"O Rapaz do Fundo da Sala"- UP
Um novo aluno chega à Florida International School. Sern, um rapaz quieto que aparenta estar a ter dificuldades a encontrar o seu lugar na vida e que tem o seu interesse rapidamente roubado pelo seu colega de mesa: Brian, o rapaz do fundo da sala, que captou logo o seu interesse. Julgando-o portador de um segredo comprometedor.
Género: Drama, Ação
Dia 0
Gideon: "..."
Em silêncio, um rapaz contemplava o lado de fora da sala. Olhando atentamente para o portão verde da escola onde os pássaros pousam com o chegar da tarde. Enquanto os alunos estão todos enclausurados em salas de aula a levar...uma maçada.
Gideon: "..."
Com os olhos quase a fecharem.
Entediado.
Aborrecido com o que ouvia dentro da sala de aula.
Desinteressado do assunto que a professora trazia à tona.
Tal como todos os outros que faziam o máximo de esforço para não adormecerem. Apoiando o braço na cabeça. Ou simplesmente forçando os olhos a ficarem abertos para ouvir aquelas palavras que nem pareciam reais.
Ou podiam fazer como o rapaz no fundo da sala...
...podiam tal como ele....
...nem tentar prestar atenção às palavras da professora.
Professora: "Mas, na verdade, Kant descobriu que a ideia de Deus era tão, tão evidente que isso só poderia significar uma coisa...e ele fez o obséquio de o descobrir..."
Gideon: "..."
Ai! Quase que estava para adormecer com aqurlas palavras caras. Já não bastou a aula de educação física e ainda têm de levar com uma aula de Filosofia.
Ninguém, mas mesmo ninguém merece isso.
Nem os maiores idiotas e marrões como o Mern e Rupert.
Quanto mais ele e os bem comportados.
...
Professora de Filosofia: "E quando recuperou a ideia da sua existência como res-cogitans, ele..."
Ah, ainda por cima parece interminável.
Um castigo sem brecha para escapar.
Para o livrar desta seca só mesmo-
*TLIMLIMILIMLIMLIMLIMLIMLIMIMLIM*
*TLIMILIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIM*
Isto...
Gideon: "...?"
Professora de Filosofia: "E...Oh! Ok, pessoal. Pelos vistos está na hora."
*TLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIMLIM*
Diz, pousando o caderno na mesa assim que o toque acaba.
*TLIMLIMLIMLIM............*
Dando permissão para algo que Gideon nem esperava. Permitindo a todos em voz alta aquilo que o aluno considerava impossível:
Professora de Filosofia: "Muito bem. Não se esqueçam do teste para segunda e vemo-nos na sexta, depois do feriado de Ação de Graças. Ok?"
Passando a deixa para os alunos que parecem ganhar uma nova energia nos seus olhos. Incluindo nos de Gideon que ficaram eletrizantes ao se aperceberem que, por hoje...
...as aulas tinham acabado.
Alunos: "OK, PROFESSORA!!!"
E numa grande confusão todos imediatamente se levantam. Puxando as alças das mochilas agressivamente só para sair dali o mais rapidamente possível. Saindo a correr para a porta.
A professora também começa a arrumar as coisas enquanto os seus alunos visivelmente apressados correm até à porta da sala. Abrindo-a e saindo para a liberdade.
Alunos: "Wooh! Bora!"
Conversas indistintas na correria: "Vemo-nos na sexta depois do feriado!!!"
Conversas ecoadas vindas do corredor: "Tchau, vemo-nos no treino de vólei!"
Alunos a correr da sala: "Com licença! A minha mãe está à espera!"
Foi como num piscar de olhos que o clima mudou logo. Num piscar de olhos que começou a movimentação que não viria a acabar tão cedo.
Gideon: "..."
Bem, com isto, já foi o Mern.
Foi o Rupert e os seus outros dois amigos idiotas.
Foram embora ou preparavam-se para sair todos os outros. Guardando cadernos, estojos, lápis e canetas. Até a professora se arrumava para agora pegar na sua maleta e se pôr a andar por meio dos seus alunos.
Vendo isso, Gideon também percebia que não podia demorar.
Então, ele acordou para a vida depois daquele sono profundo.
Gideon: "Certo..."
Ele próprio reúne os pedaços de papéis desorganizados na sua mesa num monte que está mais apresentável. Reúne também os lápis de cor soltos que usava para fazer desenhos em aulas mais secantes, mas que não o deixassem sonâmbulo, como a de Filosofia.
Tudo isso e mais alguma coisa são reunidos na mão para, ao monte, serem largados para a mochila da forma mais despreocupada possível. Pois a única coisa que importava era sair dali.
Por isso, agora que a sala tinha ficado mais vazia, ele segura na mochila e põe-na ao ombro. Desloca-se num passo apressado até à saída que peva ao corredor que parece ter esvaziado.
Ele chega à porta e-
Voz de trás: "Gideon."
Gideon: "Huh?"
Mesmo quando estava prestes a sair, ele julga ouvir algo.
Algo que se parece com uma voz.
E uma que está a chamar por si.
Gideon: "..."
A sala estava praricamente vazia.
Sobravam os mais lentos ou aqueles que trqziam mais coisas.
Como era o caso do Nymer que arrumava os seus cem blocos com apontamentos para cada disciplina.
Como Gideon que demorou para perceber que tinha chegado a hora para sair.
Ou como...
Gideon: "..."
O rapaz que chama por si.
O rapaz que se encontra atrás de si como se fossem amigos próximos.
O rapaz de sorriso pouco apropriado à ocasião.
O rapaz do fundo da sala...
Brian: "Gideon. Desculpa lá interromper-te. Especialmente agora nesta véspera de feriado."
Ele que raramente se levantava da sua mesa, quanto mais abrir a boca em sala de aula ou...ou mesmo durante os intervalos.
E agora...estava a falar? Consigo?
E falava como se tivesse alguma coisa no fundo da garganta. Algo que queria tirar dali ao fazer-lhe uma questão, num gesto incomum e tão, tão pouco habitual para aquele espaço.
Numa voz que se ouve tão raramente...
Com uma presença que, por si só, já é de se estranhar, o rapaz, sem escrúpulos...
...fala...
Brian: "Ah, e já agora...espero que não tenhas ninguém à tua espera nem nada, quanto mais um compromisso. É que isso é a última coisa que eu queria."
Diz, de modo educado, numa voz que é poucas vezes ouvida. Num modo tão bem posto que Gideon. mesmo sem saber o que pensar, se sente obrigado a responder.
Gideon: "Oh, Brian. Erm, c-compromisso? N-Não. Não te preocupes. Está t-tudo bem. Tudo bem. Tudo bem mesmo. Mesmo a sério..."
Brian: "Hum. Bom saber."
O rapaz sorri e fala-lhe de forma mais amigável.
Brian: "Olha, eu sei que tu tens a tua vida e tal. Deves ter coisas a fazer e que tens a tua mãe à espera. E sei que isto vem de última da hora, mas..."
Gideon levanta a sobrancelha, estranhando toda aquela interação. Quanto mais o que dali está por vir com toda aquela antecipação:
Brian: "É que...eu queria saber se tu, caso tenhas e me me queiras dar..."
O rapaz permanece firme, embora pareça ter dificuldade em tirar aquelas palavras da sua garganta.
Enquanto Gideon permanecia perplexo até ao último segundo, sem saber o que dali estava por vir...
Sem saber o que ele ia pedir:
Brian: "Eu só queria saber se não te importas de me emprestar um lápis, por favor?"
Gideon: "..."
Lápis?
Um lápis?
Um lápis.
Lápis.
Isso quer dizer que isto tudo foi por um lápis?
Huh, ok.
Estranho, mas, ok. E dez vezes mais inofensivo e anticlimático do que esperava. É que é um pedido que o apanhou tão desprevenido que só lhe permitiu falar segundos após o pedido e a boca abriu para dizer:
Gideon: "Lápis?"
Inquire-se, como se estivesse a tentar falar consigo próprio. Tentando acreditar no que tinha ouvido que, por sua vez, foi bastante diferente das suas expectativas, mas completamente dentro das de Brian, o que o faz estranhar aquela desconfiança presente nas entrelinhas.
Brian: "Er...sim, um lápis."
Reafirma-se fortemente questionando-se o porquê daquela reação por parte do seu colega ao ter pedido-
Gideon: "Um lápis.................................................C-Certo."
Brian: "Er, afinal tens ou não?"
Gideon: "Ah, tens razão!"
Gideon passa a mochila das costas para a frente. Abre o fecho e afunda lá a mão. Ele abana a mão várias vezes. Acompanhando o seu movimento no interior da mochila. Ao passar por papéis. Canetas. Lápis. Mais folhas e...
...espera aí...
Gideon: "Aqui!"
Ele estende o braço para a frente. Segurando na mão o tal lápis, de modo confuso. Uma oferta que é irrecusável para Brian. Afinal, embora não entenda a estranheza com que Gideon cooperou, ele sempre tem o que queria à sua frente.
Brian: "Ok, boa."
O rapaz pega no lápis sem relutância alguma. Coloca-o no bolso e ajeita a mochila novamente nas costas.
Como se tivesse algo a mais para fazer.
Comos e estivesse mais atarefado do que pensava.
Como se para dizer que dali já tinha conseguido o que queria.
Brian: "Fixe, nesse caso...de qualquer forma, muito obrigado."
Gideon: "Sim, de nada."
Diz, dando a entender que ainda não recuperou desta interação tão anticlimática. Desta interação tão estranha e...
...incomum.
Brian: "Bem, eu vou andando."
Percebendo que o clima começava a ficar pesado, o rapaz do fundo da sala põe-se a andar.
Passa à frente de Gideon com todo o cuidado e segue em frente. Novamente, sem escrúpulos. Apenas estranhando o porquê daquele olhar de Gideon que o julgava tão cruamente.
Aquele olhar que ainda o persegue, mesmo estando no corredor a andar por entre outros alunos.
Mesmo assim aquele olhar persegue-o. Segue-o nas suas costas. Como forma de Gideon tentar decifrar o que acabou de ver. O que acabou de presenciar. O que acabou de lhe dar...
Gideon: "..."
Mas não passavam de isso:
meras suspeitas.
Algo que, no fim do dia, não amontoava a nada.
Apenas ilusões que podia estar a criar.
E por isso, ele decide seguir.
Retirando o olhar de Brian.
E pondo-se também a caminho.
Porque a sua mãe já deve estar farta de esperar.
Mas...
...quando ele perdeu o interesse nele e decidiu esquecer o acontecido...
...também se esqueceu do que estava a deixar escapar...
...das pistas que lhe tinham escapado durante toda esta conversa.
Brian: "..."
Que este rapaz.
Brian: "..."
Que agora saía da escola com a sua mochila nas costas.
Brian: "..."
O rapaz do quieto do fundo da sala.
Brian: "..."
...
...
...
Brian: "..."
Ele que era muito mais do que um rapaz esquisito.
Brian: "..."
Calado.
No caminho para casa.
Passando no passeio das ruas iluminadas por meia dúzia de postes. Isso se eles funcionassem e a Câmara se lembrasse de os consertar. Mas, por sorte, hoje, sempre teve alguma iluminação no longo e lento caminho até casa.
Um caminho tão longo que, embora tivesse saído da escola de tarde...
...só chegava a casa de noite.
Casa essa que, por sinal, está muito próxima.
Sendo que agora chegou a um bairro. Um bairro pobre. Pobre mas familiar.
Afinal, é esse o bairro onde vive.
Um dos piores em toda a Flórida.
Local esse que parece estar a ser tão afetado pelo crime como qualquer outro ou até um bocadinho melhor...
A rua encontrava-se vazia. Como já esperava a esta altura do dia. Mesmo agora que o sol se punha, mostrando-se avermelhado e quase...escuro como a noite.
Mas decerto uma visão comum.
Especialmente no inverno e a estas horas do dia.
Por isso é que ele continua a andar ao lado de pedaços de lixo no chão e pelos postes de luz, mas sempre, sempre com os olhos adiante.
Importando-se só com o destino.
Não com a jornada.
Por muito que caminhe numa rua onde, afinal, está uma pessoa.
Uma pessoa que se encontra em pé.
Fixo e imóvel.
Até que bem fortinho e com uma altura acima do normal para o que parecia ser um adulto.
...
A observá-lo, de mãos nos bolsos.
...
De forma estranha com intenções ainda mais estranhas, mas...
...aquela era uma figura já recorrente...
...que o deixava irrequieto, mas não o suficiente para o fazer mudar de curso principalmente quando tem outras coisas em mente...
...uma preocupação que, por enquanto, olha de lado enquanto passeia...
...uma preocupação que ele deixará para outro dia, quando as coisas se tornarem mais graves, mas que...
...certamente pode ser a vir problemático.
Brian: "..."
E com isto tudo, sem se aperceber, ele já tinha chegado.
Brian: "..."
Tinha dado os últimos passos.
Já andava ao lado da casa vermelha abandonada à direita da sua e com mais uns passos que deu inconscientemente...
*Tlac* *Tlac* *Tlac*
...já lá estava.
Em casa.
Ele vira-se para a direita e confirma a própria chegada.
Vendo diante de si o que já esperava.
Uma casa branca como o leite.
Contrastando com o telhado vermelho de sangue.
Uma casa sem escadaria, tal como as outras.
Com a pintura a sair.
Decaindo com o tempo.
Com escuridão a vir lá de dentro.
Com poucas janelas e as que já existem, ou se encontram partidas ou bastante sujas.
Era uma casa cheia de vida.
No passado era.
Uma casa que brilhava em outras noites, mas, como é possível ver, hoje, permanece infiltrada na rpópria escuridão do ambiente como se não quisesse ser notada...
...como se nem existisse.
Brian: "..."
Porém, tivesse o aspeto que tivesse, fosse como fosse, tivesse o passado que tivesse...
...aquela ainda era a sua casa desde criança.
Brian: "..."
Ele nem tem tempo para pensar ou fazer fosse o que fosse. Pois ele locomove-se em segundos em direção à porta sobo olhar daquele estranho. Passando pelo passadiço de cimento e ao lado da vedação branca partida para chegar à porta.
Porta essa que, sem emoção alguma, abre.
Brian: "..."
Chegando assim no seu lar depois de um típico dia de aulas.
Vendo mais uma vez aquele imundo e ao mesmo tempo acolhedor espaço. Vendo mais uma vez aquela casinha comum com dois pisos, um quarto, casa de banho e...aquela sala de estar.
Suja, a precisar de uma boa limpeza. Com comida por ali espalhada. Lixo envolvido no meio disso tudo. Bloqueando um pouco o caminho para o sofá, a cozinha atrás do mesmo e as escadas que levam ao seu quarto.
Mas aquele lixo não foi sua culpa...
Não, porque Brian até dá o seu máximo para organizar tudo...
A culpa é do seu colega.
Homem Inumano: "Brian, estamos bem?"
Brian: "...----"
O colega que apareceu agora sem avisar. Que apareceu como em qualquer outro dia com...uma aparência...tão...tão...tão incomum que Brian não estranha nem um pouco.
Que acha algo normal...como o facto de ele ter surgido do nada para se materializar na sua frente...vindo do nada para...num piscar de olhos se encontrar diante do rapaz.
Brian: "Caramba, Springer...Podes ao menos fazer o obséquio de me avisares..."
Homem Inumano: "Ok, ok. Mas...'obséquio'? Essa é nova. Especialmente vindo de alguém que, segundo o que vejo, anda os dias sempre caladinho de poucas ideias no seu cantinho."
Brian: "O que posso dizer...afinal sempre ficam algumas coisas das aulas que me entram inconscientemente..."
Responde ao homem que conhece melhor do que ninguém, ao homem com quem vive, ao homem que, ainda assim, é tão...esquisito.
...
Brian: "..."
Homem Inumano: "..."
Um ser que, de um lado era humano e do outro não.
E digo isto num sentido literal.
Porque esta pessoa, este tal de Springer, vestia de um lado...
...uma roupa confortável, um casaco cor laranja a cobrir uma camisa de fato de treino, uma vestimenta usada habitualmente por homens que trabalham nas obras, meros operários normais...
Mas...
...
...
...
...do outro lado do corpo do homem branco...
...
...do outro lado estava o problema...
...
...
...uma vez que nesse lado...
...quase simetricamente...
...ao invés do resto do casaco e da outra metade da sua face...
...
...
...ao invés de tudo isso...
...
...ele tinha uma espécie de película azul a cobri-lo.
Da ponta do sapato que de um lado é preto e do outro é azul ao cimo da cabeça que parece mais que foi pintada de um lado, juntamente com o resto da sua pele, o resto do seu corpo que...
...embora esteja desiquilibrado, desigual...
...não parece incomodar Springer.
Homem Inumano: "Ok, de qualquer forma, acho que sabes o que vou dizer, não é?"
Diz, depois daquele silêncio constrangedor que desaparecia com esta sugestão misteriosa que Brian entendeu perfeitamente...
...com esta referência a algo importante para ambos...
Brian: "É...quanto a isso...acho que deves ter visto que ainda não encontrei a resposta. Mesmo depois de todo este tempo..."
Homem Inumano: "Apesar de tudo, hã..."
Brian: "Apesar destes nossos métodos, sinto que o objetivo está longe..."
Homem Inumano: "..."
Brian: "..."
Pelos vistos, a resposta que Springer e Brian queriam ainda estava longe, porém, isso não causou mais do que um temporário silêncio. Um rápido momento de mudança que levou à conclusão esperada...
...à conclusão habitual...
Homem Inumano: "Bem, nesse caso, acho que não há mais nada a dizer."
Brian: "Sim, mais nada mesmo..."
Homem Inumano: "Nada...quer dizer...até tenho uma última coisa a dizer."
A sobrancelha de Brian é levantada logo em reação ao que entrava nos seus ouvidos. O rapaz claramente estranha aquele pedido que quase nunca acontece.
Brian: "? Última coisa? Queres pedir-me algo?"
Ele pergunta numa enorme suspeita do que vem da boca de Springer.
Homem Inumano: "É...pode-se dizer que é um pedidinho. Mas um que acho que também é do teu interesse. Relativamente a algo que nos tem vindo a incomodar aos dois."
Brian: "Espera aí..."
Nem foi preciso dizer mais nada. O problema em questão era tão recorrente que o rapaz ligou os pontos. E de um segundo para o outro, Springer tinha sido poupado trabalho.
Brian: "Não me digas que te referes ao tipo que anda aí o rondar o quarteirão."
Diz, visivelmente incomodado com o assunto.
Homem Inumano: "Exatamente. O mesmo que leva um punhal no bolso."
Brian: "Caramba...ele é mesmo persistente."
Homem Inumano: "Diria que o problema nem é esse. O problema é o que pode acontecer se ele me vir. Ou se sequer vir a descobrir as condições do que se guarda aqui dentro."
Brian: "Ah, sim, eu sei..."
Fala ao coçar a testa enquanto pensa na próxima pergunta.
Brian: "Mas...para me estares a dizer isto...Eu sei que ele tem ar de criminoso e de pessoa suspeita, mas...ele fez alguma coisa hoje para me estares a dizer isto agora? Porque ele já tem andado a rondar aqui o local por semanas."
Homem Inumano: "E é aí onde quero chegar."
Springer olha um pouco pela janela e verifica se o homem não está por perto. Tendo verificado a sua segurança, ele vai direto ao assunto.
Homem Inumano: "Hoje ele tem andado muito estranho. E lembraste do que nos teorizámos sobre ele ser um assaltante que anda aqui a estudar o ambiente antes de invadir uma casa? Pois...acho que é mesmo isso. Senão ele hoje não estaria constantemente no flip phone com alguém, como se lhe estivesse a passar pormenores e coordenadas. Informações do local do próximo golpe. E a pior parte disso tudo é que a casa em questão..."
Brian: "Oh, caramba, não me digas que..."
Homem Inumano: "Desculpa informar, mas ele esteve a olhar demasiado para aqui."
Brian: "Ui, mas é claro. Tinha mesmo que ser aqui!"
Homem Inumano: "Realmente...como se já não tivéssemos preocupações suficientes."
Brian: "Tchk."
O rapaz fica ainda mais visivelmente irritado com aquele problema todo que se insurgiu. Um que tem se andado a formar nos últimos tempos e que agora chegou no seu pico.
De qualquer forma, não tem muita opção. Isto estava para acontecer mais tarde ou mais cedo. Mais tarde ou mais cedo ele teria de ir resolver o problema. E parece que esse dia chegou...
Brian: "Que merda..."
Contrariado, ele vira as costas ao amigo. Tinha acabado de entrar e agora tinha já de sair. Ele bem queria que as coisas fossem diferentes e Springer também se sentia um pouco mal por isso.
Homem Inumano: "Eu sei que isto chateia. Mas não tenho opção senão entregar-te esta tarefa. Bem sabes que eu não posso correr o risco de ser avistado, mesmo que seja por segundos."
Diz ao seu companheiro que põe a mão na maçaneta para os salvar aos dois, fazendo o mínimo para se desculpar. Mas, mesmo com estes problemas, com esta raiva por aquele homem...por este incidente...o rapaz permanece sem raiva para com o seu amigo.
Brian: "Não. Sem problema, Springer. Eu sei que a culpa não é tua."
Assim o seu companheiro fica mais calmo. De certa forma satisfeito por ter um amigo como Brian e pelo que ele representa e está disposto a sacrificar por ele. Mesmo que isso signifique se expôr...
...se bem que...
...antes de partir...
...ele tem uma última coisa a dizer.
Brian: "Ei, posso só te pedir uma coisa?"
Pergunta inesperadamente ao seu amigo.
Homem Inumano: "Oh, ok."
Nem ele esperava algo do género. Contudo, já que chegaram até aqui não tem como negar-lhe o pedido:
Brian: "Nesse caso, faz-me este favor de volta...garanto-te que é mais do mesmo..."
Homem Inumano: "..."
Brian: "Certifica-te que ninguém está por perto para ver."
O rapaz abre a porta e sai. Ele fecha-a e olha para a frente. Movendo o olhar para a sua frente. Procurando por um bocado até mirar na pessoa ali ao fundo.
Brian: "..."
Lá estava o tal do homem.
Do outro lado da estrada.
O mesmo que viu ao andar no passeio.
O mesmo que tem visto nas últimas semanas sempre que ia de regresso a casa.
O mesmo que já deve estar habituado à chegada dos rapaz a estas horas, mas que...
...agora, observando ao longe aquela casa para ele tão comum...
...estranha o porquê de Brian ter saído se ele mesmo agora tinha entrado.
Porém...o rapaz não estava somente parado à entrada, olhando-o fixamente, ele agora também se movimentava.
Em passos firmes. Fortes. Plantava ele os pés no solo no que parecia ser uma busca por algo, por alguém que era aquele homem.
Homem esse que também sabia que tinha um rapaz a procurá-lo.
No entanto, ao vê-lo vir do passeio. Ao vê-lo atravessar a estrada, ele decide não recuar. Decide manter-se no seu lugar.
Até porque, considerem-no arrogante, porém...
...o que é que um rapaz poderia fazer contra um homem forte como ele.
Homem Adulto: "..."
Um homem que não treme perante a presença de ninguém. Muito menos perante um rapaz de mochila nas costas que se aproxima dele com a mania.
Homem adulto: "..."
Brian: "..."
Homem Adulto: "..."
*Tlac* *Tlac* *Tlac* ...
E assim os sons dos passos no asfalto cessam. Mal Brian alcança aquele que procurava e para bem na sua frente sem dizer nada.
Homem Adulto: "..."
E para o compreender, decidiu olhar nos seus olhos.
Brian:
E viu logo a raiva nos olhos nítida. Até as suas intenções maliciosas. Nada de bom poderia sair dali. Isso ficou claro naquele breve instante em que eles trocaram olhares antes de Brian o confrontar:
Brian: "Com licença..."
Inicia numa voz que supri a raiva interior que sente.
Brian: "Espero não estar a incomodá-lo de todo, sabe."
Diz, numa forma logo muito educada. Estratégia essa que não funciona com alguém que sabe as suas intenções como aquele homem que, mesmo assim, decide jogar aquele joguinho.
Homem Adulto: "Oh, não, não. Isso não tem problema algum, rapaz."
Brian: "Hunf...é que até fico aliviado ao saber isso."
O miúdo esboça um sorriso com duplas intenções. Sinal para aquele homem que as coisas só estavampara piorar. Obrigando-o a acabar com aquilo rapidamente.
Homem Adulto: "Ok. Deixando isso de parte, posso saber o que quer?"
Brian: "Ah, mas é claro. Vamos logo direto ao assunto."
O rapaz aproxima a mão do bolso, num gesto arriscado.
Brian: "Antes de mais...posso só saber o seu nome?"
Jop: "Nome? Cá para mim isso é informação irrelevante, moço, porém...já que queres saber...podes tratar-me por Jop."
O adulto fica mais suspeito com esta pergunta e segura algo no seu bolso que não traz para fora, algo que usará caso isto dê para o torto...
Brian: "Certo, Jop. Bem, é que eu tenho te visto aqui há muito tempo. Tipo, diria há umas semanas. E andas sempre aqui a rondar o quarteirão e a olhar para as casas..."
Jop: "Porque não tenho mais nada para fazer. Sou um homem com demasiado tempo em mãos, podemos até dizer."
Diz, rindo forçadamente.
Brian: "Oh, que bom. Isso até que é algo raro de ver, especialmente em pessoas por baixo dos 60 anos. É que infelizmente eu e outros moços não temos essa sorte com todas estas aulas e tarefas por fazer. Eu, por exemplo, tenho teste de Filosofia para a semana, sabia?"
Jop: "Não, mas desejo-lhe toda a sorte para isso."
Brian: "Agradeço. Ainda por cima porque a matéria é bem complicadinha, então se preciso de sorte para algum momento no futuro breve só mesmo para esse."
Jop: "Claro. Para isso é preciso mesmo sorte. Muita sorte..."
Brian: "..."
Jop: "..."
O clima fica constrangedor. Apercebendo-se os dois que não confiavam um no outro. Que chegou a um ponto onde ambos aprontavam algo no bolso...só por precaução...
Contudo, neste silêncio perigoso que se formou, esta pequena batalha de egos que tinha ficado sem palavras, que o rapaz percebe que ficou muito tempo a rondar o que queria...
...que não pode perder mais tempo...
...a não ser que queira ser espancado até à morte pelo claro criminoso à sua frente.
Jop: "..."
Brian: "Certo. Nesse caso...acho que tenho de...ser mais frontal..."
Num ato arriscado, o rapaz, sem necessitar de reunir coragem, decide ir direto ao ponto.
Fazendo algo no mínimo perigoso numa situação do género.
Numa situação onde os dois descobfiam um do outro.
Onde os dois se preparam para o pior...
Nesse tipo de situação...
Temendo que as coisas podessem dar para o torto...
Foi aí que o rapaz sem medo algum tirou algo do bolso...
Jop: "..."
Estreitando a respiração do adversário e obrigando-o a apanhar ar.
Obrigando-o a agir automaticamente em autodefesa.
Obrigando-o a agir desesperadamente usando o recurso mais arriscado...
...tal como desejado.
Jop: "Nem penses."
Finalmente tirando a mão do bolso, o homem revela o seu punho encaixado no que parece ser um soco inglês.
Um punhal que ele aparenta estar sempre a usar escondido no seu bolso.
Um punhal que tem sempre por perto.
Um punhal que apenas revela nos momentos mais importantes.
Momentos como estes em que se sente ameaçado.
Jop: "Ghaaa!"
Impondo-se naquela rua vazia, ele ergue o seu braço direito no ar momentaneamente para ganhar impulso e, então, acabar com aquela brincadeira, mesmo que isso signifique bater num miúdo ao aterrar a sua mão sobre a cara daquele indefeso e já derrotado miúdo.
Quando...
Brian: "Que dó."
Ao tirar aquilo que trazia do bolso...
...revelando que não passava de um lápis...
...o rapaz estreita o olhar.
Ficando mais ameaçador.
E mesmo antes de ser atingido, com o lápis na mão, ele olha para a cara do homem enfurecido que está prestes a atingi-lo e diz-lhe:
Brian: "Dá mesmo pena saber que ias bater num adolescente por nada. Só porque o julgaste armado enquanto que, na verdade, ele só trazia..."
O punho fica a centímetros da cara de Brian...
Brian: "...Um lápis."
Então, o seu olhar perde a emoção.
Ele pega com mais força no lápis e estreita o olhar mesmo perante a violência. Afinal, ele não tinha nada a temer. Como demonstrou com a forma como reagiu...
Brian: "..."
Jop: "..."
E subitamente...
...com um sorriso de ponta a ponta...
...revela algo oculto.
Brian: "..."
Em um segundo o rapaz age.
Ele retrai o braço direito para o seu flanco, mesmo ao pé da cabeça onde ia ser atingido, desda forma...
*Paw*
...bloqueando o impacto do soco que não torceu o seu braço.
Não se fez passar percebido. Como se aquele golpe tivesse sido fraco. Como se o soco tivesse vindo de uma pessoa fraca e desarmada.
Como se o rapaz tivesse uma durabilidade acima da média...
Jop: "?"
Mas ele nem dá tempo para o oponente recém formado criar perguntas. Pois logo a seguir ele dá o seu contra-ataque.
Brian forçadamente pontapeia o pé do adulto com tanta força e causando tanta dor que não só o pôs de joelhos, perante aquele rapaz como o levou a gritar.
Jop: "Ahhhhh!"
O grito foi alto, porém não ao níveld e alarmar quem quer que estivesse em casa. Tal como Brian mediu cuidadosamente ao dar o pontapé claramente não pertencente a um humano normal, especialmente daquela idade.
Brian: "..."
Jop: "Ahhhhh!"
E dessa mesma forma ele decide acabar o trabalho.
Rapidamente.
Efetivamente.
Sem deixar o inimigo pensar ou sentir o que aconteceu.
Jop: "Ahhhh!"
Assim, ele volta a uma posição normal.
Como se nem tivesse levado um soco no braço direito.
Estendendo esse mesmo braço para a frente.
O braço cuja mão continha um lápis é posto mesmo ao nível da cara do inimigo em dor. Forçando-lhe essa visão enquanto Jop gritava.
Jop: "Ahhhhh!"
Enquanto Jop ainda gritava, olhando para o chão.
Jop: "Ahhhhhh!"
Naquele pequeno beco.
Onde estava o rapaz e o criminoso.
O rapaz do fundo da sala que tinha mais do que lhe aparentava.
Jop: "Ahhhhh!"
Esse mesmo que, de braço esticado, de cara séria e que soletrava desinteresse pela dor infernal que causava, dizia...
Brian: "Jop, olha para mim."
Jop: "Ahhhh!"
Brian: "Jop..."
Jop: "Porra!"
Brian: "Ei! Olha para mim!"
Jop: "Porra! Porra! Porra!"
Brian perde a paciência e agacha-se, mantendo a mão com o lápis na sua guarda.
Ele facilmente segura com a mão livre na cabeça indefesa do inimigo que gritava para baixo e força-o a olhar para si.
Fazendo com que nesse momento, ele perca foco na dor e ele se aperceba do que se está a passar.
Fazendo com que ele se acalme por um bocado ao olhar para a cara do miúdo.
Aquele adolescente que, muito cripticamente lhe olha nos olhos e...
...
...com que se aperceba do lápis à sua direita.
Lápis que o rapaz move para a sua frente...
...fazendo um ponto entre os seus olhos e...
...o lápis...
...
...tão estranhamente hipnotizante...
...
...
...que leva ao silêncio misterioso por parte de Jop...
...silêncio que só é quebrado com um mero pedido de Brian,
uma mera frase que ele soletrou de forma imperativa e lenta...
...tão hipnotizante como o lápis...:
Brian: "Olha para mim."
Jop: "..."
Brian: "Olhanos meus olhos."
E disso, para além de silêncio e mais calmaria vinda de Jop...
...veio um só pedido,
repartido,
intermitente, mas...
...
...objetivo:
Brian: "Nada se passou aqui. Tu não sentes dor alguma. Apenas sentiste que aqui não havia mais nada para ver e por isso puseste-te a andar. E foi apenas isso. E será apenas isso que vais contar ao teu chefe."
Jop: "............................."
Brian: "..."
Jop: "........................................................."
Brian: "..."
Jop: "........................................................................................"
E naquela troca de olhares morosa depois das palavras carregadas de poder terem sido proferidas...
Jop: "........................................................................................."
Só depois disso...
Brian: "..."
Jop: "........................................................................................."
Só depois disso é que o criminoso é tirado daquele estado de paralisia.
Brian: "..."
Jop: "..."
Só depois disso é que ele volta a piscar os olhos. Quebrando o contacto com os olhos de Brian e com o lápis que ele agora abaixa, tendo concluído aquela tarefa. O rapaz que se levanta e o observa de cima por uns segundos.
Brian: "..."
Como se estivesse à espera que algo acontecesse. Como se estivesse a prever algo que acontece constantemente e...
Jop: "Tá certo."
Realmente, algo ocorre.
Porque segundos depois o criminoso levanta-se.
E como se nada tivesse acontecido...ele ignora a criança e sai daquele beco.
E começa a caminhar pelo passeio a fora.
Começa a sair daquele local como...como...como se nada tivesse acontecido.
Como se as palavras proferidas pelo rapaz...
...tivessem sido absolutas e...
...o estivessem a controlar misteriosamente.
Brian: "..."
Jop: "..."
Pondo-se a andar dali por alguma razão. Deixando o rapaz sozinho no beco. Deixando-o só ali naquele local escuro.
Brian: "..."
Ele que terminou o seu trabalho.
Voltando a pôr o lápis no bolso.
Voltando ao ar neutro, cara de quem fez algo que, no grande esquema, é insignificante.
Ou, pelo menos, insignificante para ele.
Brian: "..."
Insignificante para o rapaz de nome Brian.
Ele que esconde muito mais do que parece.
Que revela possuir muitas mais capacidades do que uma criança normal.
Ele que guarda um segredo maior do que qualquer um imagina...
O Rapaz do Fundo da Sala.
Brian Gartner...
É ele com quem se devem preocupar.
Dia 1
...
E no silêncio começavam todas as manhãs.
Tal como deve ser.
...
Deitado na sua cama passada a ferro.
Calmo.
Com a respiração leve e quase impossível de notar.
...
Como se não tivesse qualquer tipo de preocupação no mundo até ouvir-
Voz masculina: "SEEEEEERRRRRNNNNNNN!!!"
Uma voz a gritar. Uma voz que vai à primeira e, caso ainda não tinha surtido efeito, ela volta à segunda.
Voz masculina: "ACCCOOOOOOOOOOOOOORRRRRRRRDAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!"
Sern: "... "
E aqueles gritos mais tarde ou mais cedo chegam aos seus ouvidos de adolescente. Travando momentaneamente a sua respiração para o fazer levantar do colchão cama e gritar de volta:
Sern: "JÁÁÁÁÁÁÁÁÁ VOOOOOUUUUUUU!!!!!!!!"
Voz masculina: " "
Cessando a voz que vinha de baixo, a voz do seu pai. E ao mesmo tempo obrigando-o a seguir caminho. Já que se levantou da cama, terá também de ir até lá abaixo.
Sern: "..."
Enfim, coisas banais.
Coisas a que Sern já se habituou.
Logo, o jovem decide não poupar mais tempo.
Ele levanta-se da cama. Amanha o cobertor reqyintado assim às pressas. Esfrega os olhos, tirando as remelas. Boceja consoante as suas necessidades e só então é que ele sai do quarto.
Vestindo o seu pijama cuidadosamente bordado. Vestindo aquela peça de roupa que para ele é insubstituível, ele segue diretamente para as escadas. Cuidadosamente descendo-as, degrau a degrau, acordando com cada passo até chegar.
Bruce: "Sern, filho."
Deparando-se imediatamente com o seu pai a vestir-se para o trabalho. Tirando o seu caro pijama de flanela e substituindo-o por um smoking que não lhe saiu barato, mas que lhe dá mesmo aquele aspeto de homem de negócios.
Sern: "Pai."
Felicita-o com uma palavra naquele ar trsitonho de quem queria ter dormido mais.
Bruce: "Bom dia. Tudo bem?"
Sern: "Sim, tudo."
Bruce: "Boa. É que hoje não há razões para estar triste."
O pai veste a peça de vestuário cuidadosamente e abotoa-se.
Bruce: "Alegra-te. É feriado."
Sern: "Pois. Eu sei. Dia de Ação de Graças. Mas...olha que não parece."
Bruce abotoa os botões todos e, mal o faz, aperceb-se logo a que o filho se refere de forma sarcástica.
Bruce: "Ah. Sabes como é. Hoje tenho de ir trabalhar na mesma. Sabes como é. O dinheiro não se faz sozinho. Se não fossem por estes pequenos sacrifícios, não chegaríamos onde chegámos."
Sern: "Lá isso é verdade."
O pai ajeita a gola e as calças negras que ficam a condizer, fazendo os últimos retoques.
Bruce: "E não te preocupes. Eu farei de tudo para chegar a horas do jantar. Estou ciente deste erro da minha parte e quero compensar-te. A sério, quero passar o máximo de tempo contigo."
Diz, emotivamente, como se quisesse compensar por algo que não conseguiu fazer no passado. Mas...esta mágoa, esta dor, também é partilhada pelo seu filho. Tanto que este responde na mesma letra, sentimentalmente:
Sern: "Não, pai. Não faz mal. Eu...eu compreendo. Compreendo o teu ponto. Por isso, não te maces e...vai dar o teu melhor. Eu esperarei o quanto for necessário."
Brian: "Já está."
Diz o rapaz, com a faca manchada de sangue na mão direita.
Brian: "Bem, acho que está na hora de voltar para casa."
O indivíduo está perante um cadáver, desmembrado e desfigurado. Foi culpa dele. Ele foi o responsável pela sua morte. Foi Brian quem combinou que se encontrassem no ginásio às 18 horas, após as aulas.
Assim foi. O rapaz chegou ao ginásio amplo e reluzente. Ele deu uns passos para o centro do espaço em questão e foi aí que, com um golpe surpresa, Brian o apunhalou e matou.
É pena. Afinal, a vítima nunca fora maldosa com ele. Que remédio. Teve que o executar para o seu bem.
Brian sai do ginásio, com passos que mancham o solo por onde passam com sangue. A sua camisola branca também está suja de vermelho. Todo o ato vem com as suas consequências.
Em pouco tempo, Brian volta a entrar na sala de aula.
A mesma sala em que adormece em toda a santa aula de filosofia.
É uma visão um pouco esquisita. Quer dizer, a sala está vazia e com as cadeiras de madeira em cima das mesas metálicas. Não há nem uma pessoa ali presente. Porém, ali estava alguém. Uma única pessoa. A senhora das limpezas. A mesma auxiliar que todos os dias vem limpara a sala, mal a última aula do dia acaba.
É má pessoa?
Não, mas é sempre ela a última a sair do edifício. Como tal, é sempre "usada" por Brian. Hoje não será diferente. Quinta-feira, 17 de outubro.
Brian: "Mais um dia, não é, dona?"
Fala Brian, aproximando-se da auxiliar, que se encontrava a limpar a sala com a mesma vassoura de sempre.
A senhora, para de varrer, mal ouve a voz do rapaz.
Foi isso o que Brian queria, ao falar: atrair a sua atenção. E conseguiu.
A auxiliar olha para Brian e vê o estado em que se encontra o aluno.
Blusa suja de sangue. Faca manchada na mão.
As suas calças até parecem normais, talvez porque a sua cor preta disfarça muito bem qualquer nódoa.
É uma visão esquisita. Ela sabe que o que está a ver é real, contudo, o cansaço não a deixa processar o que vê, pelo menos, por 5 segundos.
Brian: "Não se assuste, não lhe vou levantar sequer um dedo."
O quê?
Só agora é que o seu cérebro começa a acordar. Parece até que as palavras proferidas ligaram algo na sua cabeça com carência de sono. Seja o que for, a auxiliar finalmente apercebe-se da magnitude da situação.
A blusa.
Faca na mão.
Ele...
Brian...
Auxiliar: "T-Tu...o que fizeste?"
Pergunta a senhora com a vassoura na mão e visivelmente assustada.
Brian para, ficando perante a auxiliar. Ele parece tranquilo. Não aparenta estar nervoso.
O rapaz olha para os olhos da auxiliar. Ambos ficam a olhar para os olhos um do outro. Um contacto ocular súbito, mas difícil de evitar.
É aí, nesse preciso momento, que o rapaz, com os olhos colados ao centro dos lóbulos oculares da senhora, diz:
Brian: "Vai limpar a cena do crime no ginásio. Faz de tudo para que ninguém descubra que houve um assassinato. Tendo acabado o trabalho, quero que te esqueças de tudo o que aconteceu após as 18 horas da tarde, percebido?"
Ao que a senhora responde:
Auxiliar: "Entendido."
Como se os olhos de Brian a tivessem hipnotizado, a auxiliar sai da sala ainda suja, com a vassoura na mão e dirigindo-se para o ginásio, o local do crime.
Brian conseguiu, outra vez. Utilizando as suas habilidades sobrenaturais, conseguir-se-á safar do crime. Sempre assim foi e sempre assim será. Não será amanhã que a pobre auxiliar parará de ser manipulada.
Brian pega na mochila que deixara ao lado da sua mesa e coloca-a ao ombro.
Brian: "Trabalho feito, hora de ir para casa."
O caminho de volta foi bastante tranquilo. Desde o primeiro assassinato que traçou uma estratégia para chegar a casa sem ser avistado.
É bastante simples. Basta ir a uma hora em que ninguém na sua vizinhança está a sair ou a voltar a casa. Depois de muito tempo a estudar a rotina dos vizinhos, chegou à conclusão de que às 19 horas era o momento ideal.
Após caminhar no passeio por 2 quilómetros, ele finalmente chega ao destino. Brian vira-se para a esquerda e sobe a pequena escadaria que leva à entrada.
Então, de cabeça virada para a porta, uma voz próxima do rapaz pode ser ouvida:
Pessoa misteriosa: "Bom trabalho, Brian."
No seu lado esquerdo, de um instante para o outro, surge um homem bastante peculiar. Alguém que nem parece humano, ou sequer vivo.
Um homem que, pelo menos na sua metade esquerda, aparenta ser normal, vestindo calções e uma camisola branca. Todavia, no seu lado direito, o homem perde a sua humanidade. O que outrora fora normal, agora ganha características grotescas. A sua pele branca torna-se roxa, da cabeça aos pés.
Ele é um homem. Um que existe, mas à beira da morte. É um homem sem esperança.
No entanto, para Brian, aquela presença sobrenatural, para si, tornou-se parte do quotidiano.
Por isso, quase que ignorando as suas palavras, o rapaz, com a mochila ao ombro, abre a porta e entra em casa.
A televisão está ligada, como sempre. Desde a morte dos seus pais, tornou-se quase tradição. O chão está sujo e cheio de lixo. Pacotes de batatas fritas, latas de refrigerantes. Tudo isso e mais alguma coisa enchem o chão com lixo. Curiosamente, só há sujeira na sala de estar.
Brian passa por entre o lixo e todas as porcarias em cima do tapete e deita-se no sofá. Está mesmo cansado. Tão cansado que chega a fechar os olhos. Foi um dia duro: começou uma nova matéria a matemática de que compreendeu nada e continuou a estar cheio de dúvidas com aqueles exercícios dificílimos de físico-química.
Brian: "Ai, que cansaço."
Homem sem esperança: "E quando é que não estás cansado?"
Fala o homem, que agora se encontra dentro de casa.
Brian: "Tu és lixado, pá."
Homem sem esperança: "Ok, eu paro. Mas...brincadeiras à parte, quero dar-te os parabéns. A morte de hoje foi bem planeada, devo admitir."
Brian: "Obrigado, meu."
Homem sem esperança: "E não te preocupes, eu não fiz nada de mal aqui em casa, enquanto estiveste fora."
Brian: "Não precisas de dizer, eu confio em ti."
O homem dá um sorriso discreto, que ultrapassa a tristeza no seu coração.
Brian de tanto cansaço, boceja.
Brian: "Buahahahaaha!"
Homem sem esperança: "Estás mesmo estafado." Brian: "Pois é."
Homem sem esperança: "Então, acho que já está na hora."
Brian: "Realmente."
Homem sem esperança: "Vá, até amanhã, Brian. Ah, e não te esqueças de me dizer quando descobrires."
Brian: "Não te preocupes, eu digo."
Homem sem esperança: "Boa noite, Brian."
Brian: "Boa noite, esquisitóide."
Então, o homem desaparece, num piscar de olhos. Não saiu de casa. Apenas foi para o andar de cima dormir num colchão.
Antes de dormir, Brian começa a olhar para a televisão, curioso com o estado do mundo.
Na tela, a pivô do canal CMM fala sobre a mais recente notícia no mundo:
Pivô do noticiário: "Numa aldeia remota, há relatos do avistamento de um ser paranormal que não tem deixado os habitantes dormir. Esta criatura foi denominada por Noise e, embora não existam provas da sua existência, ele tornou-se infame nas localidades mais próximas."
Uma notícia curiosa. Parece que o mundo está mesmo de pernas para o ar.
Brian fecha os olhos e mesmo antes de cair no sono, comenta para si próprio:
Brian: "Hã, curioso. Parece que não sou o único anormal."
E, imediatamente adormece.
Nesse mundo dos sonhos, Brian começa a lembrar-se de tudo. Todos os acontecimentos que levaram ao presente.
Dia 2
Sempre fora uma criança normal. Adorava desenhos animados e dinossauros. Os seus pais nunca foram ricos, mas tinham dinheiro suficiente para lhe comprarem brinquedos e filmes. A televisão sempre encheu aquela casa de alegria. Juntos, em família, viam todos os tipos de programas. Desde jogos de futebol a notícias. Tudo era entretenimento.
Mas, para além de desenhos animados, houve um programa que marcou Brian em criança. No Halloween, Brian, acidentalmente, ao passar de canal em canal com o comando, acabou por se deparar com um filme de terror. Ainda se lembra bem do momento. Ver o assassino no filme, cujo único propósito era matar, a cortar a garganta a uma pobre moça. Brian ficou com pesadelos por várias noites. Porém, por muito medo que tivesse, a sua família sempre o confortava. Os seus pais eram um exemplo a seguir. Pessoas sem qual Brian não conseguiria viver.
Até que, num dia em que a família ia sair de carro para um piquenique, houve um acidente. O carro em que Brian se encontrava com os pais despistou-se e caiu de uns 20 metros de altura. Os dois adultos morreram. O seu pai e mãe foram gravemente feridos e morreram com o impacto da queda. Brian ficcou bastante ferido. Estilhaços de vidro atingiram o seu rosto e alguns até se espetaram no seu estômago. Contudo, nenhum dano foi significativo o suficiente para o matar.
Lembra-se bem do momento em que foi socorrido. Uma doutora, Carol, abriu à força a porta do carro que se encontrava de pernas para o ar. Ela olhou para o interior do veículo e notou nos dois adultos mortos, mas, acima de tudo, na criança. A criança estava viva, mas imóvel. Um médico pouco experiente até diria que a criança estaria morta, mas esse não era o caso. Carol sabia que a criança estava viva, por isso, aproveitando a sua elasticidade e flexibilidade, como mulher, tirou Brian do carro.
Carol foi na ambulância até ao hospital. Foi ela quem o acompanhou durante a viagem. Sempre atenciosa à pobre criança, que nem uma palavra proferia. O trauma era tanto que nem o deixava falar. Carol era o médico que mais se importava com ele. Não se sabe o porquê, mas adorava-o. Parecia até que se via no pobre miúdo. Seja o que for, aquela figura só se deparou com Brian naqueles dias em que ficou no hospital. Era ela a sua empregada. Era ela a única médica que ele via. Pode-se dizer que, naqueles dias, foi ela a sua mãe. Brian, que não falava com ninguém, começou a abrir-se com Carol. Parecia até que, nem que fosse por pouco, mas, se estivesse ao lado dela, a dor desaparecia.
Mas nem tudo dura para sempre. Brian, eventualmente, recebeu alta e pôde sair do hospital. Carol acenava-lhe, vendo-o partir no carro dos vizinhos. Brian, nervosamente, acenou de volta, mostrando que, por muito que estejam separados, estarão sempre juntos pelas memórias que formaram.
A herança dos pais foi-lhe deixada. Os seus vizinhos velhotes passaram a cuidar dele. Não eram más pessoas, mas era notável que só estavam a tratar de Brian, porque o governo é que os encarregou de tal tarefa. Já o miúdo, bem...ele estava perdido. Sem os pais, ficou sem um exemplo a seguir. Não tinha um propósito. Estava completamente vazio. Foi então que, no momento mais baixo, se lembrou do momento que mais o marcou: o filme de Halloween. O mesmo que lhe deu noites de pesadelos. Aquele filme com um assassino, cujo único propósito era matar. Uma ideia surge na sua cabeça. Pode ser um pouco maluca, mas se mostrar resultados, então...então, certamente valerá a pena. Quer dizer, hipoteticamente falando...pode ser possível. Será que...será que...será que, se matar, voltará a sentir-se vivo, voltará a ter um objetivo, um propósito?
Refletiu durante vários dias, até que chegou a uma conclusão.
Num dia em que os vizinhos que dele tomavam conta foram fazer compras, Brian aproveitou a sua ausência e pegou no martelo da garagem. Brian posicionou-se junto à porta e esperou que os vizinhos chegassem. Foi então que, mal a senhora abriu a porta, Brian acertou-lhe com uma forte martelada no crânio, matando-a. O vizinho, por sua vez, nem pôde reagir, pois levou um golpe direto na cara, que partiu o seu nariz e alguns ossos na cara. O senhor velhote caiu no chão, implorando a Brian que o poupasse e perguntando-lhe o porquê de suas ações, mas sem resultado. No fim, o senhor teve uma morte lenta e dolorosa, não resistindo às hemorragias e às lesões sofridas.
O tempo foi passando e Brian continuou a matar. Não parou até hoje e, muito provavelmente, não parará. O seu propósito na vida não voltou. Continua sem um rumo a seguir, mas, ao matar, sente que está um passo mais perto de descobrir qual o seu objetivo.
O desaparecimento súbito de inúmeras pessoas levantou suspeitas. Atualmente, a polícia faz de tudo para encontrar o culpado, mas sem sucesso. Os misteriosos poderes de manipulação humana de Brian têm-no ajudado bastante a ocultar os assassinatos. Às vezes, chegava a manipular pessoas aleatórias da rua, convencendo-os de que as notícias de desaparecimentos eram falsas. Uma tática que acabava por resultar, causando quase uma espécie de efeito Mandela na população, onde até as pessoas que viram uma notícia, começam a questionar-se se realmente viram. Ninguém descobriu sobre a verdade do que realmente acontecia, exceto uma pessoa: o homem sem esperança.
Pivô do noticiário: "Bom dia..."
A televisão acorda-o. Já não é a primeira vez que acontece. A culpa é sua por insistir em deixar a televisão ligada. Diz que lhe traz boas memórias dos tempos passados com os pais. Contra isso, o homem infetado nem o consegue contrariar.
Brian levanta-se do sofá, despenteado e a suar do peito e das axilas. Tem que se cuidar um pouco antes de partir para a escola.
Por isso, o rapaz sobre-humano sobe as escadas e vai até ao segundo andar. Vira à direita, ignorando o quarto do infetado ao cimo das escadas. Após virar, dá uns passos, entrando na casa de banho.
Homem sem esperança: "Bom dia, meu."
Diz o homem sem esperança, que se encontra na casa de banho a lavar os dentes.
Brian: "Bom dia."
O rapaz vai até ao lavatório onde Springer lava os dentes e tira a sua pasta de dentes e escova de um copo de plástico azul que conseguiu numa revista de brinde, em criança. Brian põe a pasta na escova e, em, antes que Springer acabasse, o rapaz já tinha os dentes limpos.
Homem sem esperança: "Uma coisa, Brian."
Vai perguntar o infetado, quando Brian está despido e pronto a entrar na banheira à direita do lavatório.
Brian: "Diz."
Homem sem esperança: "Hoje não vais comer o pequeno-almoço, pois não?"
Brian: "Já sabes como é, temos de economizar. Eu só como ao fim-de-semana, segunda e quinta. No resto dos dias, comes tu."
Homem sem esperança: "Ok, era só para confirmar."
Então, num piscar de olhos, o homem desmaterializa-se e teletransporta-se para o andar de baixo, de modo a saborear os seus cereais de mel e aveia.
Deste modo, sozinho na casa de banho, Brian entra na banheira e liga o chuveiro.
Brian está a correr no passeio. Para variar, está atrasado para as aulas. Contudo, a sua sorte são as suas habilidades sobre-humanas. Aos 13 anos, ao descobrir as suas habilidades de biocinese, descobriu que também possuia força e reflexos sobre-humanos. É por isso que, a correr, conseguiu chegar à escola em 5 minutos. Uma pessoa normal demoraria, no mínimo, uns 15 a 20 minutos para fazer o mesmo percurso à velocidade de corrida de um humano normal. Estas são as vantagens de ser sobre-humano. Deste modo, não importa o quão tarde saia de casa, nunca estará atrasado.
O rapaz leva uma t-shirt nova, pois a outra foi para lavar. Por volta de sábado, já estará pronta a usar, ficando limpa de sangue.
Em pouco tempo, chega a escola.
Chegou à Forida International College.
Trata-se de um colégio público. Como tal, Brian frequenta-o sem pagar nada. Na verdade, foi o próprio Estado que motivou Brian a continuar neste colégio, mesmo após o incidente que matou os seus pais.
Este colégio traz-lhe memórias passadas. Memórias que lhe trazem uma enorme dor no coração. São memórias que gostaria de esquecer. Adoraria esquecer as tardes em que a mãe o vinha buscar mais cedo. Ou aquelas tardes em que o pai o vinha buscar e trazia sempre um brinquedo no carro, como surpresa pelo seu bom comportamento.
São bons momentos, isso é inegável. O problema surge quando eles o lembram do que não tem.
Ainda assim, embora essa dor continue a existir, Brian já está mais acostumado com ela.
Brian aproxima-se da escadaria que leva até à entrada. Está vazia. Parece que, hoje, chegou mais cedo.
Antes de subir os degraus que levam ao corredor principal, Brian nota em algo diferente. Estacionado à entrada da escola, junto ao passeio que se localiza à direita da escola, está um carro. Um carro azul e pequeno. Nunca tinha visto um carro destes à entrada. Será uma visita? Um aluno novo? Não sabia e não demonstrava interesse em saber. Afinal, a sua preocupação, no momento, era chegar a tempo. Por isso, quase que ignorando a descoberta, Brian sobe as escadas, entra pela porta e adentra-se no corredor.
Já está na hora. Brian entra na sala de aula. Já lá se encontram alguns alunos, sentados nas suas respetivas secretárias. Uns conversam, outros fazem os trabalhos de casa que se esqueceram, outros preparam tudo para a aula que aí vem. Brian está completamente calmo. Ele vai até à sua secretária, poisa a mochila ao lado da sua mesa, como sempre faz, e senta-se à espera que a aula comece. O rapaz olha para o relógio, que se encontra acima do quadro branco que se encontra à sua frente. Faltam dois minutos. Estão a chegar os últimos alunos. Muitos estão a guardar as suas mochilas nos cacifos. Brian nunca achou muita utilidade em guardar a mochila num lugar escuro durante o resto do dia. É difícil de explicar, mas, sempre achou que a mochila e o seu segredo estariam mais seguros se ficassem ao seu alcance durante todo o dia. A sala parece que se encheu de um minuto para o outro.
*Pliiiiiiiiiiiiinckcckckckckck*
Dá o toque. Imediatamente, todos os alunos sentam-se nas suas respetivas secretárias. Pelo menos, aqueles que ainda não se tinham sentado. Todos têm um colega de mesa. Todos menos Brian. É o único que permanece sozinho. Não tem colega de mesa. Durante todo o dia fica preso em si. A sua única companhia é a sua cabeça e pensamentos. É uma realidade triste e só. Brian sabe disso, mas também sabe que, se não quer que o segredo vaze para os outros, é melhor manter-se longe de todos, pois nunca se deve confiar nos outros. São por essas e por outras que Brian é de poucas palavras, sendo o homem sem esperança, o seu único confidente e amigo.
Professora: "Olá, meninos."
A professora entra na sala. Mal os seus saltos altos dão o seu primeiro passo dentro da sala, todos os alunos se levantam da cadeira. Até Brian se levanta.
Professora: "Ora essa, não precisam de se levantar. Muito bem, podem se sentar."
Os alunos fazem como a professora pediu.
Professora: "Antes de começar a aula, tenho algo importante a anunciar."
Os alunos ficam com máxima atenção. Até parece que as suas orelhas estão mais abertas do que o normal. Todos querem saber o que será que a professora quer anunciar. Bem, todos exceto Brian que está indiferente como sempre.
Professora: "Eu sei que pode parecer um pouco inesperado, especialmente tendo em conta que estamos a dias antes da interrupção, mas..."
Aluno: "Diga, professora."
Pede um aluno, não conseguindo conter a sua empolgação.
Professora: "Está bem, está bem, eu vou contar."
Então, a mulher vai até à porta, ainda aberta desde que entrou, e grita para o corredor:
Professora: "Podes entrar!"
A mulher afasta-se da porta e vai até ao quadro. Passos podem ser ouvidos.
*Pom* *Pom*
Alguém está a vir.
*POM* *POM*
Os passos estão cada vez mais altos. Quem quer que fosse, está mais perto. Os alunos estão com o coração acelerado. Nem conseguem piscar. Brian permanece indiferente. Nada para ele importa, para além dos seus interesses.
O som está altíssimo, a pessoa está a centímetros e então...
Professora: "Meninos, apresento-vos o nosso novo aluno: Sern Wilson."
O rapaz entra na sala, com a mochila às costas. Todos os alunos acalmam-se.
Alunos: "O quê?!"
Exclamam alguns, como se um pensamento lhes tivesse escapado da cabeça. Estão bastante decepcionados. Queriam que a professora lhes disesse que não teriam aula ou algo do género. Com certeza, a última coisa que esperariam ou quereriam seria um novo aluno. Mas nada podem fazer para mudar o passado.
O novo aluno viar-se para a turma, nervosamente, e faz um sinal de olá com a sua mão trémula.
Professora: "Muito bem, Sern, apresenta-te à turma."
Sern: "C-C-certo."
Acena ele para a professora.
Sern: "O-olá. Hum...o meu nome é...S-Sern Wilson. G-Gosto de desenhos animados e...humm...bem...Ah! E também gosto muito de ver televisão."
Professora: "Boa, mais alguma coisa que nos queiras contar?"
Sern: "N-não, professora. É tudo."
Professora: "Excelente."
Mais ninguém estava a ouvir o que Sern e a professora diziam. A decepção foi tanta que se recusam a ouvir mais alguma coisa vindo dela.
Professora: "Muito bem, Sern. Obrigado por teres escolhido o nosso colégio. Espero que tenhas uma boa estadia. Ouviram, meninos? Façam-me um favor e tratem bem o vosso novo colega, sim?"
Alunos: "Sim, professora."
Dizem todos os alunos em uníssono, como se fossem obrigados a falar tal coisa.
Professora: "Ora bem, dito isto, podemos começar a aula."
A professora coloca a mão no ombro de Sern e diz-lhe num tom de voz em que todos podem ouvir:
Professora: "Precisas é de um lugar. Ora vejamos...hum...muitos lugares estão ocupados, exceto...Ah! Porque é que não te vais sentar ali."
A professora estende a mão e aponta para a secretária onde se encontra Brian. O rapaz sobre-humano nem sabe como reagir, mas os seus olhos regalados não escondem muito bem o seu estado de surpresa.
Sern: "A-Ali?"
Professora: "Sim, pode ser ali mesmo. Ficarás sentado ao lado do Brian, está bem?"
Sern: "E-Entendido, professora."
Com a indicação dada, Sern vai até à secretária do fundo da sala, passando por todas as outras mesas, onde os seus colegas o fitavam com olhares dignos de pessoas com uma enorme raiva no coração. Já Sern não sabia o motivo desta revolta silenciosa. Em 5 segundos, ele chega. Nervosamente, sem dizer uma palavra, Sern pousa a mochila no chão, da mesma forma que Brian, e senta-se ao lado do mesmo. Está bastante nervoso. Algo que é estranho, pois, normalmente. é bastante extrovertido, mas, nesta ocasião, rodeado por estranhos, só consegue permanecer com a boca cerrada. A professora não deixa nem mais um segundo passar. Já deixou passar tempo suficiente e ainda tem de dar matéria.
Professora: "Muito bem, meninos, vamos lá à aula. Então, digam-me o que sabem sobre a Lógica."
A aula de filosofia foi secante como sempre, mas, já é hora do intervalo. Hoje, Brian até se portou bem. Conteve bem o seu sono que, por um segundo, quase que o apanhava. Aposto que a professora já esperava que ele adormecesse, mas deve ter-se surpreendido ao ver que o mesmo não acontece. Finalmente, chegou o intervalo. Muitos alunos saem da sala, querendo apanhar algum ar. No entanto, Brian permanece sentado na sala, como em todos os dias. A sua filosofia de "não se aproximar de ninguém" acaba por levá-lo à solidão. Por isso, assim fica ele. Sentado na secretária durante todo o dia. Quer seja dentro de horas de aulas ou fora.
Porém, algo de diferente acontecia. Desta vez, teria companhia. Acontece que Sern também não se atreve a levantar da mesa. De certa forma, está assustado. Ver tantas pessoas desconhecidas, deixa-o mesmo nervoso. Bem sabe ele que, com o tempo, conseguirá conversar com eles e, quem sabe, formar alguma amizade. Mas hoje não é o dia. Por isso, decide ficar sentado. Só não sabia que Brian faria o mesmo. Que estranho? De todas as pessoas, só ele é que não sai da sala. O tempo passa rapidamente. Estava Sern a contemplar o facto de Brian ficar na secretária durante o intervalo, quando a campanhia volta a tocar. Quando dá por si, Sern apercebe-se que ficou o intervalo inteiro sentado na secretária, nervosamente, ao lado de Brian, sem lhe dirijir uma única palavra que fosse. Enfim, agora, haverá aula de Físico-química.
A aula decorria como o esperado. Faltavam 47 minutos para acabar. Brian só precisava de fingir passar o que estava no quadro e driblar as perguntas feitas pelo professor por mais alguns 47 minutos. Falta pouco.
Professor: "A isto aqui, chamamos o Cerne do Átomo."
Explicava o professor de forma muito entusiasmada que contrastava com a falta de entusiasmo dos outros alunos. Na verdade, ninguém entendia patavina do que o professor dizia. Até os alunos mais aplicados tinham dificuldade em acompanhá-lo. Parte da culpa pertencia ao professor, por explicar tudo a correr, e a outra parte pertencia aos alunos, por não prestarem atenção suficiente. Tudo corria normalmente, quando, subitamente, uma mão é erguida.
Professor: "Que foi, Mern?"
Mern: "Desculpe professor, queria saber se alguém me pode emprestar um lápis. É que, bem...estava a escrever e a ponta partiu-se."
Mern falava. Era um dos alunos mais aplicados da turma. Sempre teve boas notas. Anotava tudo o que o professor colocava no quadro, daí ter partido o lápis. Isso e também por escrever com muita força.
Professor: "Ouviram, meninos? Alguém pode emprestar-lhe um lápis?"
Os alunos começam a entreolharem-se, como se perguntando: "então, vais emprestar".
Contudo, ninguém parecia ter um lápis a mais. Afinal, não se trata de uma escola privada, onde todos os alunos têm, no mínimo, três lápis no estojo. Brian, curioso e, como não tinha mais nada para fazer, dá uma olhada no estojo e surpreende-se. Não é que tem outro lápis no estojo, pronto a usar. Ele pode emprestá-lo. O lápis que está a "usar", ainda tem a ponta afiada e pode durar mais uns meses. É a sua chance. Só precisa de levantar a mão e dizer que tem um lápis extra. Só que, isso significaria estabelecer uma relação com Mern.
Por muito idiota que pareça, simplesmente, ao entregar-lhe o lápis, estaria a estabelecer uma relação entre os dois. Brian não quer isso. Não quer se envolver com ninguém. Já para não falar que não ganharia nada em troca. Sim, por vezes, melhor é ficar quieto. É então que, subitamente, uma voz ecoa pela sala:
Sern: "Eu tenho um lápis, professor."
Brian olha para o lado e vê Sern com um braço erguido, segurando um lápis afiadíssimo no ar.
Mern: "Obrigado, Sern."
Agradece Mern, como se a sua vida tivesse sido salva. O aluno levanta-se e vai até ao fundo da sala buscar o seu querido lápis.
Sern: "Aqui tens."
Diz Sern, estendendo a mão com o lápis para a frente. Mern tira o lápis da sua mão.
Mern: "Obrigado, meu. Juro que te vou compensar, um dia."
Sern: "Não é necessário."
Mern: "Tudo bem, se tu o dizes."
Uma terceira voz intromete-se.
Professor: "Voltemos à aula, meninos."
Imediatamente, Mern volta à sua secretária, transbordando felicidade. Que ser caricato, pensava Sern que, naquele instante, superou o seu nervosismo. Ele olha para o lado e vê Brian, com o estojo aberto. É rude olhar para as posses dos outros, mas a curiosidade era grande. Por isso, de relance, olha para o que Brian tinha dentro do estojo azul e vê um lápis. Um lápis extra. Brian podia ter emprestado, mas escolheu não o fazer. Porquê? Sern começa a estranhar a presença de Brian. Que tipo de rapaz é aquele que não dá aos que necessiram quando tem ao seu alcance o que precisam? Brian acaba por fechar o estojo, talvez por entender que Sern viu o que escondia. A aula volta ao normal, mas Sern começa a ganhar mais interesse em Brian do que na aula, propriamente falando.
Hora do almoço. Precisamente a altura do dia que Brian mais odeia.
Tempo para socializar, se fores um aluno normal. Mas para Brian, era mais uma altura do dia para evitar o contacto com o máximo de pessoas possível.
O refeitório estava cheio, como sempre.
Alunos de todos os anos letivos, etnicidades, alturas e línguas unem-se à mesa. É um colégio internacional, logo é de se esperar que lá frequentem os mais variados alunos.
O mundo está separado por oceanos, mas não será a água que impedirá a união da raça humana.
As mesas parecem estar divididas em grupos. São sempre os mesmos que se vão sentar à mesma mesa.
Sern está bastante nervoso. Não sabe com quem irá se sentar à mesa. Isso é bastante comum quando se é o aluno novo.
Cozinheira da cantina: "Aqui tem. Próximo!"
Gritava a senhora, ao colocar a comida no prato da aluna que se encontrava à frente na fila.
A mesma rapariga pega no tabuleiro e dirige-se até a uma mesa, onde estão as suas amigas.
Sern observa-a a passar e a ir até à mesa. Ela tem amigas. Pessoas que se importam com ela. Pertence a um grupo. É aquele círculo de amigos o seu lugar no mundo. Isso é algo que Sern gostava mesmo de encontrar. Exatamente, um lugar a que possa pertencer. É isso o que quer encontrar.
Cozinheira da cantina: "Ei! Puto! Acorda!"
Sern: "Hã?"
A voz da cozinheira leva-o de volta à realidade.
Sern volta a agarrar no tabuleiro com força e segue até à vidraça onde a cozinheira servia os alunos.
Sern: "O-Olá."
Dizia, timidamente, numa tentativa de socializar.
Cozinheira da cantina: "Já vi que anda meio perdido por aqui."
Sern: "..."
Cozinheira da cantina: "Ouve-me bem, se queres um concelho, deixa essa timidez e solta-te. Só assim é que irás encontrar amigos."
*Plock*
Com uma grande colherada, a cozinheira despeja a esparguete gordurosa com almôndegas descongeladas no momento no prato do jovem.
Cozinheira da cantina: "Acredita em mim. Só assim é que vais encontrar o teu grupinho aqui na escola. Mas, isso é só a minha opinião, gaiato. Próximo!"
Sem resposta para a rajada de inesperados concelhos, Sern segura firmemente no tabuleiro e dirige-se para longe. Não sabe onde tem que ir. Está sem rumo.
Centenas de mesas ao seu redor e não encontra nenhuma onde se sentar. Está em pé, a observar o que o rodeia. Perdido neste ambiente. Sons rodeiam-no. Outros falam à mesa, contentes, pois têm algum tempo antes da próxima aula para conviverem com os amigos. Já para Sern, mais valia estar numa aula. A diferença entre intervalo e aula, para ele, não é lá muito grande.
Sern observa cada um daqueles alunos. Estão felizes. Convivem. Têm amigos. Mas Sern não. É o completo oposto deles.
Sozinho. Tímido. Incapaz de se manter firme no próprio solo. Quase que lhe dá vontade de chorar.
Mern: "Sern, não é?"
Sern volta-se para trás, segurando sempre o tabuleiro e vê quem é que o está a chamar. É Mern. O rapaz a quem emprestou o lápis há pouco.
Sern: "C-Correto, esse é o meu nome."
Mern: "Fogo, ainda bem que acertei no nome."
Ele fala com ele de uma maneira tão descontraída. Sern inveja-o por ter essa capacidade.
Sern: "D-De que é que precisas?"
Pergunta, gaguejando.
Mern: "Antes de mais, queria te agradecer pelo que fizeste. Obrigado, meu, ajudou-me bastante. Especialmente hoje que me tinha esquecido do raio dos lápis que a minha mãe me tinha dito para pôr no estojo."
Pela forma como fala, nem parece o tal de aluno exemplar de que andam sempre a falar. Na verdade, transparece mais a ideia de ser um cabeça no ar. Sern tira esses pensamentos da sua cabeça e tenta desconversar.
Sern: "Não é preciso tanta formalidade. Quer dizer, apenas fiz o que qualquer um faria."
Fala, desta vez, com um discurso mais fluente.
Mern: "Deixa-te tu de humildades. Mas deixemos isso à parte. Estou aqui, porque queria convidar-te para almoçares comigo, sabes, para quebrar o gelo."
Sern: "B-Bem, eu..."
Estava pensativo. Não saberia o que responder. Nunca ninguém foi tão gentil com ele.
A verdade é que, na sua escola antiga, ninguém parecia se importar com ele. Passava os dias sozinho, nunca fazendo um amigo que fosse. Era uma vida solitária. Ninguém se atrevia a aproximar-se dele. Tudo por causa do seu comportamente. Prefiro ainda não elaborar muito mais nas razões.
Mas agora, mal chegou e já existem pessoas a aproximarem-se e a convidarem-no para almoçar. Isto sim foi inesperado.
Mern: "Só precisas de dizer se aceitas ou não."
Sern: "Eu sei, mas...é que ninguém alguma vez me convidou para almoçar."
Mern: "Estás a gozar, certo?"
Sern: "..."
Esta falta de palavras foi a resposta que Mern precisou para confirmar a sua pergunta.
Mern: "Bem, nem sei o que dizer. De qualquer forma, deixa-te de nervosismos. Sabes que mais, segue-me."
E sem gastar mais tempo, ele começa a andar para longe.
Sern fica sem entender porquê, mas decide segui-lo. Também não é como se tivesse muita escolha à sua disposição.
Sern: "E-Espera..."
Diz, no preciso momento em que começa a andar na mesma direção que Mern, num passo acelerado, enquanto leva o tabuleiro com as duas mãos.
Mern segue ignorando as palavras de Sern. Para a sorte do último, esta caminhada não durou muito.
Ia Sern a 2 metros de alcançar Mern, quando o mesmo para. Ele chegou ao pé de uma mesa, onde estavam sentadas duas pessoas.
Mern: "Sern, apresento-te aos meus colegas."
Diz, enquanto se vai sentar no seu lugar, junto a um dos dois rapazes que se encontravam na mesa a comer.
Mern: "Não precisas de ficar nervoso. Ambos são do 9°ano, tal como nós. Se bem que..."
Rapaz ao lado de Mern: "Não precisas de nos apresentar."
Outro rapaz: "Não sei se te lembras, mas também lá estávamos, burro."
Sern olha para aquele trio, com um olhar pertencente a alguém que se apercebeu que está num lugar estranho. Cada uma daquelas figuras era mais esquisita do que a outra.
Mern: "Sern, senta-te connosco."
Sem muitas opções, Sern faz como lhe disse.
Rapaz ao lado de Mern: "Acho que está na hora de nos apresentarmos. Eu sou o Spencer e aquele ali é o nosso-"
Outro rapaz: "Sou o David. E Spencer, olha que eu tenho boca, meu grandíssimo filho da p-"
Mern: "Whow! Acalma-te lá com os palavrões. Podes ao menos parecer normal aqui na frente do novo aluno?"
David: "Nunca prometi que iria ser simpático."
Diz, ele, ao mesmo tempo que tira o telemóvel do bolso.
Spencer: "Tenta ao menos."
David: "Para ti é fácil falar, ó adorador de super-heróis."
Spencer levanta-se com a clara provocação. Mesmo assim, ninguém parece se importar com eles. Normalmente, um simples ato do género teria levado a muitos olhares atentos.
Mern: "Ei! Vamos lá ter calma. Foi só um mero insulto. Não precisas de ficar assim tão irritado."
David: "Sim, foi apenas uma estúpida boquinha. Não há razão para ficares todo aziadinho."
David acaba por reconhecer que fez uma idiota provocação. Apenas o fez para atrair a sua atenção. É uma forma única e especial de socializar. Mesmo assim, isso acaba por irritar os outros.
Spencer: "Ora seu sacana! Fica já a saber que os heróis são bem fixes!"
Está praticamente a fumegar da cabeça. Mais um pouco e explodirá. Tudo por uma simples provocação. Parece que David tocou mesmo numa insegurança íntima de Spencer.
Mern segura no braço de Spencer, atraindo o olhar do mesmo. Assim, ele diz:
Mern: "Vamos mas é nos acalmar. Isto é apenas uma confusão desnecessária. Por isso, Spencer, faz-nos um favor e senta-te como uma pessoa normal."
Com este apelo do seu amigo, Spencer apercebe-se do que fez. Só neste momento é que compreende que estava a fazer uma tempestade num copo de água.
Spencer: "Desculpa. Acho que me exaltei."
Diz, agora com uma maior compreensão do seu erro. E então, ele volta a sentar-se na sua cadeira metálica dobrável.
Sern simplesmente ficou a observar. Nem sabe como reagir àquele grupo caricato. Não tem mesmo palavra para lhes dirigir. Limita-se apenas a observar, com cara de quem é um mero espectador. Sim, essa é a palavra correta, 'espectador'.
Mern: "Então, Sern?"
Sern: "S-Sim?"
Foi apanhado desprevenido.
Mern: "Não te acanhes, fala connosco."
Sern: "Só que...eu..."
Mern: "O que é?"
Pergunta, preocupado. Já está a julgar que algo de mal se passa com o rapaz.
Sern: "E-Eu não tenho nada a dizer."
David: "O idiota é que sabe, Mern, não o forces."
Sern sentiu-se insultado, mas não lhe respondeu de volta. Talvez por não possuir coragem para tal.
Spencer: "Sabes que mais, David? Já nem te digo nada."
Foi nesse momento que, junto à mesa deles, passam outros três rapazes. Esses três estão todos vestidos de uma maneira meio único. Uns consideram esse estilo idiota, mas a maioria considera-os pomposos.
Os três rapazes: "Hahaha!"
Riem-se em voz alta, atraindo a atenção de qualquer um por onde passam.
David, Spencer, Mern e Sern põem os seus olhos nos três que perto deles passam.
David, especialmente, observa-os com um olhar brilhante. Tem ar de que vê algo de especial naqueles três.
O resto do dia foi bastante monótono. De se esperar, vindo de uma escola. Na verdade, esta escola não é muito diferente da sua última. Pelo menos, do ponto de vista de Sern. De qualquer forma, o dia chegou ao fim e ainda não fez nenhum amigo. Os alunos estão a sair com a mochila às costas. Sern está a colocar tudo dentro da mochila.
O seu pai já deve estar à sua espera, junto à entrada. Ao colocar o estojo na mochila, por curiosidade, Sern olha para Brian. O rapaz acabara de colocar o estojo na mochila. Tem tudo lá dentro, no entanto, ele simplesmente pousa-a no chão, como se, mais tarde a fosse buscar. Com a mochila junto à mesa, Brian sai da sala. Para onde irá ele? Com certeza, não sairá da escola. Terá mais algo a fazer. Mas fica a pergunta: o que é que ele fica a fazer até tão tarde. Adoraria saber, mas o seu pai está a sua espera, Deste modo, mal Sern coloca a garrafa de água na lateral da mochila, ele sai da sala.
Realmente, à entrada está o carro azul e pequeno de seu pai. Sern dirige-se até ao carro e entra no banco do passageiro da frente.
Pai de Sern: "Então, como foi o primeiro dia de aulas?"
Pergunta o condutor, o seu pai, Bruce Wilson.
Sern: "Foi exatamente como me disseste de manhã, no carro."
Bruce: "Isto é..."
Claramente, Bruce sabia a resposta, mas queria ouvi-la vindo da boca do seu filho. Sern responde:
Sern: "Foi, no mínimo, esquisito."
*Pom*
A porta abre-se alguém entrou. Bem, acho que a vítima de hoje está escolhida. Será um dia de azar para quem quer que tenha entrado. Brian ouve atentamente os passos. O indivíduo passa à frente da porta do seu cubículo. Parece que ele vai fazer as necessidades no cubículo à sua esquerda.
*Clank*
A porta do cubículo do lado range. Ele acabou de entrar. A porta fecha. É agora. Então, Brian levanta-se, sai do seu cubículo, dá uns passos para a sua esquerda e para à frente da porta.
*Pum* *Pum* *Pum*
O rapaz bate à porta três vezes.
Adulto: "Ei, não vê que está ocupado!"
Reclama o homem de lá de dentro, provavelmente já com as calças baixadas. No entanto Brian ignora e abre a porta. Não importa quem seja: rapaz, homem ou criança, pois precisará de morrer pelo seu bem.
A lua brilha no céu. Hoje, por acaso está cheia. Brian caminha para casa, após o assassinato de hoje. Desta vez, usou os poderes para ordenar à mesma auxiliar de sempre para ir limpar o corpo que se encontrava na casa de banho masculina. Para rematar, ainda lhe deu a típica ordem de "vais te esquecer do que se passou". Pobre mulher. Nem sabe as atrocidades que vê e limpa, praticamente, todos os dias.
O rapaz sobe os degraus, com os pés manchados de sangue. Ele abre a porta, fecha-a, dando um pontapé nela, pousa a mochila no chão e vai deitar-se no sofá. A televisão permaneceu ligada e assim continuará. Está cansado tão cansado como ontem. Esquisito, pois o dia não foi muito exigente.
Homem sem esperança: "Então, o que achas do novo aluno?"
Pergunta-lhe o homem sem esperança que acabara de se materializar atrás do sofá.
Brian: "Demasiado intrometido para o meu gosto."
Homem sem esperança: "Pelo que vi, não parece ser má pessoa, mas sim, é bastante cusco. Só esperemos que ele não fique até mais tarde na escola, não é?"
Brian não responde.
Homem sem esperança: "Brian?"
Ainda sem resposta.
Homem sem esperança: "Ei! Brian! Estás a escutar?"
O infetado dá a volta ao sofá até ficar frente a frente com o rapaz. Aí, ele apercebe-se o que se passava com ele.
Homem sem esperança: "Com que então já estás a dormir."
Brian está ferrado no sono. Parece que, mal fechou os olhos, entrou logo no mundo dos sonhos. Devia estar mesmo cansado. Vendo que a conversa não iria progredir, o homem infetado pega numa manta com nódoas de sumo do chão e pousa-a em cima de Brian.
Homem sem esperança: "Dorme bem."
Diz o homem, antes de se desmaterializar e ir para o quarto do andar de cima dormir.
Dia 3
É fim-de semana. O sol brilha incessantemente. Os pássaros cantam, as flores desabrocham. Parece que o mundo se tornou mais feliz. Neste ambiente, Brian acorda. A televisão ainda ligada. Não quer se levantar. Normalmente, ficaria o dia inteiro a dormir. Era assim que ele aproveitava os fins-de-semanas. Enquanto uns aproveitavam para estudar, ir trabalhar em part-time ou para se divertirem, mas Brian prefere ficar deitado a descansar. Na semana trabalha e cansa-se. No fim-de-semana relaxa. Também não é como se importasse com trabalhos de casa por fazer ou testes para estudar.
Contudo, hoje seria diferente. Há falta de comida. Os cereais já não chegam para mais um dia que seja. Deste modo, sem os cereais, já não teriam o que tomar de pequeno-almoço, almoço e jantar. Ainda por cima, hoje e amanhã são os seus dias para comer. Tem que ter comida, urgentemente.
Então, Brian levanta-se e vai até à cozinha. O chão está sujo com pedaços de cereais e manchas de leite que largam um cheiro insuportável a azedo. Só usa este espaço para comer e mais nada.
O rapaz, vestindo a mesma camisola de ontem, abre a dispensa e tira de lá a caixa de cereais, quase vazia. Após tirar o pacote de leite e, por alguma razão, ter encontrado uma taça pronta a usar no frigorífico, ele coloca os cereais e o leite. Está pronto a comer. Quase dá pena só de saber que irá comer o que resta dos cereias, mas não há nada que possa fazer senãk aproveitar. Por isso, ele coloca a colher na taça e leva à boca os cereais com o leite. Sabe bem, mas, de tanto comer a mesma comida, quase que já nem sabe a nada.
Subitamente, à sua frente, em pé, do outro lado da mesa, aparece o homem infetado.
Homem sem esperança: "Desculpa lá por ter comido demasiado ontem. A sério, não queria dar-te trabalho num fim-de-semana."
Brian acaba de mastigar os cereais antes de responder:
Brian: "Tudo bem, eu sei."
Homem sem esperança: "Obrigado por seres compreensivo, meu."
Brian: "Essa não é a minha especialidade, mas tento sempre melhorar."
É esquisito ver Brian bem disposto, quanto mais a fazer uma piada.
Springer dá uma leve risada antes de mudar de assunto.
Homem sem esperança: "Já agora, aqui tens."
Ele pousa uma t-shirt vermelha em cima da mesa.
Homem sem esperança: "Encontrei-a no chão do passeio, depois de te ver a assassinar o homem, ontem. Não sei se faz o teu estilo, mas achei fixe e queria dar-te algo como obrigado por teres me acolhido por todos estes anos."
Informa o homem, timidamente. A bochecha do seu lado humano está visivelmente corada. Não está acostumado a ser gentil, mas sempre teve a intenção.
O homem estava preocupadíssimo. Não sabia se Brian iria gostar, mas o mesmo conforta-o, dizendo, sinceramente:
Brian: "Obrigado, gosto da cor."
O infetado sorri, antes de desaparecer, com vergonha, sem dizer mais uma palavra que fosse.
Brian: "Ai, ai. Que colega de casa tenho eu."
Exclamou Brian, contente, mal o seu colega desaparece.
São 12 horas da manhã. O dia chegou ao meio. As pessoas começam a ficar com fome e vão almoçar. Podem ir comer em casa ou fora. Sern encaixa-se no último caso.
O seu pai usa frequentemente o fim-de-semana como desculpa para poder comer algo que não seja arroz ou feijão ou qualquer outra das poucas receitas que tem encravada na mente. Esse é o tipo de pessoa que é Bruce Wilson.
Bruce: "Então, o que vai ser hoje, filho?"
Perguntava ele a Sern, com a mão no volante.
Sern: "Huuumm, não sei."
Bruce: "Pensa."
Sern: "Hummmmm, talvez hambúrguer."
Respondeu ele, visivelmente, pouco motivado. A verdade é que ele nunca gostava de sair de casa. Para ele, o sábado ideal seria permanecer em casa, a ver os mesmos episódios repetidos dos seus programas de televisão favoritos.
Bruce: *Hunffffffffff*
Expirava Bruce, pesadamente, antes de dar o sermão, praticamente diário.
Bruce: "Ouve, Sern, eu sei que preferes ficar em casa, mas preciso que compreendas que é necessário arejar os horizontes. O mundo é muito maior do que a nossa casa, embora ela seja muito boa."
Sern: "Sim, eu sei."
Bruce: "Sabes, mas continuas a fazer o mesmo e a falar com a voz de quem não quer saber."
Sern: "Desculpa, pai, é que a escola tem sido muito cansativa."
Não passava de uma desculpa. O que realmente se passava era que a sua mente estava infestada com mistério. Aquele rapaz, Brian, era esquisito de uma forma que o atraia. É difícil de explicar.
Bruce sabia que aquilo não era o que se passava, mas, mesmo assim, aceita a resposta só para não formar uma discussão:
Bruce: "Vê se dormes melhor. Sabes que quero sempre o teu melhor, por isso, trata-te, ok?"
Sern: "Sim, pai."
Brian vai a pé ate ao centro comercial mais perto. Nunca gostou de lugares com muita freguesia, pois achava que aumentavam as hipóteses de se encarar com um polícia e de ser descoberto. Contudo, nada podia fazer, uma vez que, para além do centro comercial, a loja mais perto de sua casa, uma mercearia, fica a 2 quilómetros da mesma. Por isso, não é como se tivesse muita escolha.
O rapaz acaba por chegar. O local está lotado. É verdade que é sábado e muitos querem divertir-se, mas, se assim o é, porque é que não vão à praia ou fazer outra coisa. Hoje, o dia está mesmo bonito. Também não é como se Brian fosse a melhor pessoa para criticar a multidão.
Brian: "Vamos lá despachar isto."
E ele vai até à zona do supermercado.
Bruce estaciona o carro. Sern sai, seguido do pai e ambos sobem pelas escadas rolantes ate ao piso de cima. Os dois vão, sem uma palavra a ser dita. Parece que o gelo formado com a discussão no carro ainda não foi quebrado.
Bruce: "Então, o que é que vai ser?"
Pergunta Bruce, enquanto ele e o filho vão a subir outras escadas rolantes que levam até ao 2° piso, o mesmo da zona da restauração.
Sern está com fome. Não consegue mentir.
Bruce: "Vá lá, diz. Pode ser qualquer coisa."
O rapaz permanece em silêncio.
Ainda tem algo na sua mente. Até Bruce percebe isso. Pelos vistos, chegou a hora de optar pela sua técnica que desenvolveu, após vários anos como pai:
Bruce: "Olha que até me estava a apetecer aqui um bife à mostarda do 'Ambrus', mas..."
Mal ouve as palavras 'bife de mostarda', os seus ouvidos parece que abrem. A sua atenção sobe drasticamente. Ele sabe que faz tudo parte da estratégia do pai, mas não pode deitar ao lixo a oportunidade de comer o seu favorito bife de mostarda.
Sern: "Não pai, adoraria um bife de mostarda! Por favor, farei qualquer coisa! Qualquer coisa mesmo!"
Bruce sorri. Quem diria que o seu filho cairia tão bem na armadilha. Ele pousa a mão na cabeça de Sern e diz, quase que contendo uma leve risada:
Bruce: "Muito bem. Bife de mostarda aqui vamos nós."
Brian: "Aqui está."
Exclamou o rapaz ao encontrar o pacote de cereais que tem sempre comprado. Os mesmos cereais de sempre. Nunca se atreveu a comprar qualquer coisa que não fossem aqueles cereais de aveia e mel.
Já os tem, só precisa de ir pagar. Antes de sair de casa, trouxe consigo a carteira do seu pai, que continha o cartão de Brian.
Após a morte de seus pais, o estado deixou-lhe a generosa herança tanto do seu pai como de sua mãe. Ainda vem que assim foi, senão não conseguiria pagar as contas de casa e a escola. Para não falar que ficaria sem comer aqueles deliciosos e baratos cereais de aveia e mel.
Voz misteriosa: "Desculpe."
Alguém lhe chama. Brian vira-se para a sua esquerda e, junto à prateleira do corredor dos cereais que se encontra à sua frente, estão duas pessoas.
A outra voz misteriosa: "Somos Coy e Jandreau, agentes da polícia."
Diz o polícia pequeno, apontando para o crachá do seu uniforme de forma orgulhosa.
Brian: "Desculpe, você é o..."
Pede Brian a um dos agentes, enquanto aponta para o polícia menor. Antes de agir, precisa de avaliar a situação e ficar a conhecer os intervenientes.
Coy: "Eu sou o Coy."
Responde o polícia minorca para quem Brian estava a apontar o dedo. O rapaz sobre-humano aponta para o outro agente, aquele de estatura média.
Brian: "E você é o..."
Jandreau: "Jandreau."
Brian: "Correto."
Coy: "Brian, não é?"
Jandreau: "Temos umas perguntas para si. Importa-se que falemos em privado."
Brian começou a ter um mau pressentimento. Sabia que eles não quereriam apenas uma conversa. Queriam algo dele. Mesmo assim, mesmo sabendo que algo de mal está por vir, Brian responde:
Brian: "Ok, como quiserem. Deixem-me só pagar pelos meus cereais e irei ter convosco."
Os parceiros trocam olhares. Quase que nem conseguiam acreditar na ousadia do puto. Ainda assim, conseguiram manter o ar sério.
Coy: "Parece-me bem."
Jandreau: "Quando pagar, venha ter connosco à entrada do supermercado."
Coy: "Estaremos lá à sua espera, compreendido?"
Brian: "Completamente, senhores agentes."
Acordo feito. Sem dizer mais uma palavra, os dois agentes afastam-se do rapaz, silenciosamente e com a mão à cintura. Nem conseguem esconder o orgulho que sentem ao serem polícias.
Brian olhou para o andar de ambos. Conseguiu analisar os seus comportamentos e chegar a uma conclusão quanto ao tipo de pessoa que são. Sussurando para si mesmo ele comenta:
Brian: "Já me deparei com agentes piores. Comparados com outros, estes vão ser brincadeira."
Coy e Jandreau esperam por Brian à entrada do supermercado. Tal como prometido.
Pessoas que passam olham para os dois agentes com cara preocupada. Devem se estar a perguntar se algo de mal se está a passar. Será que deviam estar aqui em primeiro lugar?
Coy: "Ei, Jandreau."
Jandreau: "Sim?"
Coy: "Achas que este miúdo é mesmo o culpado?"
Jandreau: "Porquê? Não tens opinião?"
Coy: "Bem, tu és o mais experiente, por isso, considerei que terias já o caso todo resolvido aí na tua cabeça, mas parece que julguei mal."
Jandreau: "Tu e as tuas provocações."
Coy começa a cutucar o parceiro no ombro, usando o seu cotovelo, provocando-o ainda mais.
Coy: "Vamos lá, admite. Consegui irritar-te, não consegui?"
Jandreau: "Sabes que mais, não te vou dar o prazer de descobrires."
Em resposta, Coy faz-lhe uma careta. As pessoas a vê-los poderiam considerá-los uma dupla idiota. Não estão muito errados. Até Jandreau, ao ver a careta do colega se descompõe.
Jandreau: "Meu, que raio de careta é essa?"
Coy: "Para de desconversar, diz lá o que achas do caso, meu valente sacana."
Jandreau: "Olha quem fala."
Coy: "Tudo bem, eu paro, mas ao menos diz-me o que achas da porcaria do caso."
Jandreau ia mandar outra boquinha, mas ao ver que estavam a atrair muita atenção, decide recuperar o seu ar sério.
Coy: "Muito bem."
Jandreau: "Ganhaste, mas foi só desta vez."
Coy: "Diz-me lá, sinceramente."
Jandreau: "Bem, o caso..."
Coy: "Nem tu tens opinião, não é?"
Jandreau: "Não é isso. É que, caso seja ele o culpado, então o miúdo é um génio."
Coy: "Pois..."
Jandreau: "Não me leves a mal. Ele está longe de ser a primeira criança assassina da história."
Coy: "Mas duvido que seja ele o responsável pelo desaparecimento do puto. Senão, não andaria por aí sem a maior das preocupações."
Jandreau ouve o que o seu companheiro diz e vira-se para ele, com uma cara de estúpido.
Coy: "O que é que eu disse?"
Pergunta Coy, curioso quanto ao porquê da estranha cara de Jandreau. Ao que o seu companheiro responde:
Jandreau: "Com que então sempre tens opinião. Fica já a saber que me deves um donut."
Coy: "Porquê?"
Jandreau: "Por me andares a pedir a minha opinião, mesmo tendo uma formada."
Coy: "Ah! Vai te lixar."
Jandreau: "Vai tu também."
Brian: "Posso?"
Os dois agentes quase que saltam com a surpresa. Subitamente, uma terceira voz intervém. E, acima de tudo, é Brian. Que timing.
Brian: "Parece que viram um fantasma, vocês os dois."
Coy: "B-Bem, é que..."
Jandreau: "Não é do teu interesse, puto."
Tranquilamente, Brian responde:
Brain: "Ok, como queiram."
Recompondo-se do susto, Coy volta ao assunto principal.
Coy: "Então, acho que é melhor irmos andando."
Jandreau e Coy começam a andar para a frente.
Jandreau: "Segue-nos."
Brian: "Certo."
Os três passaram por entre as pessoas, ignorando a presença das mesmas. Alguém ali a fazer compras normalmente, acharia que algo de estranho estaria a acontecer.
Eles passam por tantas lojas, tantas pessoas apenas a viverem as suas vidas. O caminho não terminava. Estariam estes dois polícias a gozar com ele?
Brian: "Ei, ainda falta muito?"
Perguntava Brian aos oficiais, enquanto andava com o saco das compras na mão.
Jandreau: "Falta pouco."
Coy: "Sim, até lá, faz-nos um favor e fica caladinho."
Diz Coy, achando que disse alguma coisa mesmo fixe. Jandreau quase que se ria do colega. Às vezes, este seu amigo podia ser bem ridículo.
Ainda assim, Brian, de modo a não levantar muitas suspeitas, segue as ordens e fica em silêncio.
É nesse momento, que os três se preparam para entrar pela porta do staff. Uma porta que leva a um corredor cinzento, com passagem apenas autorizada a funcionários, mas, como Coy e Jandreau são agentes, constituem uma excepção.
Coy: "Tu primeiro."
Diz Coy a Jandreau e a Brian, enquanto segura a porta, com alguma dificuldade, usando as duas mãos.
Jandreau: "Obrigado, meu cavalheiro."
Foi um comentário sarcástico. Não era necessário, mas foi dito apenas para Coy não ficar a ganhar esta pequena disputa. Em outras palavras, os dois não passam de crianças em corpos de adulto.
De qualquer forma, Jandreau e Brian entram, com o agente à frente e o rapaz seguindo-o a uns bons centímetros de distância.
Pouco depois, Coy larga a porta e também entraz sem antes verificar que não estão a ser seguidos. Ele olha para os dois lados, com muita atenção. Só ao chegar à conclusão que tudo está sob controle é que Coy, brutamente, fecha a porta vermelha.
Brian, Coy e Jandreau encontram-se à boca do corredor.
Coy está de costas viradas para a porta, olhando para o seu colega e o rapaz que estão à sua frente.
Jandreau escolta Brian até ao centro do extenso corredor. É aí que para.
Jandreau: "Muito bem, chegámos."
Informa, ao mesmo tempo que se vira para encarar o miúdo.
Brian: "Podem agora dizer-me o que é que querem?"
Pergunta ele, de forma um pouco rude. Ele aperta o saco das compras já com alguma força. Nada de bom virá desta interação, segundo os instintos de Brian.
Coy: "Antes de mais, pedimos que pouses o saco."
Não quer, mas sabe que terá de o fazer. Afinal, não seria boa ideia armar logo confusão. Brian jurou evitar o conflito ao máximo, pois isso acabará por levar a danos irremediáveis e a muitos olhos em cima dele. Se tivesse que lutar, esperaria que o adversário atacasse primeiro.
Brian: "Tudo bem, mas só se me disserem o que querem de mim."
Jandreau: "Tens a nossa palavra."
Brian: "O acordo está feito."
Brian larga o saco das compras, deixando-o cair no chão.
Coy: "Obrigado, rapaz."
Brian: "Pronto. Cumpri a minha parte. Agora, digam-me o que é que querem?"
Jandreau: "A gente conta."
Por alguns segundos, Jandreau olha para Coy e acena-lhe com a cabeça. Em reposta, o colega acena de volta. Este sinal serviu como confirmação para avançarem com o plano.
Brian: "Vá lá. Chega de enrolarem."
Diz Brian, como se não tivesse visto que um plano acabara de entrar em ação com um aceno de cabeça.
Jandreau: "Sim, sim, sim, eu conto."
O agente volta a pôr os olhos no rapaz à sua frente, que lhe chega à altura do peito.
Então, ele começa a contar:
Jandreau: "Sabes, rapaz, há já anos que têm ocorrido vários desaparecimentos por estes arredores. Há pelo menos 5 anos. Tens ideia do que são 5 anos?"
Brian: "Eu sou bom a matemática, não precisas de me tratar como um bebé."
Comenta Brian, de forma rude, deixando claro que não vai muito com a cara dos oficiais da lei.
Jandreau: "Agora estás um pouco saidinho da casca."
Coy: "Tem cuidado com o que dizes, olha que não somos teus pais, ó pivete."
Lá está Coy com o seu ego outra vez.
Jandreau nem consegue se impedir de revirar os olhos. Está mesmo no limite com aquele seu colega. Mesmo só ficando a guardar a porta da entrada manda as suas falas genéricas que mais parecem retiradas de um filme.
Jandreau: "Pois bem..."
Continua Jandreau a conversa com Brian, ignorando a última fala do colega.
Jandreau: "Acontece que, quem quer que esteja por detrás destes desaparecimentos e, quem sabe, mortes, é mesmo um génio. É que é impressionante. O gajo não deixa mesmo rastro nenhum. Não existe nenhuma pista que possamos seguir. Pelo menos era isso o que pensávamos."
Coy: "Até agora."
Acrescenta Coy. Vá lá que desta vez não disse qualquer porcaria. Mas continuando...
Jandreau: "Já passam mais de 24 horas desde que o aluno Gideon Crombe desapareceu."
O nome soa-lhe familiar. Brian bem sabe de quem se trata. Foi o aluno que matou no ginásio da escola. Aquele que matou bem no início desta história que vos conto.
Jandreau: "O nome soa-te familiar? Espero que sim, pois ele frequentava a mesma escola que tu."
Personagens:
Brian
Sern Wilson
Carol
Luke
Cage
Bruce Wilson