cabelos molhados que se deve ter levantado do seu assento colado ao lavatório com o choque para agora se encontrar encostado à parede, observando o desenlace da confusão.
Numa voz desesperada, o cabeleireiro interveio de novo aos gritos:
Asuho: "Deixa-o em paz! Ele não fez nada!"
Nakina inclinou a cabeça para baixo, ainda de postura superior focada na figura suplicante atrás de si.
Asuho: "Solta o Shizumo, por favor! Eu não sei o que vês nele, mas prometo-te que ele é inocente! E-Eu conheço-o!"
Proclamou, a dar um passo na direção da mulher de hoodie. A sua mão estendida a tremer com a quebra da calma que julgava ter visto nela há momentos.
Asuho: "Não precisas de te preocupar, ok? Ele é meu amigo. Amigo e cliente."
Reiterou a baixar o tom, a tentar transparecer a ilusão de calma sob a qual se colocava.
Nakina reforçava a pega nas lâminas, deixando um fio de sangue escorrer para baixo, como uma teia de aranha mirada na boca negra do homem cuja cara ganhava tons de roxo devido à falta de oxigénio. Ele não duraria muito mais assim.
Asuho: "Ele não tem nada a oferecer de mal. Nada que justifique o que faças. Nada que justifique uma morte. Porque a polícia não o vai perdoar. A lei não te vai perdoar. A-A Yura também não te iria perdoar por isso."
O fio escarlate da palma de Nakina rompe-se e cai como um plasma viscoso na boca do homem de ganga a grunhir com os últimos esforços do seu ser.
Nakina gostava mesmo que Asuho conseguisse ver o rosto por debaixo da sua máscara no momento em que ele mencionou Yura, iludido pelo falso sentimento de controlo que este nome deveria ter nela e no impedimento daquela morte. É que o sorriso na cara de Nakina não mentia e ele soletrava a mensagem que regia a sua vida: a de que nãl existem correntes que a parem.
Asuho: "Entendido? Ok, certo. O que resta é mesmo parares."
Nakina girou a cabeça de volta para o homem de ganga que, neste ponto, não emitia som algum. Nada do que Asuho dizia era útil. Por isso, optou por ignorar as palavras fabricadas por ele com o sentido cego de a dominar.
No entanto, houve uma sequência de palavras que, seja lá porque seja, penetrou na barreira autoimposta:
Asuho: "É que ele não aguenta mais. Ele está a sofrer. Não vês que estás a magoá-lo?"
E veio mesmo a calhar.
Nakina: "Sim, eu sei."
Então, a mulher mascarada abre a mão e deixa cair as dezenas de lâminas de uma vez só. Todas elas dispersas em queda, contudo a caírem para o mesmo local escuro onde tudo confluía, para a boca de um homem já à beira da morte. Agora decerto que o processo seria acelerado.
Nakina puxou o queixo da vítima para cima com um pequeno empurrão dos seus dedos metálicos, enquanto os primeiros espasmos resultantes dos cortes na sua garganta surgiam. Gostava de ficar para ver o estado final dele, no entanto, ela já se tinha arriscado demasiado hoje.
Assim sendo, ela tornou para a porta. Sem pregar o olho na vítima mais uma vez. Sem bater o olho em Asuho e na sua reação ao ver os seus esforços a irem por água a baixo, o seu amigo morto. Apenas porque se tinha deparado com a pessoa errada.
A verdade era que, quando se agachou para pegar nos seus cartazes que tinha deixado no chão, ouvia um silêncio ensurdecedor. Asuho devia estar demasiado chocado para falar. O cliente do cabelo molhado não tinha falado até então, portanto não seria agora que iria quebrar a tradição. E o homem de ganga...bem...é complicado falar quando as suas cordas vocais estão a ser rompidas.
Nakina saiu com um pontapé na porta, já que trazia as mãos e braços cheios. Sentiu a brisa fresca da noite isolada em meado à falta de barulho, à falta de multidão nas ruas. Ainda bem, significa que não haverá testemunhas do que aconteceu.
Dirigiu-se para a direita. Traçava o caminho inverso no regresso a casa, desta vez em posse dos espólios que não esperava resgatar. Com mais um corpo na sua pilha, uma vítima executada numa noite em que não pretendia matar.
Adorava importar-se o suficiente para se irritar com o facto de ter descido ao ponto de matar. Todavia, não havia nada que pessoas como aquelas tivessem a oferecer senão ódio e negatividade. A morte daquele homem foi por um bem maior. Por si, é claro. Mas também por todos os outros reprimidos pelos seus padrões de beleza irrealísticos, pela sua tirania de aparências.
Por outro lado, também não é como se o conhecesse a um nível profundo para se importar. Conhecia era o suficiente para o punir. E isso é o que importa. Asuho, o cliente que lavava o cabelo, essas pessoas iriam fartar-se dele mais tarde ou mais cedo. Nakina apenas...acelerou o processo.
Curioso, só agora é que percebeu o seu papel na luta contra a desigualdade inerente aos padrões de beleza da sociedade: a morte é um processo natural na vida das pessoas belas, Nakina é o catalisador.

Notas: 


Os assassinatos de Nakina, ao início podem parecer aleatórios. No início da sua atividade como assassina, em alturas quando esquadrões da polícia japonesa não associada com a Fundação ainda se encontravam encarregues da investigação, nenhum padrão tinha sido encontrado entre as vítimas. Contudo, assim que a Fundação tomou controlo do caso (através de coações que implicaram a implementação de polícias dos Infiltrados nos esquadrões de buscas e de investigação), rapidamente se chegou à conclusão que as suas vítimas são todas pessoas que, dentro dos padrões da sociedade seriam consideradas "bonitas".

Nakina Akio foi outrora uma modelo de reconhecimento medíocre que não durou muito tempo na indústria. A sua saída foi repentina, mas julga-se que se tenha devido a um acidente rodoviário. As marcas deixadas no corpo dela ainda estão a ser averiguadas, porém é certo que o incidente foi o que a levou a usar o braço metálico, foi o principal fator que criou as cicatrizes e aspeto deformado do seu corpo e é possível que também tenha sido o que a compeliu a cobrir o rosto com uma máscara. Talvez seja o incidente o que definiu os alvos dos seus ataques como as pessoas que, a seus olhos e aos da sociedade, sejam consideradas "belas".

O caso de Nakina parecia mais um caso de um serial killer lunático à solta nas ruas. Um caso perigoso como todos dessa estirpe, mas nada que merecesse atenção por parte da Fundação. Mesmo assim, sem que se saiba como, as cenas do crime de sua autoria passaram a possuir características sobrenaturais. No sentido em que as vítimas passaram a possuir danos e cortes impossíveis de efetuar com uma força normal. Exemplos do tipo incluem costelas arrancadas a partir de uma pequena incisão nos abdominais, cabeças decepadas com cortes do que aparenta ser uma faca (a única arma que ela parece usar) e um fémur partido com o que parecem ser meros pontapés.
O que a deixou sobrenaturalmente fortalecida e os meios pelos quais chegou a esse estado ainda estão a ser determinados pela Fundação.

Relatório: Código de Registro: JF-37– "Nakina Akio"

Classificação: Hostil – Nível de Ameaça 3
Data do Primeiro Contato: [DATA OMITIDA]
Status Atual: Foragida

1. Sumário

Nakina Akio é uma ex-modelo japonesa que, após um acidente rodoviário, passou a apresentar comportamento homicida direcionado exclusivamente a vítimas consideradas "bonitas" de acordo com padrões sociais convencionais. O caso inicialmente foi tratado por autoridades civis japonesas, sem identificação de padrão entre as vítimas. A Fundação assumiu o controle após infiltração em esquadrões policiais, identificando a seleção específica dos alvos e a presença de capacidades físicas anômalas.

2. Histórico e Perfil

  • Nome: Nakina Akio

  • Origem: Japão

  • Ocupação anterior: Modelo (carreira breve e sem destaque)

  • Evento marcante: Acidente de trânsito, data não confirmada.

  • Consequências físicas:

    • Cicatrizes extensas no corpo.

    • Necessidade de uso de braço metálico.

    • Possível deformidade facial (motivo para uso de máscara).

  • Possível motivação: Ressentimento contra indivíduos fisicamente atraentes, possivelmente desencadeado por trauma físico e psicológico pós-acidente.

3. Modus Operandi

  • Alvos: Indivíduos socialmente considerados atraentes.

  • Arma principal: Faca de lâmina curta.

  • Método de ataque: Rápido, preciso, com alto nível de letalidade.

  • Capacidades observadas:

    • Força física sobre-humana.

    • Precisão cirúrgica em incisões e cortes.

    • Capacidade de causar danos impossíveis por meios físicos convencionais, como:

      • Remoção de costelas por pequena incisão abdominal.

      • Decapitação limpa com único golpe de lâmina.

      • Fratura de ossos longos com pontapés.

4. Anomalias e Riscos

O caso deixou de ser tratado como crime comum após surgirem evidências de:

  • Força e resistência além de limites humanos.

  • Danos corporais incompatíveis com biomecânica padrão.

  • Indícios de aprimoramento físico ou alteração corporal de origem desconhecida (tecnológica, biológica ou sobrenatural).
    O meio pelo qual adquiriu essas capacidades permanece em investigação.

5. Status Operacional

  • Ameaça: Alta – capacidade de eliminar múltiplos alvos em curto período.

  • Interesse da Fundação: Conter e estudar a origem das habilidades anômalas.

  • Ação recomendada:

    • Continuação do rastreamento por equipes de campo disfarçadas.

    • Isolamento e análise do braço metálico para identificar origem e funcionalidades.

    • Avaliação psicológica, caso captura viva seja possível.

Anexo: Fotografias de cenas de crime e padrões de lesões (classificado).
Relator: [NOME DO AGENTE RESPONSÁVEL]
Autorização: [ASSINATURA DO DIRETOR REGIONAL]