Doutor Mark, o Mal Encarnado- UEF

01-05-2022

Agora preso numa instalação da Fundação, Mark reflete sobre a sua vida até este preciso momento. O seu guarda pessoal, Mathias, é o previligiado que irá desvendar o passado por detrás do louco Doutor Mark.

Género: Terror (psicológico), Drama

História: 

Ano de 2010, Mark preparava-se para ir ao trabalho. Ambos estavam na sala de estar. Já o seu filho Ruis preparava-se para ir à escola, encontrando-se em cima do sofá a verificar se tem tudo o que precisa para o dia. Afinal, seria a sua mãe, Kate, quem o iria levar. 
Mark: "Ruis, preparado para ires para a escola?"
Ruis: "Tenho tudo na mochila. Estojo, dossié, manuais, calculadora..."
Informava à medida que ia remexendo em cada material.
Mark: "Ok, já vi que tens tudo preparado. Podes parar."
Diz-lhe, com um sorriso aberto na cara de pura felicidade. 
No mesmo instante, alguém entra em cena. Uma mulher entra pela porta da entrada. É Kale.
Kate: "Já estás pronto?"  
Ruis: "Já sim, mãe."
Fala o rapaz, fechando o zipper da mochila e levantando-se do sofá. Kale percebe que aquela era a sua deixa de saída. Ela dá um beijo a Mark antes de levar Ruis para a escola.
Mark: "Adeus meu bem. Tem um bom dia."
Kate: "Vemo-nos mais tarde, querido.." 
Até Ruis se despede.
Ruis: "Tchau, pai."
Mark: "Porta-te bem, rapaz."
A sua mulher e o seu filho saem pela porta. Mark observa-os pela janela. Ele vê tudo. Presencia Kale a levar Ruis até ao seu carro. Não conseguiu impedir. Tendo aquela visão, não conseguiu esconder a felicidade que continha lá dentro e sorriu. Um sorriso amoroso e repleto de ternura ficou visível no seu rosto. Mas nem tudo pode durar para sempre.
Mark: "Bem, também tenho que ir."
Mark vai em direção ao seu quarto para ir buscar as chaves do seu carro. Após pegá-las, ele vira em direção ao seu carro para poder ir trabalhar. Ele destranca a porta do carro e entra no mesmo em um instante. 
Com alegria, Mark liga o carro e conduz durante 20 minutos. Estava tão feliz que até decidiu ligar o rádio para ouvir alguma coisa. Como se isso não bastasse, ainda se pôs a cantar. A felicidade leva as pessoas a cometerem atos que muitos consideram ridículos. No entanto, desde que gostem do que estão a fazer, têm todo o direito de continuar. Têm todo o direito de ser felizes.
Enquanto ele conduzia e cantava, pensava na prenda que iria dar para a sua mulher, pois era o aniversário de casamento com Kale. Porém, no momento, ele tinha que se focar no trabalho. 
Mark estaciona no num parque que ficava ao pé da instituição. Sai do carro, veste a sua bata e vai diretamente para a entrada da instituição. Quando lá chega, abre a porta e depara-se com alguém. Uma mulher com tom de pele escuro e de bata. O seu cabelo preso com um gancho. Parece estar a seguir à risca as regras do laboratório quanto ao cabelo longo. 
Mark: "Nadia. Que surpresa! Tudo bem? 
Nadia: "Olá, Mark. Sim, tudo bem e contigo? Pela tua cara deves estar animado com algo."
Mark: "Acertaste em cheio."
Nadia: "Bem me parecia. Mas então, o que é ao certo?" 
Mark: "É que hoje é o meu aniversário de casado." 
Nadia: "Muitos parabéns! Dá as minhas felicidades para a Kale. Já não a vejo há um bom tempo."
Mark: "Ela também sente a tua falta."
Nadia: "Pois é, um dia passo por lá."
Mark: "Tudo bem. Um dia combinamos."
A conversa parece ter chegado a um fim. O assunto já não tinha mais por onde se pegar. Também já estava na hora. E Mark nunca chega atrasado. Hoje, não será o dia em que isso irá mudar.
Mark: "Acho que já está na hora. Tenho de ir, mas não te preocupes, eu entregarei as tuas felicidades. Obrigado."
Nadia: "Fica bem e tem um bom dia, Mark."
Mark: "Igualmente."
A cientista passa por Mark para ir fumar no estacionamento. Desta forma, os dois separam-se e seguem o próprio caminho.
Mark anda pelo grande corredor onde também circulam diversos dos seus colegas. Todos o cumprimentam e Mark cumprimenta de volta. Assim foi seguindo até chegar a uma sala onde estava o seu chefe e vários colegas. Tommy, o superior, estava de costas a falar com alguém, mas, ao sentir a presença de alguém a entrar logo se vira.
Tommy: "Olha, olha. Por falar nele. Olá Mark."  
Mark: "Chefe. Porque é que estão aqui todos reunidos?" 
Tommy: "Julgava que já sabias disto, mas tudo bem. Acontece que vamos receber o nosso novo colega." 
Mark: "A sério? Como é que se chama?"
Tommy: "Ele acabou de me mandar uma mensagem a dizer que está a mesmo a chegar à sala." 
Mark: "Ok, fixe, mas qual é o seu nome?"
Insiste com o seu chefe, mostrando clara intriga.
Nesse instante, alguém vai entrar na sala. O passo ecoam pela sala, anunciando a sua entrada. Enquanto o indivíduo entra na sala, Tommy revela o seu nome: 
Tommy: "Ele chama-se Philip…"
O homem entra precisamente no momento em que o seu nome é mencionado. Com passos lentos e mortos, chega o novo colega. Só havia um problema. A sua aprência não parecia normal. Não, não era nornal. Não podia ser normal. Era tudo menos isso. Tudo menos normal.
Ele tinha o seu olho perfurado de um lado ao outro. Este buraco na sua cara permitia ver, não só os tecidos e vasos sanguíneos rompidos, como também o outro lado da sala. Para além disso, a sua mandíbula estava partida e a garganta rasgada, como se alguém a tivesse tentado arrancar.
No meio tempo, Mark estava perplexo como se tivesse a ter um déjà vu. Ao contrário dele, os outros encaravam-no como se nada de mal o homem tivesse. Como se tudo fosse apenas mais um dia.
Philip olha para Mark e tudo começa a ficar coberto por uma escuridão. Lentamente, a escuridão envolve a sua visão até que...
Mark: "Ah!"
Com um tímido grito, Mark acorda e senta-se na cama. Está a suar. Mais do que tudo, está assustado. Em menos de 1 segundo, voltou à realidade. Já não tem duas mãos, apenas uma. Isso confirmou que voltou à realidade. À realidade em que foi derrotado por Bruce, ficando sem uma mão. Esta é a realidade em que foi capturado pela Fundação. O ano é 2017.
Mathias: "Está tudo bem aí?"
Olhando para a frente de onde se encontra sentado, vê um homem. Tom de pele escuro com capacete preto, calças pretas, camisola preta e um colete à prova de bala...adivinhem...também preto. Com a única diferença junto ao seu peito, onde se encontrava um círculo dividido em metade por uma linha preta, sendo que, num lado estava uma pequena bola vermelha e, no outro, uma pequena bola azul. Só aquele símbolo identificava para quem trabalhava: a Fundação Juízo Final.
Mathias: "Parece que estavas a passar por um mau bocado. Quere contar-me?"
Fazia a pergunta o homem que se encontrava em pé do outro lado das grades, segurando uma metralhadora.
Mark: "Não aconteceu nada. Apenas um pesadelo. Só isso."
Respondia o prisioneiro sem mão esquerda, levemente ofegante. Mathias notou nesse aspeto. Ainda assim, não pretendia chateá-lo. Afinal, estava com mau ar e a última coisa que quereria seria irritar um J.F.
Mathias: "Tudo bem. Se tu o dizes..."
Ele dá uns passos para a direita e encosta-se à parede, junto à cela onde Mark se encontra.
A cela é bastante pequena. Tem 20 metros de comprimento e 15 de largura. Comparando a outras celas em que outros J.F.'s se encontram, esta é de longe a mais normal. Isso deve-se ao facto deste J.F. ser apenas um humano normal. Maluco, mas normal.
Não havia nada dentro daquelas grossas grades de metal. Apenas uma cama cujos lençóis eram trocados uma vez a cada 3 meses e uma sanita com um autoclismo que nem funciona (embora recentemente estejam a tentar resolver esse problema).
O homem com quem Mark acabou de falar é Mathias, o seu guarda prisional pessoal. Como o cientista não é muito perigoso (especialmente agora que ficou sem uma das mãos), apenas precisa de um guarda. Já os outros ficam a tratar de outros J.F.
Pensando bem, deve ser um pouco humilhante. Ser o único segurança de uma anomalia que nem sequer é anormal. Enquanto os outros ficam a guardar rapazes capazes de controlar humanos com um trocar de olhares e vírus que surgem nos pesadelos. Realmente, há uma grande diferença.
Mark olha em redor da cela por um momento. Não estava a contemplar nada de interessante. Apenas a recuperar do susto. Em pouco tempo, está de volta ao normal e levanta-se, usando a sua mão direita como principal apoio.
Olhando pelo canto do olho esquerdo, Mathias vai observando cada movimento de Mark. Bem atentamente. Nunca se sabe o que a mente dele pode fazer.
O ex-cientista vai até à sanita que se encontra no lado esquerdo da cama. Ele levanta a tampa com uma mão e faz o que precisa.
Mathias: "O pequeno-almoço está a vir. Espera só mais cinco minutos, sim?"
Mark: "Só tens dito isso no último mês. Porque é que tem havido esse atraso."
Pergunta, enquanto presta atenção para ver se não salpica nada para fora, afinal, ainda não está muito habituado a viver sem com um membro do seu corpo a menos. Especialmente um membro do seu corpo que lhe era muito importante.
Mathias: "A cada dia que passa são descobertas cada vez mais anomalias, sabes. Grande parte delas são capturadas e trazidas para aqui. Elas estão neste mesmo edifício. Apenas alguns andares debaixo de nós, dependendo do seu nível de perigosidade."
Mark: "Mas olha que para receberem refeição é porque devem ser, pelo menos, parte humanos."
Mathias: "Ei! Até criaturas sentem fome."
Mark: "Não tenho tanta certeza quanto a isso."
O velho acaba as suas necessidades e puxa o autoclismo, mas nada acontece. Ficaria irritado, porém já está bem acostumado a que algo do género ocorra.
Mathias: "Só por curiosidade, com o que é que estavas a sonhar?"
Mark: "E como é que tens a certeza de que era um sonho?"
Pergunta, enquanto se afasta da sanita para ir sentar-se na cama.
Mathias: "Já não é a primeira vez que acordas assim. Assustado e a suar. Mas nunca me contas o que é."
O velho senta-se na borda da cama, virando-se para a frente. Ele olha para as grossas barras de metal que o separam do mundo exterior e continua a conversa:
Mark: "Penso que nem preciso de dizer o porquê de não te contar. Na minha opinião, até deixei bem claro nas outras vezes."
Mathias: "Oh, vá lá! Até parece que vai te adiantar alguma coisa! Neste ponto, só não contas por teimosia."
Mark: "Só nâo conto porque vocês são o inimigo e abrir a boca significaria que a vossa influência sobre mim estaria a surtir efeito."
Diz, Mark, a erguer a voz, mostrando clara raiva. Contra argumentos do género não há forma de rebater. O guarda percebe isso e cala-se. O doutor continua a explicar-se:
Mark: "Estás enganado se me consideras um amigo. Nem tenho amigos dentro da própria 'Doença', quanto mais aqui. As únicas relações que tenho são transitivas. É por isso que trabalho com a 'Doença', porque eles têm algo que eu quero."
Mathias: "Isso é o quê ao certo?"
O doutor olha para o chão e pensa. Pondera numa resposta em que possa dizer tudo sem dizer nada. Eventualmente ele chega a uma resposta plausível para ele. Então, abre a boca:

Mark: "Liberdade, Mathias. Liberdade."

O próprio Mathias ficou confuso. Tal como Mark planeara. Contudo, até ele percebeu que havia algo por detrás daquela única palavra. Uma palavra que poderia carregar tanto significado.
Mathias: "Hunph. Curioso."
Nesse momento, alguém chega. Um homem branco de boné, transportando um trólei com vários andares. Parece ser um carrinho de entregas. O que é que ele está a entregar ao certo? Comida.
Entregador: "O pequeno-almoço chegou."
Mathias: "Vejo que sim."
O guarda prisional agacha-se. Ele passa os olhos por várias refeiçôes. Algumas eram bastante esquisitas. Uma era literalmente um monte de olhos de porco. Outra eram cacos de vidro. Só a partir do conteúdo daquele carrinho era possível concluir que os prisioneiros daquela instalação estavam muito longe de serem normais.
Mathias: "Aqui está."
Ele tira uma taça com cereais e leite usando a sua mão que não segurava a arma e levanta-se.
Mathias: "Muito obrigado, Jens."
Entregador: "Não tens de quê."
Agradece com um macabro sorriso na cara.
Mathias: "Resto de bom trabalho."
Entregador: "Igualmente."
E o senhor vai para a próxima cela, puxando o cartinho adiante. Na verdade, agora que Mathias olha melhor, o cartinho está sem uma roda. Que estranho...
Mas ignorando o resto, ele agacha-se e pousa a taça no chão. Com a mão livre, abre a ranhura da cela e passa a taça para dentro a partir desse pequeno espaço antes de o fechar.
Mathias: "Leite com cereais."
Informa-o ao mesmo tempo que se levanta.
Mark: "Obrigado."
Diz, sentando-se no chão.
Com a taça está uma colher de plástico branca. Exatamente igual aos outros dias. Já reclamou vezes suficiente. Neste ponto, nem se atreve a abrir a boca.
Mathias: "Bom apetite."
E o soldado volta a encostar-se ao mesmo local da parede. É assim que passa os dias. Pode ser entediante, mas é trabalho. Mesmo assim, não consegue parar de se sentir frustrado.
São nestes momentos em que Mark se encontra a comer o pequeno-almoço que se lembra deste facto. São nestes momentos que se lembra do quão inútil é a sua vida.
Mathias: "Raios. Que vida de merda..."
A frase escapou-lhe dos seus pensamentos.
Mark: "Porquê a frustração tão súbita?"
Pergunta, ao levar uma colherada à boca com a mão direita. Sabe mal como fezes de cavalo. Contudo, apenas tem isto para comer.
Foi apanhado desprevenido. Nem se apercebeu ue tinha falado. Apenas se apercebeu quando o prisioneiro fez a pergunta.
Mathias: "Acho que nem consigo esconder."
Ele passa a mão na cara, mostrando não só algum cansaço como também frustração. Lá no fundo está farto. Farto desta vida e de se sentir mal quanto ao rumo da sua vida. Mathias anseia mudança e rápido.
Mark: "Diz-me lá o que é que não consegues esconder."
Mathias: "Tem calma, ok. Eu é que devia estar a inquirir-te. Não deveria ser ao contrário. Se formos bem a ver, nunca me respondeste e agora queres saber mais sobre mim. Deves ter enlouquecido."
Mark: "Vocês é que dizem que eu sou maluco, por isso, para vocês, essa caracterização não é muito descabida."
Vai dar outra colherada.
Mathias: "Juro-te, tu calado, eras poeta."
Mark: "E tu até irias além na vida se o fizesses."
Mathias: "PODES CALAR-TE?"
Até ergueu a voz. Foi obrigado a fazê-lo. Não é como se quisesse. O cientista é que tocou num tema sério.
O doutor mantém a boca fechada por uns segundos. Limitando-se apenas a comer aqueles cereais mais cinzentos do que as paredes de uma fábrica. Quando o clima parece ter acalmado, Mark volta a falar:
Mark: "Desculpa lá. Ia dizer que não te queria chatear, mas, assim, estaria a mentir. Caíste mesmo nas minhas provocações."
Mathias: "E tu ainda te gabas..."
Mark: "Porque percebo esse sentimento."
Mathias: "Como se fosse."
Mark: "Estou a falar a sério. Já estive num lugar parecido. Era bem mais velho do que tu, mas também tinha essa vontade."
Mathias: "Mas afinal o que é que tu sabes? Até parece que compreendes o que é ser alguém inútil. Viver a cumprir um papel insignificante no mundo como o meu. Quero ir além, mas não consigo. Por muito que queira, não consigo sair do mesmo maldito lugar."
O guarda desencosta-se da parede e olha para o homem de pernas cruzadas e colher na mão, do outro lado das grades.
Mathias: "Eu quero ser alguém e não vejo nada de mal nisso."
O doutor olha-o, tentando conter uma risada. Ele pega na taça e bebe o leite que restou. Lentamente e a fazer barulhos altos. Mark bebe tudo e, quando acaba, pousa a taça no chão, olha para o chão sujo e começa a sua resposta:
Mark: "Sabes que mais, acho que já falaste o suficiente. Contaste-me o que guardas lá dentro. Por isso, agora é a minha vez."
Mathias: "Se te procuras redidmir pelo que disseste, já vais tarde."
Mark: "Não. O que eu te vou contar tem o propósito de te mostrar que tu e eu não somos assim tão diferentes. Quero te mostrar a tua hipocrisia. A hipocrisia desta organização e desta sociedade em que vivemos."
Ele ergue a sua cabeça.
Mark: "Deixa-me contar-te a minha história."  

Mark, um homem de 56 anos, comia uma lata de feijões fora de prazo, enquanto via televisão, sentado num sofá que mais parecia um monte de trapos unidos. A sala onde Mark estava era completamente suja e com pouca luz. O mesmo fumava um cigarro que segurava na sua mão esquerda, fazendo com que o fumo infestasse a sala.
O seu filho, Ruis, que estava sentado num outro sofá ao pé do seu pai, tentava respirar no meio de todo o fumo. Ele tinha apenas 14 anos, mas, por viver com um pai que pouco ligava para a sua saúde, teve que aprender a sobreviver sozinho.
Ruis: "Pai, já vais no 3 cigarro. Podes parar?"
Mark: "Desculpa, filho. É que eu tenho me esforçado muito no trabalho."
Ruis: "Talvez tenhas que pedir umas férias. O que achas?"
Mark: "Com o chefe que eu tenho, isso nunca seria possível. Ainda por cima, estou para descobrir uma coisa que me vai coroar como um grande cientista. Espera só para ver."
Ruis: "Tudo bem. Se tu o dizes. Só não fumes na sala. Aliás, a mãe vem me buscar para ficar na casa dela, daqui a pouco."
Mark: "Então vai-te prepararando para ires. Pega já as tuas coisas."
Umas horas depois, um carro branco para no quintal da casa de Mark. Era uma mulher que conduzia.
Ruis: "Pai, a mãe acabou de me mandar uma mensagem a dizer que chegou."
Mark: "Adeus, rapaz. Vemo-nos para a próxima."
Diz, de uma forma pouco entusiástica.
Mark pela janela da sala via o seu filho a entrar no carro da sua mãe. Ao acabar de comer os feijões, o homem levanta-se do sofá, apaga o cigarro na torneira da cozinha e dirige-se para o seu quarto. Afinal, era uma noite de domingo e, no dia seguinte, iria ter que acordar cedo para ir trabalhar. O velho cientista senta-se na cama e pega um remédio para a a dor de cabeça, que se encontrava em cima da sua mesa de cabeceira. Ao tomar o comprimido, Mark deita-se na cama e dorme.

No dia seguinte, Mark acorda com o alarme do seu telefone que o informava que eram horas de se preparar para ir trabalhar. Já não é a primeira vez que acontece.
Ele levanta-se e vai trocar de roupa. De seguida, vai escovar os dentes rapidamente, segurando a escova com a sua mão esquerda, afinal, é esquerdino. O mesmo come o resto de umas sardinhas como pequeno almoço e corre para o seu carro. Após 17 minutos de viagem, o cientista chega ao laboratório. Enquanto sai do carro, ele veste a sua bata. Mark vai até à entrada e troca olhares com o segurança velhote. Finalmente, quando estava prestes a abrir as portas de vidro da instalação com a mão dominante, acaba por dar de caras o seu colega, Philip. Logo a pessoa que queria menos ver.
Philip: "Olá, Mark. Não esperava mesmo encontrar-te aqui."
Diz, armando-se em sonso.
Philip: "Deixa-me só entender uma coisa: a que horas é que tens de estar aqui?"  
Mark: "Às 8 horas e 35 minutos."
Philip: "Certo. E que horas são agora?"
Mark: "São 8 horas e 42 minutos."
Philip: "BOA! Hoje estás a acertar todas. Se o horário é das 8 horas e 35 minutos até às 17 horas e 55 minutos, porque é que tu chegas às 8 horas e 42 minutos? Queres explicar-te?"
Faz a pergunta, agora sem esconder o desgosto que tem pelo colega de trabalho. 
Mark: "Não me fodas a cabeça já de manhã. Tu nem és o meu chefe, porra. Porque é que te importas tanto comigo? Por acaso és meu fã?"
Fala, usando a mesma linguagem que a pessoa que o confronta. Philip, por sua vez, ri-se levemente e dá a sua resposta:
Philip: "Velhote, já ninguém te quer aqui. Será que tu e a tua mente brilhante ainda não perceberam?"
Mark: "Ter que aturar crianças todos os dias que chego ao trabalho é mesmo incrível. Enfim..."
Baixa a cabeça por um segundo, tentando recuperar um pouco de energia. Está a respirar pesadamente. A verdade é que já está velho e estar a gastar a sua energia de forma tão inútil numa discussão tão idiota apenas o está a cansar ainda mais. Quando se chega a esta idade, tudo custa.
Philip: "Que foi? Já estás sem energia? Caramba! Sabia que estavas velho, mas não sabia que estavas assim tão mal."
Mark: "Ouve muito bem o que te vou dizer."
Ele levanta a cabeça e prepara-se para gastar os pingos de energia que armazenou nestes últimos segundos.
Mark: "Eu não me ando a sentir bem ultimamente. Por isso, faz-me um favorzinho e não me irrites mais do que eu já estou, ok?"
Ao dizer isso, Mark passa por Philip, dando um encontrão no ombro e entrando dentro da sua zona de trabalho.
O cientista vai andando pelos corredores e cumprimentando brevemente os seus colegas. Todos eles muito inteligentes. Na verdade, qualquer um que lá se encontra, está lá porque mereceu. Com Mark não é diferente.
Ele passa por várias portas que conduzem a vários laboratórios. Muitos destes laboratórios são usados para trabalhos de grupo. O próprio Mark já chegou a trabalhar num grupo de 4, tal como todos os iniciantes. Contudo, quando demonstrou que as suas capacidades estavam muito além dos outros principiantes, Tommy decidiu logo dar-lhe um laboratório próprio.
Mas isso já foi há muito tempo. Ele ainda é respeitado, mas as suas habilidades já não são o que eram. É um homem que já passou do seu auge. Tommy respeita-o, mas está claramente a duvidar do seu valor.
Quando chega à sua sala de trabalho, o seu chefe já estava lá à sua espera.
Tommy: "Olá, Mark. Pensei que te tinha dito o que aconteceria se voltasses a chegar atrasado."
Mark: "C-Chefe, mas que surpresa! Não sabia que irira estar aqui."
Diz, claramente nervoso e pouco agradado com a situação surpresa que foi armada. 
Tommy: "Tem andado tudo bem contigo?" 
Mark: "B-Bem, tem estado complicado. Deve imaginar que a minha separação com a Kale anda a afetar-me a mente."
Tommy: "Peço desculpa Mark, bem sabes tu que vocês terminaram há mais de 4 meses. Perdoa-me, mas não vejo outra alternativa. Custa-me dizer. Acredita. Contudo, não me deixas opção. Vou ter que te mandar embora."
Mark: "O quê?!"
Ele imediatamente revolta-se. Bastou ouvir aquelas palavras. Foi o suficiente para se passar por completo. 
Mark: "Não, não, não, não. Isto não pode acontecer, chefe. Por favor, eu preciso deste emprego. A justiça deu tudo para a Kale. Eu ando a comer sardinhas como pequeno-almoço. Para além disso, eu tenho um projeto em andamento. Garanto-lhe, é algo que pode deixar uma marca na história da ciência."
Tommy: "Já me andas a dizer isso há anos."
Mark: "Deve muito bem saber que estas invenções levam tempo. Especialmente quando é algo tão importante como o meu aprimorado-"
Tommy: "Dou-te 2 meses para provares que ainda tens valor."
Nem deixa Mark acabar. Fez-lhe logo um ultimato. Agora sim. É tudo ou nada. Fracasso ou vitória. Não haverá meio.
Mark: "Espere, eu não sei se consigo fazer isso em tão pouco tempo. Sabe que isto leva bastante tem-"
Tommy: "São 2 meses, Mark. Ouviste? 2 MESES!"
Intervém outra vez, erguendo a sua voz. Deixou bem claro o que pretende. Assim, Mark ficou sem resposta. 
Mark: "..."
Tommy: "Espero que isto tenha ficado bem claro. Adeus."
E o seu chefe sai pela porta. O doutor vê o seu chefe a sair do laboratório. Aquilo era um sinal. Um sinal de que chegou a hora de se aplicar.
Assim, ao ver o seu chefe a sair do seu laboratório, Mark corre imediatamente para o um armário repleto de químicos, fórmulas e equipamentos. O velho cientista pegava em tudo o que precisava para trabalhar e deixa tudo sobre uma mesa de metal enorme. Ele liga alguns equipamentos à tomada e começa a trabalhar. Não há tempo a perder. Cada segundo conta. Cada pequeno segundo pode determinar se fica ou sai. Cabe-lhe a si determinar o seu futuro.
Hoje pode fazer algum progresso. Começou a mexer com os químicos. A parte que mais tempo e precisão requere. Mais vale tratar logo dela. 
Logo, ele seleciona a dedo os reagentes e os materias necessários. Coloca os seus óculos laboratoriais, tira a tampa do contentor do soluto e coloca no gobelé de vidro com...adivinhem...a mão esquerda. Adiciona um pouco de água e, com uma vareta de vidro, mistura. Mistura, mistura, mistura e mistura até a sua mão dominante já não aguentar mais. Até que...
Mark: "Voilá!" 
Já fez a primeira solução do projeto.
Determinado, ele olha para os restantes solutos sólidos em contentores que se encontravam em cima da mesa. Tem muito trabalho pela frente. Contudo, não sente medo. Sente coragem. Desta vez, vai provar o seu valor. Vai provar todos errados. Vai provar ao mundo que ainda tem utilidade neste mundo.
Mark: "Uma já está. Vamos às próximas 30."
Ele prossegue a fazer as próximas soluções. O processo foi sempre o mesmo. Basta colocar o soluto no gobelé, adicionar água e misturar até ficar homogéneo. Só isso.
Quando chegou a hora do almoço, já tinha preparado 10. Faltam 20. Ainda é bastante. Deu de tudo e ainda não chegou ao fim. O tempo passa rapidamente. Ir almoçar significaria perder pelo menos 20 minutos. Nesses 20 minutos poderia fazer tanto. Por isso, decidiu-se:
Mark: "Não vale a pena ir comer."
Fala para si, em voz alta.
Mark: "Um segundo pode determinar tudo. Nestes casos, não vale a pena arriscar." 

Mark passou horas fechado a trabalhar. Já estava no fim da tarde, quando decidiu pôr a mexer-se nos ácidos. Já fez as 30 soluções. Só precisava de fazer as misturas. Era o próximo passo. Contudo, já não estava com cabeça para tal. O dia esgotou-o completamente. Continuar seria idiotice. Especialmente quando se mexe com substâncias perigosas como os ácidos. Ainda assim...
Mark: "Tenho que continuar. Se deixar para amanhã, não haverá tempo para tudo."
Ele olha para os frascos a conter o ácido. Olha-os como se fossem inimigos. Um desafio. Mas um desafio que enfrentará.
Cuidadosamente, ele abre o frasco e prepara-se para colocar o líquido no gobelé. Precisava de exatamente 25 mililitros. Tem que encher o gobelé lentamente. Mais um mililitro e o resultado pode ser diferente do esperado.
Mark respira fundo e começa a verter. Lentamente, por um fio de ácido, o líquido é passado para o gobelé. Ele segura o gobelé com a sua mão direita e o frasco com a mão esquerda, uma vez que é a mão com que funciona melhor e, como tal, a mais estável. Pouco a pouco, o recipiente vai enchendo. É um processo lento, mas que deve ser levado com cuidado. Já ia nos 25 mililitros quando sentiu a mão a falhar-lhe.
Subitamente, a sua mão esquerda começou a tremer. Foram trémulos ligeiros, inicialmente. Porém, com o passar do tempo, a sua mão esquerda começou a oscilar cada vez mais. Precisamente a mão que segurava o ácido e a que julgava ser mais estável. O que é que havia de errado?
Devia parar, pensou. Mesmo assim, decidiu não o fazer. Parar agora, signoficaria repetir. E claramente não tem cabeça para isso. Prefere ir até ao fim, especialmente agora que chegou tão longe.
Mark: "Vá lá! Não me falhes agora, corpo."
Ele continua, dando o melhor de si. O ácido verte, verte, verte, verte e verte sem parar. Falta pouco. Mais 5 mililitros. Só precisa de aguentar mais uns segundos. Mais um pouco.
Está cada vez mais perto. Cada vez mais próximo do sucesso. Falta 1 mililitro. Um segundo. A mão oscila ainda mais. Está quase a respingar para fora. Quase, quase, quase mesmo. 
A espera fica cada vez menor, menor e menor. Quando finalmente...
Mark: "Já está!"
Celebra, pousando o frasco com o ácido na bancada.
Está felicíssimo. Não esperava mesmo conseguir. Ainda assim, conseguiu provar-se errado. Pelos vistos, as suas habilidades não enferrujaram. Só há um problema. Sente algo na sua mão. Algo molhado. Algo líquido. 
Mark olha para a sua mão esquerda e vê ácido. Ácido que respingou na sua mão. Muito provavelmente derramou quando pousou o frasco na mesa. Acho que celebrou demasiado cedo.
Mark: "Raios partam."

Enfermeira: "Vens aqui raramente, Mark. O que é que fizeste para vires a correr todo estérico?"
Pergunta a enfermeira, agachada, enquanto coloca à volta da mão do paciente que se encontra sentado sobre o preto sofá do escritório uma camada de bandagens.
O doutor nem responde. Está com a cabeça em outro lugar. Ainda está a pensar na experiência e no que tem a fazer.
Nem teve tempo para olhar para a pequena sala de atendimento da enfermeira. Esta enfermeira que era a única da instalação.
Vale a pena acrescentar que a sala era pequena, mas tinha tudo o que um médico necessitaria. Seringas, bisturis e bandagens nas gavetas. Um pequeno sofá para os pacientes se sentare. O mesmo sofá onde Mark se encontra agora sentado. Não é perfeito, mas dá para o gasto.
Enfermeira: "Mark, estás a ouvir-me?"
Mark: "Hã?"
As palavras da enfermeira agora acordam-no.
Enfermeira: "Credo. Parece que estou a falar para o boneco. Estás mesmo acordado?"
Coloca outra pergunta, ao mesmo tempo que corta com uma tesoura o papel das bandagens.
Mark: "Desculpa estava a pensar em algo." 
Enfermeira: "Nota-se."
A enfermeira levanta-se.
Enfermeira: "Acho que já está."
O doutor fecha e abre a mão esquerda. Dói, mas dá para mexer. Felizmente o efeito do ácido não foi muito significativo.
Mark: "Obrigado, Naura. Sempre soube que podia contar contigo."
Enfermeira: "Como queiras."
A enfermeira vai guardar o resto das bandagens na gaveta, juntamente com a tesoura.
Enfermeira: "Ainda não respondeste à minha pergunta."
Mark: "Nem a ouvi."
Enfermeira: "Como é que a tua mão ficou assim?"
Ele levanta-se do sofá e veste a sua bata que Naura lhe tirou para tratar da ferida.
Mark: "Nada demais. Foi um simples corte."
Enfermeira: "Claro. Até parece. Em nenhuma circunstância um simples corte faria esse estrago todo."
Mark: "Nota-se que estou cansado, não é?"
Enfermeira: "É por isso que a desculpa que acabaste de inventar não presta." 
Mark fica em silêncio. Está tão cansado que nem cinsegue mentir. Nem vale a pena continuar a esconder a verdade. Mais vale dizer logo o que se passou e deixar o seu orgulho de lado.
Mark: "Eu estava a mexer com químicos. Ácido, para ser mais específico. Subitamente, a minha mão começou a tremer e um pouco do ácido caiu sobre a minha mão."
Naura fica sem resposta. Ela percebe logo o que se passa. Tem ouvido rumores sobre Mark ter começado a perder as suas habilidades. Apenas ainda não tinha associado essa hipótese com o facto de ele estar a ficar velho. 
Enfermeira: "Eu aviso sempre para usarem proteção, mas vocês não me ouvem."
Mark: "O problema é que eu utilizei."
Enfermeira: "E é aí que quero chegar." 
Ela vai ao pé de Mark que ainda não se afastou um centímetro do sofá.
Enfermeira: "Tu estás a ficar velho, Mark. Sei que é difícil de acreditar, mas esta é a realidade. Se queres que seja honesta, está na hora de te reformares. Já passou da tua hora."
Mark: "Até tu..."
Enfermeira: "Eu digo-te isto porque me importo contigo. Compreendes?"
Em resposta, Mark desvia o olhar do rosto da mulher. Mostra nitidamente que aquelas palavras não conseguiram penetrar no seu coração. Foram insignificantes. Não aprendeu nada com elas.
Enfermeira: "Vejo que não ouves o que te digo. Muito bem, então."
Naura vai até à sua secretária e assenta ambas as mãos em cima da mesa. 
Enfermeira: "Agora, peço-te que vás para casa e fiques de fora por algum tempo. É para o teu bem, Mark, acredita."
Por sua vez, o doutor vai até à porta do consultório. Ele encara a porta antes de colocar a mão na maçaneta. Como se estivesse a pensar nas consequências da sua próxima ação. Ele respira fundo e coloca a mão na maçaneta, já decidido.
Mark: "Obrigado pela tua preocupação, mas, neste momento, o que preciso não é de avisos."
A enfermeira compreendeu assim as verdadeiras intenções do seu colega. Foi necessário apenas uma frase. Percebendo então a origem deste estranho comportamento de Mark, Naura dá-lhe um últim aviso:
Enfermeira: "Tem apenas cuidado com o segurança. Bem deves saber que ninguém é aqui permitido trabalhar até às tantas horas da noite."
Ao que ele responde:
Mark: "Eu ficarei atento." 
E assim, ele abre a porta, sai e fecha-a com um
*Thump*

Mark vai em direção ao laboratório para continuar a trabalhar. Antes de chegar, teve que explicar aos colegas que passavam por ele o que havia acontecido com a sua mão.
Tentava tornar as explicações curtas, mas, mal acaba, bombardeavam-no com outras mil perguntas. Em outras palavras, teve azar. Saiu do consultório mesmo no fim do dia. Já todos saíam dos laboratórios e só por acaso viram Mark com a mão ferida. Ficaram curiosos e decidiram perguntar. E esse ciclo repetiu-se muitas vezes.
Pode ter sido por burrice ou por estar demasiado focado em trabalhar, mas nem se apercebeu que a lua estava no céu. Na verdade, só a quantodade de cientistas de saída já deveria servir de aviso. Se bem que o homem deveria estar exausto. Ao menos tinha esse aspeto para usar como desculpa.
O velho chega ao laboratório e olha para o relógio acima da porta.
Mark: "Já tão tarde!?"
Exclama ele em completa surpresa. A sua boca até chegou a abrir.
Só aí é que percebeu que já era de noite. Ele pensou. Pensou em muitas coisas. Algumas idiotas e que foram imediatamente esquecidas. O cérebero humano, quando o em desespero, realmente chega a conclusões idiotas.
Porém, após ficar 1 minuto a olhar para o relógio, absorvido nos seus pensamentos, concluiu: porque não ficar a trabalhar durante a noite?
Não é como se tivesse alguém à sua espera em casa. Hoje não faria problemas. Mas e na quinta-feira? Como fará? Das quintas aos domingos, Ruis fica sob sua custódia. Terá que resolver isso mais tarde, pois agora o que importa é a experiência.
Mark finalmente tira os olhos do relógio preso ao cimo da porta e assenta-os na mesa repleta de frascos. Ainda tem um longo trabalho pela frente. 
Mark: "Ok..."
Começa a andar na direção da mesa.
Mark: "De volta ao trabalho."  

Na noite, o único companheiro de Mark é o próprio som do relógio. Ajuda-o a ficar acordado. Por enquanto, não incomoda muito. Daqui a uns dias já não dirá o mesmo.
O doutor encontrava-se a misturar as substâncias, enquanto olheiras se formavam embaixo dos seus olhos. É um pequeno preço a pagar.
Mark esforçava-se para não adormecer. Fazer isso no laboratório garantir-lhe-ia o desemprego. Já mexeu com os ácidos, mesmo assim, convém ter forças para segurar os frascos. 
Mark: "Já está."
Sussurra para si mesmo, após misturar as últimas duas soluções. Foi para uma parte da mesa mais afastada das misturas, sentou-se numa cadeira que puxou e deitou a cabeça.
Mark: "Finalmente um tempo para descansar."
Ele fecha os olhos. Deixa que o som dos ponteiros do relógio o guiem até ao sono. Sim, será assim. Pelo menos seria assim. Tudo pois...
*Tum*
Ouviu algo a vir. Um barulho. Mas ainda não lhe deu muita atenção.
*Tum* *Tum*
O que quer que seja está a aproximar-se. E está cada vez mais perto.
*Tum* *Tum* *Tum*
Foi aí que Mark começou a estranhar.
Mark: "Mas que raio..."
Falou, ao abrir os olhos e levantar a cabeça da mesa.
*Tum* *Tum* *Tum* *Tum*
O som ficou mais intenso. A cada segundo que passava ficava cada vez mais claro de qye tinha de fazer algo e rápido. Só não sabia o quê e porquê. Estava tão cansado que não conseguia raciocinar como sempre.
*Tum* *Tum* *Tum* *Tum* *Tum*
A cada som, a sua cabeça parecia voltar ao normal. A cada segundo, parecia começar a compreender o que realmente se estava a passar. Foi então que, eventualmente, percebeu de que se tratava. E a sua cara não parecia muito feliz.
Mark: "Não pode. Estou lixado."
Finalmente compreendeu, mas não tem tempo para pensar ou falar em mais nada.
Apressadamente e aos trambolhões, Mark desce da cadeira, vai desligar as luzes na parede à sua direita, volta ao pé da cadeira e coloca-se de gatas no chão. Pois precisamente nesse momento...
*Prump*
A maçanaeta da porta e deslocada, emitindo um som. Isso sinalizou a entrada de alguém na sala. 
Quem acabara de entrar era nada mais ninguém menos do que um velhinho. De cabelos grisalhos, remelas no olho e uma grande barriga, vestindo um uniforme que lhe parecia apertado. Na sua mão direita estava uma lanterna. Aquela sua vestimenta e a boina sinalizavam a sua posição naquela instituição: ele era o guarda.
Mark notou imediatamente a presença do homem em questão. Nunca o conheceu nem possuiu uma relação especial com ele durante todos estes anos de trabalho. O máximo que aconteceu foi trocar olhares com ele sempre que entrava na instituição. Mas só esse simples ato é o suficiente para criar algum perigo.
Caso o seguranca o visse, reconhecê-lo-ia.
De relance, o velhote olha em redor, com a lanterna a acompanhar a velocidade do seu olhar. Ele olha e fica um bom tempo a olhar para tudo. Talvez seja por ser velho e pela sua visão já não ser o que era.
As pernas de Mark já doiam. Estavam a tremer. Uns meros segundos pareciam anos para ele. E, para ser sincero, ele próprio já não podia ser considerado novo. Por isso, não é como se as suas capacidades estivessem assim tão distantes das do segurança.
A espera continuava e continuava. Até que...
*Tum* *Tum* *Tum*
O mesmo barulho de há bocado. Ele começa a caminhar. 
Mark fica estressado mal ouve aquele aterrador som, mas consegue manter a calma. Bem, pelo menos calma suficiente para conseguir respirar fluidamente.
Segundo o que ouve, o guarda deve estar atrás de si e da bancada à qual se encontra encostado. Deve estar aí, a uns três passos da porta. Caso tenha sorte, ele nem deve passar por onde se encontra.
Sabendo disso, o doutor encosta ainda mais as suas costas à fria bancada de metal pintado de branco. A sua respiração está pesada. O seu peito ergue-se cada vez que inspira.
Precisa de aguentar. Diz isso para si mesmo cada vez que ouve um-
*Tum* *Tum* *Tum*
O coração a mil. A respiração a ficar mais rarefeita. O clima mudou assim tão rapidamente.
Mark chega até a respirar pela boca. Está mesmo preocupado. Acima de tudo, está nervoso. Não aguentará muito mais tempo.
Teve azar. Só conseguia pensar nisso. Só conseguia pensar em como a sua vida foi um fracasso. Não conseguiu ser alguém importante. Isso era a única coisa que queria. E nem isso conseguiu. Talvez, só talvez, tenha sido um fraccasso, tal como o seu pai.
Já tinha aceite o seu destino. Já tinha aceite a pessoa quem se tornara. Nada mais lhe importava. Isso até ter ouvido:
Guarda: "Nada por aqui."
*Tum* *Tum* *Tum*
Os passos ficam mais distantes. Nem parece real. É porque não é. Mas, tem a certeza de que o ouviu a falar. Por isso, será que...
*Tum* *Tum* *Tum*
A realidade parece fundamentar uma das versões. Parece que tudo volta ao normal. Só falta ele sair.
O guarda vai até à porta. Dá uma última vista e...
*Prump* *Plam*
A porta fecha.
Mark está a tremer. Pensa que ainda se consegue levantar. Contudo, já não tem forças para tal. Não tinha forças para fazer mais nada. Desta forma, o seu corpo sucumbe ao cansaço e Mark desmaia.

A manhã chegou. Tommy entra na sala. Pretendia deslicar algum material para um outro laboratório em necessidade. Lá não foi a sua surpresa quando encontrou Mark deitado no chão com a bata ainda posta. Imediatamente, Tommy vai até ao cientista e agacha-se. O chefe mexe e remexe nos ombros de Mark, gritando:
Tommy: "Acorda, Mark! Mark!"
Vezes e vezes sem conta. Depois de 17 segundos a repetir os mesmos movimentos e de gritar a mesma coisa, chegando a ficar com a garganta dorida, ele finalmente acorda.
Mark: "Não...não pode..."
Fala, aos bocados, à medida que os seus olhos se abrem. A sua visão está ofuscada. Os seus ouvidos estão a voltar ao funcionamento, porém sente que alguém se está a dirigir a ele.
Tommy: "Mark, estás bem?"
Mark: "Quem...quem está aí?"
Pergunta, ao mesmo tempo que começa a mexer a cabeça levemente para o lado. Tommy começa a perceber que, embora Mark esteja a recuperar, ao menos parece bem.
Tommy: "Estou feliz por te encontrares bem. Tenho tantas perguntas, mas acho melhor esperar para tu as responderes."
Mark já consegue ouvir parcialmente o que é dito. A sua visão também está a recuperar. Daqui a poucos segundos voltará completamente ao normal.
Tommy levanta-se e vai até à porta, preparando-se para sair.
Tommy: "Acho que é melhor ir procurar ajuda. Não tens ar de quem se encontra bem. Vou até à Naura, ela deve saber como ajuda-"
Mark: "NÃO!"
Um grito monstruoso ecoa por toda a sala, parando Tommy no meio do seu caminho. Nem ele esperava isto vindo de alguém que parece tão fraco. Mas o grito intrigou-o e fê-lo olhar para Mark. Ficou curioso com o súbito interesse que ele demosntrou deste que o nome da enfermeira foi mencionado.
Mark: "Peço-te...Tommy. Por favor, não chames a Naura. Eu estou perfeitamente bem. Confia em mim."
As suas palavras não condiziam nem um pouco com a voz ofegante em que falava tudo aquilo. Mesmo assim, o modo tão sério como proclamava o nome de Naura e se autoproclamava saudável fazia o seu chefe querer fazer a vontade ao homem.
Tommy: "Não devia seguir as tuas palavras. Não devia mesmo. Contudo, vou fazê-lo, pois acredito que vás conseguir superar isto."
Mark: "Como sempre tenho feito."
Tommy: "Espero que não me decepciones. Olha que estou a torcer por ti."
Mark: "Estou a dar o meu melhor."
Tommy: "Tem apenas a certeza de que não vás morrer antes de acabar o projeto."
Ao ouvir as palavras do chefe, Mark assenta os pés no chão e, segurando-se ao cimo da bancada, lentamente e com movimentos trémulos, ele levanta-se.
Mark: "Posso pedir-lhe uma coisa?"
Tommy: "Diz lá."
Pede-lhe, já com a cabeça a doer de ver um funcionário tão teimoso e a sofrer.
Mark: "Tenho permissão para ir comer alguma coisa?"
Tommy: "Que parvoíce. Mas é claro!"
Afirma, um tanto quanto irritado.
Mark: "Bom saber." 

O cientista conseguiu recuperar um pouco. Não está de volta a 100% mas já consegue andar, falar, ouvir, cheirar e tudo o resto. Por isso, quando saiu da instalação já se sentia capaz de interagir com outros.
Mark anda até uma banca no estacionamento do local. Esperava comer qualquer coisa, pois já estava na hora do pequeno-almoço. Porém, tudo foi arruinado ao avistar uma pessoa. 
Num banco de jardim verde que se encontrava ao pé da banaca estava ele: Philip. Estava lá a comer uma sanduíche.
Imediatamente, Mark começou a pensar para si mesmo: se esse gajo começar com merdas eu vou lhe dar um soco.
Para sua desgraça, Philip avista-o e fita-o com um sorriso malvado. O jovem cientista larga a sanduíche no embrulho, deixando-a no banco e parte para ir ter com o seu colega favorito.
Philip: "Mark, que bom te ver aqui!"
Disse, ao chegar ao pé de Mark. A frase foi dita com um tom bem maldoso que qualquer um seria caoaz de interpretar. Mesmo assim, o velho ignorou e pôs também a sua façada.  
Mark: "Philip. Nem imaginas o quão surpreendido estou em ver-te."
Philip: "Digo o mesmo."
Por um segundo, Philip olha para as suas costas, isto é, onde Mark se dirigia e nota que era a banca de sandes que recentemente abriu. Curiosamente, foi o mesmo lugar onde foi para tomar o seu pequeno-almoço. Vai usar esse facto a seu favor:
Philip: "Vejo que também vieste aqui tomar o pequeno-almoço. As sandes deles são excelentes. Reco.endo aquela com bife de mostarda do 'Ambrus'. É mesmo excelente."
Mark: "Obrigado pela recomendação. Vou logo experimentar."
Subitamente, de um segundo para o outro, a cara e tom de Philip mudam. Ele tira a máscara e mostra as suas verdadeiras cores, perguntando-lhe:
Philip: "Tenho uma pergunta séria ara ti, posso fazê-la?
Mark: "O-Ok."
Relutantemente aceita, esperando já o pior. Quando ele abre a boca e fala, tudo é revelado: 

Philip: "Então já foste despejado?"

Nem sabe o que o inquietou mais naquele momento. Se foi a pergunta em si ou o sorriso sinistro com que Philip falou. Tudo estava errado naquele momento. É por isso que não conseguiu aguentar. Raiva começou a acumular-se.
Philip: "Estás me a ouvir-me?"
Mark: "Desculpa, o quê?"
Faz a pergunta, tendo sido tirado dos seus próprios pensamentos. 
Philip: "Já me esqueci que estás velho e não ouves muito bem. Ok...volto a repetir. Perguntei se te despediram. Só precisas de sizer sim ou não."
Mark: "Não. O Tommy deu-me mais uma chance."
Responde, tentando conter alguma da raiva que se está a acumular no interior do seu corpo cada vez que o jovem abre a boca. 
Philip: "Que pena, ele também muda de ideias muito rápido."
E neste ponto, já nem tenta esconder as suas verdadeiras intenções. 
Mark: "Já percebi que não me queres aqui, mas podes ao menos dizer-me o porquê?"
Pretende trazer a verdade ao de cima num tom calmo. Basta saber se funciona... 
Philip: "Velho, claro que eu não te quero mais aqui. Alguém supostamente inteligente como tu deveria já ter percebido isso."
Mark: "Demonstras apguma hipocrisia, afinal, ainda não me respondeste à pergunta. O que é que eu te fiz?"
Ele pausa por um momento. Faz uma pausa bem longa. Olha em redor, por um bom bocado. Talvez esteja a garantir que ninguém o vai ver ou vir. Chega a parecer que nem o próprio tem a resposta.
Philip chega a sua boca ao ouvido de Mark e sussurra-lhe a tão ansiada resposta: 
Philip: "Tu estás aqui a ocupar espaço. Tu, um velho no fim de carreira que mal se consegue manter em pé está a ocupar a vaga de vários jovens talentos. Pessoas que, ao contrário de ti, conseguem andar e fazer algo de jeito. Ouviste? ÉS UM DESPERDÍCIO DE OXIGÉNIO!"
Ele afasta a sua boca do pobre ouvido de Mark, agora mais aliviado.
Philip: "Espero que tenha ficado claro."
Mais raiva se acumulou com aquele discurso todo. Assim, ele chegou ao seu clímax de raiva. Mas o que lhe acertou mesmo nos nervos foi o facto de ele tê-lo chamado de velho. Está farto. Farto que os outros questionem as suas capacidades. Não aguenta mais. Não tolera mais. Não tolerará mais.
Mark: "Não te preocupes, eu compreendi."
Diz, fitando Philip com um sorriso malicioso. É então que...
*Plasch*
Sem que ninguém possa raciocinar, Mark acerta um belo soco na cara de Philip com a sua mão esquerda. Com o punho bem cerrado, o jovem levou um bem dado golpe na frente da cara. 
Como consequência, Philip dá dois passos para trás, mas consegue manter-se firme e não cai. Passa o dedo pela, percebendo que nela tem algo de estranho. Mas quando passa os dedos pelo nariz percebe...
Philip: "Cabrão."
Sentiu algo molhado junto de se nariz. Ele percebe que é sangue. Sangue que escorreu do nariz por um fio, devido ao soco.
Philip: "Bom golpe, velhadas. Mas acho que não posso perder assim."
Mark ergue os punhos, pretendendo lutar, tal como fazia quando era mais novo. Nem sabia ele que essas habilidades de outros tempos já se tinham dissipado.
Sem gastar mais tempo, Philip corre na direção do cientista. Mark ainda extende a mão direita cerrada para a frente, tentando acertar-lhe um soco, contudo...
Philip: "Nem penses..."
Ele sinplesmente desvia-se, movendo o corpo para a esquerda e, ao dar mais um passo.
*Plasch*
Desta vez é ele a dar um golpe. Philip enfia o seu punho bem fundo no estômago de Mark, roubando-lhe equilíbrio e fazendo-o cair no chão.
Philip: "Como te disse. Estás velho. Nada podes fazer."
Mark está no chão a ofegar. Por muito que queira, não consegue provar o inimigo errado. O soco doeu muito e deixou-o sem ar. Está agora mesmo a ofegar deitado no chão de areia, tentando recuperar algum ar. Mas acima de tudo, tem de pensar num próximo passo. Senão...
*Tomp*
Philip pisa o seu estômago com força. Afundou mesmo bem o sapato na sua barriga. Deixou-o ainda mais sem ar. Como se já não tivesse falata de tal.
Philip: "Recomendo-te a fazer algo, caso contrário ainda és capaz de ficar sem ar."
As provocações eram ouvidas não só por Mark, mas por todos os outros que no local se encontravam. Pessoas olhavam com desgosto para a situação, achando que aqueles dois estavam simplesmente a estragar os seus dois. Alguns até se afastavam ou observavam aquilo como se de um espetáculo se tratasse. Cada um tinha a sua maneira de reagir à situação. Mas e Mark? O que ele pretendia fazer?
*Tomp*
Mark: "Ah!"
Levou outro pontapé em cima da barriga. Philip está mesmo a aproveitar-se desse seu ponto. Certamente mais uma vez e ficará sem ar. Precisa de agir. Rápido. Não, agora.
Philip: "Acho que já chega desta porcaria. Nem estás a lutar de volta. Vou é acabar com esta tua vida miserável, Mark."
O jovem ergue o pé outra vez pretendo fibalizar o velho, quando, de súbito...
Mark: "Nem penses!"
Ele pega numa boa quantidade de grãos de areia e atira-os à cara do inimigo, apanhando-o desprevenido e arruinanfo-lhe a visão.
Philip: "Ah! Seu filho da-"
Antes que pudesse continuar a reclamar e a esfregar os olhos com os dedos das suas mãos, o mesmo leva um pontapé certeiro no meio das pernas do próprio Mark, que ainda se encontrava deitado no chão.
Philip tira logo as mãos dos olhos repletos de sujeira do chão e desloca-os para a área afetada pelo golpe que, por sorte, não o fez cair no chão. Um golpe baixo, vale a pena acrescentar, mas um bem inteligente também. E um golpe que apenas deixo o adversário mais irritado.
Ao menos conseguiu arranjar tempo para se levantar. E é exatamente isso que Mark faz. Ele olha para Philip. Ainda não recuperou do último golpe e da areia nos olhos. Isso significa uma coisa.
Mark: "Agora é a minha vez!"
Como um touro enfurecido, Mark vai correndo na direção de Philip, usando toda a energia que ainda continha naquele corpo degradante. E quando chega perto do inimigo, ele não desperdiça a oportunidade.
*Plam*
Mark acerta um gancho com a mão esquerda em Philip. Um soco com sentido de baixo para cima (ascendente) que o inimigo levou mesmo debaixo do queixo. Este golpe impulsionou Philip para cima. Pelo menos impulsionou-o a uns quantos centímetros do chão. Os seus pés ate perderam o contacto com o solo e o homem ergueu-se no ar por segundos até cair no chão de areia. A uns centímetros à frente do seu corpo está uma árvore e, à direita da árvore, está um banco de metal verde.
Philip: "Augh!"
Resmungou, mal caiu com as costas no chão.
Mark aproxima-se do oponente caído. Está à sua mercê. Pode acabar agora com a luta. Tem uma oportunidade de ouro. Uma que não pode desperdiçar.
O cientista vê uma pedra no chão. É o que usará. Até parece que Deus quer que ele prossiga com esta escolha. E o doutor aceita.
Rapidamente, ele agacha-se e apanha a pedra e volta a levantar-se. Ele olha Philip por cima. Mostra a sua superioridade antes de acabar com aquela rivalidade idiota. 
Mark: "Já não pareces tão forte, pois não?"
Diz, olhando para Philip que se contorcia de dor no chão.
Mark: "Deixa. Daqui a pouco vais deixar de sentir dor."
O brilho nos seus olhos muda para os de um assassino. Ele não sente arrependimento ou medo pelo que está prestes a fazer. Está completamente absorvido no momento. Só quer uma coisa: matar Philip.
O doutor ergue a rocha de ponta bicuda que se encontra na sua mão esquerda. Ele ergue-a e prepara-se para afundá-la no crânio do inimigo. Já se preparou mentalmente. É isto que quer. É este o caminho que vai seguir. Nada o pode parar. E então...
Mark: "Vai para o inferno."
Ele agacha-se, ao mesmo tempo que baixa o braço, com o objetivo de se aproximar da cabeça do adversário. Cada vez mais. Cada vez mais perto dele. Cada vez mais perto de alcançar o seu objetivo.
Já está com os joelhos no chão. Só falta finalizá-lo. Só falta matá-lo!
Só houve algo de inesperado...
*Tha*
De repente, a mão direita de Philip levanta-se do chão e segura na mão esquerda de Mark. Um súbito movimento ao último segundo. Mesmo quando o bico da rocha ia riscar a sua testa.
Philip: "Não é desta que me ganhas, velhote!"
Sem deixar que o experiente cientista consiga reagir primeiro, Philip acerta um forte soco no peito de Mark. A dor é tanta que o faz largar a rocha que cai no chão, junto à cabeça do inimigo. De seguida, Philip segura na cabeça de Mark com as suas duas mãos e acerta-lhe uma valente cabeçada, impulsionando o corpo para a frente.
O corpo de Mark começa automaticamente a cair para trás com o choque, mas, antes que possa, Philip segura-o pelo colarinho da bata e move-o para o lado. Mark nem percebe para onde o inimigo o puxa, pois estava com os olhos fechados, desde que levou a cabeçada. Porém, quando abre os olhos para descobrir, já é tarde demais.
*Plam*
Philip conduz a cabeça de Mark a encontro de um dos apoios do banco de metal que se situa à direita da árvore. O impacto foi tão forte que soltou um grande som que todos os espectadores ouviram.
Mark ficou no chão. Deitado, com os olhoas fechados. Sentiu a sua consciência a desaparecer. Não só. Também sentiu que estava a levar vários pontapés de Philip em diversos lugares do corpo. Mas não sentiu mais nada apara além disso, pois rapidamente desmaiou e perdeu a consciência.

Nem pareceu real. Aquela luta no parque mais pareceu um sonho, agora que pensa. Mais curioso é o facto de ainda estar a pensar em Philip, mesmo no sono de recuperação. Talvez seja por ter perdido. A derrota realmenete o marcou.
Mas porquê? Ele começou a luta para se provar e mostrar que, apesar de ser velho, ainda tinha valor e poderia ser útil, contudo...acabou por provar o contrário. 
*Dim* *Dim* *Dim*
Ele abre os olhos. Algo o acordou. Foi um barulho. Mas não parecia o barulho do despertador.
Ia se levantar, mas sentiu logo o corpo todo dorido. Apetecia-lhe logo ficar deitado o resto do dia e deixara a chamada por atender.
*Dim* *Dim* *Dim*
Mas quem quer que estava a ligar era persistente. Não o iria deixar em paz assim tão rápido. Por isso, ele faz um esforço e levanta-se.
Apoiando-se com as duas mãos, Mark senta-se na cama. Ele olha em redor. Parece que se encontra num hospital. No seu lado direito, está uma máquina a apitar incessantemente. Já no seu lado esquerda está uma mesa de cabeceira, onde se encontra o telemóvel e, para além disso...
Nadia: "Vais atender o telemóvel ou não, Mark."
Sentada, numa cadeira ao lado da cama está Nadia de faca numa mão e maçã verde na outra. Parece estar a cortar a fruta. Olhando melhor, no seu colo está um branco prato descartável de plástico com algumas já cortadas fatias de maçã. É uma mulher de tom de pele escura com o cabelo castanho atado por uma fita azul.
Mas, imediatamente, várias questões surgiram. Questões tais como: O que é que uma sua colega está a fazer a estas horas do dia? Não deveria estar a trabalhar? Porque é que está a cortar maçã? Estará ela com fome? E porquê maçã, de todas as frutas? Mark odeia maçãs (exceto as vermelhas, algo que aquela não era).
*Dim* *Dim* *Dim*
O som do telemóvel traz Mark de volta à realidade, para longe dos seus pensamentos.
Nadia: "Acho que é o Tommy. Se fosse a ti, não o deixava esperar mais um segundo que fosse."
Por ora, Mark decide seguir a recomendação e, sem dizer uma palavra, pega no seu flip phone com a mão esquerda.
Ele abre o telemóvel e confirma as suspeitas da colega. Respira fundo, espira e clica no botão para atender.
Mark: "Estou?"
Fala, chegando o telemóvel ao seu ouvido esquerdo, com medo do que virá.
Tommy: "Olá Mark, tudo bem? Na verdade, não é necessário responder. Sei que não, mas boas notícias. O Philip acabou de ser despedido. A luta no parque também lhe garantiu uma vaga na prisão."
Mark fica boquiaberto em reação à novidade dada pelo chefe. Até Nadia fica intrigada com a chamada.
Mark: "B-Bem, eu nem sei o que dizer."
Tommy: "Não precisas de dizer nada. Está tudo tratado. O Philip era um fedelho que menosprezava os outros. Cá para mim, tinha é inveja de ti. Mas chega de falar sobre os que aqui não se encontram. Tens ainda um longo trabalho pela frente. Vê se te recuperas. O tempo ainda está a contar."
Mark: "Espere um minuto, o quê?"
Tommy: "Hoje é o dia 27 de fevereiro. Ainda tens um longo caminho pela frente. Cada segundo conta então utiliza bem o tempo."
E, desta forma, Tommy acaba a chamada. Nem deixou que Mark pudesse dizer mais alguma coisa. É mesmo um homem atarefado. 
Mark: "Preciso de terminar o meu projeto."
Foi logo a primeira coisa em que pensou, mal a chamada acabou. As palavras do chefe deixaram-no aliviado por não ter Philip mais por perto, mas, ao mesmo tempo, deixaram-no também desesperado por saber que a data do dia estava cada vez mais perto.
Nadia: "Parece que o Philip te contou algumas coisas bastante inesperadas pelas caras que estavas a fazer. Contou-te sobre o Philip, não é?"
Em resposta, Mark limita-se a acenar. Estava tão incrédulo que  nem conseguia falar.
Nadia: "Importas-te que eu te faça uma pergunta?"
O doutor pousa o flip phone na cama e vira a cabeça para a cientista.
Mark: "Diz lá o que queres, Nadia."
Pediu, demonstrando algum cansaço mental e pressa.
Nadia: "Não é nada demais, apenas queria saber porque é que a luta ocorreu?"
Mark: "Estás muito enganada se julgas que fui eu quem começou."
Nadia: "Com que então foi o Philip."
Mark: "É sempre o Philip. E olha que ele desta vez mereceu."
Diz, irritado, já com o punho cerrado.
Vendo o estado em que se encontra o seu colega, Nadia pega no prato com fatias de maçã que se encintra no seu colo e estende-o na direção do cientista.
Nadia: "Queres?"
Mark: "Não, obrigado."
Nadia: "Tu é que sabes. Mais fica para mim."
Ela torna a pousar o prato de plástico no seu colo. Pousa a faca na mesa de cabeceira onde estava o telemóvel de Mark e come uma fatia de maçã.
Nadia: "Também não gosto do Philip, para ser sincera. Nunca gostei, mas não foi por isso que lhe ia dar um soco na cara."
Mark: "Acho que não estás a compreender a situação em que me encontrava. Ia eu muito bem tomar o meu pequeno-almoço, pois já não comia há horas, quando o idiota apareceu e veio meter-se comigo."
Nadia: "O que é que ele disse?"
Pergunta, ao mesmo tempo que engole a fatia que levou à boca anteriormente.
Mark: "Foram só um monte de provocações. Começaram bem disfarçadas, mas chegou a um ponto em que ficou farto de disfarçar. Foi quando ele me sussurrou ao ouvido..."
Nadia: "O quê?"
Mark: "Que eu era um fracasso. Um velhote que já não tem lugar no mundo."
A tristeza é visível na cara de Mark. Parece estar a dar o seu melhor para não chorar. Nadia não compreende a origem desta tristeza, por isso, tenta cavar mais fundo.
Nadia: "Isso que o Philip disse parece-me uma provocação básica. Sem ofensa, mas não compreendo porque é que te irritaste tanto ao ponto de bater-lhe."
Mark: "Porque já não é a primeira vez que ouço isto. Já não é a primeira vez que me dizem isto. E eu estou farto. Aquilo que o Philip disse apenas marcou a gota de água. Se fosse outra pessoa a dizer a mesma coisa o resultado teria sido o mesmo."
Nadia: "Uau! Não esparava isso vindo de ti. Essas palavras que disseste são um pouco perigosas, tens noção disso, certo?"
Mark: "Por favor, até parece que me conheces."
Nadia: "É natural importar-me contigo. Conheço-te desde que entrei na instalação. Tu mostraste-me o lugar e quiaste-me por este mundo. É por tua causa que agora os meus colegas me respeitam. Se não fossem as tuas orientações e aulas no fim da tarde, não sei onde estaria. Provavelmente não teria um laboratório pessoal como agora e ficaria para sempre a fazer experiências com um grupo de 4 idiotas num laboratório coletivo. Eu sou tua amiga, Mark. Estou apenas a quere ajudar-te, da mesma forma como me ajudaste quando aqui entrei, há 1 ano."
A resposta que a cientista deu veio do fundo do seu coração. Não estava a mentir ou a exagerar nada. Foi compmetamente honesta.
Mark sentiu isso. Soube o quão importante ele era para ela, mas não sentiu nada. Talvez se ela as tivesse dito mais cedo. Talvez se ele não estivesse com a cabeça em acabar o projeto, em se provar, ele importar-se-ia. Mas, para a sua tristeza e de Nadia, esse não é o caso.
Sente algo no fundo do seu coração. E raiva e tristeza misturada. Os seus sentimentos mais profundos que se recusa a partilhar, mas talvez, só talvez, este seja o momento. Este é o momento de partilhar o que sente. Estes sentimentos, este veneno que está lentamente a consumi-lo e a afetar os que o rodeiam. Tem que o deitar. E agora.
Incerto quanto ao que irá fazer, Mark avre a boca. Não tem nada preparado. Vai simpleamente dizer oq ue lhe vai no coração. É isso o que Nadia quer. É isso o que lhe vai dar, sem filtros, sem desculpas. Vai ser o mais genuíno possível. Vai ser ele: 
Mark: "Peço desculpa. Desculpa se não pareço tão amigável como antes. Se não pareço quem era. A culpa não é minha. Não é minha. Simplesmente não é. A culpa pertence aos outros. À sociedade. Foram eles quem me transformaram no que sou. Eles é que começaram a duvidar das minhas capacidades. Eles é que notaram que já não sou tão bom quanto era. Começo a acreditar que eles têm razão. Quer dizer, olha para mim, estou velho. Estou velho e todos à minha volta sabem disso. Não só pela minha aparência, mas também pelo que faço. Já não sou o que era. Agora desmaio no trabalho de tanto cansaço. Se fosse jovem isso não teria acontecido. A verdade é que sou fraco e muitos apontaram-me o dedo para esse facto. O Philip é simplesmente um deles. Alguém que viu a minha incapacidade ara executar certas tarefas. Alguém que viu a minha fragilidade. É curioso, não é? Parece que a tua vida só tem uso até a uma certa idade. Quando ficas velho, perdes um propósito. Ficas fraco. Já não tens uso no teu emprego. É para isso que serve a reforma. Para quando as pessoas ficarem velhas, inúteis e fracas, serem salvas e deixadas num lar decadente a esperar a morte. É um ciclo esse. Um ciclo a que nós os humanos pertencemos. Um ciclo a que quero escapar. Sim, chama-me de teimoso ou idiota, não quero saber. Quero fazer-me conhecido. Quero que as pessoas saibam o meu nome e digam que fui boa pessoa. Não quero ser como o meu pai que morreu e ninguém foi ao seu funeral. Apenas eu estava lá. Sozinho, a olhar para o túmulo de um homem que nada deixou neste mundo. Por muito que tenha custado, esta experiência ensionou-me algo. Mostrou-me que, neste mundo, apenas as pessoas que deixam a sua marca que são lembradas, mesmo após o funeral. E foi nesse dia que me decidi: quero ter uma morte digna. Quero morrer rodeado por quem me ama e vê o meu valor. Quero ser alguém neste mundo. Mas para isso, preciso de fazer algo que deixará todos boquiabertos. Não importe o tempo que levar, isso irá acontecer. Já me decidi. Estou determinado para conseguir isso, mesmo que signifique sair do ciclo vicioso imposto sobre nós pela sociedade. Eu vou conseguir. Já me decidi há muito. OUVISTE? A MINHA VIDA SÓ ACABA QUANDO EU QUISER!!!"
Com este longo monólogo, Nadia fica sem palavras. Sem dar por isso, a sua boca abriu-se. Depois deste discurso emotivo vindo do fundo do coração de um homem que está no fundo do poço a tentar sair de lá.
Mark nem se apercebe, mas nesse instante, uma lágrima cai do canto do seu olho. Ele ignora, por ora, e concluiu a sua mensagem.
Mark: "No fim, palavras não servem de nada se não são postas à prova. Tenho agora uma última oportunidade nas minhas mãos. Não posso desperdiçá-la."
O cientista prepara-se para levantar da cama, quando...
Nadia: "Mas é que nem penses."
Uma voz amiga impede-o.
Nadia: "O médico disse que precisas de ficar aqui a descansar."
Mark: "Por quanto tempo?"
Nadia: "Pelo menos, 2 semanas."
Mark: "Nem pensar."
Nadia: "Ouve, compreendo que não queiras perder o teu emprego, mas, nesta situação, está a tua vida em risco. Tu podes até ter uma hemorragia e morrer. Pensa em ti próprio, por um segundo."
Mark: "Eu já me decidi. Mesmo assim, obrigado pela preocupação."
O doutor levanta-se, ignorando os conselhos da sua amiga mais jovem. Está a vestir uma espécie de vestido azul com bolinhas de várias cores. É uma vestimenta fornecida ao hospital para os doentes. Deve ser por isso que não tem qualidade muito alta.
Nadia coloca o prato também na mesa de cabeceira, junto da faca de metal, e levanta-se, de modo a parar o seu amigo.
Mark: "Vou andando. Preciso de ir a casa buscar roupas de jeito. Logo logo volto ao trabalho."
O homem dá um passo adiante. Está meio zonzo, mas consegue caminhar. Ia dar o segundo passo, quando, subitamente, surge um obstáculo. À sua frente intromete-se Nadia.
Mark: "O que é que pensas que estás a fazer?"
Nadia: "Não te vou deixar sair assim. Desculpa, mas não quero ver o meu amigo a sofrer."
Mark: "Hum, estou a ver..."
O cientista coloca uma expressão triste e sisuda. A mulher fica intrigada com esta súbita mudança de estado de espírito. Formula várias hipóteses para esta mudança, mas, rapidamente, percebe o porquê.
Então, num movimento rápido, Mark pega na faca que se encontra em cima da mesa de cabeceira junto ao prato com as fatias de maçã e aponta-a ao pescoço da colega. Imediatamente, o coração de Nadia fica a mil. Nem sabe o que a impressioan mais. Se foi o ato inesperado e malvado por parte do seu colega ou o facto de ter agora a sua vida nas mãos de um velhote que começa cada vez mais a achar que é capaz de fazer qualquer coisa.
Mark: "Que isto seja um aviso. Se não me vais deixar passar, então também não te vou deixar sair impune."
Nadia: "Estás louco?! Tudo por causa de um projeto?!"
Mark: "Não é um projeto. É a minha vida e os meus ideiais que estão em jogo."
A respiração dela está pesada e rápida. O coração mais parece uma bomba prestes a explodir. Não esperava que as coisas chegassem a este ponto. Veio ajudar um amigo e acabou com esse amigo a tentar matá-lo. Não há nada que possa fazer nestes casos.
Nadia: "Raios..."
Resmunga.
Ela dá 5 passos para trás e fica com as costas junto à parede. Foi obrigada a recuar. Tudo porque tem medo de morrer. Não, é mais do que isso. Por nuito que tenha medo de morrer, não quer, acima de tudo, lutar contra um amigo.
Mark: "Que isto sirva de aviso."
E assim, a correr com a faca na mão, Mark sai da sala, deixando a colega a morrer de medo na sala, sozinha com umas quantas fatias de maçã verde.
O cientista sai e passa por inúmeros utentes do hospital. Todos o olham com estranheza. Nem sabiam o que fazer, pensar ou dizer. Apenas olhavam. O mesmo se diz dos poucos pacientes que também ia encontrando.
Mark desce a escada e vai parar à receção. Senhoras, senhores e crianças aguardavam a sua vez na sala de espera. As recepcionistas também ficavam claramente confusas com a chegada do homem. Nunca pensou fazer este tipo de figuras. Contudo, de momento, o que menos importa são as aparências.
Saído do hospital, ele olha para o estacionamento. Numa placa de lá, está o nome da localização.
Mark: "Porra!"
Está muito longe da instalação. Isso significa que terá de ir a casa a pé. Pode reclamar o que quiser, mas essa é a realidade.
Mark: "Vamos a isto..."  

Após uma longa caminhada, ele finalmente chega ao seu bairro. Está com as pernas nas últimas, mas ao menoa conseguiu.
Já está de noite. Por isso, ninguém o vai ver a vestir algo tão ridículo. Felizmente.
Ele vira a uma esquina. Dá mais 10 passos e chegou. É a sua casa! Se bem que...não parece igual...algo ocorreu enquanto esteve fora.
Mark: "Só podem estara. gozar comigo."  
A casa estava completamente vandalizada. A porta estava arrombada e as janelas partidas. Ele que nem tinha a melhor visão também conseguiu ver o interior. Não sabe como. Talvez tenha sido algo do momento, mas, por alguma razão conseguiu. E ele viu bem. Viu que interior tambem não aparentava estar muito melhor. Sofá furado com o enchimento a transbodar e a televisão partida. Rochas encontram-se dentro da casa. Isso explica os vidros partidos e os restantes estragos.
Os visitantes também modificaram a decoração da casa. Na porta estava escrito a grafiti: "Gangue do Bairro Alto". Mas quem são eles, afinal? Não importa. Ativistas, terroristas ou criminosos, não há desculpa neste mundo que faça o velho perdoá-los.
O pobre Mark ficou com tantas perguntas. Mas, ao mesmo tempo, também sentiu raiva. Ficou irritado e confuso. Sentimentos que culminaram em tristeza. Não conseguia parar de se questionar. A si próprio e a Deus. Porquê? Porque é que pessoas fizeram isto? E quem? Quem é que fez isto? O que é que a pessoa tinha de mal com ele? Será que a pessoa sequer o conhecia? Ou foi apenas azar?
É impossível aguentar. Primeiro o seu casamento correu mal, resultando no seu divóricio. Como se isso não bastasse, os cientistas duvidam das suas habilidades, devido à sua idade. Ainda tem Philip no meio de todos estes problemas e agora a casa. Já não será suficiente?
Porquê? Porquê? Porquê? Que mal fez ao mundo para merecer isto? Foi por ter tentado matar Philip? Se foi, ele irá já à confissão. Fará de tudo para que a má sorte o deixe em paz.
Isso, levando em cinta que é má sorte. Essa é a opção em que quer acreditar, mas é pouco plausível. Então, o que é? Mais uma pergunta. Uma pergunta que se junta à pré-existente pilha de outras perguntas. E nem uma resposta.
A noite está fria. A lua está pouco brilhante. E Mark veste uma roupa que pouco aquece. Por isso, treme. Mas, não é só de frio. Embora, esteja realmente frio, também está surpreendido. Mesmo quando não oensava que nada poderia piorar, piorou.
Mark: "O mundo só pode estar a brincar comigo." 
No fim, cai de joelhos no chão. Ele chora. A verdade é que simplesmente não conseguia entender porque é que o mundo lhe queria mal, porque é que toda a desgraça do mundo estava reunida só nele.
Chora, chora e chora. Deita todas as lágrimas que o seu corpo contém no passeio de concreto, deixando pequenos pontos pretos. Pretos como aquela escura noite de inverno.
Depois de 1 minuto ali a chorar, ele apercebe-se. Chega à conclusão que não pode ficar a chorar para sempre. Então, levanta-se, limpando as lágrimas à manga daquela estranaha escolha de roupa e entra em casa.
Tal como a vista de fora garantiu, ela está irreconhecível. Tantos bons momentos que ele ali passou. Aquele sofá agora rasgado foi o lugar onde ele e Kale passavam os sábados a verem filmes de comédia terríveis ao invés de adiantarem trabalho. Ou mesmo a cozinha, onde Kale lhe contou pela primeira vez que estava grávida. 
Ele sobe as escadas e vai ver se o andar de cima também está completamente em ruínas. Rapidamente, descobre a resposta a esta pergunta. E sim, a resposta é sim.
A tinta vermelha de grafiti é tanta que deixa um cheiro tóxico no ar que apenas o faz tossir. Não sei porquê, mas no andar de baixo não há nada disso. Por alguma razão, apenas usaram a tinta de grafiti na parte exterior e no andar de cima.
Mas não há nada a fazer. Ele pega no seu flip phone e digita um número. O doutor leva o telemóvel ao seu ouvido e espera até que alguém atende.
Mulher do outro lado: "Olá, está a ligar para a 'Manny Seguros', em que posso ajudar?"
Mark: "Olá, gostaria de denunciar um crime."

O velho foi dormir com a mesma roupa. Estava com tanto sono que nem teve vagar para se mudar. Contudo, quando acordou, já o fez. O problema é que os vandalizadores tinham roubado quase toda a sua roupa. Isso obrigou-o a vestir uma fuleira camisa de botões e uma calça preta de baixa qualidade. É mau, sim, mas já se sente grato por ter algo para vestir. 
Só há um problema: deixou o carro no estacionamento da instalação. Vai ter que lá chegar a pé. E ainda não recuperou de ontem.
Mark: "Nem vale a pena reclamar. Vamos logo despachar esta porcaria."
Concluiu, ao fechar a porta de casa. E lá foi ele, pelo passeio em direção ao local predestinado.

Depois de uma longa caminhada, Mark chega ã instalação. Ficou tão feliz que era capaz de gritar em voz alta. Contudo, decide não o fazer. 
Avista o carto no estacionamento. Feliz em saber que não o vandalizaram. Neste ponto, já estava a esperar o pior. As chaves do carro estão dentro da instalação, por isso, pode ir trabalhar à vontade.
O cientista entra e vai em direção do seu laboratório. Mas, no caminho para lá, algo de curioso ocorreu. Cientistas pelos quais passava olhavam-no com medo e desgosto. Achou uma reação estranha, mas ignorou. Quer dizer, tem problemas bem maiores em mãos. Só quando chegou ao seu laboratório e olhou para o quadro branco que lá se encontrava é que percebeu. Está mesmo com mau aspeto. Os problemas foram tantos e tão sucessivos que se esqueceu de tomar conta de si próprio e da sua aparência. Mas agora o foco está no seu projeto, não no seu rosto.
Mark: "Tenho maiores complicações. Depois trato disto."
Então, pegou nas chaves do carro que deixou na bancada, perto dos frascos dos reagentes (uma atotude irresponsável se me perguntarem) e veste a bata que deixou em cima da cadeira. Deste modo, ficou pronto para o trabalho.

O dia inteiro foi passado no laboratório. Não almoçou nem lanchou. Esteve a misturar soluções. Fê-lo é bastante cuidadosamente. Senão, o projeto já estaria a 30%. Mas como essa não é a realidade e Mark é bastante perfecionista, o projeto apenas se encontra a 10%. Está ainda muito longe de acabar.
Mesmo com toda a tristeza que lá no fundo guarda, trabalho e trabalho e a vida continua. 
Por hoje, já nada pode fazer. Sente o sono à espreita. Também não acha boa ideia brincar às escondidas com o guarda. Não sabe a extensão dos danos na sua cabeça. É melhor não arriscar. Vá-se lá saber se um encontro com o guarda ainda lhe causa uma dor de cabeça e começa uma hemorragia. Sim, nota-se que já nem está a pensar bem.
Antes de ir, ele despe a bata e coloca-a sobre a mesma cadeira. Verifica se as soluções estão todas estáveis e bem preparadas e só então é que foi. 
O velho sai da instalação. Hoje o dia foi bom. Livre de stresses. Não encontrou nem Tommy nem Kale. Embora saiba que a última se encontra na instalação. Já o seu chefe deve andar fora a ter reuniões e atratar de negócios. É o mais provável.
Chegado junto do carro, ele pega nas chaves que e insere-as na ranhura do carro. Ele abre a porta e entra. Já vai para casa. Só precisa de fazer uma última paragem para ir buscar comida.
E onde é que ele decide ir buscar comida? A um supermercado, devem pensar. Ou até uma mercearia e quem sabe- ERRADO! Ele foi a uma bomba de gasolina.
Não tem muito tempo para gastar. Quer ir também a um lugar onde não tenha que esperar muito. Levando isso em conta, até é capaz de nem ter feito uma má escolha.
De qualquer forma, Mark sai do carro e entra. A bomba de gasolina era mesmo prquena. Mais pequena ainda era a loja da bomba de gasolina. Um retângulo com poucos metros de comprimento e de largura. Acreditem, é tão pouco que nem vale a pensa mencionar. 
O doutor olha para as pequenas prateleiras da loja. Atentamente, observa-o o atendente. Ele que mais parece morto que vivo. As olheiras nos seus olhos são bastante visíveis. Se os cientistas da instalação acharam que o Mark tinha mau aspeto, é porque não viram o atendente da loja.
Mark: "Pode ser isto."
Ele pega numa caixa de macarrão instantâneo. É bom, simples de preparar e rápido. Uma boa escolha. Não se importa de comer isto até acabar o projeto.
Decidido, ele pega no máximo de caixas de macarrão que consegue e vai até ao caixa.
Mark: "É só isto."
Diz, colocando os 10 pacotes de macarrão em cima do balcão e um pacote de cigarros (aproveitou para levar já que tinha ali parado para fazer compras). A sua voz estava morta e deixava transparecer grande tristeza. É a voz de um homem farto do mundo.
Atendente: "São 10,57$."
Responde, com uma voz ainda mais morta. Aquela conversa parecia surreal. Mais pareciam dois mortos-vivos a falar. Talvez os dois estivessem em situações difíceis. Vá-se lá saber...
Mark tira a carteira do bolso e de lá tira uma nota de 20 que entrega ao caixa.
Atendente: "Está aqui o troco."
Diz, dando os 9,43$ na mão do cliente. 
O cientista pega no troco e coloca-o na carteira. Volta a pegar em todos os pacotes de macarrão. Assim, ele dirige-se para fora do estabelecimento.
Ia até à porta e preparava-se para abri-la quando alguem o faz antes de si. Alguém de fora abre-lhe a porta.
Um homem, vestindo uma máscara preta. Ele segura-lhe a porta. Ao seu lado, ai da do lado de fora, está também um homem com uma máscara igulzinho. Deve ser seu parceiro.
Ele até ia sair, mas aqueles dois captaram-lhe a atenção. Nunca foi de assumir factos, mas eles fazem-no cincluir uma coisa. Aquela roupa é os uficiente para levantar suspeitas por si só. Vendo melhor, o homem que lhe abriu a porta tem a outra mão no bolso de trás. Só existe uma conclusão óbvia a que chegar: eles vieram assaltar a bomba de gasolina.
Homem: "Vais passar ou não?"
Mark: "S-Sim. Vou já."
Nervosamente e com medo do que o que ambos lhe possam fazer, o cientista sai e deixa-os entrar. Antes de ir para o carro, dá uma última olhada para trás e verifica as suas suspeitas. O homem que lhe abriu a porta estava com uma das mãos no bolso de trás. Essa mão estava a segurar numa pistola. Não há mais dúvidas do que se irria ali passar.
Mark tem uma oportunidade. Pode fazer o bem. Pode impedi-los. Nada o detém de fazer isso. Porém, não vale a pena. Ele acha que não vale a pena. Estaria a fazer o bem, disso ele sabe, contudo, não valeria a pena. Magoar-se-ia ou até morreria, no pior dos casos, tudo para proteger um homem. Um homem que já nem parece vivo. 
Por isso, ele vai até ao carro e pousa as compras no banco de trás. Quando se senta no lugar do condutor, ele olha para o interior da loja pelo vidro. 
É estranho. Naquele instante sente-se calmo. Calmo por deixar um homem para a sua morte. O nervosismo parece ter abandonado o seu corpo, misteriosamente.
Ele não percebeu totalmente o porquê. Porém, sentiu que se viu um pouco na quele atendente. Com isto não quero dizer que eles eram muito parecidos a um nível físico e psicológico até pois isso é difícil de apurar com uma breve e simples interação. Com isto, quero dizer que Mark vê-se a si em todas as pessoas do mundo.
Todos eles são humanos. Humanos tal como ele. Ele que tem uma vida terrível e é completamente descartável pelo mundo. Nem Deus parece querê-lo vivo. E é exatamente isso que agora pensa dos outros humanos. Pessoas descartáveis e inúteis tal como ele. O modo como Mark pensa é apenas a reflexão do que o mundo acha de si próprio.
Por isso é que não sente culpa por deixar o atendente para morrer. Não sente, pois ele sabe que, tal como ele próprio, o atendente é apenas mais um humano inútil e descartável.
Tendo chegado à resposta, Mark liga o carro, põe o pé no acelerador e calmamente confuz em direção à sua casa, ouvindo apenas um som vindo de trás, da bomba de gasolina.
*Bang*
A loja daquela bomba de gasolina acabou de se tornar um local do crime e o som do tiro apenas sinalizou essa mudança. 

Ele chega a casa, entra e vai até ao seu quarto. Aquele estado deplorável da casa já não o entristece. Está-se completamente nas tintas. Conformou-se com o seu estado no mundo. Tudo porque compreendeu que a sua importância não é tão menor como a dos outros. Só percebeu isso com o incidente na bomba de gasolina.
Como tal, ele vai até ao quarto, despe-se e vai dormir com um sorriso na cara. Feliz por saber que todos os humanos são descartáveis.

Mark acorda também feliz. Ele sente-se tão bem que decide tratar-se de uma vez por todas. Vai até à casa de banho pintada de vermelho no espelho e liga a torneira. Ele lava a cara com o resto de creme que tinha num pacote e esfrega na cara. Acabado o trabalho, passa a cara por água.
E tão rapidamente ficou com melhor aspeto. Depois disto mais ninguém deve olhar-lhe mal.
O homem veste-se com a mesma roupa de ontem, uma vez que é a sua única, e vai até ao carro.

Ele chega à instalação, estacionando o carro. Dirige-se para dentro e vai passando por vários colegas que hoje já não estranahm a sua aprência. Pelo contrário, cumprimentam normalmente como sempre fazem. Dizem os típicos "Bom dia!" e "Tudo bem?". O comportamente deles mudou drasticamente. E tudo porque Mark também mudou.
Mark passa por vários funcionários. Uns conhecidos e outros menos conhecidos. Tudo ia bem. Mas, infelizmente, tudo o que está bem tem que acabar. E é precisamente isso que acontece.
Tudo ia bem até passar por Nadia, que aparentava estar a sair para ir fumar no estacionamento. Ela ia na direção oposto. Enquanto Mark estava a entrar, ela ia de saída.
O cientista ainda pensou em dizer-lhe algo. Talvez fosse pedir desculpas. É a melhor oportunidade que tem. Sim, não lhe parece um mau momento. Afinal, se não o fizer hoje terá que fazer noutro dia. Não vai valer a pena atrasar o irremediável. Muda o seu trajeto. 
Determinado, coloca o seu nelhor sorriso, tentando parecer amigável. Esta pronto. Preparou umas quantas palavras bonitas na sua cabeça ali, à última da hora. É o suficiente. Sente-se confiante. Que este sentimento perdure pelo máximo de tempo possível. Respira fundo e tenta meter-se à frente dela. Ele ia aproximar-se quando...
Nadi: "Com licença, estou com pressa."
Estas simples palavras. Esta simples escolha de palavras. Foi o suficiente. O suficiente para impedi-lo de fazer o que queria. Estas palavras foram o suficiente para petrificar Mark.
A mulher sinplesmente segue adiante, chocando com o seu ombro no ombro de Mark. E foi isso o que bastou. Nadia decidiu seguir em frente. Após o que aconteceu no hospital, ela escolheu esse caminho. O homem que outrora se chamava de Mark já não existe. Para ela, agora só existe um velho que fará tudo em suas mão para conseguir o que quer. Sim, é isso o que ele é. Uma criança que ainda segue os seus ideiais idiotas. É esse o tipo de pessoa que se recusa a seguir.
Já tinha Nadia saído da instalação, estava Mark a olhar para a frente perplexo e completamente paralisado da cabeça aos pés. Só não compreende porque é que está tão surpreendido. Escolhas têm consequências. Sempre esteve bem ciente disso. Sente que também teve essa mesma noção ao apontar a tesoura ao pescoço da sua colega.
Mark: "Devo estar completamente passado."
Ele dá uma chapada a si próprio. Uma chapada tão forte que deixou marca. Mas foi o suficiente para o acordar para a realidade. Era isso o que estava a precisar. Pode resmungar o que quiser, mas o passado já está definido. Agora, o que pode fazer é construir o seu próprio futuro.
Decidido, ele vira a esquina e entra no seu próprio laboratório. Estã muitos frascos com reagentes e soluções nas bancadas. O trabalho está longe de acabar, por isso, é gora de pôr mão à obra.

O dia inteiro foi passado no laboratório. Conseguiu adiantar o projeto significativamente. Mas ainda não é o suficiente. Trabalhar só de dia, tal como fez ontem, não bastará. E olhem que ele nem sai para almoçar. O que é algo grave, tendo em conta que ele nem toma o pequeno-almoço.
Precisa de fazer mais. Isso significa uma coisa e uma coisa só. Por muito que custe...
Mark: "Acho que tenho que ficar aqui de noite. É o necessário, se quero ter alguma chance de completar isto."
Decidiu-se, olhando para o tanto de soluções que ainda tem para misturar.
E assim o fez. Já não estava com medo. Não, esse sentimento parece ter ficado no passado. Sente-se mais confiante. Ele sabe que o guarda é também só um homem insignificante no grande esquema do mundo. Sim, ele não é muito diferente do próprio Mark.
Por isso, quando o guarda chegou, ele tranquilamente apagou as luzes e colou as suas costas à bancada. Esperou, esperou e esperou. Não tinha medo. Não ofegava. Não sentia o coração a mil. Já não é o mesmo homem de antes. Agora, não teme mais nenhum homem. Agora vê-se em pé de igualdade com todos os homens e mulheres. Mesmo com o guarda.
*Tum*
Ele fecha a porta com grande intensidade e Mark volta ao trabalho, ligando as luzes.

O trabalho foi assim sendo lentamente completo. Pouco a pouco tudo foi compondo-se. 
Mark ia tentando equilibrar a sua vida pessoal e do trabalho. Conseguiu até arranjar parte da casa. Não o fez necessariamente porque quis, mas mais porque não queria ver Kale preocupada a ver o filho a entrar na casa vandalizada do seu ex-marido. Realmente, só lhe ficaria mal.
E assim foi indo. Passou muito tempo. Cuidou de Ruis nos dias combinados com Kale e passou noites a esconder-se do segurança. E a melhor parte é que fez tudo com grande sucesso.
O ciclo este que estou a brevemente descrever durou 1 mês e 26. Isto, acrescentando ao último dia que aqui contei.
Mas acho que chega de falar sobre Mark. Não é que ele não seja nada importante. É só que, no meio tempo, uma certa pessoa esteve nas suas próprias complicações.

Segurança de cela: "Toca a cordar, rapazes."
Os gritos do guarda que passava por todas as celas acordavam-no.
Philip: "Caramba."
Foi a única voisa que conseguiu murmurar enquanto se remexia na cama. Estava mesmo bem. E já não é a primeira vez que o raio do guarda o acorda. Apetece-lhe mesmo bater-lhe, contudo isso não passa de uma fantasia. Uma mórbida fantasia.
Segurança de cela: "Não me obrigues a repetir, Philip."
Ameaça o guarda, chegando o seu corpo às grades enferrujadas.
Philip: "Sim, já vai."
Ele cumpre a ordem e levanta-se da cama sem mais nem menos. Súor escorre-lhe da testa. Que calor! Ainda por cima está a vestir apenas uma regata branca. Só usa porque está calor, uma vez que, não tem músculos para exibir.
Segurança da cela: "Ei! Alegra-te. Tens sorte que hoje sais daqui."
Philip: "Boa piada, mas já não caio nessas."
Segurança da cela: "Eu não estou a gozar."
A sua expressão muda para uma mais séria.
Segurança da cela: "Não sei quem foi, mas alguém pagou-te a fiança. Devias sentir-te previligiado."
Nem sabe o que achar. Para ser sincero, Philip ainda julga ser uma brincadeira, mas o guarda não parece estar a brincar. Está aqui há quase dois meses. Conhece bem o segurança e é capaz de apurar se está a mentir ou não. Nesta situação, ele não parece estar a brincar.
Philip: "Bem, nem sei o que dizer. Acho que hoje é o meu dia de sorte."
Segurança da cela: "Pois, pois. Vamos a ver isso. O pequeno-almoço está a chegar."
Philip: "Mensagem recebida."
Segurança da cela: "Tem um último bom dia de estadia no nosso estabelecimento prisional."
Philip: "Obrigado, Sunny."
E assim, após ver o prisioneiro por uma última vez, o segurança move-se até à próxima cela, para acordar o seguinte prisioneiro naquela fila interminável de celas. É possível ainda ouvi-lo a acordar o prisioneiro do outro lado.
Segurança da cela: "Toca a acordar!"
Agora que o guarda já não lá está para chateá-lo, pode pensar claramente. Ora ele parecia bastante sério a falar aquilo. Com que então pagaram-lhe a fiança. Um ato muito altroísta da parte de quem quer que tenha o feito. Pois é, quem é que terá pago?
Custa admitir, mas até o próprio Philip sabe que tem mais inimigos do que propriamente amigos.
Isso deixa a história ainda mais suspeita e improvável. Contudo, tudo aponta para que seja verdadeiro. Assim, sendo só há uma conclusão lógica: hoje vai finalmente sair daquele inferno.
Philip sorri maliciosamente. O seu espírito rejuvenesceu logo com aquela notícia. É como se tivesse recebido uam segunda vida. Não há nada melhor do que isso.
Philip: "Obrigadinho, quem quer que tu sejas. Obrigado por me tirares daqui."
Sussurra para si mesmo, num tom vitorioso, mantendo o sorriso no rosto.

Mal o pequeno-almoço grotesco da prisão chega, ele vai logo devorar tudo o que estiver naquele tabuleiro que lhe foi deslizado para dentro da cela por uma pequena ranhura no chão. A refeição é pão com maçã e uma geleia barata. Uma comida que sempre odiou na sua estadia, contudo, hoje soube-lhe mesmo bem.
Na verdade, nunca comeu um pão com geleia tão bom. Devia estar a ficar maluco. Ou eram só os seus sentimentos a influenciarem a sua opinião. A verdade é que estava feliz, mais feliz do que nunca e isso refletia-se no seu comportamento.
Guarda particular: "Vê se não te engasgas. Não te quero ver a morrer minutos antes de saíres em liberdade."
Avisava o homem encostado à parede, enquanto olhava pelo canto do olho o prisioneiro a comer como uma besta a refeição. Era visível o seu gosto ao comer. Parecia mesmo estar a saborear aquela nojenta comida com toda a fibra do seu corpo.
Philip: "Não se preocupe. *Gulp* Eu estou apenas a saborear a comida."
A imagem que passava era um pouco contraditória. Passava. imagem de que ele estava a comer à pressa. O guarda ainda cogitou em  apontar-lhe o dedo para esse facto, mas o gajo estava tão feliz que sentir-se-ia mal por chateá-lo. Já para não falar que foi o próprio Philip que garantiu que a comida estava a ser saboreada ao máximo. E se ele garantiu, quem era quele mero guarda para o questionar.
Guarda particular: "Tu é que sabes, pá."

No recreio da manhã, os prisioneiros foram levados até ao exterior. Era um espaço relativamente grande com 50 metros de comprimento e 40 de largura. Lá havia uma quadra de basquetebol, bancadas semlehantes às que se encontram em estádios de futebol de dois bebedouros.
Os prisioneiros tentavam alegrar-se, fazendo das mais diversas atividades. A vsrdade é que só de lestar, sentiam-se tristes. Mas as atividades também não pareciam ajudar.
Pelo contrário, Philip estava mais feliz do que nunca. A sua felicidade chegava a contrastar com a tristeza dos outros prisioneiros.
Na quadra de basquetebol, Tyronne, o melhor jogador de toda a prisão, humilhava todos os jogadores com as suas habilidades. De pele escura e sem camisola, ele avança por todos aqueles jogadores com a mior facilidade. Ele driblava como ninguém. Parece que as mãos estavam coladas à bola, pois ninguém a conseguia tirar.
Ele avançava em direção ao cesto, passando por cada um dos jogadores que o tentavam parar. É ele contra todos, mas isso não o apavora nem um pouco. Por isso, ele simplesmente continua.
A cada passo, a cada dible ele fica mais perto do seu objetivo. Está a pouco jogadores de alcançá-lo. Só mais um pouco.
Tyronne: "Vá lá! Deem o vosso melhor!"
Foi uma clara provocação que apenas fez os jogadores caídos no chão e que já tinham desistido ganharem mais motivação. Agora, motivados a raiva eles levantam-se e vão até à última frente entre Tyronne e o cesto.
É a última oportunidade que têm para parar aquele monstro do basquetebol. Eles unem-se, formando quase que uma barreira impenetrável. Nem os dribles de Tyronne devem conseguir penetrar por aquela barreira de homens.
Mas então, contra todas as possibilidades, o homem faz o imposível...
Tyronne: "Esparava mais de vocês."
Antes de entrar em contacto com algum dos homens que bloqueiam a sua passagem, ele salta. Salta tão alto no ar que consegue passsr por cima de todos os que faziam a barreira no chão.
Ele ficou por 3 segundos no ar a uma distância de 1 metro e 50 centímetroa do chão. Um feito impressioannate, mas que não impressionou nenhum dos outros prisioneiros. Afinal, eles já teinham presenciado este tipo de acontecimentos vezes e vezes sem contas.
Por isso, quando olharam para trás e viram Tyrone a encestar, aproveitando a queda do salto, não se surpreenderam.
Tyronne: "Tomem esta!"
Celebrou, enquanto caia no chão.
Estava mesmo feliz e contente. As suas habilidades parecem boas como nunca. Julga mesmo que ninguém se pode equiparar a ele-
Philip: "Com licença, posso jogar?"
Pergunta com um sorriso autentico na sua face. 
Tyronne olha para a sua esquerda e vê Philip. Que raio?! O que é que este tipo quer? Ele que mal fala com ele. E por motivos bem plausíveis, afinal, Philip ainda lhe deve. Ainda por cima, ele parece estar bastante contente. Desta vez passou-se. Agora anda com aquela cara sorridente pertencente ao idiota que ele é. Mas pronto. Talvez esteja a julgar o gajo demasiado.
Tyronne: "Olha se não é o Philip. Com que então queres jogar."
Philip: "Sim."
Tyronne: "E o que é que te deu para subitamente quereres jogar? Tu mal pisas nesta quadra todas as vezes que vens aqui."
Philip: "Eu sei, mas é que hoje sinto-me mesmo bem. Apeteceu-me mesmo vir aqui jogar."
Tyronne: "Ok. Só acho esquisito esta súbita felicidade vinda da tua parte. Não que eu odeie, é simplesmente incomum."
Philip: "Pois, quanto a isso...hoje saio daqui."
Informou, segurando uma risada de felicidade.
Tyronne: "O quê?!"
O seu ar de supresa ficou bastante visível. Até os seus olhos se arregalaram.
Philip: "É mesmo. Nem eu queria acreditar, mas pagaram-me a fiança. Os guardas disseram-me que, depois de almoço, saio."
Tyronne: "Impossível. Sem ofensa, mas todos te odeiam. Por isso, responde-me lá quem é que te pagou."
Philip: "Estou tão confuso quanto tu, mas já sabes o que dizem: quando a vida te dá limões fazes limonada."
Respondeu, quase se gabando.
Tyronne: "Sim, sim, filho da mãe. Vê se o ego não te sobe à cabeça. Agora anda. Vamos lá jogar. Uma última vez, meu."
Philip coloca-se na posição de defesa, preparando-se paraq receber o incrível jogador que se prepara à sua frente. Tyronne agacha-se, com a bola na mão e Philip faz o mesmo. O jogo estava prestes a começar.
Philip: "Vamos a um último jogo, amigo."
 
Acho que escuso estar a descrever o que aconteceu. Philip foi mais do que humilhado. O resultado já era esperado, afinal, ele nem joga basquetebol. Foi só a felicidade que possuía que o levou a jogar. E também porque queria jogar com o seu companheiro. Quis jogar como forma de se despedir.
De resto, o almoço foi passado a comer. A comer e a falar com Tyronne. Os dois faziam comentários e piadas que apenas os dois compreendiam. Hoje era provavelmente o último dia em que se viam. O último dia da amizade que se formou.
Tudo estava bem. Mesmo a comida até estava decente. Era esparguete à bolonhesa. Para sobremesa, deram-lhes uns queques de chocolate. É claro que era tudo comida do microondas ou de pacote, mas era decente. 
Já tinham acabado de comer quando se puseram a conversar. Começou com Tyronne a contar uma história de infância. E que história louca. Nunca Philip tinha ouvido algo do género. Por isso, só se ria com cada palavra e reviravolta daquela história.
Philip: "Ena pá! Nem sabia que eras tão maluco nessa época."
Comenta, rindo-se do fim da história de Tyronne.
Tyronne: "Eu sei, nem se parece comigo. Mas, em criança, todos fazíamos porcaria. Até tu deves ter uma história tão maluco quanto a minha."
Philip: "Olha que acho que não encontra história tão maluca quanto roubar uma rolote de gelados."
Tyronne: "Sim, muito engraçadinho tu. Deixa-te de piadas e conta logo uma história tua."
Philip: "Ok, deixa-me só pensar um pouco." 
Ele olha para o teto, esperando que algo lhe venha à cabeça. Por uns segundos, a sua mente separa-se da realidade e vai até ao fundo. Ao fundo da sua memória em busca de algo. Pelo menos uma coisa que possa contar. Depois de tanto cavar, parece ter encontrado algo.
Philip: "Muito bem, tenho uma boa."
Tyronne: "Estou todo ouvidos."
Diz, inclinando-se para afrente naquele longo banco que se extendia por metros desde um canto da mesa ao outro.
Philip: "Quando era criança, nas férias de verão, os meus pai deixavam-me com os meus avós. Nunca entendi muito bem porquê, mas acontecia sempre. Talvez tenha sido uma viagem de negócios."
Tyronne: "Ou então estavam fartos de ti."
Fala, num tom de brincadeira.
Philip: "Seu sacana. Fica já a saber que os meus pais adoravam-me. Sempre me trataram bem e eu retribuía o favor. Caso contrário, não estaria a receber visitas deles todas as semanas aqui na prisão."
Tyronne: "Diz o que quiseres, mas a minha possibilidade soa a mais verídica."
Philip revira os olhos com o estúpido, mas ainda assim, engraçado comentário do amigo e continua.
Philip: "Mas, voltando à história. Então, estava eu, criança, com os meus avós. Passava o dia inteiro em casa a olhar para a janela. Via os carros a passarem. Eu sei que pode parecer secante, mas, na época, era o que mais me entretia. Na minha opinião, a televisão sempre foi secante, por isso, esta foi a forma que arranjei para me entreter. Isso é tudo fixe e tal, contudo não é o mais importante. Vamos à parte que interessa."
Tyronne: "Já não era sem tempo."
Philip: "Para o lanche, a minha avó dava-me uma sandes de manteiga de amendoim e geleia."
Tyronne: "A minha mãe também me fazia. Adorava aquilo. Mas comia sempre sem côdea. Senão ficava por comer."
Philip: "Pois...eu odiava."
Tyronne: "Só podes estar a gozar!"
Nem acreditou no que ouviu. Em toda a sua vida, não encontrou ninguém que odiasse a famosa sandes de manteiga de amendoim e geleia. Mas lá tinha que vir Philip para quebrar a tradição.
Philip: "Também não sei o que tem de mal. Simplesmente o doce e o salgado não combinam muito bem para mim."
Tyronne: "Não te preocupes. Quando sair daqui, tu e eu vamos ter uma conversinha."
Uma ameaça num tom de vrincadeira que Philip levou muito bem. Absorvida a ameça pouco aterradora, ele continua a história.
Philip: "De qualquer forma, eu nunca comia aquelas sandes. Nem morto me apanhariam a trincar numa. Contudo, não queria deixar a minha avó triste. Ela que me tratava tão bem e dava tudo de si paraa fazer aquela ranhosa sanduíche. Por isso, não podia simplesmente deitar a sandes para o lixo. Seria cuspir no trabalho dela. Tinha que arranjar forma de não comer a sandes, mas sem ela descobrir."
Tyronne: "E como é que fizeste?"
O sorriso no rosto de Philip alarga-se ainda mais. Só de pensar no que fez, apetece-lhe rir. Aqueles eram os bons tempos. Tempos que agora explicitará nestas simples palavras que revelarão o que aconteceu:
Philip: "Atirei cada uma daquelas sanduíches para o telhado de casa."
Tyronne imediatamente desfez-se em risos. Não conseguia aguentar. Fui uma conclusão tão inusitada e estúpida que só conseguiu reagir ao rir.
Tyronne: "Ahahahah! E-Espera um pouco! De todas as coisas que poderias ter feito, decidiste atirar as sandes para o telhado?!"
Ele falou em voz alta. Como se a sua risada já não tivesse atraído atenção suficiente, as suas falas em tom de voz alta conseguiram garantir tal. Afinal, muitos começaram a olhar para aquela mesa onde dois amigos malucos se riam e discutiam.
Philip: "Antes de mais, acalma-te. Estão todos a olhar para nós. E em segundo lugar, eu era uma criança, está bem? Foi a única coisa que me veio à cabeça."
Tyronne: "Mesmo assim, não deixa de ter piada...espera...o que é que os teus avós disseram quando desobriram um monte de sanduíches no telhado?"
Pensando um pouco melhor, Tyronne é capaz de ter encontrado uma mina de ouro cómico. Daí, resultou a pergunta. E nunca esteve tão empolgado para receber uma resposta. A expectativa estava lá no alto. Espera uma resposta mesmo absurda e idiota. Se não for isso, vai decepcionar-se.
Philip pondera numa resposta. Sabe o que dizer, só não sabe como. Tem que ter cuidado com o que vai dizer a seguir. Dependendo das suas palavras, pode acabar por causar uma explosão de risos por parte de Tyronne. 
Tudo chegou ao máximo. A expectativa e a tensão no ar acumularam-se até não permitirem mais o silêncio. Então, Philip abre a boca e responde:
Philip: "Tiveram que chamar o vizinho e, com a sua escada, retiraram o monte de sandes com um ancinho."
A bomba chegou ao limite.
Tyronne: "Ahahahahahhahahaha! Não posso! Aha!"
Agora sim, todos os prisioneiros, incluindo os que ainda se encontravam a comer olham para o homem que loucamente se esvai em risos.
Philip imediatamente arrepende-se de ter finalizado a história. O seu sorriso encolhe e encolhe, até ficar com uma cara de alguém que diz: "só podes estar a brincar".
Tyronne: "Ahahahahahahahahahahahaha!" 
E os risos ainda não pararam. Para ser sincero, os risos duraram por volta de 2 minutos. Ele deve ter mesmo achado uma piada à história...
Tyronne: "Ahahahahahahahahahahahaha!" 
Continua, continua e continua. Não aparenta ter fim. Mas, quando estavam já todos os prisioneiros entediados e com os ouvidos a rebentar de tanto ouvir o Tyronne a rir, ele finalmente para.
Tyronne: "Ai, ai, ai, ai. Que história..."
Comenta, tentando recompor a sua postura. E todos os prisioneiros imediatamente suspiram de alívio por já n terem que aturar com aqueles risos iritantes.
Philip: "Já estás mais calmo?"
Pergunta, com o mesmo ar de indiferente que adquiriu mal o seu amigo começou aquela risada incontrolável.
Tyronne: "Ai, ai. Sim, muito melhor."
Afirma, agora com as costas direitas.
Philip: "Não compreendo porque é que achas tanta piada à historia. Quer dizer, é engraçada, só não é...hilariante."
Questiona as ações do colega, permanecendo com a típica cara de indiferença que lhe veio a susbtituir o sorriso.
Tyronne: "Tu é que deves estar a gozar. Nem sei por onde começar. Primeiro, a história por si só é engraçada. Como se isso não bastasse, a reação dos teus avós também foi do caramba. E, por último, mas não menos importante, a história foi bem simploria. Não foi tão maluca quanto a que eu contei. E olha que tu juraste que era maluca."
Philip: "E não é?"
Tyronne: "Depende. Se és uma das poucas pessoas que não se impressiona com um bando de putos a assaltar uma camionete de gelados, então talvez a tua história seja impressionante. Mas ninguém pensa assim. Por isso é que a minha história foi muito mais ousada."
Philip: "Como queiras. Também não vou estar aqui a debater sobre um tema tão idiota."
Diz, começando a desviar o olhar de Tyronne com tanto desinteresse. Não consegue, contudo, esconder alguma tristeza que sente pelo seu amigo estar a menosprezar memórias da sua infância. Memórias que têm um lugar muito importante no seu coração.
Tyronne acaba por notar que o seu amigo está para baixo. Sente-se um pouco mal e, por isso, dirige-lhe algumas palavras:
Tyronne: "Peço desculpa. Eu até posso ter sido durro demais ao criticar memórias queridas da tua infância. Apenas achei curioso o facto de seres tão certinho e pouco rebelde, mesmo quando quebravas as regras. O que é que te aconteceu para vires aqui parar?"
Philip: "Também estou para entender isso."
Ele olha em redor e vê o ambiente em que se encontra. Como...como é que veio aqui parar? Que pergunta idiota. Tudo veio como resultado daquela luta idiota que teve.
Não, há algo a mais. Por muito que esteja bem ciente de tudo o que ocorreu para ali chegar, sabe que tem algo a mais. Aquele conflito apenas surgiu porque tinha um grande ódio por Mark. Esse ódio foi o que causou aquela rivalidade e, é claro, a luta.
Tyronne: "Como é que isso pode ser?"
Philip: "Hã?"
Ele saiu dos seus pensamentos e voltou à realidade.
Tyronne: "Vieste para aqui e não sabes como. Isso é bem improvável de acontecer. O sistema jurídico é mau, mas não ao ponto de colocar pessoas aqui só porque sim."
Philip: "Não quero falar sobre isso."
Tyronne: "Compreendo que pode ser difícil falar sobre algo do género. Porém, acho que seria algo bom para eu saber, como teu amigo."
Philip: "Acredita em mim, se eu achasse algo de relevante já te tinha dito."
Tyronne: "Ou será que não me contaste porque simplesmente tinhas medo?"
Detesta admitir, mas ele tem razão. Nunca abriu a boca para falar sobre a razão de ter vindo para a prisão porque tinha medo. Medo que ele o julgasse por ter uma razão até que idiota. 
Philip deixa de olhar para os outros prisioneiros a comer e olha para Tyronne. Talvez seja a hora de dizer-lhe. É agora ou nunca.
Hoje é o momento. Por alguma razão, já não sente medo. Tudo porque agora tem a certeza que no outro assento tem um amigo. Alguém que pode confiar e que pode contar tudo. 
Philip: "Até tens razão. Tinha medo."
Tyronne: "E vais deixar que ele te controle?"

Phlip: "Não, já o superei."

Tyronne sorri e fica orgulhoso com esta atitude do amigo. Não tem a certeza, mas parece que o facto de ser o último dia dele na prisão o fez mudar de ideias. Viu este momento como a única que tinha para deixar um amigo a saber mais dele. Uma espécie de recompensa por tê-lo ajudado e passado tempo com ele. É um obrigado por tudo.
Philip: "Ok, eu conto."
Tyronne: "Manda vir."
Ele prepara a garganta. Philip agora sabe o que tem de dizer e está confiante quanto a isso. Então, ele começa:
Philip: "Desde que me lembro, sempre tive a noção de que o nosso tempo aqui é limitado. A vida é efémera. Isso toda a gente sabe. E eu também vim a descobrir isso quando o meu pai falou comigo. Ele disse-me que tudo tem um fim. Os objetos, animais e até mesmo nós. Ao dizer isto, não estava apenas a realçar a nossa eventual morte, mas também como cada um de nós terá que, mais cedo ou mais tarde, desistir do que fazemos para nos sentarmos no sofá. É claro que, na época, não prestei muita atenção ao que ele disse. Quer dizer, nem sei o que ele tinha na cabeça para dizer aquilo a um puto. Não me leves a mal, adoro o meu pai, mas ele, às vezes, tem das suas."
Tyronne não consegue impedir uma leve risada de lhe sair da boca. Philip também esboça um sorriso antes de voltar ao assunto:
Philip: "Mas, voltando ao que eu estava a dizer. Aquilo que o meu pai disse ficou na minha cabeça. Permaneceu lá. E a parte mais curiosa é que apenas memorizei o que ele disse porque não compreendi. Talvez aquela conversa não tenha sido tão descabida. Porque aquelas palavras ficaram a atormentarem-me durante anos. Eu fiz a escola, graduei-me e as palavras, aquele discurso do meu pai permaneceu. Contudo, não encontrei utilidade para elas. Agora que vejo, parte da razão de elas terem ficado bem memorizadas deveu-se ao facto de eu estar incessantemente a encontrar utilidade para elas. E nunca encontrei uma situação em que elas se encaixassem. Foi assim até ter entrado naquele local."
Ele pausa por um segundo. Perde o seu sorriso e vai para uma expressão mais séria. Chega a parecer raiva o que Philip sente. De qualquer forma, as suas próprias palavras seguintes irão comprovar qualquer suspeita:
Philip: "Há dois anos, obtive o meu emprego na maior instalação de cientistas: 'Neuer'. Sempre foi o meu sonho trabalhar lá. Comecei por trabalhar num grupo de outros 4 novatos, tal como eu. Eles entendiam-me como ninguém. Eram novatos, como eu. Pessoas com sonhos e aspirações grandiosas. Eles eram exatamente como eu. Nós todos trabalhámos. Esforçava-mo-nos com objetivo de ir além. Afinal, o nosso trabalho iria determinar se teríamos licença para um laboratório particular. Sim, era isso o que queríamos. Esse era o próximo passo na nossa jornada. Demorou bastante, admito. Continuámos e continuámos a trabalhar no duro até conseguirmos o que queríamos. E foi uma conquista até que recente. Só recentemente é que eu obtive permissão para ter um laboratório só meu. Receber essa notícia foi como ver um sonho tornado realidade. Foi o que sempre quis. Os meus outros 3 colegas também conseguiram permissão. Não podia estar mais feliz. Porém, foi nesse momento, nesses instantes de felicidade que a vida deu-me uma facada nas costas. Quando os superiores me vieram dar o meu laboratório, informaram-me imediatamente que os meus amigos não tiveram a mesma sorte. Por muito que se tenham esforçado, suado e sangrado, o seu esforço foi em vão. Tudo porque não tinham laboratórios suficientes. Eu fui o único que obteve um. Já os restantes não tiveram a mesma sorte. Deram-lhes a escolher entre permanecer num laboratório partilhado, só que agora teriam um novo membro ou, então, poderiam sair."
Tyronne: "O que é que eles escolheram?"
Philip: "Escolheram sair. E, na minha opinião, fizeram bem. Não vale a pena ficar num lugar onde o teu esforço não é reconhecido. Por isso é que, mesmo eu tendo conseguido o que queria, fiquei indignado. Eu sabia que os meus colegas esforçaram-se tanto como eu. Eles mereciam o mesmo que eu. Mereciam estar no mesmo lugar que eu. Perguntei-lhes ainda o porquê de ter sido eu o escolhido para ficar com um laboratório e sabes o que me responderam? Que tudo se deveu ao facto de eu ser o que mais trabalhava. Mas, cá para mim, era apenas uma desculpa. Algo que inventaram para encobrir o facto de que apenas me escolheram, porque fui eu quem lhes veio logo à cabeça. Isto é, escolheram ao calhas e, por sorte, fui eu o escolhido. E isso não é igualdade. Mas olha que a pior parte ainda não chegou. Sabes porquê? Porque conheci um gajo, pouco depois deste acontecimento. O seu nome é Mark. É um velho incompetente. Dizem que ele é um grande cientista, contudo não vi nada de impressionante vindo dele. Tem mais aspeto de um cientista que era muito bom no passado, porém não conseguiu adaptar-se aos tempos atuais. Foi quando o descobri e vim a saber mais sobre ele que percebi finalmente o significado por detrás das palvras do meu pai. Ele estava certo. Todos nós temos um fim. Um momento em que temos de nos sentar no sofá e deixar os próximos substituirem-nos. Todos pareciam cumprir essa regra, essa lei inquebrável. Todos exceto o Mark. Ele acreditava que a sua hora não tinha chegado, embora claramente tivesse. Só não admitia por teimosia ou porque ainda não fez tudo o que queria. Mas não é por isso, não é pelo egoismo dele que os outros precisam de ser prejudicados. Tu estás a compreender o que eu estou a dizer, não é? Os meus amigos perderam os seus sonhos para um velho que julga ser imortal. Foi a sua teimosia que fez com que os meus amigos perdessem os seus sonhos. Ele é o culpado disto tudo. Se ele não fosse tão persistente, eu não seria quem sou, eu não embirraria com ele todos os dias, os meus amigos teriam sido felizes. É por causa dele que eu fiquei neste inferno. É culpa dele dos meus amigos não estarem a viver o que sempre quiseram. Pois acredita, eles são melhores do que ele, EU SOU MELHOR DO QUE ELE!"
As emoções vieram ao de cima. Exaltou-se demais ao falar sobre Mark. Já temia que isso acontecesse, mas foi impossível de evitar.
De novo, todos os prisioneiros olham para a mesa onde os dois amigos se encontram. Já não é a primeira vez que ocorre. Aquela mesa já os está a fartar. Tyronne olha-o boquiaberto. Sabia que era algo pessoal. Apenas não sabia que era algo tão pessoal.
Philip está ofegante. É capaz de se ter exaltado demais. Especialmente tendo em conta que Tyronne é capaz de ter ficado um pouco à deriva de tão pessoal que tornou o discurso. Tem de se desculpar. Atraiu atenção para a mesa deles e pode muito bem tê-lo envergonhado.
Philip: "Desculpa."
Tyronne: "Não é necessário."
Os espectadores voltam às suas vidas.
Tyronne: "Todos temos os nossos maus dias, contudo facilmente nos esquecemos deles. Já o passado, é algo que nunca nos largará, que nos lembremos do que fizemos ou não. E isso é algo que eu compreendo muito bem."
Com estas simples palavras, Philip volta ao seu estado de espírito repleto de felicidade. Tudo o que bastou foram umas palavras amigas. Palavras de Tyronne.
Philip: "Obrigado."
Tyronne: "Só tenho uma dúvida. Vais continuar a armar-te com ele quando saires?"
Philip: "Não. Por muito que me custe, é o que preciso de fazer. Não quero voltar para aqui, de forma alguma. E, para ser sincero, acho que esta experiência me fez perceber que, realmente, talvez tenha exagerado demais em certas situações. Não que o Mark não mereça, mas eu perdi a razão de muitas provocações."
Tyronne: "Ora aí está algo que não esperava ouvir."
Philip: "Que posso dizer? As experiências moldam-te."
Tyronne: "Já vi que este lugar te moldou em uma pessoa melhor."
Philip: "E isso foi a coisa mais sábia que disseste hoje." 
A dupla estava tranquila no seu cantinho, sentados numa mesa, quando deles se aproximam três pessoas. Três homens de pele escura aproximam-se. Dois atrás e um à frente. Esse homem que vai à frente é claramente o chefe.
Os três vão em direção da mesa onde se encontra Philip e Tyronne. No caminho, passam por mesas onde também almoçam outros prisioneiros. E não importa a mesa, se eles por lá passaram, os prisioneiros imediatamente encolhem-se e viram os seus olhares para outro lugar.
Eventualmente, os três aterradores homens chegam ao pé da mesa de Philip. O tom de Tyronne imediatamente muda mal vê o homem à frente. Ele sabia quem era e isso fê-lo ficar mais sério e apreensivo. Ele sabia que algo de mal estava prestes a acontecer. 
Líder do trio: "Bom dia, rapazes. Philip, Tyronne. Espero que estejam a gostar do almoço."
A primeira fala do homem deixou bastante claro que ele estava lá porque queria algo. Pelo menos foi o que Tyronne concluiu e isso não o deixou nem um pouco feliz de saber.
Tyronne: "Para com as boas maneiras. Diz logo o que queres, Eran."
Eran: "Vamos lá ter calma. Já vi que estás chateado, mas fica a saber que não quero nada de ti. Por isso, fica tranquilo e continua a apreciar a tua refeição."
Tyronne: "Ouve, as tuas palavras não têm efeito em mim. Eu sei que queres algo. Pode não ser de mim, mas será do meu amigo."
Philip estava a sorrir enquanto via tudo aquilo. Eventualmente alguém haveria de notar na sua reação a toda aquela situação. Isso acaba por acontecer quando Eran olha ligeiramente para o lado.
Eran: "Hoje estás muito feliz, não é Philip?"
Philip: "Estou a ver que até um relógio estragado como tu consegue ainda acertar as horas pelo menos uma vez no dia."
Eran: "Como é que é?"
Pergunta agora mais agressivo depois de ouvir aquela provocação.
Philip: "Sim, sim, é exatamente o que tu ouviste."
Eran: "Existem poucos gajos que, mesmo me devendo droga fazem piadas. Tu és um dos poucos que já conheci com essa mania."
Philip: "Vou levar isso como elogio."
Diz, mantendo o sorriso no rosto.
Eran: "E o sorriso não te sai do rosto. O que é que tens hoje? Pareces mais estúpido que o normal."
Ao que Philip responde na maior tranquilidade:.
Philip: "Daqui a uns minutos saio daqui. Alguém me pagou a fiança. É mesmo o meu dia de sorte."
Eran tenta conter surpresa após ouvir a notícia, já os seus capangas nem escondem.
Eran: "Parabéns para ti! Agora o que é que queres que eu te faça?"
Philip: "Que parasses de ser um idiota."
Eran: "Desculpa, mas essa não poderei fazer. Afinal, tu tens de pagar pelo que deves. Quer tenhas droga para mim ou não, hás de pagar."
Philip: "Pois...não estou nem um pouco interessado."
Ele desvia o olhar dos rufias, pretendendo voltar a ter um almoço normal. Contudo, Eran não ia permitir que isso acontecesse.
Eran: "Estou a ver como é que vai ser."
Diz ele, agora inclinando-se para cima da mesa.
Eran: "Eu dei-vos uma oportunidade de resolver a bem, mas desperdiçaram-na. Por isso, vamos a mal."
Os dois que o acompanhavam separam-se. Um vai ao pé de Tyronne e outro ao pé de Philip. As suas intenções ficaram claras.
Eran: "Quando estava lá fora, a gangue a que pertencia também não perdoava as pessoas que nos deviam. Na verdade, nem as nossas outras gangues afiliadas perdoavam. Esses gajos em particular eram duros. Só uma pessoa é que lhes deve estar a dever. E sabem porquê? Porque os outros morreram." 
Tyronne preparava-se para lutar. Cerrou imediatamente o punho direito que se encontrava deitado no assento, junto à sua perna. Estava preparado para dar um ataque surpresa se necessário. Contudo...
Philip: "Esse tipo que devia aos teus amigos, porque é que ele ainda está vivo?"
Pergunta ao mesmo tempo que se levanta do assento.
O capanga nas costas de Philip até se surpreende. Ninguém alguma vez conseguiu fazer algo em uma situação desesperadora. É a primeira vez que algo do género ocorre.
Ele levantar-se também serviu de sinal para Tyronne. Um sinal para ficar quieto que ele tratará da situação.
Eran: "O-Ok, porquê o súbito interesse?"
Philip: "Esse tipo ainda está vivo, certo? Quer dizer, ele é o único que ainda lhe está a dever. Isso significa que sangue ainda circula dentro do corpo dele."
Eran: "É capaz. Não sei mais o que lhe aconteceu. Como deves imaginar, desde que aqui entrei, fiquei um pouco apagado do mundo exterior."
Philip: "Já somos dois. Mas, felizmente, tudo acaba hoje. Pena não poder levar-te comigo."
Aquela última frase. Aquela última frase deixou os capangas em alerta. Eles entreolham-se, preparando-se para o pior.
Eran vai até Philip. Fica a uns centímetros do homem e olha-o nos olhos. Deixou bem claro o que ia fazer.
O líder da trio cerra os punhos. Está pronto, preparado para calar Philip de uma vez por todas. Tudo quando...
Segurança: "Philip!"
Grita um guarda o nome do prisioneiro.
Imediatamente, todos focam as suas atenções no guarda que se encontra na entrada do refeitório a falar. É como se o conflito tivesse entrado em pausa.
Segurança: "Está aqui o Philip?"
O prisioneiro em questão, à frente do próprio inimigo, ergue a mão e, com um sorriso diz:
Philip: "Aqui!"
Segurança: "Venha comigo. Precisamos de tratar da papelada para que possa ir em liberdade."
Philip: "Entendido, senhor."
Ele vê a sua deixa para sair. Antes de ir, no entanto, olha para Tyronne e pisca-lhe o olho. Foi a forma que arranjou no momento para silenciosamente se despedir. E Tyronne pareceu ter gostado. Tanto que sorriu para o amigo. Assim foi feito. Assim, dois amigos se despediram.
Então, sem olhar para o inimigo à sua frente, Philip vai em direção ao guarda. Com sorriso no rosto e felicidade a transbordar, o prisioneiro caminha em direção à liberdade. Acaba até por dar um pequeno salto de felicidade no caminho. Simplesmente não conseguiu evitar a empolgação.
Segurança: "Basta seguir-me."
Informa-lhe ao virar as costas.
Philip: "Pode crer que o farei, senhor."
Logo, logo, os dois começam o caminho. De costas para o refeitório. De costas para o passado. Aquele lugar será deixada para trás no grande trajeto que é a vida. Philip vai sem arrependimentos. Apenas sentirá falta de Tyronne, mas isso conseguirá superar com o tempo.
Só tinha certeza de uma coisa: acabou de começar uma nova fase da sua vida.

Rececionista: "Aqui tem as suas coisas, senhor Marcolis."
Diz, ao colocar os pertences de Philip em cima do balcão.
Philip: "Muito obrigado."
Ele pega naquela sacola transparente onde estão todos os seus pertences confiscados pela polícia mal entrou naquele estabelecimento prisional. Tudo o que está ali dentro são itens que já não vê há meses. Muitos das quais já se tinha esquecido que possuia.
Agora encontra-se na entrada do estabelecimento. Uma espécie de receção onde entram as visitas e pessoas do exterior que querem tratar assuntos. E é também o local em que vai sair.
Philip que, por sinal, está finalmente a vestir uma roupa de jeito. Uma camisa às riscas e calças pretas. Melhor que nada. E muito melhor que aquela regata velha e suja que usava na prisão. 
Rececionista: "Muito bem, acho que já tratou de tudo. Dito isto, declaro-lhe agora um homem livre."
Fala, enquanto escreve cada palavra que sai da sua boca no computador.
Philip: "Feliz em saber."
Rececionista: "Pode ir em liberdade. Mas fique já avisado que não perdoaremos se fizer algo de mal, novamente."
Philip: "Manterei isso em mente."
Já ia ele afastar-se do balcão para sair, quando o homem do balcão se lembra de uma última coisa a dizer.
Rececionista: "Uma última coisa."
Philip para mal ouve a voz do homem.
Philip: "Diga?"
Rececionista: "Alguém que vê-lo."
Philip: "Quem?"
Rececionista: "Ele está lá fora."

Com a sacola na mão, Philip sai e vai lá fora. Ele olha para os dois lados. Na direita, estão alguns sem-abrigos a dormirem em cima de caixas de cartão, mas, à esquerda...
Lá, está um homem. Alto, encorpado, vestindo uma t-shirt vermelha que lhe parece apertada e umas calças pretas. A sua mão direita segura uma garrafa de cerveja que parece estar quase vazia.
Tem que ser aquele o homem. Mas, nunca o viu na vida. Será mesmo ele? E, se sim, o que quererá? Bem, não custa tentar. Por isso, ele vai ter com o homem, em passos lentos.
Philip: "Desculpe..."
O homem vira a cabeça para a direita e vê Philip. Ele imediatamente sorri quando o vê. Um gesto que o intimidou, mas não o impediu de falar.
Philip: "E-Eu estou à procura de uma pessoa. O rececionista disse que ele estava à minha espera cá fora. Sabe de alguma coisa?"
Homem: "Sei, sim. E está no sítio certo."
Então, o homem vira o resto do seu corpo para encarar o visitante. Fica bem clara a diferença de altura entre os dois. Aquele encorpado indivíduo tinha ar de que poderia nocautear Philip com um soco. E era exatamente isso que Philip temia.
Philip: "Posso saber quem é?"
Ner: "Sou o Ner. Fui eu quem te pagou a fiança."
Philip: "O quê?!"
Ner: "Já comia alguma coisa. Também deves ter saudades de comer uma comida de jeito."
O misterioso homem dá uma leve chapada no ombro de Philip. Foi uma chapada leve mas doeu para caramba. Cá para Philip, aquele homem não consegue controlar a sua força.
Ner: "Anda, vamos a algum lugar de jeito. Depois, eu conto-te tudo."

Os dois foram a um café local. Philip nunca tinha ouvido falar deste local. Pode muito bem ter aberto enquanto esteve preso. Ou apenas não conhece pois encontra-se numa zona onde raramente vai.
E o café até tem bom aspeto. Bem decorado e com um cheiro bastante agradável. Chama-se "Rica Café". Pelo que Philip viu, parece um local bem decente onde bem podia tomar o seu pequeno-almoço. Só tem algo de esquisito.
Philip: "Ei. Uma pergunta."
Diz, enquanto se encontra sentado numa mesa com Ner.
Ner: "À vontade."
Fala o homem alto que se encontra do outro lado da mesa, oposto a Philip.
Philip: "Esse modelo de telemóvel é novo?"
A princípio, Ner não compreendeu. Mas depois olhou para o seu telemóvel. O telemóvel que deixou em cima da mesa.
Ner: "Isto? Sim, é um modelo novo. Lançou há quatro meses. É daquela marca que faz os telemóveis que n são flip phones."
Philip: "Essa marca é bem cara. Ainda por cima esse modelo é novo. Deve ter custado um balúrdio."
Ner: "Não sei quanto custou. Afinal, eu não o comprei."
As palavras intrigam ainda mais o ex-cientista. Como é que isso pode? Ele tem o telemóvel. Os seus olhos não o estão a enganar. Isso só pode significar uma coisa...
Philip: "Quem és tu?"
Ner: "Não vale a pena continuar a enganar-te."
O homem inclina-se mais para a frente sussurra:

Ner:
"Eu sou um criminoso."

Philip levanta a sobrancelha. Já tinha imaginado que fosse revelar algo bombástico, mas não algo do género.
É que esta revelação chegou a fazê-lo questionar se deveria estra mesmo a falar com este tal de homem. Pode ter lhe pagado a fiança, mas não tinha aspeto de ser alguém de boa índole.
Fica também a perguntar-se se corre risco de vida. Afinal, ele é um criminoso por alguma razão. Não deve ter feito bons atos para ganhar esse estatuto na sociedade. Contudo, é capaz de ser demasiado cedo para julgá-lo.
Por isso...o que fará?
Ner volta a encostar-se na cadeira e põe um grande sorriso na sua cara.
Ner: "Calma. Não te vou fazer mal."
Diz, assumindo que Philip não dizia nada por medo. Não podia estar mais longe da realidade. A verdade é que Philip estava perdido. Sem saber o que sentir.
Ner: "Fica já a saber que não sou o líder do grupo. Nunca fui bom líder. Aqueles projetos da escola ensinaram-me isso. Sou, no entanto, o braço direito do líder. Um vice-capitão, se preferires. Mas isso é só de nome. Se me visses em ação perceberias que sou outra coisa."
Philip: "O quê ao certo?"

Ner: "Aquele que faz as coisas acontecer."

Antes que Philip pudesse dizer mais alguma coisa, naquele preciso momento, chega a empregada. Ela segura um tabuleiro com os pedidos daquele mesa. A mulher de saia comprida e de farda com botões fala para ambos.
Empregada: "Mesa 17. Tenho aqui o vosso pedido."
Ner: "Precisamente quando já estava a ficar com sede."
Empregada: "Aqui tem."
A senhora passa o refrigerante e um copo para amesa com movimentos suaves e rápidos.
Ner: "Muito obrigado."
Fala, olhando-a com cara de apaixonado.
Empregada: "E aqui para o outro."
Ela pega na chávena de café que se encontra a fumegar e deixa junto de Philip.
Empregada: "Tenham uma boa refeição."
Ner: "Não se preocupe. Nós teremos."
Deste modo, a empregada vai embora, deixando os dois em paz. Ner ainda olha para ela a sair de cena. O homem não consegue esconder a atração para com aquela figura. Está mesmo caidinho.
Philip: "Podemos voltar à conversa?"
Ele finalmente tira os olhos das coxas da moço que se dirigia ao balcão e, para sua tristeza, regressa à conversa. Volta os olhos para Philip que tem o seu rosto coberto pelo fumo que sai do café.
Ner: "Onde é que nós íamos?"
Philip: "Estavas a dizer-me que eras o músculo do teu grupo."
Ner: "Pois é. Sou eu quem suja as mãos quando é necessário."
Philip: "Portanto..."
Ner: "Eu mato."
Já esperava que fosse dizer isso, mas esse facto não o impediu que ficasse arrepiado. Realmente, agora ficou perdido. Começa ainda mais a ficar com vontade de se levantar e sair do café. A pessoa com quem se está a meter pode ser mais perigosa do que aparenta.
Ner: "Mas podes acalmar-te. Contigo não vou fazer mal. Acredita."
Philip: "E como é que eu tenho a certeza disso?"
Pergunta, claramente preocupado com o desenrolar da situação.
Ner: "Eu paguei-te a fiança."
Usou a melhor cartada que tinha no bolso. Foi uma boa escolha. Afinal, porque é que mataria alguém que acabou de resgatar. Mas isso acabou por levar a mais perguntas.
Philip: "Agradeço a generosidade. E aceito mesmo. Só quero saber porque é que o fez. Especialmente a alguém como eu que nem conhece."
Ner pega no refrigerante com a sua mão direita e preparava-se para levá-lo à boca quando se lembra que a tampa ainda estava por tirar. A sua esquisita personalidade ficou mais uma vez evidenciada.
Ner: "Porque é que eu te tirei dali? É isso que queres saber."
Fala como se estivesse demasiado concentrado na garrafa e se tivesse esquecido da pergunta.
Philip: "Uhm, sim é isso que quero saber."
Responde, confuso com a última fala do homem. 
Ner finalmente se apercebe que tem uma tampa a impedi-lo de saborear aquele doce refrigerante com sabor a groselha. Ou melhor, é uma carica. Ainda mais complicado de tirar. Isso se ele fosse um humano lingrinhas.
Ele leva a garrafa à boca e, pressionando a carica com os dentes...
*Tcha*
Consegue tirar a tampa com sucesso. O gás da bebida imediatamente sobe em direção ao gargal. Ner pega na carica e pousa-a na mesa e, então, responde-lhe:
Ner: "Eu não te tirei de lá porque quis. Tirei-te porque o meu grupo quis ou, melhor, o meu líder quis, após ouvir o que um certo colega nosso disse."
Philip: "Líder?"
Ner: "Iza Ingram. A única pessoa acima de mim na hierarquia. Ele viu algo em ti. Ficou bastante intrigado assim que ouviu falar que foste preso por tentar matar um homem. Os relatos vindos de lá de dentro também contribuíram para pintar uma boa imagem."
Disto é que não estava à espera. Aquela conversa tem sido revelação atrás de revelação. Contudo, nada foi tão bombástico quanto saber que o líder de uma organização criminosa tem interesse nele. A sua vida desceu mesmo até este nível?
Philip: "O-Ok, e o que é que ele quer comigo?"
Pergunta, já com a resposta em mente.

Ner: "Quer que te juntes a nós."

Ner leva o refrigerante à boca enquanto Philip tenta processar a situação em que está metido. Tanta coisa aconteceu em tão pouco tempo. E o que fará? O passado não dá para mudar, mas o futuro sim. O que dirá? O que acontecerá?
Ner: "Ena pá! Este é do caraças. Onde é que estiveste durante toda a minha vida?"
Diz, embaraçosamente, após beber aquele refrigerante que acabou melhor do que esperava.
Ele volta o olhar para a pessoa que se senta do outro lado. Aquela que ainda não tocou no café. Por falar no café, é impressão sua ou já deixou de fumegar?
Ner: "Então? O que dizes da nossa oferta? Queres fazer parte do nosso grupo?"
Está a ser pressionado. Precisamente quando está a fazer a escolha mais difícil da sua vida. O que quer que diga pode mudar tudo. Quem será, o tipo de pessoa que se tornará, o seu futuro e-
Philip: "Não, obrigado."
Falou. Com voz firme e sem gaguejar. Parecia estar convicto de que aquela era a escolha certa. Aquele era o caminho que queria seguir. 
Ner: "Ok. Tu próprio é que disseste."
Ele volta a levar o refrigerante à boca e bebe mais um pouco. Tranquilamente vai saboreando aquilo que, para ele, é o néctar dos deuses.
Philip até estranha a reação de Ner. Julgava que ele seria mais persistente ou que até fosse espancá-lo por recusar. Porém, nada disso acontece. Ou, pelo menos, ainda não aconteceu.
Philip: "Será assim?"
Inquire Ner, com algum medo.
Ner: "Sim, tu disseste que não. Obrigar-te a ser o que não queres seria parvoíce. Apenas ficarias a fazer um trabalho de merda como criminoso se não queres ser um."
Philip: "Entendo."
Ner: "No entanto, só tenho uma coisa a mostrar-te."
Philip: "Como?"
Ner: "O meu chefe disse-me para dar-te algo, caso tivesses aceite a proposta."
Philip: "Pois, mas eu recusei. Não sou um criminoso. Apenas espanquei aquele homem porque necessitava de descarregar raiva. E talvez também porque ele tenha merecido, mas o ponto onde quero chegar é que não o faria outra vez. A cadeia ensinou-me as consequências que pessoas que cometem atos terríveis como eu merecem. Devo dizer, não quero voltar lá, nem morto."
Ner: "Vejo que sim."
Philip: "Como tal, muito obrigado por me pagares a fiança, juro que não errarei outra vez. Agora, se me dás licença, vou embora."
Ele levanta-se da mesa, deixando o agora frio café por beber. Tratou de tudo. Não quer envolver-se em nada de criminoso. Não quer cometer o mesmo erro outra vez. Está determinado.
Já ia ele a chegar à porta quando, Ner, que até àquele momento esteve a respeitar a sua decisão, diz alto:
Ner: "Espera um pouco, acho que o que tenho é do teu interesse."
Philip para mesmo na meta. Olha para trás e vê que Ner não aparenta estar a mentir. Perante uma convicção daquelas é difícil resistir.
Philip: "O que é ao certo?"
Ner leva o refrigerante mais uma vez à boca e bebe o que resta. Ele limpa a boca com a manga e pousa a garrafa vazia na mesa com um estrondo.
Ner: "Eu mostro-te."
Diz, encarando-o com um sorriso. Como se lhe estivesse prestes a mostrar algo grandioso. Philip também nota neste leve ato do criminoso. O que quer que seja não deve ser bom. A este ponto, apenas espera que seja algo que compense não ter bebido aquele café que agora mais deve parecer uma banheira de gelo.

Ner: "Chegámos."
Avisa-lhe, mal entram naquele beco.
Philip: "Tens a certeza de que é aqui?"
Ner: "Tens a minha palavra."
Tinham mesmo que vir a um beco. E um dos asquerosos capazes de meter medo a qualquer um. E um dos locais onde Philip não quer ficar muito tempo.
Havia pouca luz no local. Se olhasse adiante, só se via preto. A única iluminação era à entrada do beco. Talvez fosse esse aspeto que incutisse medo em Philip e o fizesse correr com o rabo entre as pernas.
E por falar na entrada do beco, era lá que estava um caixote do lixo. Junto à parede de tijolos de um prédio ao lado. Uma parede cuja tinta vermelha já tinha sido gasta pelo tempo. O tempo que não perdoa e que parece estar a passar mais lentamente para Philip. Pergunto-me porque será?
Philip: "Então, onde é que está o tal do presente?"
Faz a pergunta, querendo sair dali o mais rapidamente possível. 
Ner: "Onde tu menos esperas."
Philip: "Como assim?"
Ner: "Vê só."
Ele vira-se para o caixote do lixo à sua direita. Vira-se e encara-o. Após olhar para o tal do caixote, Ner abre-o, levantando a sua tampa. A sua intenção foi deixada bem clara. Philip sabia, mas não quis acreditar. Só acreditou quando viu com os seus próprios olhos.
Ner: "Upa!"
Subitamente, ele debruça todo o seu corpo sobre o caixote e estende o seu braço direito, mergulhado no meio do lixo, até ao máximo. Ele fica um bom tempo à procura do que quer que seja que ele pretende dar a Philip. Não foram segundos. Foram minutos à espera que ele encontrasse o que procurava no meio de todo aquele lixo. 
Apenas neste momentos, quando alguém se quer despachar é que um pessoa demora mais tempo. É irónico. Parece que o mundo quer lixar Philip, para variar.
Ner: "Vejamos..."
A mão de Ner já está molhada depois de entrar em contacto com os líquidos nojentos que se encontram acumulados e que possuem origem duvidosa. Contudo, a busca parece estar longe de acabar, para o azar de Philip. E já se foram 3 minutos.
Philip: "Queres uma ajudinha?"
Ner: "Não, estou quase lá."
Philip: "Tu é que sabes."
Ele imediatamente cruza os braços. Aceita a derrota com esta mera ação. Terá que ali ficar naquele beco desgraçado pelo tempo que fosse necessário. Por muito que não gostasse, essa era a realidade.
Ner: "Já está."
Logo quando a espera parecia que nunca iria terminar é que ela terminou. Ner volta a assentar totalmente os pés no chão e retira do caixote o seu braço direito. O braço direito que agora vem com algo a mais. A sua mão direita segura em algo.
Philip: "Isso que seguras..."
Ner: "Tal como eu disse, é um presente do líder."
O homem estende a sua mão direita na direção de Philip, deixando bem claro o que tirou de dentro daquele caixote do lixo. Era um objeto. Mas acho que o propósito com que o objeto foi entregue seria mais maldoso.
Philip: "Só podes estar a gozar."
Ner: "O que é que tem de mal?"
Philip: "Um bastão de aço."
Ner: "Sim."
Philip: "Até parece que nasci ontem."
Ner: "Ok, já entendi. Não gostaste da prenda." 
Philip: "Prenda? Isto é literalmente um tubo da canalização."
Ner: "Bem sabes tu que o Iza me pediu para te dar isto não porque queria que arranjasses canos."
Philip: "E é precisamente por isso que não quero. E também porque nem posso considerar a isto uma prenda. É como se fosse o meu aniversário e a minha prenda é uma maçã."
Ner: "Isso não é uma mau prenda."
Philip: "Olha, nem vou discutir contigo."
Vendo que Philip não parece muito interessado na oferta, Ner retrai o braço. Contudo, não vai desistir até convencê-lo. Ainda por cima porque sabe que há algo dentro do ex-presidiário que aceita a oferta. Existe uma parte dele que aceita o bastão.
Ner: "Este bastão de aço é uma arma. Isto é para matar. Foi por isso que o Iza quis que eu te dêsse isso. Para caso aceitasses, teres algo com que possas defender-te e matar."
Philip: "Mas a proposta está fora de questão. Por isso, podes ficar com o tubo da canalização."
Ner: "Não, vou dar-to a ti."
O alto e encorpado homem mostra a sua persistência e teimosia. Ele está longe de ser inteligente, mas tem uma força de vontade admirável. Isso é inegável.
Philip: "Chega a parecer que és surdo. É a última vez que te digo isto: eu não estou interessado em ser um criminoso. Aprendi com os errros e, por muito que me custe dizer isto, o cabrão do Mark pode vem ficar na sua vidinha que eu não vou voltar para a prisão. Lá existem pessoas que me querem morto. Então, desculpa-me, mas terei que recusar a oferta. Mas obrigado por me teres solto. Vou fingir que esta conversa nunca aconteceu e garantirei que ninguém saberá da existência do teu grupo. Como tal, adeus."
Philip vira-lhe as costas e dá um passo para a saída do beco. Estava preparado para deixar este encontro para trás e começar uma nova fase da sua vida. Porém, quando dá o primeiro passo, Ner segura-lhe no braço com força.
Philip: "Ei. Tu..."
Já tinha as palavras prontas para o insultar, mas a força com que ele lhe agarrava o braço esquerdo lembraram-no de que talvez não fosse boa ideia irritá-lo.
Ner: "Disseste que existem pessoas na prisão que te querem morto. Por acaso, uma dessas pessoas não é o Eran ou é?"
Fala, dando a entender que conhece a pessoa em questão.
Philip: "Uh, por acaso é."
Responde, agora um pouco confuso. Sem saber no que acreditar, deixa de resistir ao agarrão de Ner e, por sua vez, o criminoso também larga o seu braço. Agora não quer sair dali. Precisa de saber ao que o brutamontes se refere.
Philip: "Conheces o Eran?"
Ner: "Falei com ele umas quantas vezes quando ainda estava cá fora. Não posso dizer que éramos propriamente amigos, mas conheciamo-nos bem."
Philip: "O que é que ele tem a ver com isto?"
Ner: "Bem, ele também era criminoso. Eu sei que isso pode parecer óbvio. O gajo pertencia a uma afiliada da nossa organização. Um outro grupo, talvez um pouco menor, mas que trabalhava como nós e fazia de tudo pelo dinheiro. Tínhamos um mesmo objetivo e trabalhávamos para o mesmo comprador, ao contrário de uma pequena percentagem que ainda por aí existe."
Philip: "Comprador?"
Ner: "Se te contasse quem é ficarias a saber demais."
O ex-cientista percebeu a indireta. Talvez seja melhor parar de fazer perguntas a não ser que queira ter o seu apartamento arrombado por 20 criminosos que o querem assassinar. É melhor ficar calado.
Ner: "O que eu te quero dizer é que o Eran ainda é alguém que serve o seu propósito mesmo na prisão. É como se ele fosse os nossos olhos dentro de um estabelecimento prisional. Ele e outros relatam-nos o clima de lá de dentro. Não lhes falta um detalhe. Relatam tudo de importante que acontece e quem são os prisioneiros mais 'interessantes', se é que me entendes."
Philip: "Isso significa que vocês recrutam os presidiários que mais têm potencial e tudo com base nos relatos dos vossos infiltrados."
Ner: "Exatamente. Pode-se dizer que é uma tradição que o meu grupo e outros que trabalham para a mesma pessoa que nós têm."
Philip: "Calhou eu ter sido a recomendação de recrutamento da vez."
Ner: "Mais irónico ainda é o facto de esta recomendação ter vindo do tipo que te queria matar. Na carta que ele escreveu quase que dava para ouvir a raiva que tinha por ti. Irritava-o mais o facto de tu ainda por cima teres potencial. Não tens medo, és orgulhoso e tens ar de quem se aguenta numa luta, como provaste no embate com o tal do Mark."
Philip: "O-Ok, mas porque é que me contas isto?"
Ner gela no momento. Só agora é que se apercebeu que falou demais. Estava literalmente a falar sobre informação confidencial a um presidiário que nem queria entrar na organização. 
Ner: "Fodasse..."
Foi a única coisa que conseguiu soltar como forma de reclamação. Um palavrão foi tudo o que Philip precisou para compreender que Ner fez porcaria. Ele não é tão inteligente, afinal. Tirando os músculos, não é alguém assim tão impressionante.
Ner: "Raios. Acho que já é tarde demais. Garante-me apenas que não contarás isto a ninguém."
Philip: "Prometo."
Responde imediatamente, com medo que a sua vida ficasse em rico caso ficasse em silêncio por mais um segundo do que o normal.
Ner: "Dito isto, acho que tenho de ir andando. Só preciso é que fiques com o bastão." 
Philip: "Já te dei a minha resposta."
Ner: "Vá lá, Philip."
Philip: "Não é não."
O matulão expira pesadamente. Solta um suspiro que demonstra o cansaço que guarda. Já está há minutos a tentar convencer aquele tipo e ele ainda assim recusa. Ner já é teimoso, mas Philip é capaz de ser ainda mais.
Ner: "Tu cometeste muitos erros e entendo que queres começar do zero. Apenas quero que saibas que esse não é o teu caminho a seguir. O teu caminho será sempre o mesmo. Tu não és cientista ou um cidadão normal. És um criminoso, tal como eu."
Philip: "Nem pensar. Nós não temos nada em comum."
Ner: "Agora tu é que deves estar a gozar comigo. Quer dizer, tu literalmente deixaste um homem numa cama de hospital. Foi uma sorte ele não ter morrido. Compreendes o que digo, não é? Tu estás a tentar esconder esse facto, mas tu és um vilão. É isso o que os teus atos, o teu coração ditam. Podes continuar a negar-me. Até tu sabes que é verdade. Eu sinto em ti. Sinto o ódio que sentes pelo Mark. Já tive essa sensação antes e recomendo-te a segui-la. Vai em frente. Faz o que o teu coração dita. Não deixes que o mundo e as suas normas te impeçam. Assim é que serás livre."
Nem uma palavra da oposição. O próprio Philip não consegue abrir a boca. Ner está certo. Os dois têm mais em comum do que aparenta. Ele sente precisamente o mesmo que Ner descreveu. Ele está correto. Talvez Philip seja mesmo um criminoso. Talvez pegar naquele bastão seja o mais certo a se fazer, de momento.
Ner: "Que me dizes?"
O homem estende o bastão na direção de Philip. A oferta ainda está em cima da mesa. Ainda vai a tempo. Se for para aceitar é agora ou nunca.
Ner: "Como é que vai ser, Philip? Vais aceitar ou recusar?"
É agora. O momento que pode mudar a sua vida para sempre. Tem um dilema mesmo à sua frente. Um simples ato que pode determinar tudo.
Pode pegar no bastão e aceitar a proposta. Pode usar aquele bastão como arma para matar quem mais odeia: Mark. Tornar-se-á num assassino sem coração. Alguém como Ner que determina o curso da vida de humanos como ele. Tornar-se-á num monstro.
No entanto, pode também recusar a oferta. Voltar a ter uma vida normal. Contudo, não se sentirá satisfeito. Viverá uma vida pacata. Ficará para sempre arrependido por ter deixado Mark vivo. Morrerá insatisfeito consigo próprio.
Então, o que escolherá?
Ele abre a boca. Hesita um pouco, mas eventualmente abre a boca e diz a sua decisão em voz alta:
 
Philip:
"Eu recuso-me a matar. Existem pessoas no mundo que julgam comandar o tempo e as leis universais. Pessoas tal como o Mark são o cancro do nosso mundo. Pessoas que já tiveram o seu tempo para brilhar e que precisam de uma reforma, mas recusam-se a aceitar esse facto. Contudo, acho que não devo ser eu a livrar o mundo dessa doença. Existem pessoas melhores e mais qualificadas para isso. Eu não decidirei o rumo da vida de alguém."

Ner estava quase para lhe bater palmas, caso ele não defendesse uma filosofia contrária à sua. Foi um bom discurso. Usou uma linguagem clara, objetiva e deixou bem clara a sua opinião. Exprimiu bem o que lhe vinha no coração. Mas não foi o suficiente para convencer o vice-capitão.
Ner: "Hum, devo dizer que achei o discurso interessante."
Falou, demonstrando como cada palavra de Philip lhe entrou por um ouvido e saiu por outro. Seria impossível encontrar alguém com menor capacidade de concentração que Ner. As únicas coisa que o interessavam pareciam ser apenas mulheres, bebidas adocicadas e lutas.
Ner: "Sabes, eu tenho que ir. Já deve ter passado 1 hora. O tempo passa a correr e o trabalho nunca para de vir. Por isso, façamos assim..."
Ele volta a empunhar com força no bastão e puxa-o para a frente, chegando a encostá-lo ao peito de Philip com força. O choque e a própria surpresa que veio com o impacto fizeram o ex-presidiário levar as mãos a segurar no bastão. Repleto de medo e, com uma enorme dor, Philip pergunta:
Philip: "Ai. Isso não era necessário. No que é que estás a pensar?"
Ner: "Tu, fica com isto."
Philip: "Mas eu já te disse que, ai, não preciso disto."
Resmunga, não conseguindo manter para si próprio a dor a que o seu peito está sujeito.
Ner: "Sim, sim. Ouvi muito bem e estou farto de ouvir, se queres que te seja sincero."
Philip: "E-Então p-porque é que insistes?"
Ner: "Primeiro, porque sou teimoso e, segundo, porque sei que vais precisar disto, mais cedo ou mais tarde."
Philip: "Caramba. O que é que queres dizer com isso?"
Ner: "Quero dizer que podes tentar fugir desta vida, mas a tua pessoa não o deixará. E mesmo que não sejas tu próprio a guiar-te a este tipo de vida, a sociedade o fará."
Philip: "O q-quê?"
Ner: "Vais descobrir em momentos. Tchauzinho."
E sem mais nem menos, ele sai. Assim tão rapidamente e com o mínimo de cortesias possível. O homem simplesmente larga o bastão junto ao peito do outrora cientista, deixando-o nas suas mãos de agora em diante, e põe-se a andar.
Philip: "Que raio?"
Nem o próprio Philip conseguia acreditar. Ele vira-se para trás e os seus olhos confirmam a situação. Ner já estava a caminhar. A sair do beco na maior das tranquilidades, como se tivesse todo o tempo do mundo em mãos.
Philip: "Vais deixar-me assim? Com um cano de canalização em mãos?"
Ner: "Não fales assim da tua arma. Ela vai te ser muito útil."
Responde, enquanto caminha com as costas viradas para Philip, que segura no bastão ainda um pouco incerto quanto ao que fará com esta "prenda".
Philip: "Ok, já entendi. É assim que vai ser."
Ner: "Até um dia, Philip. E não te esqueças de pagar o café e o meu refrigerante."
Philip: "Vai à merda."
Ner: "Obrigado pela simpatia."
Deste modo, os dois separam-se. Cada um seguirá o seu caminho. Ner irá até ao seu próximo trabalho, talvez um assassinato. Já Philip...ele não sabe. Bem, agora tem um bastão de metal. Pois é, por falar nisso...
Philip: "O que farei?"
Ele faz a pergunta a si próprio. Não tinha a resposta, mas ainda assim fê-la, esperando arranjar algo no momento. Está num beco escuro com um bastão de aço na mão.
Já nem sente medo do local. Nem sente urgência para sair dali. Apenas tem várias perguntas a pairar na sua cabeça e zero respostas.
É assim a vida após a prisão. Se Ner está certo, as coisas só piorarão daqui para a frente.

Depois de algum tempo a ponderar no que fazer, optou pela escolha mais óbvia. Vergonhosamente, coloca o bastão debaixo do ombro e vai até ao café. Afinal, o idiota do Ner esqueceu-se de pagar e Philip não quer mesmo voltar para a prisão, especialmente agora que acabou de sair.
Ele segue pelas ruas, tentando ao máximo ignorar os olhares estranhos que as pessoas faziam ao ver um homem com um tubo de canalização debaixo do ombro. Foi nisso que Philip acreditou. Contudo, aquelas reações estranas foram ficando cada vez mais frequente. E o caminho até ao café não era longo, por isso, para ter notado uma quantidade excessiva de reações estranhas por parte das pessoas neste curto percurso é porque as caras estranhas foram avistadas com uma boa frequência.
Sim, as pessoas faziam umas caras bem esquisitas. Uma mistura de desgosto com...medo. Não sabe o porquê, mas eram esses os sentimentos que as suas expressões faciais faziam. E, caso o desgosto pela presença de Philip não se tivesse tornado evidente, esse sentimento ficou bem evidenciado nas ações das pessoas quando se aproximavam do ex-presidiário.
Cada uma delas faziam o máximo para se afastar de Philip. Viravam o corpo para o lado, tentando ao máximo evitar contacto e seguiam em frente. Mulheres com crianças também se apressavam a sair de ao pé de Philip. Ninguém o queria ali. Ninguém queria estar ao pé dele. É como se soubessem. É como se soubessem do que ele fez.
Difícil de desmentir. É uma hipótese. Uma plausível que não espera que seja verdadeira, pois isso provaria as palavras de um certo grandalhão certas. Como tal, é uma hipótese que, por muito que a realidade diga que é verdadeira, Philip continuará a acreditar que é falsa. Tudo porque é essa a realidade que deseja.

O repicar do sino da porta anuncia a sua chegada ao café. Até se sente com vergonha de lá voltar após tão pouco tempo.
Porém, nota que algo acontece. Agora, as pessoas olham-no de forma esquisita. Tal como as pesoas lá flram também fizeram. Ficou um silêncio. Ninguém fala, apenas observam Philip. Será porque leva um bastão? O que é que se passou no meio tempo? Há bocado não se comportavam assim com a sua presença.
Ele olha em redor à procura de respostas. Olha para si próprio e vê se está tudo bem com as suas roupas. Olha para o seu café. Pergunta se agora é um insulto deixar o café por beber. É um pouco idiota, mas tudo é possível. O que é que aconteceu afinal?
Som da televisão: "Avisamos que a população deve ficar em alerta..."
Nesse momento, a resposta surge. A resposta que se encontra na televisão presa à parede.
Som da televisão: "O presidiário conhecido como Philip Marcollis saiu recentemente após uma pessoa que preferiu permanecer anónima lhe pagar a fiança."
Conseguiu ouvir perfeitamente o relato, devido ao pouco barulho no local. Pelo menos algo bom saiu da situação. Mesmo quando pensava que tinha encontrado algo de positivo, a sua cara aparece no ecrã.
Som de televisão: "Acusado de tentativa de homicídio, o agora ex-recluso regressa à sociedade. Este seu regresso deve ser visto como um aviso a todos os cidadãos. Por muito que alguém passe por diferentes espaços, isso não garante que elas mudem. E por essas e por outras as autoridades recomendam a todos os cidadãos que tenham cuidado."
Queria uma explicação. Ora aqui tem uma. E vindo de uma fonte de informação que deveria ser imparcial. No entanto, aqui estão eles, precisamente contra ele.
Bastou ficar dois meses de fora e agora tudo ficou virado do avesso. As notícias agora tomam partidos. Tornam os espectadores burros e julgam-nos sem capacidade de formar opinião. Então, formam eles a deles. Porque isso é mais fácil e, convenhamos, não requere muito esforço. Como se formar uma opinião custasse muito.
Philip tenta desviar os olhares da situação. Decide observar o exterior pela janela do café e vê pessoas a olharem para as telas dos telemóveis. Não há dúvida. As autoridades enviaram um aviso para as pessoas que se encontram nas proximidades do bairro onde se encontra o seu apartamente e, coincidentemente, o bairro onde se encontra a prisão de onde acabou de sair. Acabou de sair, mas já o querem lá de volta.
Philip: "Isto nunca fica mais fácil."
Tentando retornar ao assunto em mãos, às pressas, Philip dirige-se até ao balcão. Nem olha para a senhora do balcão nos olhos, embora tenha a certeza que também ela o devia estar a encarar de forma estranha. Limita-se a dar-lhe uma nota de 20 (do pouco dinheiro que tinha sido confiscado quando foi preso) e vai-se dali para fora quase a correr com aquele bastão debaixo do ombro.

As ruas também não estão melhores. Parece que todos sabem quem ele é e onde está. Sabem quem devem evitar e fazem de tudo para cumprir estas novas ordens. Nem questionam, apenas seguem como se fossem máquinas.
Todos se afastam de Philip ou olham-no com medo que ele lhes faça algo de mal. Todos menos dois homens, com ar de uns 30 anos. Um de casaco azul e outro de regata branca. Eles pareciam interessados na figura que era Philip. Uma excepção em meado a toda aquela multidão.
O próprio notou na presença deles ao passar ao seu lado, apressadamente e também estranhou tal comportamento. Por ora, ignorou. Mas, mais tarde, estes dois viriam a ser mais importantes do que inicialmente aparentavam.  
Já Philip acelera o passo. Fica nervoso ao ver que ninguém é de confiança. Todos lhe parecem querer mal, isso se sequer querem se aproximar dele. Está sozinho no mundo. Estão todos contra ele.
Sem se aperceber, já estava a correr. A correr com o bastão de metal debaixo do ombro. Não olhava para trás. Apenas para a frente. Corria e corria enquanto os outros o olhavam ou com uma cara de medo ou com cara de desprezo.
Ignora. Ignora. Ignora. Dá o seu máximo para o fazer. Quer começar de novo, mas o mundo não o deixa. Não, é capaz de ser demasiado cedo para chegar a essa conclusão. Isso, é melhor esperar. Vai até ao seu apartamento e esperará.
Vai esperar que a situação acalme. Então, poderá tentar outra vez. A sua segunda oportunidade está apenas a começar.
Philip: "Vai tudo correr bem."
Diz para si mesmo, em tom baixo, ao mesmo tempo que se enpenhava naquela corrida até ao apartamento, carregando um bastão de aço debaixo do ombro.

Após uma corrida que demorou mais do que o esperado, ele finalmente chega. Ofegante, mas chega. 
Nem tem tempo para recuparar. Com as mãos a tremer, Philip abre a porta com a mão do braço que não tem o cano debaixo do ombro e sobe as escadas. O seu apartamento é no quarto andar. Tem um longo caminho a percorrer. No caminho ouve ecos das conversas dos vizinhos. Sabe imediatamente de que falam.
De que é que seria? É claro que estão a falar sobre ele. O homem do momento. Falam de como ele é perigoso. Alguém que não pode ser confiado. Ele que nem devia ter sido solto em primeiro lugar estaria melhor morto. O facto de serem pessoas que, pela voz, têm aspeto mais velho não fez muito para se sentir melhor. Pessoas ainda são pessoas. Mais velhas ou mais novas, não importa. Elas facilmente acreditam no que lhes é incutido.
Palavras cruéis. Palavras que sente lá no fundo do seu coração, embora a sua cara de cansaço não o demonstre. Lá no fundo, é uma pessoa e insultos à sua dignidade entristecem-no como a qualquer um humano.
Mas ignora. Ignora. Ignora.Tem que fazer este esforço. Só por estes instantes. Não demora muito mais. 
Já subiu três andares. Demorou menos do que o esperado, uma vez que subiu tudo às pressas. Mas, finalmente chega.
Ele anda mais um pouco adiante, ouvindo as palavras dos mesmos vizinhos que continuavam a conversa, senpre com o bastão de aço bem apertado debaixo do seu ombro, e encontra a sua porta. Pega na chave, quase deixando-a escorregar das mãos, no processo, contudo, Philip consegue.
*Karam*
Sem gastar mais um segundo que fosse, o ex-recluso entra e tranca a porta à chave. Então, ele finalmente deixou de ouvir as vozes do exterior e entrou na sua zona. A zona que considera segura. Entrou no conforto do seu apartamento.
Philip: "Finalmente..."
A ofegar, ele vai se adentrar no espaço. Um pequeno corredor de alguns metros leva-o até à parte principal desse apartamento. Nesse pequeno corredor, existem pósteres colados na parede que o lembram do seu gosto que sempre teve para a química. São pósteres de convenções, algumas às quais não pôde ir devido ao seu imprisionamento. À direita, tem uma porta branca que leva à casa de banho, mas Philip ignora-a. Não se lembra é do quarto estar assim tão nojento. É um quarto bastante desarrumado com lençóis da cama, peças de roupa e até mesmo alguns pedaços de papel no chão. Espera, um pedaço de papel?
Peças de roupa e lençóis tudo bem. Tinha sempre que sair às pressas e o trabalho não deixava tempo para que ele cuidasse da própria casa. Mas aquele pedaço de papel era diferente. Nem o próprio Philip se lembrava de lá ter um pedaço de papel.
Ele pega a amachucada folha e dá-lhe um jeito para ficar mais liso. Só depois é que lê:
"Apontamentos para não esquecer (porque os dias estão a ficar cada vez mais difíceis e eu mais velho):
- Comprar água destilada para a experiência;
- Requesitar ao Tommy a compra de uma nova caralisadora (a que temos atualmente está vergonhosa).
E não esqueçar de comprar o jantar.
O trabalho está quase completo. Brevemente, as pessoas vão conseguir viver melhor com esta invenção que estou a criar. Elas finalmente conseguirão produzir energia através da água. Ao contrário do Mark, estou a fazer a minha parte na sociedade.
Por um futuro melhor, Philip."
Agora que leu, lembrou-se do porquê. Escreveu aquilo para não se esquecer das coisas. Vida de cientista nunca foi fácil e raramente lhe permitia cuidar de si. Por isso, tinha de fazer alguns apontamentos com as coisas que tinha de fazer no dia. Só para se assegurar que não se esquecia de nada.
Mas aquilo tudo pertence a outra realidade. Uma realidade em que ainda podia trabalhar nos seus projetos. Eram projetos que contribuiam para a sociedade e Philip sentia que realmente podiam fazer um impacto positivo no mundo. Mas agora isso não passam de memórias passadas. Um sonho que jamais se tornará real. É melhor deixar isso para trás.
Ele amachuca o papel, embrulhando-o numa bola e atira-o para o pequeno caixote do lixo que se encontra mesmo à saída do corredor. Mais adiante, após o corredor, está a parte principal do apartamento. Lá, está a sua pequena cama, a uns metros da secretária onde se encontra o monitor, PC e teclado. Esta secretária encontra-se junto à parede com janela e vista para as ruas.
Philip não tem vontade para mais nada. O cansaço ordena-o a descansar. Como tal, ele vai até à cama e senta-se em cima do colchão, mas, antes de mais, tira o bastão de aço e atira-o para o chão. Coincidentemente, o cano rola até à cama, ficando debaixo da mesma. 
Ao lado da secretária está a televisão, em cima de uma mesa. Agora até não lhe parece mal ligá-la. Esteve fora durante tanto tempo e faz bem informar-se. Por sorte, o comando foi deixado precisamente em cima da cama, logo ao seu lado. Ele olha para baixo e nota o comando. Philip pega nele e, com o clicar de um botão, liga a televisão. 
O problema é que, para seu azar, ligou a televisão num dos piores momentos.
Pivô do jornal: "Recomenda-se a todos os cidadãos que se dirijam para dentro de casa. Embora a polícia não se tenha pronunciado, é sempre melhor tomar precauções quando se trata com um criminosos como Philip Marcolis."
Mais um bando de atrasados a falar dele. Compreende que ele pode ter errado, mas devem existir notícias melhores, não? 
Muda de canal.
Locutora de outro canal: "Foi precisamente hoje que Philip Marcolis foi solto após um indivíduo anónimo pagar uma fiança de aproximadamente dez mil dólares."
Philip: "Tch..."
Que pontaria. Dois de seguida. Bem, deve estar a ficar sem sorte. Isto é algo que deveria ser raro acontecer. Já começa a sentir o sangue a fervilhar. Neste ponto, só estão a fazê-lo para angariar o máximo de audiências possível. Muda para o próximo canal.
Comentador de um canal: "Hoje, vi no 'The Right' que o Philip Marcolis saiu em liberdade. Deixa-me dizer-te que isso é uma vergonha. Como é que as pessoas podem libertar alguém como ele para a sociedade? Devia estar a apodrecer na prisão!"
Este homem de meia-idade estava claramente indignado. Não tem algo melhor para fazer? A sua vida inteira resume-se apenas a falar mal dos outros.
Estes comentadores. Estes canais de televisão, fazem tudo pelas audiências. Vão buscar o assunto mais em alta e vão espremê-lo e espremê-lo até parar de lhes dar dinheiro. Foi a isso que o mundo se resumiu? Um simples jogo de atenção?
Philip já estava indignado, mas, ainda assim, decide tentar só mais umas vezes.
Repórter: "Estamos aqui, à entrada da prisão em que Philip Marcolis esteve durante quase 2 meses."
Outro. Próximo canal.
Político comentador: "Estamos a falar de um criminoso. Esse tal de Philip Marcolis é capaz de tudo."
Mais um.
Homem a ser entrevistado na rua: "Acho um grande perigo para os meus filhos um homem como Philip Marcolis andar por aí."
Muda para outro.
Polícia a ser entrevistado: "Se eu lá estivesse, não libertava o Philip Marcolis."
Outro canal.
Pivô: "Passamos para mais notícias sobre Philip Marcolis."
Só mais um.
Comentadora: "Está tudo maluco? Quem em sua sã consciência vai deixar o Philip Marcolis por aí?"
Ele passa. Passa e vai passando em canais sem parar. Todos falando do mesmo assunto: ele próprio.
Velhota a ser entrevistada: "Não consigo fazer nada. Apenas posso esperar pelo melhor. Hoje vou à missa e rezarei para que o Philip Marcolis morra. É algo que peço por todos nós."
E continua. Continua a passar de canais com um rápido e sinples clicar de um botão.
Uma pivô: "Este ex-presidiário encontra-se agora livre e-"
Segurança a ser entrevistado: "-especula-se que ele tenha algo em mente. É de se esperar vindo de alguém co-"
Comentador velhote: "-de alguém como Philip Marcolis."
Já não são pessoas a falar. Philip começa a confundi-los uns com os outros. São um monte de sons misturados e costurados. Tanta é a velocidade com que está a passar os canais, tanta é a raiva com que clica nos botões, que já não vê a individualidade nos humanos. São mais outros que, por acaso, falam de-
Empresário entrevistado: "Philip Marcolis."
Velhinho de bengala na rua: "Philip Marcolis."
Comentador velhote: "Philip Marcolis."
Segurança a ser entrevistado: "Philip Marcolis."
Uma pivô: "Philip Marcolis." 
Velhota a ser entrevistada: "Philip Marcolis."
Comentadora: "Philip Marcolis."
Pivô: "Philip Marcolis."
Polícia a ser entrevistado: "Philip Marcolis."
Homem a ser entrevistado na rua: "Philip Marcolis."
Político comentador: "Philip Marcolis."
Repórter: "Philip Marcolis."
Comentador de um canal: "Philip Marcolis."
Locutora de outro canal: "Philip Marcolis."
Pivô do jornal: "Philip Marcolis."

Philip: "CHEGA!"

Sem mais nem menos, ele tira o som da televisão. Já deu a volta a todos os canais e verificou que o tema não diverge entre eles nem um pouco. JÁ CHEGA!
Chega de falar sobre o Philip Marcolis e os seus atos criminosos. Podem ter acontecido, mas isso é passado. Ou, pelo menos, Philip quer tornar esses atos passado. Contudo, por muito que queira, por muito que tente, os outros, a sociedade, hão de sempre rotulá-lo consoante o que já foi feito.
O passado é algo que nos forma, mas é também uma componente que nos define. Muitos dizem que é possível escapar a ele, mas, será mesmo possível? A experiência que Philip tem estado a ter desde que saiu parece contradizer estas afirmações.
Tanta coisa para pensar e tão pouco tempo. Philip está cansado. É melhor não se maçar a falar deste tipo de coisas. 
Sim, é melhor ir dormir. É verdade que apenas são 15 horas da tarde, mas deem-lhe um desconto. Saiu há mal uma hora e tem o mundo inteiro na sua cauda. Se há alguém que precisa de um bom descanso é Philip Marcolis.
Então, deitando-se na cama mal amanhada e pondo a cabeça na almofada furada, Philip fecha os olhos. Com a televisão ligada e um bastão de metal debaixo da cama, ele demora pouco para entrar no sono.

Mas da mesma forma que pouco demorou para adormecer, também pouco demorou para acordar. Logo ouviu a campainha.
*Pim* *Pim*
*Pim* *Pim*
Philip: "Ahn..."
Começa a acordar. Não quer é levantar-se, embora saiba que precisa. Tem pessas à sua espera. Não deve deixá-los mais um segundo que fosse à porta. Seria bastante rude da sua parte.
*Pim* *Pim*
*Pim* *Pim*
Philip: "Que chato."
Fala, em voz baixa para si mesmo, resmungando do facto de nem poder descansar.
Pensando nisso, quanto tempo é que esteve a dormir? Uma hora? Duas horas? Ainda deve estar sol lá fora, não é? Ele olha para o lado, para a janela ao pé da secretária e...
Philip: "Raios partam."
Já é de noite.
*Pim* *Pim*
*Pim* *Pim*
Ainda por cima tem um chato à porta. Nem pode fazer mais nada.
*Pim* *Pim*
*Pim* *Pim*
Philip: "JÁ VAI!!!" 
Contra a sua vontade, ele ecanta-se da cama, quase que se arrastando. Estava mesmo bem ali. Tinha mesmo que vir alguém interrompê-lo.
Agora de pé, percebe o quão escuro o quarto está. Está de noite e apenas as luzes de fora iluminam um pouco do seu quarto. Mas isso não é nada anormal, uma cez que, quando foi dormir ainda era de dia e nem se lembrou em ligar luzes. A televisão é que ainda está ligada, sem som, mas ligada.
*Pim* *Pim*
*Pim* *Pim*
Philip: "Que chato...ESPERE UM POUCO!"
Vai em direção à porta, tendo cuidado para não pisar em coisas perigosas que potencialmente se encontrem no chão. Passa ao lado da secretária e, em pouco tempo, já está no corredor da entrada. Só mais um pouco.
*Pim* *Pim*
*Pim* *Pim*
Philip: "ESTOU MESMO A CHEGAR!"
Finalmente chega à porta. Põe a mão na maçaneta e lentamente gira para o lado para depois puxar a porta para dentro.
Philip: "Bom di-"
Já ia saudá-los. Esperava que eles fossem a típica pessoa. Só que, quando abriu a porta, viu a aparência deles e percebeu que o modo como se vestiam era bastante incomum. O choque de realidade contra expectativa nem o permitiram acabar a frase.
Eles tinham ambos uma máscara preta que lhes cobria totalmente o rosto. Roupa comum. Um com um casaco azul apertado até ao pescoço e o outro, mais atrás, com uma regata branca. Parecia que se tinham vestido às pressas para algo inesperado. De certeza estavam lá porque queriam algo. Demorou pouco para saber ao que vieram, ao certo.
Homem: "Renda-se."
Subitamente, o homem de casaco azul saca de uma pistola e aponta-a para a cabeça de Philip. Apenas lhe pede uma coisa: que se renda. Então ele é mais um deles. Mais um que vê Philip Marcolis como um alvo fácil.
É isso, aqueles dois vieram assaltá-lo. Viram-no nas notícias e, de alguma forma, arranjaram a sua morada. Sim e...espera lá um pouco.
Agora que olha bem para eles, lembra-se de já os ter visto antes. Quando estava a correr do café, lembra-se de ter passado por um tipo com casaco azul e outro de regata. Curioso...
Homem: "Estás à espera do quê?"
Sente que não deve responder, mas a curiosidade levou a nelhor de si.
Philip: "J-Já vos vi antes?"
Os dois homens trocam olhares, rapidamente. Mas fica evidente que estão assustados. As suas identidades podem ter sido descobertas. O homem com a arma volta a virar-se para Philip, com medo e questões na cabeça que tenta esconder.
Homem: "De que é que isso te importa?"
Ok, já deu para perceber. Não são necessariamente os melhores atores e isso mostra-se muito bem pelas suas ações. É que nem conseguem fingir.
Philip: "Huh. Então são mesmo vocês os dois. O casaco azul e regata não enganam. Vi-vos quando estava a correr para aqui. Olharam-me de forma estranha. Já devia ter previsto que me teriam seguido até aqui só para me assaltar."
Homem: "Ao menos já sabes o que queremos. Por isso, despacha-te."
A ironia do destino dá-lhe vontade de rir. Só de pensar que estes dois iriam assaltá-lo. Que piada. Como é que desceu a este nível. Ele que conseguiria mudar o mundo com a sua genialidade estava agora a ser assaltado por dois idiotas que nem sabem fazer o trabalho deles. O mundo mudou para pior. 
Homem: "Vamos lá. Mostra-nos onde está o dinheiro."
Ordena, empunhando a pistola na sua mão direita com mais força.
Philip: "É para já."
Diz, num tom irónico e contendo um sorriso no rosto.
Assim, ele vira as costas aos dois e segue para dentro do apartamento. Vendo o gesto do refém, os assaltantes seguem-no, tendo cuidado para, antes de mais, fechar a porta. 
Homem ajudante: "Este quarto está um nojo."
É a primeira coisa em que o segundo homem, o desarmado, nota. Tantos papéis por ali espalhados. Que desarrumação. Nem quando era criança se lembra de ter o quarto num estado tão mau. Mas os dois seguem adiante e passam por aquele corredor. Philip já vai muito mais à frente dos dois.
Homem: "Onde é que está o dinheiro."
Pergunta, após ter passado aquele desarrumado corredor da entrada.
Philip: "Mesmo aqui."
Ele aproxima-se da secretária junto à janela. Indica que é ali que está o que os visitantes querem. Os outros nem pensam, apenas seguem as indicações, sedentos pelo prémio.
Homem: "Não vejo nada."
Homem ajudante: "Para além de um monitor, rato e teclado."
Philip: "Tenham calma. Eu mostro."
Maliciosamente, Philip abre uma gaveta na secretária, puxando-a para si. Ele coloca uma mão dentro da gaveta, tentando de lá tirar algo. Já a outra mão coloca em cima do rato, por alguma razão.
Philip: "Ena pá. A carteira ficou mesmo aqui no fundo. Dêem-me algum tempo."
Homem: "Vê é se não demoras muito."
Avisa-o, já preparado para disparar, caso fosse necessário.
Philip aparenta adentrar o braço ainda mais na gaveta. Vai mais fundo e mais fundo e cada vez mais fundo. Mal sabem os visitantes que ele, ao mesmo tempo que vai mais fundo na gaveta, vai também separando o cabo do rato do teclado. Eles só não percebem isso porque estão demasiado concentrados na gaveta. Foi uma boa estratégia por parte de Philip.
Os assaltantes já nem conseguem conter entusiasmo. Vão finalmente conseguir algo e nem vão matar a pessoa em questão. No último assalto deles, à bomba de gasolina, infelizmente, houve uma vítima e isso é algo que os comprometeu. Afinal, deixar provas da sua presença, pode comprometê-los.
Homem ajudante: "Que demora! Ramer, coloca-lhe já a arma na cabeça." 
Homem: "Nem pensar. Não quero cometer o mesmo erro que cometi quando assaltámos a bomba de gasolina. Simplesmente não podemos deixar vítimas. Caso contrário, podemos estar a montar um trilho para a polícia nos encontrar."
Homem ajudante: "Mas-"
Homem: "Mas não. Já corremos riscos suficientes."
Esta pequena discussão aguçou a curiosidade de Philip. Já sabia que eles eram criminosos, mas não sabia que este assalto não era o primeiro deles. Quer dizer, eles têm um ar tão amador que nem dá a crer que conseguiriam sequer apontar a arma a alguém. 
Sim, seria bom fazer uma pergunta. Não só ficaria com resposta como também ganharia mais tempo para separar o rato do teclado. Isso. Assim ficaria com o rato do computador disponível. 
Philip: "Desculpem-me interromper. A vossa conversa deixou-me curioso. Vocês pertencem a alguma gangue?"
Faz a pergunta, enquanto ainda adentra a sua mão mais na gaveta e lentamente retira o cabo.
Homem: "Gangue?"
Homem ajudante: "Se queres saber se pertencemos a uma organização, então não. Trabalhamos sozinhos."
Interessante. Agora que ficou a saber que não têm afiliação alguma, conseguiu traçar o perfil deles. Especialmente hoje, após ter conhecido mais sobre o mundo criminoso, sente-se confiante com o perfil que traçou. Sente-se confiante em dizer que, após conversar com Ner, que aqueles dois não passam de zé-ninguéns.
Ainda bem. isso sugnifica que não precisará de se preocupar muito. Especialmente agora que o rato está quase solto. 
Philip: "Com que então não pertencem a uma gangue com o Ner."
Homem ajudante: "N-Não, mas o que é que o Ner tem a ver com isto? E como é que conheces esse nome."
Ficou logo mais assustado ao ouvir a menção do braço direito de Iza. O homem com a arma também ficou com os olhos regalados. Se tivessem a arranjar problemas com o Ner, então também teria problemas com o Iza e isso é algo que nenhum criminoso quer, por muito temido e habilidoso que seja.
Homem: "Não ouviste? O QUE É QUE SABES SOBRE O NER?"
Pergunta, agressivamente encostando a pistola à cabeça de Philip. O próprio não se intimida, pois sabe quem eles são. Podem muito bem fingir o melhor que podem, mas não conseguem esconder quem verdadeiramente são.
Homem: "RESPONDE-NOS! O QUE É QUE O NER TEM A VER COM ISTO?"
Está tudo a correr bem. O rato está praticamente solto. Só é preciso um puxãozinho. Isto combinado com a sua confiança e outros fatores dão-lhe vantagem nesta situação. Por isso é que não se assusta ao dizer-lhes uma última coisa.
Sorrindo, ele responde, confiante e com a mão firme no rato:

Philip: "Foi só para saber quem vocês realmente são. Finalmente sei. E garanto-vos que não passam de uns zé-ninguém". Isso significa que posso ficar tranquilo enquanto vos HUMILHO!

Então, tirando a mão da gaveta, Philip puxa o rato para o lado, separando-o do teclado. Como planeado, ele rapidamente ata o fio do rato à volta da mão com a pistola. O homem, por si só, é apanhado completamente de surpresa, não conseguindo reagir. O choque de ter ouvido o nome de Ner também ainda não tinha passado, por isso, não conseguia fazer nada.
O fio do rato foi fortemente atado à volta da mão do homem, Ramer. Este tenta resistir à pressão, mas, mesmo que ele não ceda, o seu corpo cederá. Isso é o que precisamente acontece. Depois de resistir à tentação de largar a arma, a força do fio, que já não lhe deixava circular o sangue, ele acaba por deixar ir a pistola da sua mão.
Mesmo com a arma no chão, Philip faz questão de continuar a apertar o fio. A sua sorte é que a dor que ele está a causar ao adversário é tanta que nem lhe vem à cabeça que pode contra-atacar. Mas Ramer lembra-se de fazer algo:
Homem: "Giv! AJUDA-ME!"
Pede ajuda ao colega, mas o mesmo não responde. Ainda está surpreendido com o facto de um combate ter sido iniciado. Isso nunca tinha acontecido antes. O que é que fará? Intervém? Foge? Ou talvez possa acabar tudo se-
Homem: "GIV!!!"
Um grito de ajuda acorda-o para a realidade. O seu amigo está com a mão nas últimas. A pressão exercida é tanta que começou a causar cortes na mão do Ramer, sangue que se infiltrou no fio. Está grave. E precisa de fazer algo.
Homem ajudante: "..."
Homem: "ANDA LÁ, GIV!"
Homem ajudante: "S-Sim, é para já."
Ainda nem tem a certeza do que iria fazer ao certo, mas tinha de acalmar o seu companheiro de alguma forma. O tempo está a contar. Enquanto o seu amigo está ali a sofrer, está Giv tranquilo apenas a observar.
Raios. Raios partam. Faz algo. Faz algo. Faz algo. Aquele tal de Philip não deveria estar a combatê-los. E-le. Ele. Ele. Ele deveria...
Homem ajudante: "TU DEVES É MORRER!"
De olhos fechados, confiando somente no seu punho, Giv prega um soco na bochecha de Philip. O golpe não foi dado com força, tanto que não o deixou no chão, mas deixou marca e foi o suficiente para fazer Philip largar o fio e ser impulsionado para trás, ficando com as costas junto à parede.
Homem: "Ai!"
Agora pode tirar o fio. Ele desfaz o nó que Philip deu, com muita dor, pois aquele fio esteve preso há tanto tempo à sua mão que já quase que fazia parte de si. Mas agora que tirou, sente-se renovado. O sangue começa a circular novamente e a mão volta a respirar. É como se tivesse ganho uma nova vida.
Homem: "Demoraste demasiado."
Diz, ao atirar o rato ensanguentado para o chão.
Homem: "Mas já chega desta disputa. Acabarei com isto rapidamente."
Sem perder mais tempo, pega no monitor que se encontra em cima da secretária e toma-o para si com tanta força que o separa das tomadas e do teclado. Depois, imediatamente atira o monitor na direção do inimigo que se encontra junto à parede.
Infelizmente para Ramer, o que ele não esperava é que Philip conseguisse se esquivar do arremesso. Este acabou por se agachar, deixando que o seu monitor, dirigido a ele a grande velocidade, se parta, mal entre em contacto com a parede. É uma pena, pois até gostava do monitor. Sempre lhe foi útil em momentos de tédio. Contudo, numa situação de vida ou morte, esse tipo de pensamentos não vêm à tona.
Assim, agachado, ele corre na direção do assaltante principal como se fosse um touro enfurecido. Esta técnica aprendeu com Mark. Isto sim é prova de que aprende com as derrotas. Não se limita a chorar em cima do leite derramado. Ele vê os seus erros e trabalha para compreender o que deve melhorar. E, agora, o sucesso está à vista, tudo graças ao seu esforço.
Philip chega até ao inimigo e segura-o fortemente na zona da cintura para depois, usando o pé direita para lhe deslocar o pé, ele deitar Ramer ao chão. Agora sim, pode espancá-lo à vontade.
O ex-cientista mete-se em cima do assaltante e começa imediatamente a espancá-lo. Dá-lhe sucessivos socos na cabeça, mas teve de rapidamente mudar para socos na barriga e peito, pois Ramer rapidamente colocou as mãos na cabeça e levantou os seus ombros, obrigando Philip a mudar de estratégia.
Só houve um erro no plano de Philip : não considerar Giv no meio da equação. É verdade que ele não fez muito além de lhe dar um soco que já nem sente. No entanto, ele ainda é um inimigo. Talvez Philip o tenha subestimado, pois este elemento começou logo a mover-se.
Giv repara que a arma se encontra no chão. Só necessita de ir até ela e pegá-la e, deste modo, vencer o combate. Sim, apenas precisa de fazer isso.
Como tal, ele vai até ao pé da cama e segura na pistola. Logo, sem hesitar, aponta a arma de fogo para o inimigo que já deve estra farto de espancar o seu companheiro.
Homem ajudante: "Alto!"
A sua palavra comandou logo a cena. Fez com que Philip parasse no meio da ação e Ramer baixasse os ombros, ficando de guarda baixa. Agora que deixou de proteger a cara é que Giv pode realmente ver o quão ferido ele estava. O Philip não deve se ter contido nem um pouco com os socos, tanto que o seu companheiro está a sangrar do nariz e encontra-se com um olho negro. Mas chega de ficar pasmado com isso.
Philip: "Bem me parecia que me tinha esquecido de algo."
Comenta, tentando limpar o sangue dos seus punhos no tapete do chão, manchando-o com nódoas que ali ficarão por muito tempo.
Tem uma arma apontada à sua cabeça. Está com a vida nas mãos de um idiota que nem tinha coragem para dar um soco no adversário. Que vergonha. Odeia o facto de ter chegado a este ponto. Ele, Philip Marcolis, merecia melhor.
Philip: "Nem acredito que isto vai ficar assim." 
Ele olha para Giv que não parece assustado, sabendo que está prestes a tirar uma vida. É precisamente o tipo de pessoa que mais odeia. Homens que não têm medo de matar. Não têm remorso por decidirem o rumo da vida de uma pessoa. Isso sim, tira-o do sério. E tira-lhe ainda mais do sério o facto de ir morrer para alguém deste tipo. É como se fosse morrer pelas mãos de Mark, de tão grande que é o insulto.
Homem: "AGORA!!!"
Subitamente, Ramer levanta a parte superior do seu corpo do chão e agarra no pescoço de Philip com as duas mãos. Apanhou-o de surpresa, o que o permitiu ficar com vantagem.
Philip ainda tentou revidar, afinal, o que mais odeia é perder para pessoas como aqueles dois. Contudo, quando tentou reagir já era tarde demais. Como foi apanhado de surpresa, ficou em desvantagem. E, quando deu por si, estava com a cara no chão e Ramer em cima dele a garantir que, dali não ia embora.
Ficou imobilizado. Com as mãos e pernas sob o controlo do inimigo. Nada poderia fazer. Estava à mercê de dois idiotas. Que parvoíce.
Homem: "Agora! Mata-o agora!"
Homem ajudante: "S-Sim."
*Click* 
Giv puxa o cão da pistola para baixo, preparando a arma para o disparo. Ele e o seu colega tinham prometido não correr mais riscos, porém, nesta situação estariam a correr riscos sim, mas seria em troca das suas vidas. 
Homem: "Morre, seu arrogante da merda."
Parecia o fim. Estava com a arma já a mirar na sua cabeça. Os seus braços e pés estavam imobilizados pelo assaltante desarmado. Tudo acabaria aqui. Isto se Philip fosse um humano normal que já tudo fez em vida.
Não. Isso estava longe de ser o caso. Ainda está vivo e enquanto respirar continuará a querer viver, por muito que a sociedade lhe esteja a dificultar a realização desse seu desejo. Mesmo assim, mesmo com o mundo contra si, Philip quer viver.
É por isso que isto não pode acabar aqui. Recusa-se a aceitar que tudo acaba aqui. Começa a olhar ao redor do seu quarto. Nota jos montes de papéis e de lixo que se encontra no chão. Tudo coisas inúteis.
Continua à procura de algo. Continua, continua e continua até que acha. Olha para debaixo da cama que se encontra do seu lado direito e vê algo que lhe pode ajudar a virar o jogo: o bastão de ferro.
Porra. A sério? Tinha que ser o bastão de ferro a única arma que se encontra à sua disposição?! Mas porquê?
Por muito que saiba que, se quer sobreviver, terá que usar o cano, Philip deixou bem explícito na sua conversa com Ner que nunca usaria aquela "prenda" como arma. Usá-la significaria dar razão às palavras de Ner e tornar-se um criminoso. Ao usar o bastão não se tornaria melhor que Mark.
Todavia, ao mesmo tempo, também sabe que terá de quebrar os seus ideiais se quer sobreviver. É a única forma de continuar a viver para morrer noutro dia.
As palavras de Ner voltam-lhe à cabeça: "Vais descobrir em momentos". Será este o momento em que é suposto compreenderm? Se sim, irá seguir as palavras de um assassino?
É este o dilema em mãos. Morrer sem ter vivido o que sempre quis e com tanto rancor no coração. Ou então quebrar os seus ideiais para continuar a viver como o vilão que retratam nas notícias. Qual é a sua escolha?
Homem: "É para hoje?"
Homem ajudante: "C-Calma, só estou a mentalizar-me."
Homem: "Agora vês que não é fácil matar alguém. Ficas a saber como me sinto sempre que me pedes para o fazer."
Homem ajudante: "Só preciso de uns segundos para me tranquilizar."
Homem: "E consideras-te tranquilo?"
Giv inspira profundamente. Tranquiliza os seus músculos e cabeça. Depois, ao expirar volta a responder:
Homem ajudante: "Muito tranquilo."
Já mentalizados, os dois homens preparam-se para o estrondo que o simples pressionar do gatilho causaria. Estavam prestes a tirar a vida a alguém e estavam bem cientes das consequências que esse ato iria trazer.
Philip tem poucos segundos para decidir o eu futuro. Tudo depende daquela escolha. Caso se revolte e pegue o bastão continuará a sua vida, mas caso aceite a morte desperdiçará toda a sua vida. O problema é que, caso decida viver, viverá sabendo que se tornou um criminoso, alguém como Ner, alguém pior que Mark. Em outras palavras, saberá que perdeu para o seu maior inimigo: Mark.
Então, o que será? Vida ou morte? Morrer insatisfeito ou viver como um criminoso?
A mão de Giv fica firme. É como se ele estivesse prestes a dar o tiro. Prestes a pressionar o gatilho. Prestes a tirar a vida a alguém.
Ramer pressionava Philip com a mesma força de sempre. Não parece que ele iria ficar mais bonzinho com ele no meio do nada. A força que ele exercerá permanecerá constante. Ainda assim, Philip sabe que é capaz de se soltar das garras dele com a força e persistência suficiente.
Não há desculpas. Duas das opções são válidas. Só cabe mesmo a ele decidir qual será a melhor.
Está mesmo quase. Giv inspira e expira pela última vez. Ramer também. Philip mantém o olhar fixado no bastão de ferro, contemplando o que fazer. Só lhe cabe a ele e a só ele decidir. É agora ou nunca. Pois, no momento seguinte...
Homem ajudante: "Desculpa."
A palavra sinalizou a sua ação seguinte. Philip tinha aquele momento para agir e só aquele momento. Seria naquele momento que ele mostraria a sua decisão final ao inimigo. E é isso o que ele faz.
Philip: "SAI!"
Num grito de raiva e frustração, o ex-cientista solta toda a sua força que guardava numa tentativa de tirar o inimigo de cima de si. O peso que Ramer exercia era imensurável e parecia ser impossível um homem tirá-lo da sua posição. Mas era possível.
Philip acreditava nisso. Acreditou nisso. Ergueu o seu corpo, apoiando-se na bica dos pés. Deu de tudo e fez de tudo. Mordia o lábio com tanta força que começou a sangrar. Nem se apercebeu disso. Ficou tão concentrado que nem se apercebeu que estava a ferir-se a si próprio.
Nada mais importava. Só queria uma coisa. Queria libertar-se das garras do inimigo naquele pouco tempo. O homem estava quase a pressionar o gatilho e Philip quase a escapar de Ramer. Até que...
Philip: "HAAA!"
Ele consegue ficar de joelhos no chão, fazendo o inimigo cair para o lado, por falta de equilíbrio. Philip move o seu corpo para a direita para pegar o bastão, ao mesmo tempo que se ouve...
*Pum* *Fwoosh*
Giv pressionou o gatilho. Apenas teve azar do refém ter escapado ao último segundo, fazendo a bala atingir o chão.
Agora chegou a hora de virar o jogo. Philip estende a mão e pega no bastão de ferro. Levanta-se e com um balançar horizontal, da direita para a esquerda, asserta com toda a força na mão de Giv que segura a pistola, fazendo a arma voar para longe. Mas não se ficou por aqui. Agora com a arma fora, só falta o inimigo. Por isso, aproveitando a força do último balanço, volta a balançar horizontalmente, desta vez, da esquerda para a direita, almejando a cabeça do adversário. E então...
*Plank* 
O impacto foi tão grande que até soltou um som. Já o inimigo caiu imediatamente no chão. Não ficou inconsciente, mas a sua cabeça ficou com problemas, isto é, ficou com um traumatismo craniano. 
Homem ajudante: "Au! Ahhh!"
Deve doer bastante. Mas nestas situações de vida ou morte, não se sente pena do adversário. Uma pessoas apenas age consoante a primeira coisa que lhe vem à cabeça. 
Com raiva ainda à flor da pele, Philip vai até Ramer, que se encontra no chão, a recuperar. O ex-cientista não tem misericórdia e começa a bater-lhe inúmeras vezes com o bastão no estômago e peito. Tudo isto para garantir que Ramer não se recuperasse e fosse ajudar o seu companheiro.
Homem: "Ei! Para!"
Suplicava, mas o agressor parecia nem ouvir. Estava a descarregar toda a sua raiva em cima daqueles dois oponentes. A raiva de ser mal visto pela sociedade. A raiva de estar a ter que gastar tempo com aqueles dois. Até mesmo a raiva de ter quebrado os seus ideiais para que a sua miserável vida continuasse.
Homem: "Isso dói! Para!" 
Por isso é que ele continuava a acertar-lhe com aquele cano. Com golpes cada vez mais fortes e carregados de emoções. Golpes no peito e estômago que lhe tiravam o fôlego e lentamente lhe iam quebrando os ossos. Não queria matá-lo. Queria fazê-lo sofrer.
Homem: "Auuu! Tu..." 
Ele continuaria. Continuaria a bater-lhe com o bastão até partir todos os ossos do corpo de Ramer. Continuaria a bater-lhe até que ele morresse. No entanto, algo o faz parar.
Homem: "Tudo bem. Eu rendo-me. Ouviste? EU RENDO-ME!" 
Ramer grita e, por muito que não queira, admite a derrota. Só ao ouvir o grito é que Philip acaba por parar.
Homem: "Nós vamos embora daqui e deixar-te-emos em paz, ok? Apenas para de me bater."
Philip sai do seu modo agressor e decide deixar os inimigos em paz. Eles já se renderam. Um deles está no chão, a contorcer-se de dor. O outro deve ter 5 ossos fraturados. Não se pode dizer que se encontram em situação de combate.
Ramer, com muitas dificuldades levanta-se. Está completamente dorido. Mas faz um esforço para ir buscar o seu amigo que se encintra deitado no chão, a contorcer-se de dor.
A cambalear, ele vai ter com Giv. Nota no estado precário em que está. Mas eles precisam de saie dali. Aquele homem é maluco e parece capaz de os matar.
Homem ajudante: "Ramer?"
Pergunta, enquanto continua a sentir uma forte dor na cabeça.  
Homem: "Anda, amigo. Vamos sair daqui."
Ramer coloca Giv às suas costas e sai dali, sem, antes de mais, torcar olhares com Philip. Ele deixa bem claro que nunca mais ali porá o pé. E tudo isso sem dizer uma única palavra.
Em passos lentos, o assaltante carrega o seu companheiro. Passando por todo aquele lixo e desarrumação. Vão até à entrada e, quando saem, fecham a porta.
*Taram* 
Deixam Philip sozinho. Com alguns equipamentos destruídos, mas com um bastão na mão. Assim fica Philip, a tentar acalmar-se e a processar o que acabou de acontecer.

Já se passaram uns minutos. Philip considera que está mais calmo. Está sentado na cama a olhar para a lua que é visível a partir da janela.
Está pensativo, encontrando-se ainda com o bastão de ferro na mão. De resto, está um silêncio total. É o tempo perfeito para refletir.
Sim, porque ele encontra-se a refletir sobre o que fez. No meio da luta, tomou a decisão de pegar no bastão de ferro. Acabou por sobreviver, mas traiu os seus ideiais. Fê-lo, porque se recusava a morrer para pessoas de laia baixa como aqueles dois. Mas valeu a pena?
Agora terá de viver sabendo que provou Ner certo. Ele ia matar aqueles dois, ia decidir o destino da vida deles. Tornou-se tão mau quanto aqueles dois, tão mau quanto o Ner, tão mau quanto...tão mau quanto...tão mau quanto Mark.
Moralmente, perdeu. É isto a que se resumiu. Uma batalha moral que perdeu contra Ner e Mark. E viverá assim. Viverá sabendo e carregando a sua derrota todos os restantes dias da sua miserável vida. 
Como se isso não bastasse, ainda viverá sendo odiado por tudo e por todos. Por muito que queira mudar, a sociedade sempre o verá como aquele tipo que tentou matar Mark e se tornou um criminoso. Para eles, Philip é um assassino, é alguém como Ner. E, por muito que o ex-cientista tenha tentado prová-los errado, acabou por, no momento da batalha, no momento em que a sua vida estava em risco, os provar certo.
O que é que isso significa? O que é que isso diz sobre ele? Questiona as suas próprias escolhas e identidade. Talvez tenha estado errado. As palavras de Ner eram capazes de ser verdadeiras. Lá no fundo, as pessoas nunca mudam.
É capaz de ser hora de tentar ser alguém novo. A sociedade não o deixa mudar e ele próprio nunca mudou. Sempre foi o mesmo Philip, por muito que tenha tentado esconder esse facto. É melhor parar de fingir ser quem não é e acabar o que começou. É melhor ir matar Mark, correto?
Mas não. Ainda não se sente convencido o suficiente para tomar essa decisão. Sente que ainda há algo dentro de si que lhe diz que ainda pode mudar.
Philip tira os olhos da janela e olha para o bastão que segura na sua mão direita. Pondera o caminho que deve levar com a sua vida. Ser o seu eu antigo ou tentar mudar? Ser um assassino ou tentar ser um cidadão normal? Ser alguém novo ou voltar à sua antiga pesoa? O que será? 
Não é uma simples escolha entre o bem e o mal. Este dilema psicológico é mais do que uma escolha. É a luta pela alma e dignidade de um homem. Algo que mudará tudo daqui em diante.
Tudo depende do que escolherá. O que é que Philip decidirá. Pegar no bastão e ir embora para matar Mark ou vai dormir e espera que a situação melhore.
Mas não se sente pronto. Ainda não se sente pronto para tornar esta decisão tão importante. Esta decisão que decidirá o que fará para o resto da sua vida tem que ser tomada com calma. Quer dizer, está com o coração a mil. Não está em condições algumas para fazer a escolha.
Ele volta a pousar o bastão ao seu lado, na cama, e pega no comando da televisão. Com o pressionar de um botão, ele liga-a. Mas, mal ligou, apercebe-se que não o devia ter feito.
Continuam a falar sobre sim. Philip Marcolis ainda é falado. Já passa da meia-noite e continuam a espremer o seu nome para ter conteúdo. Isto parece nunca ter fim. Parecem não deixá-lo em paz por nada.
Porquê? Porquê ele? Porque é que isto só está a acontecer com ele? Ele é que tem de ser o vilão, não é? Tem tudo que ser culpa dele, não é? Porque ele é que é o mauzinho, NÃO É?
O seu punho fica cerrado. Está com tanta raiva que nem a consegue conter. O que mais lhe irrita é o facto de o mundo não o deixar mudar. A mudança não basta vir de um lugar íntimo, pois, para alguém mudar, os outros também precisam de a aceitar. E isso não é o que está a acontecer. ISSO NÃO É O QUE IRÁ ACONTECER!!!
Philip: "Não me deixam escolha."
Então, Philip pega rapidamente no bastão e, num balanço horizontal, acerta na televisão, derrubando-a no chão. Mas não acaba aí.
Mesmo com a televisão no chão. Ela permanece ligada e a raiva de Philip ainda não foi saciada. Por isso, ele continua.
Continua a bater na televisão com o bastão. Está a descarregar toda a raiva que não conseguiu deacarregar nos assaltantes. Descarrega toda a raiva que tem do estado da sua vida em cada golpe que dá na televisão com o bastão.
A sua pobre televisão vai ficando cada vez mais partida com gada acerto. Primeiro, as bordas do ecrã ficam amolgadas. Todos os elementos da televisão vão sendo separados do todo, passando a ficar sozinhos. E o ecrã, é claro, ficou cada vez mais partido e estilhaçado.
E ele continuou. Batia, batia e batia, com a sua raiva insaciável. E finalmente parou quando deuxou de ouvir o som da televisão. Ela tinha parado de funcionar.
Philip para. Recompõem-se e deixa a televisão partida no chão. O bastão de ferro não se partiu nem nada. Está exatamente como estava antes de ter começado a partir o aparelho.
Depois de fazer isto, mostrou-se farto das notícias. Aquele bastão ajudou-o a concretizar o seu desejo. Sim, é isso o que aquele bastão é. Um concretizador de desejos.
Já Philip também se decidiu. Está farto de ouvir a televisão a retratá-lo como vilão. Ele próprio tornar-se-á o vilão, então. Ner tinha razão. Por muito que queiramos, nunca conseguiremos mudar enquanto os outros também não nos virem como pessoas diferentes.
Sim, já se decidiu. Vai se tornar o vilão. Vai continuar a ser o Philip de sempre. Vai seguir em frente com os seus ideiais antigos.
Agora que decidiu, pode fazer o que sempre quis, com o seu bastão. É isso mesmo, tem algo a fazer. O destino de uma certa pessoa já foi decidido.

Mark vai morrer.

Após quase 30 minutos a caminhar, ele finalmente chega ao destino. Chegou às instalações da "Neuer". Aquele lugar traz-lhe boas memórias, mas, ao mesmo tempo más memórias quando se lembra do incidente com os seus amigo. Contudo, a sua opinião do local não lhe servirá muito.
Tem um lugar onde precisa de entrar. Felizmente, sabe todos os cantos, entradas e saídas daquela instalação. Essa é a vantagem de lá ter trabalhado por anos. 
Sabendo o lugar perfeito para entar sem ser visto pelas câmaras, dirige-se até às traseiras. Lá está um caixote do lixo e, a uns metros do caixote, uma grade colada à parede que leva às condutas de ar. É perfeito para uma entrada sorrateira.
Para entrar, Philip sobe para cima da tampa do caixote do lixo e acerta com o bastão na grade, amolgando-a. Assim, bastou deslocá-la para si e a entrada ficou desimpedida. Ele enfia-se lá para dentro de vai rastejando.
As condutas são um espaço fechado e escuro com paredes e superfície de metal a enferrujar. São também um espaço bastante fechado, que não deixam muito espaço para outros movimentos que não sejam rastejar. Como disse, é um espaço bastante escuro e nem o próprio Philip tem a certeza se não vai encalhar com uma parede, mas, para sua sorte, não havia curvas. Apenas precisava de seguir em frente. E foi isso o que acabou por fazer.
Philip avança lentamente, sempre com o seu bastão de ferro na mão. Vai puxando o seu peito pela superfície de ferro enferrujado adiante. Vai é com calma, como disse, e, por isso, demora muito mais tempo do que deveria. Fá-lo porque sabe que, àquelas horas, o guarda está a fazer a eonda. É a única pessoa em todo o edifício. É um vekhote, mas, ainda assim, é uma ameaça que tem de ser reconhecida.
Ele vai passando por inúmeras grades no chão que lhe dão visam aos pisos debaixo. Passa por laboratórios. Bastantes laboratórios, na verdade. Um deles é capaz de até ter sido o do Mark. Mas isso não importava, pois a ideia que tinha em mente era muito melhor. 
Depois ds passar por inúmeras grades, naquela escuridão toda, Philip vê algo ao fundo. Uma luz no meio das condutas. Uma luz que larece vir de um piso de baixo. Uma luz que passou pela grade e veio iluminar o espaço onde se encontra.
Aquela luz certamente pertence à sala onde se dirigia. Quem seria? Bem, tendo em cinta que só havia mais uma pessoa no edifício, será lógico concluir que é o guarda.
Philip rasteja lentamente até ao lugar de origem da luz. Quando chega, olha para baixo e vê pela grade o segurança. Ele encontra-se a olhar em redor do espaço, a verificar se tudo estava em ordem.
Depois de um tempo, ele desliga a luz, deixando Philip e o resto da sala no escuro, e sai da sala. Tem que ficar alerta. Sabe que o guarda está por perto. É melhor ter cuidado. Mas agora que ele saiu de cena, é hora de agir. 
Philip bate com o bastão na grade como fez antes, deixando-a pronta oara ser removida. Ele puxa a grade para cim e deixa-a nas condutas. De seguida, condiando nos seus instintos, ele põe-se na ponta da abertura.
Prepara-se mentalmente para descer para o piso debaixo. Está tão escuro. É uma aposta que está a fazer. Está a contar que cairá no chão. Mas pode estar errado. Deixa-se de ponderar coisas e deixa-se ir. Para sua sorte...
Conseguiu. Não é que cai no chão. A superfície é sólida. Sim, é o solo. Sem passar mais um segundo que fosse no escuro, ele puxa o interruptor para baixo e liga as luzes. Nesse instante, pode finalmente ver a divisão toda.  
Cheia de estantes, todas alinhadas e com a distância certa entre cada uma delas. Parecia uma biblioteca. São também essas estantes a razão do seu medo ao pousar.
Mas isso não importa. Tem coisas mais importantes a fazer ali, na sala dos registos. Tem de procurar o registo das experiências de Mark. Lá deve estar informação sobre a dua nova invenção. Informação essa que lhe será útil para arranjar um plano que possa vir a matar Mark.
Philip vai olhando os estantes. Estão todas muito bem organizadas, em ordem alfabética, com cada posição da estante pertencendo a um cientista. E estavam lá todos. Nadia, os seus antigos amigo e...até mesmo ele próprio.
Chega de contemplar os outros. O importante é Mark. Mark. Mark. Mark.
Philip: "Aqui."
Ele pega na pasta que pertence ao cientista que tanto procura. Uma pasta muito bem organizada, vale a pena acrescentar. Lá estão todas a informações sobre Mark. Desde a sua data de chegada à instalação e todas as suas invenções e contribuições. Até mesmo requisitos que fez.
Quanto às invenções não viu nada de novo. Afinal, esta criação ainda não tinha sido apresentada ao mundo. Mas encontrou algo de interessante nos requisitos. Lá está escrito que solicitou a máquina de fusão para o dia seguinte.
Isto sim é algo interessante. Para que é que ele precisa da máquina de fusão? É para a apresentação da sua experiência, mas o que é que ele quer fazer com ela ao certo? Trata-se de um aparelho perigoso, usado para experimentar soluções e comprimidos. Em outras palavras, faz injeções de uma forma avançada.
De qualquer forma, Philip já ficou com uma ideia do que fazer.
Ele volta a colocar a pasta no sítio em que se encontrava, desliga a luz da sala com um toque no interruptor e sai de lá, com um sorriso malvado no rosto. Assim, vai até ao corredor das instalações.
As luzes estão todas apagadas, criando uma atmosfera que parece vir diretamente de um filme de terror. Estava bastante escuro, sendo as únicas fontes de iluminação, os símbolos fluorescentes de saída que se encontravam acima das portas.
Philip segue cuidadosamente, segurando com força o bastão de ferro. Vai em pés de lã, tendo cuidado para os sapatos não pressionarem com força no chão, criando um som que poderia ecoar por todo o corredor.
Dirige-se à sala de fusão. É lá que está a máquina que Mark usará. Só precisa de chegar àquela porta no fim do corredor. Mais uns 10 passos lentos e chega lá.
Continua a caminhar. Caminha com receio de que seja apanhado pelo segurança. Não que o considere alguém poderoso que o poderia vencer num combate, mas é certamente um homem que apresenta o seu nível de ameaça.
Não se trata de uma ameaça física, mas mais uma ameaça psicológica. Digo isto num sentido literal. Afinal, o que é que Philip fará caso o velhote o encontre?
Fugirá a sete pés? Ignorá-lo-á e continuar o seu plano? Ou então...será que o matará?
A pergunta fica em cima da mesa para ser respondida.
Mais 7 passos.
Raios. É uma boa pergunta. Se ele o encontrar, passará a ser testemunha. Ele terá informação que pode comprometer Philip ainda mais do que já está. Poderá denunciá-lo à polícia, destruindo por cometo todos os seus planos.
Ai. Que fará? Eis a questão que não quer ser calada.
Mais 4 passos.
Esta pergunta permanece na sua cabeça, pois trata-se de uma grande possibilidade. Uma de que deve sempre estar ciente. Lá no fundo, tem medo. Medo não só de ser apanhado, mas também de vir a matar uma pessoa.
Já está habituado a bater em outros. Já descarregou a sua raiva antes. Mas matar...nunca o fez. Não sabe se, quando chegar o momento certo, estará disposto para tal.
Mais 1 passo.
A questão desaparece da sua casa, ao aproximar-se da porta da sala de fusão. Mesmo no escuro consegue ler o que está escrito em letras coloridas num panfleto colado à porta: "Aviso, aparelhos de uso perigoso."
Sempre lá esteve o aviso, mas muitos o ignoravam. Na verdade, poucas experiências foram lá feitas. Para Mark estar a usá-la, é porque se trata de algo especial.
Agora, Philip iria descobri do que se tratava. Ele dá o último passo e fica frente a frente com a porta. O ex-cientista estende a mão, pousando-a na maçaneta. Então, gira-a e vai abri-la até que-
Guarda: "Quem está aí?"
Ouve a voz do velhote. Nesse mesmo instante, um feixe de luz alcança o seu corpo, iluminando as suas costas. Atrás de si, à entrada do corredor, estava o guarda, de lanterna na mão, apontada para si. Raios. Foi apanhado.
Guarda: "Quem quer que seja coloque as mãos no ar!"
Já não tem muita chance. Não quer arranjar problemas. Sabe que o velho é forte, mas, não tem coragem para resistir. Por isso, Philip segue as suas ordens e põe os braços no ar.
Guarda: "Está armado? Isso é um bastão." 
Conclui ao ver o cano na mão daquele desconhecido invasor. Fica bastante surpreendido. Nunca na sua vida toda viu aguém com uma arma tão peculiar. Decide mover com precaução. Aquela essoa é capaz de ser mais perigosa do que aparenta.
Guarda: "Largue a arma!"
Quer garantir que o inimigo não terá forma de lutar. Philip sabe disso, ainda assim, naquele momento, o seu coração está a bater rapidamente. Está nervoso e não quer arranjar problemas. Quer matar Mark, é verdade, mas não quer envolver mais ninguém nessa sua busca egoísta. Como tal, larga o bastão no chão.
*Tam* *Tam* *Tam*
A queda da arma solta um som que ecoa por todo o corredor. Vendo que o adversário está desarmado, o guarda sente-se mais seguro e lentamente avança na direção daquele visitante indesejado.
Com cuidado e receando o pior o velhote vai lentamente chegando cada vez mais perto de Philip. Vai ficando cada vez mais perto de descobrir a identidade do invasor. 
Philip está indefeso. Sente o velho a aproximar-se. Não pode permitir que ele descubra quem é, mas, ao mesmo tempo, como é que o impedirá? A pergunta volta a surgir na sua cabeça. Será que terá de o matar?
Não. Não quer fazê-lo. Contudo admite que é uma opção bem provável de acontecer. E é uma opção que pode muito bem tornar-se realidade. Uma opção que se vai concretizando cada vez mais com cada passo do guarda.
Guarda: "Peço que me mostre a sua cara. Necessito de ter a certeza com quem estou a lidar." 
Philip está a correr risco. Ficará a correr um risco maior se o deixar ver a sua cara. O guarda irá reconhecê-lo logo. Nesse momento, caso não faça algo, irá para a prisão novamente por entrar num espaço sem autorização.
O que fará? Tudo ficará determinado, mal toma esta decisão. Se mostrar o seu rosto, estará a cavar a própria cova. Se não mostrar também se colocará em risco, levando o guarda a ser mais duro com ele. 
De todos os modos, Philip não quer magoá-lo. Não se sente caoaz de envolver alguém inocente como aquele senhor na sua vingança. Já está a fazer algo de que não se orgulha e, ainda mais, estará a arrastar alguém consigo.
Guarda: "Ouviste-me? Mostra-te!"
É agora. Tem que decidir. Mostrar-se ou não mostrar-se. O que será que escolherá?
Em menos de um segundo, ele decide-se. Decidiu-se tão rapidamente não por estar seguro da escolha, mas porque tinha que decidir rapidamente. 
Então, Philip vira a cabeça para a direita. A sua face direita do rosto fica exposta. Consegue ver pelo seu olho direito o guarda a apontar-lhe a lanterna. E o guarda também o consegue ver a ele.
Guarda: "E-Espera. T-Tu és...Philip?"
O velhote para no caminho. Logo a um metro da pessoa que agora reconhece como um ex-cientista da instalação.
Guarda: "P-Philip, o que é que fazes aqui?"
Encontra-se extremamente surpreendido e confuso. Tinha visto as notícias, mas não acreditava que Philip fosse alguém tão mau. Porém, ali estava ele. Não tinha a certeza do que ele veio fazer, mas, por muito que lhe custe admitir, não deveria ser coisa boa.
Guarda: "Não devias estar em casa? Eu vi-te na televisão. Pela forma como te retratam, deves ter todo o bairro à tua procura." 
O próprio invasor percebe este estado de susto e de preocupação do velhote, mas não diz nada. Já arriscou o suficiente. Apenas estaria a arriscar mais.
Guarda: "Anda lá, responde-me. Sabes que este lugar não é permitido. Queres ser preso outra vez?"
O guarda parecia genuinamente preocupado com o seu estado e condição. É a única pessoa que, desde que saiu, se parecia preocupar com o seu estado. Se não estivesse numa situação tão estressante, já teria derramado uma lágrima de compaixão e respeito por aquele senhor.
Guarda: "Não sei o que queres, mas recomendo-te a sair daqui o mais rapidamente possível, antes que te apanhem. Sei uma boa passagem por onde podes ir sem as câmaras da entrada de perceberem. Que me dizes?"
O guarda vira as costas, preparado para lhe mostrar o caminho.
Guarda: "Anda, segue-me. Vamos sair pelas traseiras. Depois, vai para um lugar seguro. Não te quero ver em perigo."
Estava ali. À sua frente estava uma oportunidade de desistir daquela demanda idiota por vingança. O que o velhote lhe mostrava era que ainda não era tarde demais. Havia um caminho certo que ainda podia seguir. Nunca é tarde demais para voltar ao nosso eu.
Philip olhava-o exatamente como um guia para um caminho melhor. Para voltar ao que era bastava segui-lo até ao exterior. Só necessitava de fazer isso.
Todavia, não podia. Por muito mais fácil que isso fosse, por muito que preferisse, não podia. O que o senhor lhe estav a fazer é muito gentil da sua parte, isso é inegável. Contudo, não pode seguir esse caminho. 

Para Philip, já era tarde demais.

Mas não podia deixá-lo ir. Não, isso levaria a potenciais denúncias do seu comportamento às autoridades. Ficaria com a vida arruinada, desta vez para valer.
Necessita de fazer algo quanto a ele. E seria agora. Agora que ele estava de costas, confiando plenamente no ex-cientista é que deveria fazer algo. É a sua oportunidade de ouro.
Já sabe o que tem de fazer. Lembrou-se na pergunta que tinha feito a si mesmo. Antes estava indeciso. Mas, agora, tem a resposta. 
O que é que fará, caso o guarda o encontre?
Matará.
Então, rapidamente Philip agacha-se e pega no bastão, tirando-o do chão. O guarda, mesmo de costas, nota movimento por parte de Philip e vira-se. O que não esperava é que, quando se virasse, teria Philip prestes a acertar-lhe com um cano de metal na cabeça. Bastou piscar uma última vez e...
*Plam*
O senhor levou em cheio com o bastão no crânio. Foi um golpe de tamanha força que o desequilibrou, fazendo-o bater com a parte de trás da cabeça na parede. E, com o impacto, o seu destino foi selado: a morte.
A vida humana é mesmo frágil. Quer dizer, o corpo humano é capaz de morrer de formas que achamos incomuns, mas que, quando formos a ver, podem acabar com a vida de alguém. Philip acabou de testemunhar a fragilidade da vida humana em primeira mão.
Só lhe bastou um golpe com um bastão de ferro que desencadeou o desequilíbrio do velho e a consequente batida da parte de trás da sua cabeça que levou à sua morte. E agora lá estava o velhote. Mal perdeu a consciência para o outro lado, o seu corpo, sem vida, cai de rabo no chão, deixando um rastro de sangue, proveniente da sua cabeça, criando uma linha que vai de cima para baixo. Philip acabou de matar um homem.
Sente-se mal. Matou alguém que o tentava ajudar. Alguém bondoso que tinha uma vida, aspirações e uma história para contar. E Philip acabou de ceifar a sua vida. Acabou de o retirar ao mundo.
É neste momento que o que disse a Ner lhe vem à cabeça: "Não decidirei a vida de ninguém". E acabou de fazer precisamente aquilo que se recusava. Tornou-se tão mau quanto Mark. Tornou-se no seu pior inimigo. 
Um líquido do fundo do estômago começa a subir pela sua garganta acima. Vai vomitar. Ou pelo menos iria se não tivesse feito um esforço para engolir o vómito. Nojento, eu sei, mas não queria criar mais lixo no local.
Agora era tarde demais. Philip já sacrificiu uma vida em prol do seu objetivo. Já não pode voltar atrás. Teria que ir até ao fim com os seus ideiais, caso contrário, a vida de uma pessoa foi em vão. Philip terá que matar Mark e já não há mais volta a dar.
Então, Philip recompõe-se, pega no seu bastão. Rapidamente, tira as vestes do segurança e veste-as, deixando o cadavér do homem de cuecas. Cadavér este que levou consigo.
Philip carregou o corpo dele até à sala, juntamente com as roupas que tinha antes de vestir o uniforme de guarda. Demorou algum tempo, pois um corpo é bastante pesado e carregá-lo é uma tarefa bastante turtuosa. 
Mas finalmente chega à sala de fusão. Move-se para dentro, juntamente com o guarda e as suas roupas antigas, liga aluz e vê logo o ícone da sala: a máquina de fusão.
Tinha a forma de um cilindro, com dois metros de altura. Uma estrutura com paredes de vidro que permitiam alguém do exterior ver o que se passava no interior. No meio, encontrava-se uma porta que levava para dentro. No interior da máquina, coladas ao teto, existiam várias seringas que seriam injetadas na pessoa que lá dentro se encontrasse. E, colado a um dos lados da parede, estava uma pequena pia que sugava os líquidos, transportando-os para as seringas que depois injetariam o líquido na pessoa escolhida para tal. Sim, era uma máquina para fazer injeções e teste de novos produtos num espaço seguro e isolado. Raramente alguém fazia uma invenção do género, mas acho que tudo mudará amanhã ou, tecnicamente hoje (pois já deveriam ser umas três da manhã).
Philip tem ali uma oportunidade de matar a pessoa que tanto odeia. Só precisa de dar um jeitinho na máquina e está. Mas, primeiro, é melhor ir colocar o corpo do guarda no caixote do lixo mais longe da instalação e dar uma limpadela no corredor. Ninguém gostaria de ver sangue nas paredes pela manhã.
Ele pega nas chaves do guarda, para não ter de entrar e sair pela ventilação, e vai carregando o corpo do guarda, levando-o pelas traseiras, onde não existem câmaras.
Vai pela noite, levando a sua primeira vítima ao caixote do lixo do parque ao lado. Só espera que lá não esteja ninguém. Mas vai com um sorriso no rosto, só de saber que todos aqueles sacrifícios não serão em vão. Afinal, amanhã, Mark irá certamente morrer.

Já é a manhã seguinte. Mark acorda mais cedo do que o esperado. Ruis está em casa. Tem que prepará-lo e dar-lhe de comer. A Kale vem buscá-lo. 


Após deixar Ruis com Kale, Mark sai de casa e entra no carro. Põe as chaves e segue pela estrada. 
Sente-se nervoso. Hoje vai apresentar o seu grande projeto que decidirá se fica ou perde o seu atual emprego. 
No caminho, Mark vai falando em voz alta, tentando recordar-se das exatas palavras com que deve explicar o seu projeto a Tommy. 
Mark: "Olá, hoje quero apresentar-lhe o meu projeto. Não, isso não me soa bem."
Fala para si mesmo, com a mão no volante.
Continua a preparar discursos e a emendar partes do discurso que acha que não ficaram muito boas. Tudo isso enquanto com a mão no volante e a conduzir.
Só o facto de não ter batido foi uma sorte. Ele ia bastante concentrado. A verdadeira sorte é que as viegns até à instalação nunca demoram muito, por isso, em minutos, chegou ao seu destino.

Mark sai do carro e tranca-o. De seguida, vai adiante, de bata vestida. Estranha apenas uma última coisa.
Onde é que estava o guarda hoje? Normalmente está sempre à entrada, mas hoje não. Enfim, não prestou muita atenção a esse detalhe, pois estava mais ocupado a rever a apresentação na sua cabeça.
Tal era a preocupação e concentração nessa tarefa que nem notou que outros o cumprimentava e, muito menos, os cumprimentou de volta. Vários cientistas estranharam este comportamento de Mark, mas já tinham ideia do porquê. Sabiam que aquele era o dia em que ele ficaria ou saíria. Como tal, ele estaria completamente focado nessa tarefa e só nessa tarefa.
Antes que se esqueça, vai logo direto ao seu laboratório. Lá deixou uma importante solução. Uma solução branca que não era nada mais nada menos que o produto final que demorou 2 meses a preparar e a otimizar.
Mark chega ao laboratório e pega imediatamente no frasco. Se se esquecesse de o levar, a apresentação poderia ficar comprometida. Já com a solução na mão, ele sai do seu laboratório particular e vai diretamente para a sala de fusão. Dá uns passos rápidos e de grande espaçamento e chega lá. Mark abre a porta e...
Tommy: "Chegaste a horas desta vez, Mark."
Diz Tommy, que se encontrava junto à entrada da sala, à sua espera.
Mark: "Ainda bem. Se há um dia a que não podia chegar atrasado é este."
Tommy: "Bom era se fosses assim todos os dias. Se soubesse já te tinha feio estes ultimatos mais vezes."
Mark: "Tens sorte de ser meu chefe, senão já te tinha mandado para um certo sítio."
Comenta Mark, num tom cómico e satírico. Tommy, por sua vez, larga uma risada. Ele sempre foi certeiro com a comédia, mesmo nos momentos mais sério. Apenas espera que este seu projeto também lhe traga a mesma felicidade.
Tommy: "Chega de conversas, porque é que não me mostras em que tens trabalhado?"
Mark: "É para já."
Assim, Tommy desvia-se do caminho e deixa Mark entrar na sala. Esta sala que estava já pronta para a demonstração. Quando digo pronta, quero dizer que Tommy moveu para lá um sofá. É um pouco idiota, mas aquele homem só consegue ficar atento quando sentado em sofás.
Tommy: "Quando quiseres."
Diz ele, ao mesmo tempo que se senta naquele sofá almofadado que mais parece uma poltrona. O sofá estava virado para a máquina de fusão e, a uns metros atrás, estavam dois cacifos. Era um excelente assento para se observar a ação que iria desenrolar.
Mark olha para o frasco que se encintra na sua mão. Em poucos segundos iria começar a apresentação. Relembra-se de uns pequenos detalhes, inspira e expira. Então, fica pronto.
Tommy: "Antes de começares, fica a saber que a minha expectativa está lá no alto."
Mark: "Bom saber. Acho que gostará do resultado final. Dei o meu máximo e acho que não irei decepcioná-lo."
Tommy: "Veremos se estarás tão confiante no fim." 
Mark aceita o desafio O cientista vai até ao pé da porta de entrada da máquina, vira-se para o seu chefe e começa a sua apresentação:
Mark: "Boa tarde. Hoje apresentrei o projeto em que tenho trabalhado durante 2 meses. Demorou bastante tempo e sacrifiquei várias refeições para que esta minha invenção ficasse pronta, mas, enfim, aqui estamos. Espero que goste do resultado final."
Ele levanta a mão, revelando um frasco branco. Tommy já estava para revirar os olhos. Para dois meses, esperava melhor do que uma simples solução. Miúdos do 10°ano já fazem soluções. Ia já criticá-lo, mas decide dar-lhe uma chance.
Mark: "Penso que todos nós, americanos, concordamos que o meior tesouro que nós temos é o nosso próprio país. É por isso que, muitas vezes, somos alvos de ataques, tentativas de conquistar as nossas terras. Os Estados Unidos da América já chegaram a estar envolvidos em várias guerras que deixaram a marca no nosso país. Muitas famílias perderam família nelas ou até mesmo casa. Mas já pararam para pensar: e se os outros nem nos tivessem invadido? Se calhar, se tivessem um poderio militar maior que o que já têm, se fossem uma potência tão forte, ninguém sequer ponderaria invadir-nos e todas aquelas mortes não teriam acontecido. Teríamos encontrado a paz. E é aí que esta minha invenção entra."
O interesse de Tommy começa a subir. Sente que sabe para onde isto irá, contudo não crê que ele irá lá. Se a invenção funcionar da maneira que imagina, então trata-se de algo revolucionário. Mais interessado, inclina o seu corpo para a frente, olhando atentamente o desenrolar daquela apresentação.
Mark levanta o frasco no ar, destacando-o no meio daquele espaço todo e continua:
Mark: "Criei este projeto durante os 2 meses que me deu. Eu chamo-lhe de 'American Protector'. Não se trata de uma simples solução. Veja-o mais como um remédio que damos numa injeção. Basta umas gotas e a pessoa, durante um período de tempo de 72 horas, a pessoa fica completamente. Ficará mais forte, mais veloz, mais resistente, mais ágil e com os seus cinco sentidos aprimorados. Pode-se dizer que a pessoa tornar-se-á sobre-humana. Imagine isto injetado num soldado. Esse homem será tão perigoso quanto uma arma de fogo.
Dito isto, Tommy, o que acha?"
O seu chefe já estava na ponta do assento. Nem queria acreditar que o velho do Mark, o cientista que já tinha lassado do seu auge, conseguiria fazer algo tão impressionante. Não só provou Tommy errado, como todos os outros cientistas daquela instalação. Eles que esperem só para ver...
Tommy: "Caramba. Nem sei por onde começar. Tu excedeste-te mesmo desta, Mark."
Mark: "Obrigado, chefe."
Agradece, tentando parecer humilde e esconder o orgulho que guarda lá dentro.
Tommy: "Hoje, mostraste-me porque é que te aceitei aqui. Espero que esta invenção sirva de exmplo e demonstração do tipo de trabalho que aqui fazemos."
Mark até já estava a corar. Emocionou-se um pouco com aqueles elogios. Já não ouvia alguém a falar bem de si há tanto tempo. Ele que oassou por tempos tão difíceis e experiências complicadas, se havia coisa que mais precisava era de ouvir da boca de alguém que era espetacular. Só tem de agradecer a Tommy por isso.
Mark: "Estou incrivelmente honrado por receber estes elogios."
Fala, contendo as lágrimas no fundo dos olhos.
Mark: "Mas a experiência ainda não acabou. Falta a demonstração."
Tommy: "Bem, nada pode estragaro que já fizeste. Acho que já te posso dizer com toda a certeza: continuarás a trablahr aqui. Mas, ok, termina isto com chave de ouro."
Mark: "Irei."
Afirma, orgulhoso e quase a saltitar de alegria. Tudo o que fez até então não foi em vão. Feliz em saber. O seu objetivo já foi alcançado, mas, mais vale ir até ao fim. 
Num dos lados da parede da máquina, estava um pia. Era ali que se deitava o líquido a ser injetado. Mark também o faz. Abre o frasco e deita a solução toda para a pia. Solução essa que é sugado e vai pela pia abaixo, sem necessitar de clicar em botão algum. O líquido é simplesmente deitado e passa pelos pequenos buracosz sendo sugado e transferido para as seringas de dentro da máquina de fusão.
Assim, Mark, de sorriso no rosto, vai até à porta de metal da máquina de fusão, pintada de branco e abre-a. Sem mais nem menos, entra na máquina, já feliz do resultado. Para ele, isto já está no papo.
Tommy, por sua vez, já estava satisfeito e vastante orgulhoso pela conquista do seu colega. Saberia que, independentemente do que viesse, nada mudaria esses seus sentimentos. Mesmo assim, estaria a mentir ao dizer que não estava um pouco intrigado para ver o teste.
Agora dentro, Mark fecha a porta, pressionando num botão que se encontrava num paínel colado à parede. Preparado, pressiona em outro botão que se encontra no paínel e a experiência começa.
Mark posiciona-se precisamente no centro da máquina, como recomendado no protocolo. Então, as seringas no teto começam a descer. Descem por cabos, cada vez mais, dirigindo-se até à cobaia. Tudo corria bem e nada podia estragar aquele momento.
Mesmo Tommy já estava mais tranquilo por não ter de despedir o seu amigo e colega. Ainda assim, assistia tudo o que se passava com enorme concentração. Torcia para que esta parte final, servisse como a cereja no topo do bolo.
Mark estava feliz. Tommy estava feliz. Todos estavam satisfeitos e contentes. Porém, são nestes momentos, em que a guarda de todos está baixa, que a vida nos prega os maiores sustos.
Subitamente, o cacifo que se encontra atrás da poltrona onde Tommy se senta, lentamente começa a abrir-se. Vai abrindo-se, como se alguém estivesse a tentar de lá sair. A porta vai abrindo-se, abrindo-se e abrindo-se até revelar quem estava de lá a sair.
A pessoa que estava lá dentro escondida e que se encontrava agora de saída era, nem mais, nem menos, do que Philip. 
Mark até demora algum tempo a reagir. A sua mente demora um pouco para processar tudo o que estava a acontecer. Formulou várias hipóteses em menos de um segundo que talvez pudessem explicar a sua entrada no edifício. Contudo, nada lhe parecia plausível. Só conseguiu chegar a uma conclusão: Philip tinha voltado e queria vê-lo a ele, Mark, morto.
Mark: "Não. Não. Não. Isto não pode estar a acontecer agora. Não pode ser verdade."
Dizia incrédulo, para si próprio. Podia, no entanto, falar o que quisesse que Tommy não ouviria nada. As paredes da máquina abafavam qualquer som de dentro. 
Já não bastava a presença de Philip para o confundir, ele ainda vestia as roupas do guarda. Como? O que é que aconteceu com o guarda? Ou deveria perguntar o que é que ele fez com o guarda? Será que...é possível, mas...será que ele o matou?
Impossível. Sabia que Philip sempre foi mau, mas nunca imaginou que ele fosse capaz de tal ato. Nunca soube que ele seria tão mau quanto ele. Não, ele é melhor.
Mark já teve aquela sensação, aquele desejo de matar alguém antes. Essa pessoa foi, no caso, Philip. Contudo, por muito que tivesse esse desejo, nunca foi capaz de seguir adiante com o seu desejo ou era impedido por alguma razão. 
Já Philip, matou alguém. Foi mais corajoso do que ele. Percebeu como é que o mundo funcionava e seguiu as regras que ele impôs. E agora, teria a honra de matar a pessoa quem mais odiava: Mark.
Tommy nem se apercebia de que Philip se encontrava atrás dele. Estava demasiado absorvido na apresentação, feliz com o seu amigo e de guarda baixa. Nem se apercebe que se encontrava em perigo.
Philip saca do seu bastão de ferro e vai, em passos leves e silenciosos, diminuindo a já pouca distância entre ele e Tommy. Não tem particular ódio contra aquele homem, contudo, não podem haver testemunhas para vir a contar as atrocidades que iria cometer. 
A sentença de Mark já havia sido determinada. Sem se aperceber, ao apertar aquele botão, havia selado o seu destino e o de Tommy. Já não havia volta a dar. Philip ganhou a batalha.
As agulhas no teto estavam todas apontadas para a cabeça de Mark. Elas iam aproximando-se cada vez mais e, ao mesmo tempo, Philip ficava ainda mais perto de Tommy. O ceifador e as seringas iam funcionando exatamente como esperado.
Nem sabia o que fazer. Quer dizer, sabia que teria de fazer algo, mas, o quê ao certo? Não vale a oena pôr-se a bater nas paredes de vidro, elas abafariam o som e não se partiriam. Também não pode sair no meio do procedimento. A máquina não foi programada para isso. Só lhe resta uma opção...
Mark: "Tommy! Tommy, corre! TOMMY!"
O cientista tentava avisar o seu amigo e chefe, contudo, sem sucesso. As paredes abafavam qualquer som. Por isso, Tommy apenas conseguiu notar uma súbita mudança no rosto de Mark.
Mark: "O Philip! PHILIP! Ele voltou! ELE ESTÁ DE VOLTA!" 
Mas essa súbita mudança de feliz e confiante para assustado e desesperado não lhe passou despercebido. Estranhou o porquê e começou a pensar. Pensou por um momento, mas a resposta veio e cedo.
Mark: "Atrás de ti, Tommy! OLHA PARA TRÁS!"
Grita com toda a força dos seus pulmões, apontando a mão para o indivíduo que se encontrava atrás de Tommy e que já se encontrava a menos de um metro dele.
Vendo Mark a apontar para trás de si, Tommy fica intrigado. Fica com mil perguntas, mas a curiosidade toma o melhor de si e decide seguir aqueka espécie de aviso. Mal se vira, ele surpreende-se com quem vê.
Tommy: "Espera...tu és...Philip?"
Fica ainda mais confuso. As perguntas já não paravam de vir e, agora que viu Philip, ainda mais delas vieram. Como é que ele veio ali parar? O que era quilo que carregava na sua mão direita? Porque é que estava com as roupas do guarda? Pois é, o guarda! Agora que pensa, não o viu esta manhã. Isso significará que...Philip estaria envolvido na sua morte?
Philip: "Não queria que o nosso reencontro fosse assim, Tommy."
Tommy: "Mas que raio é que fazes aqui e com essa roupa? Como é que conseguistes essas vestes e esse bastão? Na verdade, como é que conseguiste entrar, isso é impossíve-"
Philip: "Sim, eu sei que deves ter muitas perguntas nessa tua cabeça, mas, confia em mim, não queres saber."
Tommy: "Ora seu..."
Estava já pronto para dizer-lhe o que queria, mas não há tempo para nada. Quando ia falar, algo acontece. Algo que Philip tinha planeado e preparado ontem à noite.
As seringas chegam já demasiado perto de Mark e, como tal, elas param de descer. Ficam estáticas por uns segundos. Nesses segundos, Mark fica aliviado. Começa a acreditar que, por alguma razão, Deus veio salvá-lo, veio compensá-lo pelas outras vezes em que o desapontou, é desta que ele...
*Tchik* *Tchik* *Tchik* *Tchik*
Breves segundos. Foi tão rápido que quem piscasse, não seria capaz de notar que algo aconteceu até ver as consequências. Pois todas as seringas espetaram-se no cérebro de Mark. Perfuraram fundo no seu cérbero e injetaram o líquido que havia preparado. O criador seria o primeiro a testar a sua criação.
Mark: "Haaaaaaaa!"
O criador começa a gritar. Isto não era suposto acontecer. Sim, iria injetar-se com a solução, mas não seria no cérvero que planeava injetar. Queria fazê-lo no braço, mas não foi isso que aconteceu. Como forma de desabafar, limita-se a gritar. É a única forma que tem de atenuar a sua dor.
Tommy observava incrédulo cada momento daquela ação e Philip estava com um sorriso no rosto. Tommy não queria que isto acontecesse. Mark também não parecia ter planeado algo do género. Só pode ter havido alguma intervenção por parte de alguém.
Tommy: "O que é que fizeste, seu idiota?"
Pergunta, ao mesmo tempo que se vira para encarar Philip, com um olhar de raiva.
Philip: "Ora, não fiz nada demais. Limitei-me a mudar a direção das seringas e coloquei-as na posição perfeita para acertarem no cérebro."
Tommy: "Só podia ter vindo de ti."
Philip: "Como é?"
Tommy: "Sempre foste muito habilidoso, mas a tua genialidade nunca compensou este teu jeito de ser. Lá no fundo, nunca deixaste de ser um vilão."
Philip: "Os meus amigos também eram génios. Se não os tivessem expulsado, nada disto estaria a acontecer. O Mark não estaria a sofrer e tu prestes a morrer."
Philip segura com mais força no bastão. Estava pronto para fazer o que lhe era pedido. O próprio Tommy também lercebe o que lhe esperava. Custava-lhe acreditar, mas este era o tipo de pessoa que Philip era.
Tommy: "Vais matar-me. Fá-lo, então. Apenas estarás a cavar um buraco e a mostrar que os media sensacionalistas talvez não estejam a exagerar."
Philip: "Olha que não sou muito pior que outros que andam por aí. Aquele Mark é um excelente exemo. Se o conhecesses bem, saberias que ele eu e eu temos as nossas semelhanças."
Tommy: "Podes ter razão. O Mark pode ter os seus lados mais sombrios. Mas sei que o Mark não faria isto que tu estás a fazer. Ele não mataria alguém. Ele, ao cintrário de ti, não é um assassino. Por isso é que ele já ganhou esta batalha. Tu é que não queres admitir."
As últimas palavras serviram de discurso de morte. Tommy estava assustado com o que vinha, mas também estava bem ciente de que nada poderia fazer contra alguém armado como Philip. Por isso, fez a sua escolha e decidiu morrer dizendo tudo o que tinha para dizer. Decidiu morrer à sua maneira, morrer orgulhoso.
O bastão é segurado ainda com mais força. O que Tommy acabou de dizer simplesmente o fizeram querer apressar a coisa toda. Já não tem medo do que está lrestes a fazer. Philip está pronto.
Philip: "Muito bem, veremos se o Mark cumprirá o que dizes."
*Plam* 
Então, com um olhar determinado, Philip rapidamente balança o bastão horizontalmente e acerta com força na cabeça de Tommy que, por usa vez, nem se tenta esquivar ou resistir. A morte chegou à sua porta e Tommy simplesmente limitou-se a abrir a porta ao seu convidado.
O chefe de Mark acaba por cair da poltrona para o chão. A sua cabeça está muito pesada. Sente a consciência a fugir-lhe. É isto a sensação de morrer?
Philip dá a volta à poltrona e chega ao pé do seu inimigo, deitado no chão. Ele deve ter o seu crânio fraturado com a última pancada. Deve ter contraído um traumatismo, mas não foi o suficiente para matá-lo. Falta um golpe final.
Philip: "Foi uma boa vida, Tommy. Agora, chegou a hora de ir descansar."
Tommy: "Vai...vai..."
Mesmo com a sua cabeça nas últimas, ainda consegue falar e aparenta ter algo a dizer. Com curiosidade e, por honra ao oponente, ele agacha-se e aproxima o seu ouvido da boca de Tommy. Nesse momento, finalmente ouve as suas últimas palavras:

Tommy: "Vai arder no inferno, Philip."

Já farto de insultos e de brincadeiras, Philip levanta-se e ergue o seu bastão no ar, angariando potência e fólego para um último golpe. Não, agora que ouviu mais um insulto à sua integridade, já não será apenas um golpe. 
Então, com toda a força do seu corpo e raiva no coração por todos os cidadãos do mundo, Philip acerta um golpe de alta força, usando a gravidade e raiva a seu favor.
*Plam* 
Deve ter partido o crânio de Tommy com aquele golpe. Na verdade, aquele golpe já matou o seu chefe. Contudo, ainda não estava satisfeito. Não, não iria deixar alguém que o insultou morrer assim. Mark não poderia nem ver a cara do cadavér do seu chefe. Seria bom demais.
Como tal, sedento de raiva e vingança, Philip volta a erguer o bastão e torna a acertar na cabeça de Tommy com um golpe descendente de cima para baixo.
*Plam*
Outro golpe. Mais danos na cabeça de Tommy. Sangue começa a sair da parte de trás da cabeça de Tommy, precisamente na zona de impacto. Sangue esse que vai derramando para o seu rosto até atingir o chão. O seu chefe já estava morto, mas Philip ainda não estava satisfeito.
*Plam* *Plam* 
Outra e outra vez ele desfere mais golpes na cabeça do inimigo que já se encontra mais do que morto. Ainda assim, ele continua a levantar e a baixar o bastão em sucessivos golpes que não parecem ter fim em vista.
*Plam* *Plam* *Plam* *Plam* *Plam* *Plam* *Plam*
Ele continuava e continuava. A sua raiva refletia-se em cada golpe. Descarregava toda a raiva que tinha naquele pobre homem que pouco lhe fez de mal. A cabeça de Tommy ficava cada vez mais desfigurada. Com cada impacto, ia sendo cada vez mais destruída.
*Plam* *Plam* *Plam*
A cara ia sendo pressionada contra o chão cada vez mais. Os golpes que desferia iam cada vez mais fundo na cabeça de Tommy, levando a um destino violento e grotesco.
*Plam* *Plam* *Plam*
O final chegava mais perto, à medida que o clímax de todos aqueles sucessivos ataques ia chegando na forma de um final digno de um vilão.
*Plam* *Plam* *Plam*
Mais um pouco, mais uns segundos e chegará lá. Falta tão pouco mais uns golpes e está.
*Plam* *Plam* *Plam*
Sente que chegou lá. A raiva chegou ao seu ápice. A sua força também. Sabendo disso, Philip ergue o bastão uma última vez no ar para apenas enterrá-lo uma última vez. Por fim, chega ao resultado que estava à procura.
Philip: "Haaaaaaaaa!"
*Plam*
*Fwish* *Splash* *Tchash*
Com aquele último golpe,.carregado de raiva e de força, Philip conseguiu partir por completo. cabeça de Tommy. Dividiu-a em pedaços com aquele último golpe. Sangue e pedaços do cérebro do seu chefe esvoaçam para as paredes, poltrona e para o chão. 
Agora sim, está satisfeito e bastante ofegante. Respira fundo. Absorve tudo o que acabou de fazer. Tem a certeza de que não fez o mais correto. Contudo, sente-se melhor agora, mais aliviado e até...feliz.
Ja não se sente mal por matar alguém. Está satisfeito e nem sente vontade de vomitar. Conseguiu finalmente aceitar a pessoa que realmente é. Sim, o que vê no chão é obra de si próprio, Philip Marcolis.
Nesse momento, as seringas acabam de injetar todo o líquido restante e despegam-se da cabeça de Mark.
*Fwooshi* *Fwooshi* *Fwooshi* *Fwooshi*
O cientista já nem gritava. Quando as seringas saíram da sua cabeça, desprendendo-se de fios de sangue, ele simplesmente caiu no chão, sem forças para falar ou manter-se em pé. 
Fica no chão. Nem se tinha apercebido que Tommy havia morrido. Apenas sabia que estava a ter um mau dia e queria que tudo aquilo fosse um simples pesadelo.
Já Philip, delitava-se com o que via. O procedimento havia sido completo. A máquina de fusão poderia ser aberta. E, ainda por cima, com Mark deitado no chão e com poucas forças, poderia fazer-lhe o que quisesse e cumprir todas as suas depravadas fantasias. 
A porta da máquina abre-se, tendo o procedimento de injeção terminada. Philip aproveita e caminha, em passos lentos, saboreando o momento. Não, não era um sinples momento. É algo para que tem trabalhado e desejado durante muito tempo. Aquele momento servirá de homenagem aos seus amigos. Finalmente vai vingá-los. E tudo ao matar uma única pessoa: Mark.
Ele entra e para quando alcança o cientista. Deitado no chão, com sangue no cabelo e cabeça, sangue que respingou quando as seringas foram retiradas. Se não está morto, está quase a chegar lá. Na verdade, está com a consciência fraca e mal consegue se mexer. Está mesmo indefeso e à sua mercê.
Contudo, antes de fazer alguma coisa, quer ficá-lo a olhar de cima. Quer continuar a saborear aquela sua superioridade lerante a escumalha da humanidade. Sabe mesmo bem ver um idiota no chão, a beijar-lhe os pés.
Philip: "Não adormeças Mark, já te vou entreter."
O assassino atira o bastão para o chão e vira o corpo de Mark, deixando-o de barriga para cima. De seguida, põe-se em cima dele e estala os punhos antes de se pôr a divertir. A brincadeira ainda só vai começar. Então...
*Pow* 
Acerta-lhe um valente soco na bochecha. Deixou-lhe boa marca na cara. O começo de algo maior. Sentiu-se mesmo bem a descarregar aquela dor que carregou durante tanto tempo. Por isso, Philip continua.
*Pow* *Pow*
Começa a acelerar, dando, desta vez, dois socos. Um com a mão direita e outro com a mão esquerda, numa sucessão quase instantânea. Deixou o rosto de Mark vermelho, .as ainda não foi o suficiente, não para ele. Tem que continuar. Mark merece mais do que dois socos. Ele merece mais sofrimento.
*Pow* *Pow* *Pow* *Pow*
A satisfação vai aumentando ainda mais. A velocidade de cada golpe também. São socos ininterruptos e contínuos. Não existe um fim em mente. Ele continuará até ficar satisfeito, isto é, talvez nunca. Pois a raiva que ele carregava, o que sempre quis em anos, estava finalmente à sua frente. Não iria embora sem fazer tudo o que semlre quis e imaginou. Não iria embora deixando o inimigo apenas com o rosto avermelhado. Não pararia até achar que fez tudo o que já tinha planeado.
*Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow*
Intensificou-se ainda mais. É como se tivesse passado a fase da preparação e se adaptado ao ritmo habitual. Aquele seria o ritmo que seguiria. Já começou a causar dano maior. Na bochecha, abriu uma pequena ferida pela qual saiu um fio de sangue. Sim, parecia-lhe bem. Sabia-lhe bem, deste modo. Mas ainda não era o suficiente, contudo, sentia que talvez socos não fossem suficiente.
*Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow*
A cara de Mark ia ficando cada vez mais vermelha e marcada. Isso nos primeiros socos, pois, neste ponto, já estava a sangrar de feridas por toda a sua cara. Na bochecha, testa, lábios e sobrancelha. Philip fez questão de não deixar nenhuma parte do rosto do seu inimigo livre da sua ira. É assim que gosta. Não basta vencer e humilhar o inimigo, tem de fazê-lo deixando a sua marca, fazendo-o à sua maneira.
*Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow*
Philip: "ESTÁS A GOSTAR, MARK? NÃO SEI QUANTO A TI, MAS EU ESTOU A ADORAR!"
Gritava-lhe, ao mesmo tempo que continuava o espancamento com o mesmo ritmo.
*Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow*
Philip: "ISTO É O QUE TU MERECES POR SERES UM ARROGANTE DA MERDA!"
*Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow*
Philip: "SEMPRE ACHASTE QUE O TEU TEMPO NESTE MUNDO AINDA NÃO TINHA ACABADO, MAS PENSASTE MAL!"
*Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow* *Pow*
Philip: "É TUDO TUA CULPA! FOI TUA CULPA QUE OS MEUS AMIGOS PERDERAM OS SEUS SONHOS, FOI POR TUA CULPA QUE FUI PARA A PRISÃO, FOI POR TUA CULPA QUE ME TORNEI UM VILÃO E SERÁ POR TUA CULPA QUE MORRERÁS!!!"
*Pow* *Pow* *Pow*
Um dente de Mark esvoaça para longe com o último soco que Philip deu. As coisas estavam a entrar num estágio final. A raiva de Philip chegou ao seu ponto mais alto. O corpo de Mark e a sua consciência também pareciam estar. O cientista que estava a sofrer em silêncio, por não ter nem forças para falar, iria chegar ao fim da linha.
Philip levanta o seu punho ensaguentado e partido no ar. Irá afundá-lo e mandar Mark para o inferno. A justiça finalmente será servida e será servida pelas mãos de um assassino. Em poucos segundos, aquela rivalidade, todos aqueles anos de ódio chegarão a uma climática conclusão. 
Mas já chega de pensar e continuar a rever o qur já foi. O presente está diante dele. Será decidio por ele. E tudo com um soco.
Philip: "Vai arder no inferno, Mark."
Ele baixa o punho rapidamente, almejando a cabeça de Mark, almejando ceifar a sua vida. Isso é o que teria acontecido, se uma súbita mudança não tivesse acontecido.
*Prad*
Antes que o punho de Philip atinja o seu rosto, Mark segura a mão do inimigo, de olhos fechados. Nem viu o que se passava ao certo. Agiu de puro instinto. Agiu porque o seu corpo parece que o aconselhou. Não, isso não faz sentido. Deve estar a alucinar. Deve ser porque se encontra perto da morte, exceto que...já não se sente mal e ferido.
As feridas ainda estão lá e não sararam de um momento para o outro. Então o que é que aconteceu? Porque é que se sente recuperado e revigorado, mesmo no estado deplorável em que está? E como? Como é que isso veio a acontecer? Como é que os seus instintos parecem melhores do que o normal, especialmente para um homem à beira da morte?
Os seus instintos dizem-lhe que deve abrir os olhos. Sem saber o porquê e confiando somente em si, ele abre-os. 
Vê Philip em cima de si. Aparentava estar a espancá-lo há um bom bocado. Isso explica a dor que sente na cara e todo aquele sangue no chão. Contudo, sente que ouve melhor. Sente que vê o rosto raivoso de Philip mais claramente do que o normal. É como se o seu corpo tivesse sido aprimorado. É como se...
Philip: "Seu sacana, larga o meu punho!"
Ordenava, desesperadamente, não compreendendo o que se passava com o corpo de Mark.
Mark: "Como assim?"
Nem se tinha apercebido que tinha conseguido apanhar com sucesso o punho do inimigo no ar, impedindo o golpe. Talvez o seu corpo tenha sido mesmo aprimorado. Começa a entender o porquê.
Quando aquelas seringas o perfuraram, injetaram-lhe a solução diretamente para o cérbero. Felizmente não morreu ali. Acontece que o líquido espalhou-se por todo o seu corpo, tornando-o um sobre-humano.
É por isso que não morreu instantaneamente, mal as seringas saíram diretamente do seu cérebro. É por isso que se sente tão bem e revigorado. É por isso que, durante todo o espancamento, ficou a sentir os socos cada vez menos, pois o seu corpo estava a tornar-se mais resistente graças à sua invenção. Isso explica muita cois-
Philip: "Vais ficar parado durante quanto tempo?"
A pergunta do homem que se encontra em cima dele acorda-o para a realidade. Nem se apercebeu como, mas Philip estava com o bastão nas mãos e, antes que pudesse piscar os olhos.
*Plam* *Plam* *Plam*
Ele começa a bater-lhe com o bastão na cabeça. Rapidamente, Mark puxa os braços para cima, de modo a cobrirem-lhe a cara e a protegerem-lhe dos golpes. Felizmente, consegue fazê-lo a tempo da primeira pancada.
*Plam* *Plam* *Plam*
O bastão acerta-lhe com força nos seus braços. Sente o impacto e dói-lhe, mas não tanto quanto esperava. A solução parece estar a diminuir a dor que um golpe destes normalmente teria sobre ele.
*Plam* *Plam* *Plam* 
Enquanto leva todas estas porradas com um cano de ferro, pensa em como sair daquela situação. Quer dizer, Philip deve ter pegado no bastão enquanto ele estava a ponderar em como pode ter sobrevivido. Só não sabe de onde ele foi buscar o bastão. Quando lhe segurou o soco e abriu os olhos, lembra-se de ele estar de mãos vazias. Mark esteve à beira da morte durante algum tempo e, como tal, não viu o que aconteceu depois de as seringas lhe terem perfurado o cérebero. Isso significa que ainda não viu a morte de Tommy. Isso é algo que ainda não descobriu.
*Plam* *Plam* *Plam* 
Mas chega. Chega de pensar. Foi isso o que o levou a estar como está agora. É hora de agir. 
*Plam* *Plam* *Plam*
Quando Philip ia aterrar mais um golpe no braço de Mark, almejando na cabeça do oponente, o próprio cientista facilmente segura no bastão com a sua mão direita e sorri-lhe de volta.
Já não está confuso e sabe o que tem de fazer. Philip fez um erro no seu plano e ele vai aproveitá-lo. Vai aproveitar para arruinar aquele idiota que julga que o seu tempo no mundo já acabou. Irá descarregar alguma raiva que tem contra o mundo e contra o tipo de pessoas que, tal como Philip, julgam ter autoridade sobre a vida dos outros. E essa sua determinação ficou visível naquele simples e malicioso sorriso que deu.
Philip: "Só consegues segurar os meus golpes, velho?"
Pergunta, tentando provocá-lo. 

Mark: "Deixa-me mostrar-te do que é que este velho é capaz."

Imediatamente, Mark segura no pescoço de Philip com a sua mão esquerda. Faz questão de alertar o pescoço do inimigo. Exerce uma força capaz de arrancar uma árvore do solo. E toda essa força concentrada no pescoço do Philip. Até dá dó dele, que é um assassino. Mas já não tem que se importar com a força que utiliza. Afinal, está a tratar da representação de todas as coisas que odeia nas pessoas. Por isso, usará os poderes concedidos pela sua solução ao máximo.
Eventualmente, ar começa a faltar a Philip. Tem dificuldades em respirar e em manter a sua posição. Sem se aperceber, a sua mão direita já tinha largado o bastão, deixando Mark a segurá-lo na sua mão direita. Para além disso, as suas pernas perdem força e o ex-cientista começa a desesperar, tal como Mark queria.
Usando a falata de força do oponente para manter a sua posição de combate, com a maior das facilidades, e fazendo questão de manter a pressão no pescoço de Philip, Mark levanta-se. À medida que se vai erguendo, também ergue no ar o corpo de Philip. Por fim, quando fica em pé, encontra-se Mark a levantar Philip a um metro do chão, sem estar cansado ou a exercer esforço algum. 
Philip: "Gha-ghiu...l-larga-...-me."
Mark está a vencer, é verdade. Porém, sente-se insatisfeito. Está a ser demasiado fácil. Já tem na mão direita o bastão de ferro e na outra Philip. Sim, não se sente satisfeito. Alguém como Philip merece mais. 
Ele que andou a provocá-lo e a dizer que o seu tempo neste mundo já havia acabado por anos. Aquele homem tem-no atormentado e trazido raiva e indignação. Raiva e indignação que agora usará contra ele.
Na verdade, Philip é só mais um. Mais uma pessoa que é contra Mark e duvida do seu valor. Alguém que o considera um velho, uma pessoa que já não traz nada de novo ao mundo, uma pessoa que já se devia ter reformado.
Sim, agora está com raiva. Agora que se lembrou do que sentiu durante estes anos todos, o que aquelas palavras e provocações incansáveis lhe causaram...sim, pode-se dizer que está zangado. Está pronto para não só matar Philip, mas também humilhá-lo.
Philip: "P-P-Para...p-peço-t-te."
Ainda vai morrer. Já chega de estrangulá-lo com uma força tremenda. Caso contrário, não conseguirá se satisfazer o suficiente.
Mark: "Muito bem, farei como tu queres."
Então, ele atira Philip para fora da máquina de fusão. O assassino sai pela entrada a voar a uma alta velocidade. Philip sente o ar a passar pelo seu corpo como uma lâmina que não corta. Até que cai no chão com força
Philip: "Ai! Que porra..."
Aterra muito mal com as costas no chão. Teve sorte de não ter partido a coluna. Pela forma como foi impulsionado adiante e a velocidade a que voou, o resultado nem foi mau.
Mark: "Vamos, levanta-te."
O inimigo não vê opção. Sabe que terá de lutar contra ele, já que chegou tão longe não irá desitir agora. Contudo, sente que Mark está diferente.  aforma como lhe segurou a mão e lançou adiante não é comum de um humabo comum, muito menos dele. Da última vez que lutou contra Mark, não se lembra de ele ter assim tanta força.
Philip: "Estás diferente."
Mark: "Tudo graças às seringas. Foste tu quem as programou para me injetarem a solução no cérebro, não foi?"
Philip: "Agora percebo que foi um erro."
Ele levanta-se, apoiando-se numa mesa com rodinhas que transportava instrumentos que pareciam vindos de uma sala de operações. Será útil para depois.
Philip: "Pensava que, mal as seringas perfurarassem o teu cérebro, morrerias. Mas, pelos vistos, deveria ter pesquisado mais a respeito da tua invenção."
Mark: "Aposto que, quando ouviste a minha explicação e descobriste que se tratava de uma solução que aprimora o utilizador sobre-humano te borraste todo, pois descobriste que o teu plano iria pelo ralo abaixo."
Philip: "Nem por isso. Já tinha algo planeado para uma situação em que a injeção não fosse suficiente."
Nesse instante, Philip dá uns passos para o lado, revelando algo que se encontrava arrás de si. Tratava-se de algo que Mark não foi capaz de ver, graças ao ataque surpresa das seringas. É algo que não deixará o cientista lá muito feliz, mas aquele assassino está muito bem ciente disso. Ele sabe que o que lhe está a mostrar é capaz de deixar até mesmo sobre-humanos vulneráveis.
Philip: "Espero que gostes desta prenda que embrulhei enquanto estiveste com metal espetado no teu cérebro."
Mark fica perplexo e paralisado. Os seus olhos aprimorados não o enganam. É impossível isto ser um sonho. Não, é real, contudo, ainda assim, recusa a aceitar-se.
Vê à frente da poltrona, deitado no chão repleto de sangue, o cadavér do seu chefe e amigo, Tommy. Foi Philip. Ele é que o matou. Olhando bem para o bastão, vê rastros desse sangue e até de miolos da vítima. Que nojo.
Foi Philip o responsável pela sua morte. Ele fê-lo de propósito. Ele bateu-lge na cabeça repetidamente, vezes e vezes sem conta até deixar a sua cabeça nas últimas e o seu rosto irreconhecível. Isso não é ato digno de um humano. 
Mark sabe que aquilo foi de propósito, não foi sem querer. Philip matou-o para não haver testemunhas e como manobra de estratégia. Era uma provocação. Outra provocação. O ex-cientista estava à espera que o choque da morte de uma pessoa que lhe era querido o fosse enfraquecer. E, de certa forma, conseguiu.
Mark sente-se mal. Tem desgosto de si próprio. Nem conseguiu ver a morte do seu amigo, pois estava a ser perfurado por seringas. Ainda assim, por muito que isso tenha sido um imprevisto, Mark ainda se culpa. Se ao menos o tivesse avisado antes ou se tivesse reagido melhor à situação, talvez Tommy ainda estivesse vivo.
Philip: "Boa."
Sussurra para si mesmo, ao ver que a morte de Tommy parecia estar a surtir efeito contra Mark. O plano não falhou por completo. Agora pode voltar à ação.
Aproveitando o estado de choque do oponente, Philip pega no máximo de ferramentas possíveis da mesa com rodas e logo impurra-a para a frente, na direção do cientista, com um pontapé. Ele não tem respeito para com o adversário. Na sua última luta aprendeu isso com Mark.
O velho usava o ambiente à sua vantagem e venceu Philip que, fisicamente é muito mais forte. Mark, na época, sabia disso e, como tal, utilizou a sua inteligência e o ambiente para ganhar vantagem. Foi assim que conseguiu lutar em igualdade durante um bom bocado e será da mesma forma que Philip o vencer-
Mark: "Só isso?"
Nem fica impressionado com a tentativa do inimigo. Esperava mais, especialmente tendo em conta que tinha o oponente em choque. Era a oportunidade perfeita para fazer estragos, contudo optou por lhe enviar uma mesa com rodinhas.
Sem dificuldade alguma, Mark levanta a mesa no ar com a mão esquerda, mal esta chega ao pé de si. De seguida, com uma mão, ele arremessa a mesa na direção de Philip, canalizando toda a raiva que tinha numa tentativa de ataque.
No entanto, por sorte pura, Philip reage a tempo e agacha-se a tempo, deixando a mesa atingir os cacifos. E a mesa deixa um bom estrago. Os cacifos ficam completamente amolgados e as portas ficam para dentro. Já não se podem abrir e tudo graças à raiva de um sobre-humano.
Mark: "Se me querias deixar vulnerável, falhaste. Apenas me deixaste com mais vontade de te matar."
Até Philip fica amedrontado. O seu plano foi todo por ralo abaixo. Isso significa que terá de arranjar forma de vencer um sobre-humano. Essa sim é uma tarefa praticamente impossível, mas terá de arranjar forma.
Philip: "Muito bem, bom saber que o nosso ódio é mútuo." 
Diz, ao mesmo tempo que se volta a pôr em pé.
Os olhos de Mark ficam cerrados. A raiva e determinação em matar uma pessoa, está tudo explícito naquele olhar. Philip também não fica àquem, decidindo encarar aquele monstro nos olhos. Lá estão dois homens co amor pela ciência, mas visões opostas quanto ao papel do homem no mundo. Ambos têm ódio um pelo outro, quer graças ao que representam, quer graças ao que fizeram. De qualquer forma, darão de tudo para decidir quem é o vencedor e, acima de tudo, qual das filosofias que defendem é melhor.
Philip: "Toma!"
Sem gastar mais tempo, Philip decide ser o primeiro a atacar. Lembram-se quando ele pegou em ferramentas que se encontravam em cima da mesa com rodinhas antes de atirá-la? Pois é, ele decide arremessar as 7 ferramentas que continha na sua mão, começando por uma tesoura.
*Zash* 
Arremessa a tesoura na direção de Mark. O problema é que Mark não tinha levado esta possibilidade em conta. Philip apanhou-o completamente de surpresa, não só em ser o primeiro a atacar, como também em optar por um arremesso. Teria que fazer algo e rápido, pois a tesoura rapidamente o atingiria. Não se lembrou de nada que o poderia deixar sem estragos. Teve apenas uma má ideia, mas que, no calor do momento, acabou por ser uma opção viável.
*Prasch*
Coloca a mão esquerda à frente da sua cara. O resultado: a tesoura perfura a sua mão de um lado ao outro. Sangue esvoaça e fica suspenso no ar até cair em menos de um segundo. Dói bastante, mas Mark retira logo a tesoura, sem utilizar a outra mão, pois esta segurava o bastão. Ele coloca a boca na pega e puxa para cima, retirando a tesoura. Fica muito sangue a pingar para o chão, mas ao menos ficou com uma arma a mais. Já para não falar que nem dói assim tanto como deveria, graças aos seus poderes. Mark tira a tesoura da boca, ficando na mão direita com o bastão e a tesoura na outra. Contudo...
*Zash*
Foi agora arremessado um bisturi. Mark já não se sente intimidado. Agora sabe o que esperar e, como tal, também como deve reagir de modo a minimizar os danos.
Pronto, o cientista balança o bastão horizontalmente e, com uma pancada, desvia o bastão para longe. Os seus reflexos e instintos permitem-no fazer coisas que nem o samurai mais treinado conseguiria. Cabe a si de aproveitar as suas novas habilidades ao máximo.
Philip tem ainda mais 5 ferramentas e continuará a atirá-los.. Como tal, os arremessos continuam e Mark continua a facilmente redurecioná-los para longe dele com o simples toque do bastão. Foi uma faca, mais uma tesoura, outro bisturi e, por fim, um descolador de Molt. Todos eles defletidos com facilidade até Philip ficar com um mísero bisturi de sobra.
É então que ele muda de estratégia. Percebe que os arremessos não estão a surtir efeito. Por muito que deteste, terá de tratar disto pessoalmente e de perto. 
Philip: "Vem cá!"
Ele vai em direção de Mark de bisturi na mão. Corre com raiva presente em cada passo que dá. Vai se aproximando do seu alvo cada vez mais. Quando o alcança, sabe que não pode vencê-lo. Não existe forma de um humano vencer a um sobre-humano. Já estava ciente disso desde que arremessou o primeiro utensílio, contudo, continuará a lutar. Lutará não porque acha que genuinamente pode vencer, mas sim porque prefere morrer a lutar pelo que acredita do que de joelhos para alguém que odeia. Philip não se ajoelhará.
Philip: "Haaa!"
O humano opta por uma pega reversa no bisturi que se encontra na sua mão direita. Opta pela surpresa em vez da eficiência. Balança horizontalmente a mão com o bisturi ao nível da cabeça do adversário, da esquerda para a direita, contudo, Mark esquiva-se dando um passo para trás. Tenta outra vez, desta vez balançando da direita para a esquerda ao nível do estômago do adversário, mas Mark esquiva-se dando outro passo para trás. 
Aquelas tentativas de ataque não surtiram efeito algum. Contra uma pessoa normal, talvez tivesse conseguido causar algum dano, mas, contra Mark, não tinha hipótese alguma. É como se ele já soubesse o que aí vinha. Na verdade, o que se passava é que ele já se estava a acostumar a estes novos talentos e, como tal, conseguia rapidamente reagir a cada golpe. Foi por isso que se esquivou efetivamente de cada golpe 
Já farto de que o inimigo tente desesperadamente tentar acertar um golpe, Mark decide que agora é a sua vez. Ele impulsiona todo o peso do seu corpo para a frente e acerta uma valente cabeçad em Philip. A força que lhe foi concedida pela solução ficou em total exibição neste golpe. Foi um impacto tão forte que deixou Philip zonzo. Sentiu a dor que os outdos sentem quando ele lhes dá com o bastão bastão na cabeça.
Philip: "Gha!"
Tão tonto ficou que perdeu o equilíbrio. Sem querer, começou a dar passos para trás. O desiquilíbrio não o permitia ir a lado algum. Andou para trás e andou, dando um total de 4 passos até ter encalhado em algo.
Philip: "Wow..."
Cai no chão. Não fica, porém, com o corpo todo no chão. Cai para trás, tendo ficado com o rabo e as partes inferiores no chão e costas e membros superiores em contacto com a poltrona. Pois Philip tropeçou em nada mais nada menos do que o cadavér de Tommy.
Agora o jogo virou. Mark é que o olhava de cima. Olhava-o com uma cara de felicidade e prazer. Estava a adorar atormentar aquele assassino. Queria vê-lo sofrer mais. O homem que matou Tommy e o tem irritado por anos merece mais. Só mais uns minutos.
Mark: "Que foi? Tens medo?"
A cara não abria espaço para enganos. Philip tinha atingido o ponto mais baixo. O seu plano foi todo por ralo abaixo. Nada do que preparou correu como devia. Agora, está aos pés de Mark, ao lado da pessoa que matou. Isto é um castigo?
Começa a sentir o desespero e o medo a tomar conta de si. A esperança vai se evaporando até não restar mais nada que não seja incerteza e maldade. A pressão começa a aumentar.
Não pode desistir agora. Se o fizesse estaria a ir contra o que defende e isso é um ponto a que não quer chegar, nem morto. O que fará então?
Mark: "Andas muito parado, Philip. Nem parece teu."
Diz, após andar para a frente e chegar a aproximadamente 1 metro do oponente.
O inimigo também não auxilia. Todo o mundo parece estar a observá-lo. Todo o mundo quer saber a resposta. Todos querem saber o que fará.
As provocações de Mark estão a surtir efeito. Philip começa a suar. Precisa de fazer algo, mas não tem coragem para nada. O que será? O que fará? 
O tempo está a contar e Mark farto de esperar. O assassino agarra no bisturi com força. Está pronto para agir, só não decidiu o quê. O súor chega-lhe até ao queixo. Ele ergue o bisturi ao nível do seu pescoço. Quer agir, mas quer fazê-lo por obrigação. Pode não surtir efeito ou prejudicá-lo. Está incerto, incerto, mas precisa de fazer algo.
Mark: "O que será, Philip?" 
A espera está a chegar ao fim. A gota de súor no seu queixo está prestes a cair. Tem pouco tempo e precisa de agir rápido. Completamente pressionado pelo ambiente e oponente, Philip decide o que fazer. Por muito que não esteja seguro na sua próxima ação, irá fazê-la. Então, no momento em que a gota de súor cai e atinge o chão, o ex-cientista movimenta-se.
Philip: "Como queiras..." 
Ele debruça-se para a frente, colocando a barriga e as pernas em cima do cadavér de Tommy e espeta o bisturi na sua mão direita no pé esquerdo de Mark.
O adversário não grita. Sente alguma dor, mas, para além de uma cara feia, o golpe não o afetou muito. De novo, aquelas novas habilidades parecem estar a auxiliá-lo. 
Em resposta, Mark dá um pontapé em Philip com o pé esquerdo, acertando com a pega do bisturi no olho de Philip. Afunda bem no glóbulo ocular esquerdo do oponente, causando algum sangramento no local e impulsionando o oponente para cima, deixando-o sentado em cima da poltrona.
A força e intensidade presente nos golpes de Mark é fora deste mundo. São ataques capazes de não só ferir bastante o adversário, como também de tirá-lo do lugar e posicioná-lo precisamente onde deseja. Desta vez, o pontapé feriu consideravelmente o olho esquerdo de Philip e levou o oponente, que se encontrava em cima do cadavér do seu chefe, para cima da poltrona. 
Philip estava sentado no cadeirão, bastante atordoado do golpe e com o olho a sangrar. Mark não desperdiça tempo algum. Após ter cuidado para não danificar ou pisar no cadavér do seu querido chefe e amigo, ele chega ao pé do assassino. De seguida, sem gastar mais tempo, ele enfia a tesoura que se encontra na sua mão esquerda no peito de Philip.
Philip: "Ahhhhh!"
Mark: "Shiuuuuu. Tem calma, ainda não acabei."
Com uma ideia em mente, ele arranca o bisturi do pé, enquanto Philip gritava e se contorcia de dor. Tinha ideia do que fazer com aquilo, mas ainda não era o momento certo. 
De qualquer forma, não pode ficar ali para sempre. O sofrimento daquele tipo tem que acabar. Já para não falar que o corpo humano tem o seus limites e que Mark já se começa a se sentir satisfeito. Também estará a fazer um favor a Philip.
Philip: "Ahhhh!" 
Mark: "Não te preocupes, acabarei com esse sofrimento em breve."
Usando os poderes e os dedos livres da mão esquerda livres de segurar o bisturi, ele puxa Philip pelo colarinho do uniforme. Vai puxando-o, de pé, com facilidade e leva-o até à parede. Philip consegue manter-se em pé, com muita dificuldade, mas a dor não se extingue, mesmo quando o adversário acaba por colocá-lo com as cotas na parede de concreto com força.
Philip: "Ahhhh!"
Mark: "Tem calma. Isto vai ser rápido."
Então, sem o mínimo de delicadeza, Mark enfia o bastão de aço com força no estômago de Philip. Enfia com tanta força que aquela arma perfura o corpo do assassino de uma ponta à outra e ainda perfura na parede, deixando Philip suspenso, colado à parede.
Philip: "Ohhhh! Agh! Alguém me ajude!"
Implora Philip, desesperado, repleto de dor e temendo pela sua vida.
Mark não poderia estar mais a borrifar-se para a dor de alguém. Imagina que a dor seja infernal. Afinal, ter uma tesoura no peito e um bastão de aço no estômago deve ser horroroso, especialmente quando são inseridos com uma força incomum. Contudo, não e o suficiente para o impedir.
Philip: "Por favor! AJUDEM-ME!"
Raios. Aqueles suplicos de ajuda devem ter ecoado pelas paredes. Em pouco tempo, alguém chegarpara ver o que se passa. Terá de se despachar. Para sua sorte, falta pouco. Só precisa de mais uma coisa para acabar com tudo.
Philip: "Para! Para com isto! PARA!!!"
Mark: "Sim, só mais uma última coisa."
O bisturi na mão esquerda. Está pronto para acabar com uma rivalidade de anos. Uma disputa estúpida de ideiais e provocações chegrá ao fim. Falta um último golpe.
Mark olha para a cara de sofrimento de Philip. O adversário já não aguenta mais um segundo. O cientista também não. Está empolgado, muito empolgado para sentir a vida a sair de uma pessoa que tanto tem desprezado. 
Ele ergue a mão, apontando a ponta do bisturi para a cara de Philip. Quer vê-lo a sentir medo do que vem. É isso o que mais quer. Mais do que matá-lo quer torturá-lo e humilhá-lo. Isso é algo que sente que conswguiu fazer com sucesso.
Muito bem, só falta o golpe final. Mark permanece firme, de olhar acerrado e raiva quase a desaparecer. É essa raiva restante que canalizará num último golpe. Ele espera um bocado. Olha para Philip a sofrer, pretendendo aproveitar os últimos momentos até que decide acabar com tudo.
Mark: "Foi bom enquanto durou, Philip."
Então, balançando horizontalmente, da esquerda para a direita...
*Slit*
Corta a garganta de Philip como se fosse manteiga. O ex-cientista começa a perder ar. O sangue infiltra-se nas suas vias respiratórias. É sufocado pelo próprio sangue e nada pode fazer. É assim que morre um criminosos e assassino que tudo fazia para mudar, mas que, no final, não conseguiu, por muito que tentasse.
Um homem chegou ao final do trajeto. Philip Marcolis era seu nome. E morreu da forma mais grotesca e desonrosa possível. Um final digno de uma pessoa que não era muito melhor do que a pessoa que tentou matar.
Pode tentar insultá-lo, mas não consegue. O sangue não o permite. Não o permite falar, respirar e viver durante muito mais tempo. Se calhar, o melhor é desistir. Sim, desistir. É isso o que Mark devia ter feito.
Fazendo o que o velho se recusa a fazer, Philip não resiste. Deixa que o sangue o envolva e lhe roube cada mísero espaço nas vias respiratórias. Por fim, reclina-se na parede de concreto e fecha os olhos. Ó que vida esta. Que vida esta que chega ao fim.
Podw morrer sem ter cumprido os seus objetivos e vingado os seus amigos, mas ao menos pode dizer que, desde o seu primeiro batimento neste mundo até ao último fólego de ar que saiu da sua boca foi verdadeiro consigo proprio. Verdadeiro até ao último fólego...
Philip: "..." 
Mark aproxima os dedos do nariz e boca de Philip e confirma. Acabou.
O seu serviço acabou. Está completamente satisfeito. Tommy deve estar a agradecer-lhe lá no seu. Pois acabou de matar alguém e sente-se muito bem.
Bem, hora de ir. Ele vira as costas a toda aquela violenta cena. Pega no frasco da solução e mete-a no bolso da sua bata competamente ensaguentada e abre a porta, mas encalha com alguém.
Nadia: "O que é que se passa aqui?"
Pergunta, mal Mark abre a porta.
Contudo, aquela pergunta deixa de estar só. Ao ver Mark e o estado em que está começa a ficar doente só de olhar.
Porquê? Porque é que a sua bata está completamente ensaguentada? Porque é que a sua cabeça está com pequenso furos e o seu cabelo parece pintado de vermelho? E a mão dele está furada?
Nadia: "Mark...diz-me o que é que aconteceu?"
Mark: "É melhor ires ver."
Assim, ele sai da sala, dirigindo-se ao seu laboratório, deixando Nadia sozinha para descobrir o que aquela sala aguardava.
Ela fica sem o que responder. Tanta coisa nova ao mesmo tempo que é difícil parar para se fazer tudo o que se quer. Contudo, precisa de entrar, por muito medo que tenha e é isso que ela faz.
A porta fecha-se com a sua entrada. Deixo à vossa imaginação o que ela pensou ao lá entrar, mas fiquem a saber que, segundos após a sua entrada, apenas se ouviu...
Nadia: "Ahhhhhhhh!"
Um grito de terror.

Mark vai até à sua sala, passando por vários cientistas no caminho. Todos o olhavam com olhar de terror e de estranheza. Muitos faziam de tudo para não vomitar. 
A confusão estava instaurada. Alguns até se tentavam esconder, temendo que ele os fosse magoar. Porém, Mark estava completamente tranquilo. Feliz até.
Ele entra no seu laboratório e pega em todos os arquivos. O seu caderno de apontamentos e uma caneta. É tudo o que precisa.
Tendo o que precisa dali, decide ir embora. Está bem ciente do que fez e das consequências que trará. Não pode voltar à sua vida normal. Está longe do normal. A partir de agora, não passa de um criminoso, por muito que lhe custe. Mas parece que aceitou a realidade rapidamente.
Ao passar pelos cientistas que continuavam a tentar evitá-lo, de medo, começa a assobiar. Assobia de felicidade e de satisfação. Pode não conseguir voltar à sua vida normal. Pode não vir a ver Kale e Ruis outra vez, mas ao menos ficou feliz e viverá satisfeito.
É deste modo que Mark sai da instalação. Vai assobiando de felicidade e satisfação, não se arrependendo de nada do que faz e olhando com esperanças para o futuro. 
Tanta é a felicidade que nem se apercebe que o seu flip phone tocava. Era Ruis que tentava contactá-lo.
Contudo, nada parecia atingir Mark. Nada o acordava para o mundo. Para o cientista, naquele momento, todo o mundo cantava a mudança e o seu assobiar era apenas um pequeno instrumento nessa sifonia. 

Assim, a história acaba. A narração dos acontecimentos parece ter chegado ao fim. Mesmo com tantas perguntas para responder e com tantas perguntas no ar, Mark finaliza, dizendo:
Mark: "Foi assim que tudo aconteceu."
Porém, aquela história não parecia completa. Faltavam certos elementos. Por exemplo, ele não contou como se juntou à organização da "Doença" ou como os descobriu, em primeiro lugar. Todas essas questões e lacunas na narrativa levaram Mathias a perguntar:
Mathias: "Só isso?"
Mark: "Mas é claro. É o fim da história. O que é que poderia faltar?"
Inquire-o, sabendo claramente do que ele fala. As suas verdadeiras intenções não conseguiram completamente oculatadas, tanto que o segurança de cela conseguiu lê-lo e continuar a conversa.
Mathias: "Não te finjas de estúpido. Este não é o fim da história e tu bem o sabes."
Mark: "Quer dizer, é o fim desta parte da história."
Responde, com uma desculpa esfarrapada que demonstra o quanto se diverte a falar com ele.
Mathias: "Agora estás apenas a distorcer as tuas próprias palavras."
Mark: "Tem calma, nem me deixaste acabar a história e já estás a fazer julgamentos."
Mathias: "Então sempre admites que não contaste tudo."
Mark: "Sim, de certa forma."
Nem finge que está a gozar com a sua cara. Esta brincadeira está a ir tão longe que o segurança até começa a pensar que aquela história foi toda inventada na hora e não passou de uma perda de tempo. Pelo menos é o que aquele ex-cientista dá a crer naquele momento.
Mathias está a dar em louco com aquele homem. Espera mesmo que a Fundação lhe dê um aumento após aturar aquele tipo. Agora que pensa, o dia ainda agora chegou a metade e já se encintra cansado. A sua respiração ficou pesada e a garganta arranhada. Vejam bem o que aquele cientista maluco lhe fez com palavras.
Mark: "Ok, admito, talvez esteja a gozar demasiado consigo."
Diz, quase que se desculpando, ao ver o rosto cansado do guarda. Por muito que não goste muito dele, sabe que Mathias é a sua única companhia, sem o qual morreria de aborrecimento. É preciso valorizá-lo.
Mathias: "Ei. Já entendi como deixaste de ser alguém normal e te tornaste num maluco, mas ainda não descobri como te tornaste o cientista de uma organização que trabalha com o sobrenatural. Pergunto-me como foi isso."
A curiosidade é evidente na sua voz. O cansaço também, embora este pareça ter desaparecido mais. Aquele guarda, aquele segurança, tem realmente interesse nele próprio, tem realmente interesse em conhecer mais a pessoa que é Doutor Mark.
Isso dá um sentimento esquisito ao cientista. Mesmo tendo estudado o mundo e o corpo humano, nunca sentiu algo do género, muito menos conhece o nome desta sensação. É uma mistura de felicidade com amor e estar apaixonado. Sente-se bem, acima de tudo.  
Gosta do que está a sentir. Não sabe o que é, mas gosta. Gosta tanto que chega a sorrir. Ele abraça o sentimento que o seu coração traz. Sim, é bom. É bom saber que alguém tem interesse por nós. Especialmente quando somos um assassino desprezado por todos, é bom saber que existem pessoas que se interessam por nós e não querem ver a nossa cabeça num espeto. 
Talvez seja por isso que se sente seguro a confideciar-lhe toda essa informação. Isso e porque se vê naquele segurança. Identifica-se bem com aquele olhar de pessoa desprezada por todos, mas que quer fazer o bem e deixar a sua marca no mundo, pois o próprio Mark foi e é alguém do género. E de todas as pessoas no mundo, a coincidência que foi para Mathias, uma pessoa muito parecida consigo próprio, ser o seu segurança de cela pessoal. Calhou-lhe a sorte grande, uma vez que poderia ter calhado alguém bem pior.
Sim, está agradecido por lhe ter calhado alguém como Mathias. É um bom rapaz. Um rapaz que lhe lembra de si próprio, sendo por isso que parece ter algum empatia por ele. Pois é, empatia. Até mesmo uma assassino a sangue frio parece ter alguma humanidade, lá nas profundezas escuras e frias dos seu coração. Pelo menos de momento, Mark ainda não se tornou totalmente num monstro.
Mathias: "A forma como gozas comigo faz-me questionar se o que contaste sequer aconteceu, sabes."
A fease do segurança acorda-o para a realidade. Volta para a conversa inacabada, agora seguro quanto ao que fazer, ele responde-lhe com um malicioso e incomum sorriso no rosto:
Mark: "Fica tranquilo, tudo foi verdade. Afinal, porque é que haveria de mentir a alguém que me pode compreender?"
Mathias sentiu aquilo como um enorme elogio, por muito esquisito que pareça. Foi tantas vezes mebosprezado por outros que vê valor nas palavras de uma assassino. O ponto em que chegou. Enfim, já é tarde demais. Tarde demais para mudar os seus gostos e passado, pois, sem se aperceber, começou a deixar de se incomodar com a presença de Mark, agora que percebe que os dois compreendem-se. Isso é algo pelo que procurou quase toda a vida e nunca encontrou. Quem diria que seria vinso de um doutor maluco.
Mathias: "Tu consegues mesmo deixar alguém louco, sabias."
Diz-lhe, sentidno precisamente o contrário. A verdade é que está feliz por encontrar alguém como ele e que o pode compreender. Por isso, ficou com mais curiosidade, sempre sem deixar o seu ar de mauzão.
Mark: "Pois bem, a seguir ao almoço conto-te a próxima parte da história. Que me dizes?"
Mathias: "Sim, parece-me bem."
Mark: "Muito bem."
Assim, ficou tudo combinado para dali a uns minutos.